Hamlet à luz de Bakhtin: a carnavalização da tragédia - CCHLA ...
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A ação na <strong>tragédia</strong> <strong>de</strong>veria gerar dois sentimentos que vão ser característicos: o<br />
medo e a compaixão. Esses sentimentos faziam parte <strong>da</strong> catarse. Era <strong>de</strong>ver dos poetas -<br />
ou dramaturgos – estarem voltados para os assuntos que interessassem e que<br />
conseguissem fazer os espectadores <strong>de</strong>senvolverem esses sentimentos.<br />
Diferentemente <strong>da</strong> <strong>tragédia</strong>, a comédia teria como foco central a personagem, não a<br />
ação. O ponto central <strong>da</strong> comédia era rir dos vícios dos homens. Vícios esses consi<strong>de</strong>rados<br />
ridículos. Até hoje, as máscaras que simbolizam a comédia são disformes, não por causa <strong>da</strong><br />
dor, como acontece na <strong>tragédia</strong>, mas por causa do ridículo vindo <strong>de</strong> um vício ou <strong>de</strong> um<br />
<strong>de</strong>feito <strong>da</strong> personagem.<br />
A comédia vai brincar com a linguagem utiliza<strong>da</strong> pela <strong>tragédia</strong>. Segundo<br />
Aristóteles, os termos utilizados nas <strong>tragédia</strong>s não eram usuais do dia-a-dia, são termos<br />
utilizados apenas nas representações, e os poetas <strong>da</strong> comédia vão brincar com esses termos<br />
em seus espetáculos, zombando <strong>de</strong>les:<br />
Arífra<strong>de</strong>s, em suas comédias, zombava dos autores <strong>da</strong> <strong>tragédia</strong> por servirem <strong>de</strong><br />
termos que ninguém emprega na conversação, dizendo, por exemplo, “<strong>da</strong>s casas<br />
longe” em vez <strong>de</strong> “longe <strong>da</strong>s casas” e” <strong>de</strong> Aquiles acerca em vez <strong>de</strong> “acerca <strong>de</strong><br />
Aquiles e expressões idênticas (ARISTÓTELES , p. 80)<br />
Aristóteles diz que essa diferenciação dos termos é necessária na <strong>tragédia</strong> porque<br />
diminui a vulgari<strong>da</strong><strong>de</strong>, melhorando a elocução.<br />
Como se po<strong>de</strong> verificar, esses dois gêneros apresentam características diferentes.<br />
Para Aristóteles, como já foi dito, a <strong>tragédia</strong> e a comédia não <strong>de</strong>veriam se misturar, porque<br />
o primeiro seria mais elevado que o segundo. Porém, Platão, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> em sua peça “O<br />
Banquete” a união <strong>da</strong> <strong>tragédia</strong> com a comédia “O mesmo homem será capaz <strong>de</strong> escrever<br />
comédia e <strong>tragédia</strong>” (PLATÃO apud. BERTHOLD, 2000). Dessa forma, Platão avaliza a<br />
análise que preten<strong>de</strong>mos realizar em <strong>Hamlet</strong>.<br />
Na próxima sessão será abor<strong>da</strong>do o surgimento e os fun<strong>da</strong>mentos do Gênero Sério-<br />
Cômico, através <strong>da</strong> <strong>carnavalização</strong> <strong>da</strong> literatura. Nela será possível observar características<br />
e elementos cômicos em textos trágicos, pondo em chegue assim parte do que Aristóteles<br />
dizia sobre a <strong>tragédia</strong>.<br />
1.2 – Da <strong>carnavalização</strong><br />
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