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Valéria Mac Knight - programa de pós-graduação em ciência da ...

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que não existe coincidência entre a coisa <strong>em</strong> si e suas <strong>de</strong>signações. Daí, a <strong>de</strong>núncia <strong>de</strong> que há<br />

um uso in<strong>de</strong>vido do princípio <strong>da</strong> razão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a gênese <strong>da</strong> língua.<br />

Em um esforço para melhor <strong>de</strong>signar a sua relação com as coisas, o hom<strong>em</strong> recorre a<br />

palavras, estas, por sua vez, formam metáforas, pois exist<strong>em</strong> s<strong>em</strong> uma correspondência<br />

perfeita no plano real: uma estimulação nervosa traduzi<strong>da</strong> numa imag<strong>em</strong>! 4 ; imag<strong>em</strong> que é<br />

transforma<strong>da</strong> <strong>em</strong> som, e nessa operação dissonante, esboçamos nossas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

representar o mundo pela linguag<strong>em</strong>.<br />

Conseqüent<strong>em</strong>ente, o conceito, expresso por palavras, já nasce carregando essa cisão<br />

entre representação e coisa <strong>em</strong> si, acrescido do fato <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergir por uma generalização, por<br />

<strong>de</strong>sejo e necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> igualizar o que não é igual.<br />

Por ter um instinto gregário, o indivíduo busca a paz que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do impulso para a<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, convencionando uma <strong>de</strong>signação comum para as coisas, com base na codificação <strong>da</strong><br />

língua. A diferença entre ver<strong>da</strong><strong>de</strong> e mentira estaria na utilização <strong>da</strong>s convenções lingüísticas,<br />

ou seja, o mau uso <strong>da</strong> língua <strong>em</strong> proveito próprio e <strong>em</strong> prejuízo do grupo seria <strong>de</strong>signado<br />

como mentira. Ao contrário, a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> geraria conseqüências agradáveis.<br />

Na busca <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, torna-se necessário aceitar a arbitrária convenção <strong>da</strong> língua,<br />

on<strong>de</strong> as <strong>de</strong>signações não representam a coisa <strong>em</strong> si.<br />

A ver<strong>da</strong><strong>de</strong> é um exército móvel <strong>de</strong> metáforas, <strong>de</strong> metonímias, <strong>de</strong><br />

antropomorfismos, numa palavra, uma soma <strong>de</strong> relações humanas que foram<br />

poética e retoricamente intensifica<strong>da</strong>s, transpostas e adorna<strong>da</strong>s e que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

um longo uso parec<strong>em</strong> a um povo fixas, canônicas e vinculativas. 5<br />

A ver<strong>da</strong><strong>de</strong> precisa <strong>da</strong>s palavras, assim como <strong>da</strong> língua, entretanto, nas palavras nunca<br />

é a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que importa n<strong>em</strong> a expressão a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>: caso contrário não existiriam tantas<br />

línguas 6 . A ver<strong>da</strong><strong>de</strong> seria então na<strong>da</strong> mais que ilusões que foram esqueci<strong>da</strong>s enquanto tais,<br />

4 I<strong>de</strong>m. Ibi<strong>de</strong>m. p. 219<br />

5 I<strong>de</strong>m. Ibi<strong>de</strong>m. p. 221<br />

6 I<strong>de</strong>m. Ibi<strong>de</strong>m. p.219<br />

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