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Heterogeneidade e Divisao em Discursos de Suicidas

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Certo grupo <strong>de</strong> instintos se precipita como que para atingir o objetivo final<br />

da vida tão rapidamente quanto possível, mas, quando <strong>de</strong>terminada etapa no<br />

avanço foi alcançada, o outro grupo atira-se para trás até um certo ponto, a<br />

fim <strong>de</strong> efetuar nova saída e prolongar assim a jornada (FREUD, 1920, p. 27).<br />

Po<strong>de</strong>-se dizer que, no suicídio, os instintos <strong>de</strong> morte predominam e consegu<strong>em</strong> atingir<br />

seu objetivo final antecipadamente.<br />

Além <strong>de</strong> suas contribuições teóricas para a questão do suicídio, Freud também relata<br />

uma série <strong>de</strong> casos clínicos <strong>de</strong> pacientes que atentaram contra suas próprias vidas, como os <strong>de</strong><br />

Anna O. (1893), Dora (1905 [1901]), o “hom<strong>em</strong> dos ratos” (1909), Schreber (1911), uma<br />

jov<strong>em</strong> homossexual reprimida pela família (1920) e outra moça que se suicidou supostamente<br />

por distúrbios neuróticos (1918 [1914]). Trata do assunto, ainda, ao criticar o tratamento<br />

elétrico dado a neuróticos <strong>de</strong> guerra, cuja severida<strong>de</strong> levou a um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> mortes e<br />

suicídios.<br />

Diversos especialistas <strong>de</strong>ram sequência ao trabalho <strong>de</strong> Freud sobre o suicídio. Os<br />

psiquiatras brasileiros Yuan Wang e Zacaria Ramadam, por ex<strong>em</strong>plo, baseiam-se nas<br />

concepções do pai da psicanálise ao explicar<strong>em</strong> o fenômeno:<br />

Embora a pessoa possa estar ambivalente, uma característica dos suicidas é<br />

<strong>de</strong> voltar contra si mesmos os impulsos assassinos (<strong>de</strong>sejos, necessida<strong>de</strong>s)<br />

que têm sido direcionados contra um evento traumático, mais<br />

freqüent<strong>em</strong>ente alguém que o(a) rejeitara. O suicídio po<strong>de</strong> ser visto como<br />

um assassinato <strong>em</strong> 180 graus (WANG; RAMADAM, 2004, p. 93).<br />

Karl Menninger, <strong>em</strong> sua famosa obra Man Against Himself, <strong>de</strong> 1938 (<strong>em</strong> português,<br />

Eros e Tânatos: o hom<strong>em</strong> contra si mesmo), trata do conflito entre os instintos <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong><br />

morte. Ele afirma coexistir<strong>em</strong> três el<strong>em</strong>entos no ato do suicídio: o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> matar, o <strong>de</strong>sejo<br />

<strong>de</strong> ser morto e o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> morrer. Embora um <strong>de</strong>les possa ser mais forte do que o outro, s<strong>em</strong><br />

a presença dos três o suicídio não se consuma.<br />

Jackson (1957) classifica as teorias sobre a morte voluntária <strong>em</strong> função da ênfase dada<br />

às motivações subjacentes ao ato. Haveria três gran<strong>de</strong>s categorias:<br />

1) Agressão autodirigida: Po<strong>de</strong> incluir ou não o conceito <strong>de</strong> instinto <strong>de</strong> morte.<br />

Abrange o suicídio parcial, como as operações múltiplas, a tendência a sofrer<br />

aci<strong>de</strong>ntes, etc.<br />

2) Renascimento e restituição: Envolve a noção <strong>de</strong> livrar-se do “eu mau” para fazer<br />

um novo começo, frequent<strong>em</strong>ente i<strong>de</strong>ntificada <strong>em</strong> crianças e esquizofrênicos<br />

suicidas.<br />

3) Desespero, perda <strong>de</strong> autoestima e perda real ou imaginária do objeto amado:<br />

Quando o suicídio é consequência <strong>de</strong> alguma perda, como a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, conforto,<br />

dinheiro, status ou <strong>de</strong> um parceiro.<br />

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