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Valéria Mac Knight - programa de pós-graduação em ciência da ...

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dionisíaco transforma os seus coreutas <strong>em</strong> sátiros – s<strong>em</strong> qualquer explicação, conhecimento<br />

ou lógica. Não há o sujeito subjetivo, mas a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> com o coração do mundo.<br />

Por um mecanismo b<strong>em</strong> diverso <strong>da</strong> cons<strong>ciência</strong>, por meio <strong>de</strong> encantamentos<br />

inexplicáveis, o público <strong>da</strong> tragédia ática reencontrava a si mesmo no coro <strong>da</strong> orquestra, e<br />

que não havia distinção entre eles. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> tudo era um gran<strong>de</strong> e sublime coro <strong>de</strong> sátiros<br />

bailando e cantando ou <strong>da</strong>queles que se faziam representar através <strong>de</strong>sses sátiros 40 .<br />

Por tudo isso, Nietzsche conclui que na fase primitiva <strong>da</strong> prototragédia o coro po<strong>de</strong> ser<br />

consi<strong>de</strong>rado como o auto-espelhamento do próprio hom<strong>em</strong> dionisíaco, que propicia um<br />

fenômeno dramático: ver-se a si próprio transformado diante <strong>de</strong> si mesmo e então atuar como<br />

se na reali<strong>da</strong><strong>de</strong> a pessoa tivesse entrado <strong>em</strong> outro corpo, <strong>em</strong> outra personag<strong>em</strong> 41 . O drama só<br />

se completa com o encantamento <strong>da</strong> metamorfose que se dá na alteri<strong>da</strong><strong>de</strong>, na outri<strong>da</strong><strong>de</strong>. Ser<br />

possível ao entusiasta dionisíaco ver-se fora <strong>de</strong> si, ver-se a si mesmo, é aproximar-se do<br />

sagrado, é beirar o limite do apolíneo, é atingir o máximo <strong>de</strong> aproximação com a quebra <strong>da</strong><br />

individuali<strong>da</strong><strong>de</strong> ; para ele é vivenciar o uno, com a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> resgate: o drama é a<br />

encarnação apolínea <strong>de</strong> cognições e efeitos dionisíacos 42 .<br />

O apolíneo não existe s<strong>em</strong> o dionisíaco, logo, uma vez cortados os laços entre o<br />

apolíneo, o dionisíaco e a arte, ocorreu a extinção <strong>da</strong>s duas forças que se interrelacionam <strong>em</strong><br />

um fenômeno <strong>de</strong> simultanei<strong>da</strong><strong>de</strong>, e a arte se esvaziou <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Assim como os helenos haviam<br />

sido resgatados para a vi<strong>da</strong> por meio <strong>da</strong> arte, também o hom<strong>em</strong> <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>, ain<strong>da</strong><br />

con<strong>de</strong>nado por Sileno, e pela ilusão do saber metafísico, científico e religioso, espera por essa<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reencantamento.<br />

A existência do mundo só se justifica enquanto fenômeno estético. O artista, amoral,<br />

que constrói e <strong>de</strong>strói, cria mundos sob óticas inovadoras: novas visões <strong>de</strong> mundo, dimensões<br />

39 I<strong>de</strong>m. Ibi<strong>de</strong>m. p. 58<br />

40 I<strong>de</strong>m. Ibi<strong>de</strong>m p. 58<br />

41 I<strong>de</strong>m. Ibi<strong>de</strong>m. p. 58<br />

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