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Heterogeneidade e Divisao em Discursos de Suicidas

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i<strong>de</strong>ologia dominante que exerce um domínio pleno, s<strong>em</strong> espaço para falhas. Nas palavras <strong>de</strong><br />

Pêcheux, “aparece a idéia <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> vacilação discursiva que afeta <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma FD<br />

as seqüências situadas <strong>em</strong> suas fronteiras, até o ponto <strong>em</strong> que se torna impossível <strong>de</strong>terminar<br />

por qual FD elas são engendradas” (PÊCHEUX, 1997, p. 314).<br />

Se inicialmente Pêcheux havia proposto uma analogia entre i<strong>de</strong>ologia e inconsciente,<br />

passa, então, a esclarecer que “a ord<strong>em</strong> do inconsciente não coinci<strong>de</strong> com a da i<strong>de</strong>ologia, o<br />

recalque não se i<strong>de</strong>ntifica n<strong>em</strong> com o assujeitamento n<strong>em</strong> com a repressão, mas isso não<br />

significa que a i<strong>de</strong>ologia <strong>de</strong>va ser pensada s<strong>em</strong> referência ao inconsciente” (PÊCHEUX, 1988,<br />

p. 301). Esse período <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconstituição abre caminho para a terceira fase, <strong>de</strong> reformulação.<br />

Finalmente, na AD-3, a partir <strong>de</strong> 1980, passou-se a levar <strong>em</strong> conta a heterogeneida<strong>de</strong><br />

do sujeito e do sentido, expostos ao equívoco e à incompletu<strong>de</strong>. Entre os nomes que<br />

contribuíram para a reconfiguração da disciplina, <strong>de</strong>stacam-se Michel <strong>de</strong> Certeau, Jean-<br />

Jacques Courtine, Jean-Marie Marandin, Jean-Clau<strong>de</strong> Milner e Jacqueline Authier-Revuz.<br />

Nessa fase, o discurso começa a ser encarado como constituído por uma<br />

heterogeneida<strong>de</strong> fundante, caracterizada pela presença do outro no discurso do sujeito.<br />

Também é visto como um processo baseado no encontro da m<strong>em</strong>ória (interdiscurso) com a<br />

atualida<strong>de</strong>, da estrutura com o acontecimento.<br />

Acentua-se a primazia do outro sobre o mesmo, até o limite da crise da noção <strong>de</strong><br />

máquina discursiva estrutural. O discurso-outro po<strong>de</strong> ser um discurso alheio, colocado <strong>em</strong><br />

cena pelo sujeito, ou discurso do sujeito se colocando <strong>em</strong> cena como um outro. Mas é,<br />

sobretudo, um “além” interdiscursivo que foge ao controle do “ego-eu” (PÊCHEUX, 1997).<br />

Teixeira resume a mudança representada pela AD-3 nos seguintes termos:<br />

Se antes a AD privilegiava o mesmo concebido como repetição referida a um<br />

domínio <strong>de</strong> m<strong>em</strong>ória, agora é necessário dar o primado ao outro sobre o<br />

mesmo, trabalhando a heterogeneida<strong>de</strong>. A análise, colocada centralmente<br />

sobre o conceito <strong>de</strong> interdiscurso precisa enfim fazer operar a relação<br />

inter/intradiscurso através do estudo da seqüencialida<strong>de</strong>. O interesse pela<br />

História – com um gran<strong>de</strong> H – <strong>de</strong>sloca-se para as histórias singulares, para o<br />

acontecimento. Embora a noção <strong>de</strong> discurso se apóie ainda no objeto língua,<br />

esse objeto passa a ser tomado como estruturalmente marcado por uma falta.<br />

As <strong>de</strong>scrições do discurso e do sentido inscrev<strong>em</strong>-se, então, do lado <strong>de</strong> uma<br />

incompletu<strong>de</strong>, não mais conjuntural, <strong>em</strong> que as faltas esperavam ser<br />

preenchidas por uma etapa mais geral da <strong>de</strong>scrição, mas por uma<br />

incompletu<strong>de</strong> fundante (TEIXEIRA, 2000, p. 63).<br />

É essa concepção, da terceira fase da AD, que adotar<strong>em</strong>os neste trabalho, não obstante<br />

utiliz<strong>em</strong>os também conceitos das fases anteriores, como os <strong>de</strong> formação discursiva, formação<br />

i<strong>de</strong>ológica e formações imaginárias. Analisar<strong>em</strong>os a repetição (a paráfrase), porém dar<strong>em</strong>os<br />

especial atenção ao outro sobre o mesmo, isto é, à heterogeneida<strong>de</strong> dos discursos.<br />

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