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Heterogeneidade e Divisao em Discursos de Suicidas

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A autonímia ocorre quando se toma um signo para falar <strong>de</strong>le, colocando-o como<br />

objeto do dizer, como ocorre nas sentenças “Casa” t<strong>em</strong> duas sílabas e “I<strong>de</strong>ia” não t<strong>em</strong> mais<br />

acento. Como se vê, as palavras “casa” e “i<strong>de</strong>ia”, nesses ex<strong>em</strong>plos, estão sendo mencionadas,<br />

referidas, mas não utilizadas. Isto é, elas não são <strong>em</strong>pregadas como meio transparente para<br />

chegar aos seus significados, algo que vai além <strong>de</strong>las próprias, o que constituiria seu uso<br />

“normal”.<br />

Por sua vez, a conotação autonímica envolve os dois <strong>em</strong>pregos, tanto “<strong>em</strong> menção”<br />

quanto “<strong>em</strong> uso”. Por ex<strong>em</strong>plo, na sentença O passeio foi uma “indiada”, como diz<strong>em</strong> os<br />

gaúchos, a palavra “indiada” está sendo utilizada no seu sentido <strong>de</strong> “programa <strong>de</strong> índio” (um<br />

programa chato, s<strong>em</strong> diversão alguma) e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, referida como uma expressão<br />

gaúcha. 13 É esse fenômeno que interessa a Authier-Revuz.<br />

O conceito <strong>de</strong> modalização autonímica também diz respeito à reflexibilida<strong>de</strong> da<br />

linguag<strong>em</strong>, porém envolve um <strong>de</strong>slocamento do ponto <strong>de</strong> vista s<strong>em</strong>iótico <strong>de</strong> Rey-Debove para<br />

a enunciação. As formas <strong>de</strong> modalida<strong>de</strong> autonímica são formas metaenunciativas, pois<br />

apresentam uma “enunciação sobre a enunciação”, referindo-se a um <strong>de</strong>terminado segmento<br />

na ca<strong>de</strong>ia. São, ainda, estritamente reflexivas, já que, <strong>em</strong> um único ato <strong>de</strong> enunciação,<br />

correspond<strong>em</strong> ao <strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong> um el<strong>em</strong>ento por um comentário simultâneo <strong>de</strong>sse dizer.<br />

Por fim, são também opacificantes, já que o el<strong>em</strong>ento sobre o qual incid<strong>em</strong> associa<br />

significado e significante, ficando bloqueada a sua sinonímia (AUTHIER-REVUZ, 2004).<br />

O bloqueio da sinonímia, conceito formulado por Rey-Debove, ocorre quando não<br />

pod<strong>em</strong>os substituir um signo por outro que seja sinônimo. Trata-se <strong>de</strong> um <strong>em</strong>prego menos<br />

comum do signo, <strong>em</strong> que este não r<strong>em</strong>ete simplesmente a uma outra coisa, mas ele mesmo é<br />

objeto <strong>de</strong> menção. Assim, retornando ao ex<strong>em</strong>plo supracitado, a sentença O passeio foi uma<br />

“indiada” po<strong>de</strong>ria ser substituída por O passeio for um “programa <strong>de</strong> índio” ou O passeio foi<br />

uma “fria”. Contudo, no momento <strong>em</strong> que se inclui um comentário sobre a palavra “indiada”,<br />

esta se torna insubstituível, opaca, objeto do dizer. Assim, não seria possível a substituição<br />

por O passeio foi um “programa <strong>de</strong> índio”, como diz<strong>em</strong> os gaúchos, pois haveria uma<br />

mudança significativa no dizer do enunciador. Ora, “programa <strong>de</strong> índio” não é uma expressão<br />

tipicamente sul-rio-gran<strong>de</strong>nse.<br />

A diferença entre os conceitos <strong>de</strong> modalização autonímica e <strong>de</strong> conotação autonímica<br />

não diz respeito apenas à nomenclatura ou às áreas <strong>de</strong> conhecimento <strong>em</strong> que cada um se<br />

inscreve. Enquanto a conotação autonímica é caracterizada como um fato <strong>de</strong> poliss<strong>em</strong>ia, a<br />

13 No Dicionário <strong>de</strong> Porto-Alegrês <strong>de</strong> Luís Augusto Fischer (1999, p. 91), o termo indiada é <strong>de</strong>finido como<br />

“Programa <strong>de</strong> índio, programa ruim, que mete a gente numa situação constrangedora, chata, terrível”.<br />

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