Valéria Mac Knight - programa de pós-graduação em ciência da ...
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É a oposição do instinto <strong>de</strong> <strong>ciência</strong> ao instinto estético que Nietzsche con<strong>de</strong>na. A arte<br />
apolínea é a arte <strong>da</strong> aparência e esta é uma questão central no pensamento <strong>de</strong> Nietzsche<br />
porque se a beleza é uma aparência, o é por haver uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que é a essência: a beleza é<br />
uma aparência, um fenômeno, uma representação que t<strong>em</strong> por objetivo mascarar, encobrir,<br />
velar a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> essencial do mundo 43 .<br />
O belo oferece uma sensação <strong>de</strong> satisfação que intensifica as forças <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e aumenta<br />
o prazer <strong>de</strong> existir. Se na hipótese metafísica o que importa é ser ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro, na metafísica <strong>da</strong><br />
arte o uno originário carece <strong>da</strong> aparência pura para libertar-se <strong>da</strong> dor <strong>de</strong> existir: a<br />
individuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a cons<strong>ciência</strong>, é uma aparência, uma representação do uno originário;<br />
através do principium individuationis se produz a arte: é isso que constitui o processo<br />
artístico originário 44 .<br />
Foi assim que os gregos conseguiram o resgate <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> a<strong>pós</strong> a revelação <strong>de</strong> Sileno, o<br />
<strong>de</strong>us silvestre. A concepção apolínea <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> possibilitou a intensificação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Por outro<br />
lado, há a experiência dionisíaca que propõe uma ruptura <strong>da</strong> individuação e uma total<br />
miscigenação com a natureza e com os outros, uma <strong>de</strong>spersonalização, um enfeitiçamento que<br />
proporciona a experiência <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> original, rasgar o véu <strong>de</strong> Maia, encontro com o Uno-<br />
primordial.<br />
A idéia <strong>de</strong> Tales tudo é água, fun<strong>da</strong>dora <strong>da</strong> filosofia grega, <strong>de</strong> que a orig<strong>em</strong> <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as<br />
coisas é a água, contém, <strong>em</strong> estado <strong>de</strong> crisáli<strong>da</strong>, a idéia <strong>de</strong> que tudo é um, e o faz s<strong>em</strong> o uso <strong>de</strong><br />
explicações, s<strong>em</strong> imagens ou fábulas. Ao expor a representação <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> pela hipótese <strong>da</strong><br />
água, Tales é impelido pela força <strong>da</strong> imaginação: o pensamento <strong>de</strong> Tales, mesmo quando<br />
reconhecido como in<strong>de</strong>monstrável, t<strong>em</strong> antes o seu valor precisamente <strong>em</strong> não ter querido ser<br />
43 MACHADO, Roberto. Nietzsche e a Ver<strong>da</strong><strong>de</strong>. 2ª edição, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Rocco. 1985, p. 22<br />
44 I<strong>de</strong>m. Ibi<strong>de</strong>m. p. 23<br />
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