31.05.2013 Views

CESARE BECCARIA E AS SOMBRAS DO ILUMINISMO: DIREITO ...

CESARE BECCARIA E AS SOMBRAS DO ILUMINISMO: DIREITO ...

CESARE BECCARIA E AS SOMBRAS DO ILUMINISMO: DIREITO ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Ao longo desse processo em que o soberano se transformará no artífice<br />

da reorganização social, assumindo a tarefa de implementar as mudanças desejadas, o<br />

direito será um de seus mais importantes instrumentos. Este uso do direito como caminho<br />

para se afetar a sociedade chegará ao seu auge no fim do século XVIII, justamente com o<br />

auge do próprio processo em que o soberano passa a interferir diretamente sobre a<br />

organização social. Para se chegar a essa fase em que o direito era instrumento do soberano<br />

para moldar a sociedade, houve necessidade, primeiramente, de colocá-lo em suas mãos.<br />

Assim a política de centralização do absolutismo monárquico que, por todo o lado, se<br />

insurgia contra o particularismo jurídico foi um pressuposto indispensável para que essa<br />

instrumentalização do direito fosse possível. Este particularismo jurídico 12 era a situação<br />

de fragmentariedade, de desuniformidade, de ausência de unidade e de sistematicidade da<br />

estrutura jurídica dos Estados europeus continentais; características essas que se<br />

articulavam tanto no âmbito das fontes do direito quanto no âmbito de sua aplicação<br />

jurisdicional.<br />

Para termos uma idéia mais exata do que era esse particularismo jurídico<br />

contra o qual o absolutismo se insurgiria e quais as suas conseqüências sociais, talvez seja<br />

interessante analisarmos mais detidamente alguns casos. Começaremos pela França, onde o<br />

mais vigoroso absolutismo monárquico do século XVII convivia com uma das mais<br />

fragmentadas e desuniformes estruturas jurídicas da Europa ocidental de então.<br />

12 Tarello nos esclarece sobre o nascimento, o sentido e a aplicação ao século XVIII da expressão<br />

particularismo jurídico: “L’espressione ‘particolarismo giuridico’ è stata inventata e fatta circolare<br />

dai giuristi positivisti dall’Ottocento, proprio al fine di contraporre la felice situazione del diritto<br />

codificato a quella, infelice, che la precedeva; e, in fatto, è circolata con maggiore frequenza nella<br />

letteratura storico-giuridica francese e italiana che non in quella germanica, in cui la concomitanza<br />

di tendenze storicistiche e di tendenze corporativistiche, mentre ostacolava nella prima metà del<br />

secolo XIX il processo di codificazione, dissuadeva dall’adozione di uno schema di interpretazione<br />

storiografica fondato sulla contrapposizione tra diritto frantumato in sistemi particolari e diritto<br />

unificato da una codificazione uniforme. Come che sia, la locuzione ‘particolarismo giuridico’ è<br />

utile perché compendiosa, e possiamo usarla per brevità e sia pure con cautela. Per ‘particolarismo<br />

giuridico’ si intende la mancanza di unitarietà e di coerenza dell’insieme delle leggi vigenti in una<br />

data sfera spazio-temporale, individuata in seguito ad un giudizio di valore secondo il quale in<br />

quella stessa sfera vi ‘dovrebbe’ essere, o ‘ci si aspetterebbe’ vi fosse, unità e coerenza di leggi.<br />

Come è chiaro, valutazioni e aspettazioni siffatte si possono rinvenire sia nella cultura<br />

contemporanea al fenomeno qualificato, sia nella cultura e nella mentalità dello storico futuro; nel<br />

nostro caso, mentre l’uso dell’espressione ‘particolarismo’ è proprio dello storico ottocentesco, una<br />

certa strada sull’individuazione di sfere che dovrebbero essere giuridicamente unificate è<br />

rinvenibile proprio nella cultura settecentesca, che da simili individuazioni prende le mosse per i<br />

frequenti suoi programmi di riforma.” (TARELLO, Giovanni. Storia... p. 28-9.).<br />

24

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!