Valéria Mac Knight - programa de pós-graduação em ciência da ...
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O discípulo Paulo apresenta a idéia <strong>de</strong> morte associa<strong>da</strong> à vi<strong>da</strong> eterna como se fosse<br />
uma recompensa exterminando para s<strong>em</strong>pre o esforço por um movimento <strong>em</strong> prol <strong>da</strong><br />
felici<strong>da</strong><strong>de</strong> sobre a terra. Este, afirma Nietzsche, <strong>de</strong>slocou o centro <strong>de</strong> gravi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> existência<br />
para colocá-lo além, na construção ilusória <strong>de</strong> ressurreição.<br />
Quando se coloca o centro <strong>de</strong> gravi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> não na vi<strong>da</strong>, mas no “além” – no na<strong>da</strong><br />
– tira-se à vi<strong>da</strong> o seu centro <strong>de</strong> gravi<strong>da</strong><strong>de</strong>. A gran<strong>de</strong> mentira <strong>da</strong> imortali<strong>da</strong><strong>de</strong> pessoal<br />
<strong>de</strong>strói to<strong>da</strong> a razão, to<strong>da</strong> a natureza do instinto – tudo o que há nos instintos, <strong>de</strong><br />
benéfico, <strong>de</strong> vivificante, tudo o que promete o futuro, suscita agora a <strong>de</strong>sconfiança.<br />
Viver <strong>de</strong> tal maneira que já não se tenha razão <strong>de</strong> viver, isto converte-se agora na razão<br />
<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>... 23 .<br />
A religião cristã não toca a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> nenhum ponto e com isso nega a <strong>de</strong>us<br />
enquanto Deus. A fé é vista como uma mentira – necessária – que reduz Deus a na<strong>da</strong>, e a<br />
religião t<strong>em</strong>e a <strong>ciência</strong> pelo fato <strong>de</strong>sta tornar o hom<strong>em</strong> igual a Deus. Com isto a <strong>ciência</strong> torna-<br />
se coisa proibi<strong>da</strong>. Para Nietzsche a felici<strong>da</strong><strong>de</strong>, a ociosi<strong>da</strong><strong>de</strong> evocam os pensamentos, todos os<br />
pensamentos são maus pensamentos... o hom<strong>em</strong> não <strong>de</strong>ve pensar 24 .<br />
A fim <strong>de</strong> evitar que o hom<strong>em</strong> <strong>de</strong>scobrisse a <strong>ciência</strong> e progredisse no conhecimento foi<br />
cria<strong>da</strong> a idéia <strong>de</strong> pecado. A culpabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e o castigo foram inventados contra a <strong>ciência</strong><br />
colocando o hom<strong>em</strong> <strong>em</strong> uma situação <strong>em</strong> que sua vi<strong>da</strong> carece <strong>de</strong> re<strong>de</strong>nção. Evitar o prazer –<br />
como pecado – e buscar o sofrimento – expiação do pecado – e possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> re<strong>de</strong>nção são<br />
alguns dos maiores males criados pelo cristianismo. Infelizmente, tal visão <strong>de</strong> mundo está <strong>de</strong><br />
tal forma arraiga<strong>da</strong> no comportamento <strong>da</strong>s pessoas há tantos séculos que uma intervenção<br />
nesse modus operandi é algo muito <strong>de</strong>licado. É um sist<strong>em</strong>a que se mantém por si <strong>em</strong> uma<br />
dinâmica composta pelo evitar do prazer e o buscar e aceitar do sofrimento como expiação<br />
dos pecados tornando o hom<strong>em</strong> facilmente manipulável e <strong>de</strong>stituído <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Ain<strong>da</strong> mais pelo<br />
fato <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>ver leal<strong>da</strong><strong>de</strong> a um lí<strong>de</strong>r a qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>votar leal<strong>da</strong><strong>de</strong> incontestavelmente. O<br />
pecado (...) essa forma <strong>de</strong> poluição <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong> por excelência, foi inventado para tornar<br />
23 I<strong>de</strong>m. Ibi<strong>de</strong>m. p. 78<br />
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