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Valéria Mac Knight - programa de pós-graduação em ciência da ...

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estéticos e a arte como superação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, ao quebrar conceitos cristalizados, torna viável<br />

a vi<strong>da</strong>. Há espaço para o <strong>de</strong>sconhecido; a surpresa, o espanto, o encantamento oferec<strong>em</strong> seu<br />

frisson, <strong>da</strong>ndo-se o exercício <strong>de</strong> novas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s que nos resgatam à vi<strong>da</strong>.<br />

Agora, sim, po<strong>de</strong>-se perceber a gravi<strong>da</strong><strong>de</strong> e prenunciar as conseqüências <strong>da</strong> morte <strong>da</strong><br />

tragédia pelo socratismo estético. Trazer a lógica e a análise para o campo <strong>da</strong> arte anulou as<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s que esta antes oferecera. Porém, Nietzsche propõe uma reviravolta: uma vez<br />

que a <strong>ciência</strong> a<strong>de</strong>ntrou-se a arte, ele propõe analisar a <strong>ciência</strong> com a ótica do artista, porque,<br />

uma vez que arte é vi<strong>da</strong>, apenas a experiência estética justifica a vi<strong>da</strong>.<br />

Nietzsche propõe uma relação estética para aproximar, por meio do poético e <strong>da</strong><br />

imaginação, essas distintas esferas que são sujeito e objeto. A imaginação, ao contrário <strong>da</strong><br />

<strong>ciência</strong>, não se paralisa com a não-reali<strong>da</strong><strong>de</strong> e é a contraparti<strong>da</strong> <strong>de</strong>ssa rigi<strong>de</strong>z e fixi<strong>de</strong>z: a arte e<br />

o mito, por estar<strong>em</strong> <strong>em</strong> uma busca constante <strong>de</strong> novas formas <strong>de</strong> configuração do mundo com<br />

novas cores. O <strong>de</strong>slocamento dos velhos sentidos <strong>de</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s cristaliza<strong>da</strong>s refresca, dá novo<br />

ânimo e possibilita o exercício <strong>de</strong> novas representações.<br />

É nesta seara que há espaço para a criação, para a proposição <strong>de</strong> novas metáforas. É<br />

na arte que o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> reconfiguração constante do mundo permite um fluir caleidoscópico,<br />

então a ca<strong>da</strong> instante tudo é possível como no sonho 49 .<br />

Em seu fazer filosófico-poético, Nietzsche engendra um exercício int<strong>em</strong>pestivo,<br />

instaurando um paradoxo entre o pensar e a dinâmica <strong>da</strong> criação pré-teórica. Ao estabelecer<br />

tais relações, ele rompe com a história filosófica <strong>de</strong> sua época e põe <strong>em</strong> cena novos conceitos:<br />

repele a análise, a explicação, e fala do Uno-primordial. Associa o filosófico ao poético,<br />

privilegiando mesmo o impacto do poético ao comprova<strong>da</strong>mente lógico, tecendo novos<br />

48 NIETZSCHE, Friedrich. O Nascimento <strong>da</strong> Tragédia; ou Helenismo e Pessimismo. Traduzido por J.<br />

Guinsburg. São Paulo, Companhia <strong>da</strong>s Letras, 1992. p.55<br />

49 Nietzsche, Friedrich. Acerca <strong>da</strong> Ver<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> Mentira no sentido extramoral. Tradução Helga Hoock<br />

Quadrado. Portugal, Printer Portuguesa, Relógio D’Água Editores, Junho <strong>de</strong> 1997. p. 220<br />

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