Hamlet à luz de Bakhtin: a carnavalização da tragédia - CCHLA ...

pessoas atraídas pelo que tivesse no palco. O total de tragédias escrita pelo autor soma-se
doze, Tito Andrônico(1588) é tida por alguns como a primeira tragédia shakespeariana.
De suas tragédias quatro delas recebem os títulos de: “Quatro Grandes Tragédias”,
são elas: Hamlet (1599), Otelo (1603), Rei Lear (1605), Macbeth (1606). Barbara
Heliodora diz “(...) nas tragédias, são examinadas as relações do homem com o universo,
por intermédio de situações extremas, nas quais valores últimos devem ser avaliado e
postos à prova.” Ela acrescenta ainda que as “tragédias tratam de conflitos irreconciliáveis”
(HELIODORA, 2004, p. 66-67). Essas peças não possuem o formato fechado preconizado
por Aristóteles. Shakespeare misturava humor e drama, comédia e tragédia, ou seja, não
seguia o formato de um gênero “puro”.
Shakespeare tem um papel importantíssimo não apenas na literatura. Seu nome
aparece ligado às mais diversas áreas do conhecimento humano. Sua obra ajudou na
consolidação da língua inglesa, no desenvolvimento do teatro, e também no
amadurecimento da própria literatura ocidental. Shakespeare, como diz Bloom (2004),
parecia saber construir não apenas personagens, mas também seres humanos. Personagens
inquietos em suas emoções e ações de alta profundidade intelectual e psicológica.
Shakespeare parecia ser arquiteto na criação de questionamentos que ainda hoje penetram
na mente e criam pensamentos profundos e complexos.
Diante do exposto, esta pesquisa tem como objetivo principal investigar como uma
das maiores e mais conhecidas tragédias shakespearianas, a peça Hamlet, tem em sua
estrutura elementos cômicos oriundos dos gêneros sério-cômicos da Antiguidade. Para
isso, nos basearemos nos estudos realizados pelo teórico russo Mikhail Bakhtin (1895-
1974) sobre os gêneros sério-cômicos com ênfase nas representações do Diálogo Socrático
e da Sátira Menipéia – subgêneros que se encontram dentro da órbita maior dos gêneros
sério-cômicos. Com esta análise, pretende-se analisar o processo de carnavalização que
acontece em Hamlet, o que desconstrói a idéia de uma tragédia “pura” alinhando-se a fala
da crítica Barbara Heliodora.
Para um melhor entendimento, esse trabalho foi divido em três capítulos:
O primeiro capítulo trará as discussões teóricas sobre os autores que
fundamentaram esta pesquisa e que constroem o seu alicerce teórico. Para o entendimento
do processo de formação da tragédia, esse trabalho faz uma breve revisão do conceito à luz
das palavras do filósofo grego Aristóteles, cuja importância nos estudos da poética do
drama e da própria literatura é irrefutável. Já para o entendimento do processo de
carnavalização, investigaremos as suas origens e as suas particularidades, em uma pequena
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