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Heterogeneidade e Divisao em Discursos de Suicidas

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5) sinais tipográficos (aspas, itálico) e entonação;<br />

6) formas puramente interpretativas (alusões, discurso indireto livre, jogo <strong>de</strong> palavras não<br />

marcado).<br />

À luz da modalida<strong>de</strong> autonímica, Authier-Revuz enten<strong>de</strong> que a enunciação po<strong>de</strong> ser<br />

dividida <strong>em</strong> dois territórios: o da coincidência, <strong>em</strong> que as palavras têm seu <strong>em</strong>prego normal,<br />

standard, transparente; e o da não-coincidência, <strong>em</strong> que o enunciador não <strong>de</strong>ixa a palavra<br />

“solta”, “funcionando sozinha”, pois sente um probl<strong>em</strong>a, algo a ser observado, comentado,<br />

contornado (TEIXEIRA, 2000). A autora assinala quatro campos <strong>de</strong> não-coincidência ou<br />

heterogeneida<strong>de</strong>:<br />

1) não-coincidência interlocutiva, perceptível através <strong>de</strong> formas que atestam a falta <strong>de</strong><br />

simetria entre locutor e interlocutor, d<strong>em</strong>onstrando que uma maneira <strong>de</strong> dizer ou um<br />

sentido não são totalmente “partilhados” por eles (ex.: digamos X; se enten<strong>de</strong> o que eu<br />

quero dizer);<br />

2) não-coincidência do discurso consigo mesmo – toda palavra é permeada pelo discurso<br />

outro, e tudo o que se diz aqui e agora r<strong>em</strong>ete a algo que fala <strong>em</strong> outro lugar, antes e<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente;<br />

3) não-coincidência entre palavras e coisas, a qual rompe a ilusão da relação biunívoca<br />

entre as palavras e coisas que elas <strong>de</strong>signam, sendo explicitada, por ex<strong>em</strong>plo, através<br />

da hesitação (eu não digo X’ mas quase; direi X?), da busca pela palavra exata (X, ou<br />

antes Y; X ou melhor Y) e até mesmo <strong>de</strong> manifestações <strong>de</strong> coincidência do enunciador<br />

com seu dizer (X e eu digo b<strong>em</strong> X’; ouso dizer X) ou da palavra com a coisa (X é a<br />

palavra; X no sentido estrito);<br />

4) não-coincidência das palavras consigo mesmas, assinalada por meio <strong>de</strong> menções aos<br />

diferentes sentidos <strong>de</strong> uma palavra, reconhecendo o fenômeno da poliss<strong>em</strong>ia ou<br />

homonímia (ex.: X, no sentido <strong>de</strong> p; X, não no sentido <strong>de</strong> q; X, s<strong>em</strong> jogo <strong>de</strong> palavra; X,<br />

nos dois sentidos da palavra).<br />

Conforme mencionado, a obra <strong>de</strong> Authier-Revuz representou uma valiosa contribuição<br />

para a AD, especificamente na terceira fase da disciplina. Em gran<strong>de</strong> parte, a autora baseou-se<br />

nas formulações <strong>de</strong> Pêcheux sobre o discurso, colocando o interdiscurso como ponto <strong>de</strong> apoio<br />

para a análise das não-coincidências do discurso consigo mesmo. Essa noção “rompe, no<br />

plano teórico, o fechamento dos discursos sobre eles mesmos, ao colocar num espaço<br />

discursivo ‘exterior’, cuja presença, no entanto, <strong>de</strong>ixa traços no discurso, o lugar da<br />

constituição do que é enunciado” (TEIXEIRA, 2000, p. 168).<br />

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