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Heterogeneidade e Divisao em Discursos de Suicidas

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Outro é reafirmar, <strong>de</strong> maneira <strong>de</strong>terminista, que um discurso livre não existe<br />

e é dar-lhes a lei (CLÉMENT, 1976 apud AUTHIER-REVUZ, 2004, p. 64).<br />

Fink (1998, p. 26-27) explica <strong>de</strong> forma simplificada como se dá o processo pelo qual o<br />

<strong>de</strong>sejo escondido no inconsciente po<strong>de</strong> ser um <strong>de</strong>sejo estranho, isto é, o <strong>de</strong>sejo do Outro.<br />

Às vezes, muitas pessoas sent<strong>em</strong> que estão trabalhando <strong>em</strong> algo que n<strong>em</strong><br />

sequer realmente <strong>de</strong>sejam, <strong>em</strong>penhando-se para correspon<strong>de</strong>r a expectativas<br />

que n<strong>em</strong> mesmo endossam, ou <strong>de</strong>clarando objetivos que sab<strong>em</strong><br />

perfeitamente b<strong>em</strong> que têm pouca ou nenhuma motivação para alcançar. O<br />

inconsciente está, nesse sentido, transbordando <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> outras pessoas:<br />

o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> seus pais, talvez, <strong>de</strong> que você estu<strong>de</strong> nesta ou naquela<br />

universida<strong>de</strong> e siga esta ou aquela carreira; o <strong>de</strong>sejo dos seus avós <strong>de</strong> que<br />

você tome juízo e se case e lhes dê bisnetos; ou a pressão dos companheiros<br />

<strong>de</strong> que você se envolva <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminadas ativida<strong>de</strong>s nas quais não está<br />

realmente interessado. Em tais casos, há um <strong>de</strong>sejo que você consi<strong>de</strong>ra como<br />

“seu”, e um outro com o qual se <strong>de</strong>bate e que parece estar no controle, e<br />

algumas vezes o força a agir, mas você não sente ser inteiramente seu.<br />

As opiniões e <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> outras pessoas flu<strong>em</strong> para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós através do<br />

discurso. Nesse sentido, pod<strong>em</strong>os interpretar o enunciado <strong>de</strong> Lacan que o<br />

inconsciente é o discurso do Outro, <strong>de</strong> uma maneira muito direta: o<br />

inconsciente está repleto da fala <strong>de</strong> outras pessoas, das conversas <strong>de</strong> outras<br />

pessoas, e dos objetivos, aspirações e fantasias <strong>de</strong> outras pessoas (na<br />

medida <strong>em</strong> que estes são expressos <strong>em</strong> palavras).<br />

Para representar <strong>de</strong> forma clara e resumida a configuração do sujeito <strong>em</strong> AD, Ferreira<br />

(2005) traz a figura do nó borromeano, introduzida na psicanálise por Lacan. Ela é formada<br />

por três anéis, representando uma Tríplice Aliança, ligados <strong>de</strong> forma solidária e<br />

inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />

Figura 3 - O nó borromeano (FERREIRA, 2005)<br />

O sujeito encontra-se no entr<strong>em</strong>eio da linguag<strong>em</strong>, da i<strong>de</strong>ologia e da psicanálise, sendo<br />

afetado simultaneamente por essas três or<strong>de</strong>ns. Entretanto, por se tratar <strong>de</strong> um ser-<strong>em</strong>-falta,<br />

ele <strong>de</strong>ixa <strong>em</strong> cada uma <strong>de</strong>las um furo: na linguag<strong>em</strong>, o equívoco; na i<strong>de</strong>ologia, a contradição;<br />

e na psicanálise, o inconsciente.<br />

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