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CESARE BECCARIA E AS SOMBRAS DO ILUMINISMO: DIREITO ...

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desenvolvimento econômico conseguido pela França com o comércio e com as manufaturas<br />

gerava os recursos necessários para que se sustentasse o exército e a estrutura<br />

administrativa da coroa e possibilitava que o Estado francês se estabelecesse como potência<br />

dentro do cenário político internacional, mesmo sem alcançar um grau maior de<br />

centralização administrativa. De tal forma, a eliminação destes poderes intermediários,<br />

embora fosse um desejo contínuo da coroa, não era, entretanto, uma necessidade tão<br />

proeminente. O discurso iluminista francês não deixara de fazer críticas ao poder político<br />

da nobreza, mas a insensibilidade ou inaptidão da coroa francesa para atender a<br />

determinadas demandas e a existência de uma alta burguesia com poder político e social,<br />

somadas ao exemplo da Inglaterra, de onde vinha boa parte dos modelos filosóficos dos<br />

intelectuais franceses, fez com que o Iluminismo francês fosse perdendo a sua fé no<br />

absolutismo e começasse a caminhar em direção a valores liberais que preparariam a<br />

Revolução de 1789. 5<br />

descarta a existência de uma alta burguesia detentora de privilégios comerciais dependentes do<br />

poder central e, portanto, interessada em seu fortalecimento; 2- O desenvolvimento das atividades<br />

comerciais levadas a cabo pela burguesia propicia (pelo aumento da arrecadação) e torna necessária<br />

(em função das necessidades de regulação devidas a vário motivos) o desenvolvimento de uma<br />

burocracia centralizada nas mãos da coroa, fazendo com a burguesia contribua com o processo<br />

mesmo não intencionalmente. 3- a burguesia serviu conscientemente como força política em favor<br />

da centralização ao menos quando estava em causa a destruição dos poderes senhoriais que<br />

dificultavam a extensão das suas atividades econômicas, o que já é, por si só, extremamente<br />

significativo.<br />

5 Vejamos o que diz, sobre isso, Guido Astuti: “Justamente em França, o centro mais vivo e activo<br />

do pensamento político continental, onde já na época de Luís XIV a reacção dos espíritos mais<br />

conscientes perante os funestos efeitos de um mau governo tinha determinado críticas abertas ao<br />

regime autocrático (basta recordar, entre todas, a célebre carta de Fénelon ao soberano, exemplo<br />

admirável e elevadíssimo de coragem política e cívica), faltou durante o reinado de Luís XV<br />

qualquer orientação reformadora, ainda que só programática e tendencial. As doutrinas que, por<br />

todo o lado, se difundiram em França, representavam, no seu radicalismo dogmático, uma antítese<br />

demasiado nítida com os princípios e métodos do governo despótico, centralizado e burocrático, de<br />

modo a tornar praticamente impossível uma sua qualquer efectivação; elas não podiam, por isso,<br />

promover em França uma acção iluminada reformadora da monarquia, preparando antes a<br />

revolução.[...] Mais tarde, demasiado tarde, sob o débil governo de Luís XVI, não faltaram os<br />

programas, as propostas e as tentativas concretas de uma política reformadora: mas a obra de um<br />

Turgot ou de um Necker era tão impotente para resolver os problemas que urgiam em todos os<br />

campos, como para travar a desordem financeira e para estancar a crescente maré revolucionária. A<br />

convocação dos Estados Gerais, que deveria ter conduzido a nação francesa a concluir um novo<br />

contrato com a monarquia, desencadeou, pelo contrário, a revolução.”(<strong>AS</strong>TUTI, Guido. O<br />

Absolutismo Esclarecido em Itália e o Estado de Polícia. Tradução de António Manuel Hespanha.<br />

In HESPANHA, António Manuel (org.). Poder e Instituições na Europa do Antigo Regime. Lisboa:<br />

Fundação Calouste Gulbenkian, 1984, pp. 260-1.). O fato de as pretensões sociais representadas<br />

pelas elucubrações iluministas não terem sido absorvidas pela Monarquia em uma atividade<br />

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