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Heterogeneidade e Divisao em Discursos de Suicidas

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ativida<strong>de</strong> humana teriam uma orig<strong>em</strong> coletiva e um objetivo da mesma natureza. Assim,<br />

quanto mais nos <strong>de</strong>sligamos da socieda<strong>de</strong>, mais nos <strong>de</strong>sligamos da vida.<br />

Para o autor, isso explicaria por que os índices <strong>de</strong> suicídio na Europa da época eram<br />

mais baixos entre crianças e idosos no fim da vida, fases <strong>em</strong> que o hom<strong>em</strong> físico ten<strong>de</strong> a se<br />

i<strong>de</strong>ntificar com o hom<strong>em</strong> total, ou seja, quando as necessida<strong>de</strong>s orgânicas têm uma<br />

importância maior. Afinal, a socieda<strong>de</strong> não existe para a criança, pois ainda não houve t<strong>em</strong>po<br />

para que a primeira construísse a segunda à sua imag<strong>em</strong>. Para o idoso, ela começa a<br />

<strong>de</strong>saparecer, porque ele está para <strong>de</strong>ixá-la. Assim <strong>de</strong>duz o sociólogo:<br />

V<strong>em</strong>os, portanto, <strong>em</strong> que sentido é verda<strong>de</strong>iro afirmar que a nossa ativida<strong>de</strong><br />

necessita <strong>de</strong> um objetivo que a ultrapasse. Não que este nos seja necessário<br />

para nos manter na ilusão <strong>de</strong> uma imortalida<strong>de</strong> impossível; é que ele está<br />

implícito <strong>em</strong> nossa configuração moral e não po<strong>de</strong> faltar, n<strong>em</strong> mesmo<br />

parcialmente, s<strong>em</strong> que ao mesmo t<strong>em</strong>po ela <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> ter uma razão <strong>de</strong> ser.<br />

Não é necessário mostrar que, <strong>em</strong> tal estado <strong>de</strong> perturbação, as mais<br />

pequenas causas <strong>de</strong> <strong>de</strong>salento pod<strong>em</strong> facilmente originar as resoluções<br />

<strong>de</strong>sesperadas. Se a vida não vale a pena ser vivida, qualquer coisa se torna<br />

pretexto para nos <strong>de</strong>svencilharmos <strong>de</strong>la (DURKHEIM, 2002, p. 225).<br />

Tal <strong>de</strong>sinteresse não afetaria apenas indivíduos isolados, produzindo-se também na<br />

coletivida<strong>de</strong>. Haveria uma disposição <strong>de</strong> espírito coletiva a inclinar certo povo para a tristeza<br />

ou para a alegria, <strong>de</strong>terminando seu modo <strong>de</strong> ver a realida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> julgar o que vale a vida<br />

humana. Por conseguinte, uma socieda<strong>de</strong> doente necessariamente afeta os m<strong>em</strong>bros que a<br />

constitu<strong>em</strong>, e não há como fugir da influência do social. Conforme esclarece o sociólogo:<br />

“Por mais individualizado que seja cada um <strong>de</strong> nós, há s<strong>em</strong>pre um sentimento coletivo que<br />

subsiste, que é a <strong>de</strong>pressão e a melancolia resultantes <strong>de</strong>ssa individualização exagerada.<br />

Quando não resta mais nada para se viver <strong>em</strong> comum, comunga-se na tristeza” (DURKHEIM,<br />

2002, p. 227).<br />

Uma segunda espécie <strong>de</strong> suicídio i<strong>de</strong>ntificada por Durkheim é o altruísta. Como o<br />

próprio nome indica, esse tipo é o oposto do primeiro, pois <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> uma individualização<br />

insuficiente. Dá-se quando o indivíduo se mata por estar por d<strong>em</strong>ais integrado à socieda<strong>de</strong>.<br />

O suicídio altruísta po<strong>de</strong> ser obrigatório ou voluntário. No primeiro, a socieda<strong>de</strong><br />

impõe ao seu m<strong>em</strong>bro a auto<strong>de</strong>struição, sob pena <strong>de</strong> viver na <strong>de</strong>sonra ou receber reprimendas<br />

religiosas. Esse tipo <strong>de</strong> morte era comum <strong>em</strong> povos primitivos, especialmente <strong>em</strong> três<br />

circunstâncias: suicídios <strong>de</strong> homens velhos ou doentes, <strong>de</strong> mulheres quando perdiam o marido<br />

e <strong>de</strong> subalternos ou <strong>de</strong> servos após a morte <strong>de</strong> seus chefes.<br />

No caso do suicídio altruísta voluntário, a socieda<strong>de</strong> não obriga seus m<strong>em</strong>bros a<br />

cometê-lo, porém os estimula por consi<strong>de</strong>rá-lo uma atitu<strong>de</strong> honrosa. De fato, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre é<br />

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