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Heterogeneidade e Divisao em Discursos de Suicidas

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De fato, ascensões sociais repentinas pod<strong>em</strong> ser igualmente danosas, eis que traz<strong>em</strong><br />

um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sequilíbrio: “Já não se sabe o que é possível e o que não o é, o que é justo e o<br />

que é injusto, quais são as reivindicações e as esperanças legítimas, quais as que são<br />

exageradas. Por conseguinte, não há nada que não se pretenda” (DURKHEIM, 2002, p. 273).<br />

Dessa forma, Durkheim sustenta a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma força reguladora das ambições,<br />

já que, quanto menos se possui, tanto menos se está inclinado a <strong>de</strong>sejar. Ou seja: “Quando a<br />

mediocrida<strong>de</strong> é geral, não há nada que venha excitar o <strong>de</strong>sejo” (p. 274). A riqueza, por sua<br />

vez, dá-nos a ilusão <strong>de</strong> que nosso po<strong>de</strong>r é ilimitado, <strong>de</strong> modo que qualquer frustração nos<br />

pareça insuportável.<br />

Além <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar o suicídio anômico <strong>em</strong> momentos <strong>de</strong> crise, o sociólogo também o<br />

observou como fator constante entre os comerciários e industriários <strong>de</strong> sua época. Segundo<br />

ele, com o enfraquecimento da religião e a ampliação do mercado, <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> existir limites<br />

a essas classes, que po<strong>de</strong>riam “quase preten<strong>de</strong>r ter o mundo inteiro como cliente” (p. 276). A<br />

anomia tornou-se, portanto, um estado normal, resultando <strong>em</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> suicídios<br />

nessas categorias profissionais.<br />

Resumindo os três tipos <strong>de</strong> suicídio, t<strong>em</strong>-se que:<br />

O suicídio egoísta provém do fato <strong>de</strong> os homens não encontrar<strong>em</strong> uma<br />

justificação para a vida; o suicídio altruísta, do fato <strong>de</strong> essa justificação lhes<br />

parecer estar fora da própria vida; o terceiro tipo <strong>de</strong> suicídio, cuja existência<br />

acabamos <strong>de</strong> constatar, provém do fato <strong>de</strong> a ativida<strong>de</strong> dos homens estar<br />

<strong>de</strong>sregrada e do fato <strong>de</strong> eles sofrer<strong>em</strong> com isso (DURKHEIM, 2002, p. 279).<br />

Segundo o autor, o impacto <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>sregramento justificaria o aumento do número <strong>de</strong><br />

suicídios <strong>em</strong> casos <strong>de</strong> viuvez e <strong>de</strong> divórcio, visto que o casamento representa uma forma <strong>de</strong><br />

regulamentação e controle.<br />

No final do capítulo sobre o suicídio anômico, <strong>em</strong> uma nota <strong>de</strong> rodapé, Durkheim<br />

ainda concebe uma quarta modalida<strong>de</strong> – o suicídio fatalista. Assim como o suicídio altruísta<br />

se opõe ao egoísta, o fatalista seria o oposto do anômico, resultando <strong>de</strong> um excesso <strong>de</strong><br />

regulamentação. Verifica-se quando as paixões do indivíduo são violentamente reprimidas por<br />

uma disciplina opressiva, como ocorria, no século XIX, com aqueles que se casavam muito<br />

jovens e com a mulher casada s<strong>em</strong> filhos, e, <strong>em</strong> épocas anteriores, com os escravos.<br />

Entretanto, por ser consi<strong>de</strong>rado mais raro e <strong>de</strong> menor importância, esse tipo não foi analisado<br />

com profundida<strong>de</strong>.<br />

No restante <strong>de</strong> sua obra, Durkheim <strong>de</strong>senvolve algumas formas individuais dos<br />

diferentes tipos <strong>de</strong> suicídio, situa novamente o suicídio como um fenômeno social, investiga o<br />

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