Hamlet à luz de Bakhtin: a carnavalização da tragédia - CCHLA ...
Hamlet à luz de Bakhtin: a carnavalização da tragédia - CCHLA ...
Hamlet à luz de Bakhtin: a carnavalização da tragédia - CCHLA ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
3. HAMLET À LUZ DA CARNAVALIZAÇÃO<br />
A partir <strong>da</strong>qui serão analisados a problemática do herói i<strong>de</strong>ológico, os solilóquios, a<br />
presença dos Clowns e do Bobo <strong>da</strong> Corte, a polifonia shakespeariana representa<strong>da</strong> pela<br />
combinatória do verso com a prosa, a metalinguagem e o comportamento excêntrico<br />
contidos em <strong>Hamlet</strong>. Esses pontos serão analisados baseando-se na teoria bakhtiniana<br />
sobre a <strong>carnavalização</strong> <strong>da</strong> literatura e seus subgêneros.<br />
3.1- O Herói I<strong>de</strong>ológico<br />
Um dos traços centrais do subgênero Sátira Menipéia é a filosofia <strong>da</strong> busca interior.<br />
Essa busca, vale lembrar, acontece através do submundo do social, representados pelos<br />
homens, que chocarão o homem sábio. Alinha<strong>da</strong> a essa busca filosófica <strong>da</strong> Sátira<br />
Menipéia, tem-se o subgênero dos Diálogos Socráticos e a presença do “herói-i<strong>de</strong>ológico”,<br />
ou seja, aquele que vai buscar a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>. Analisando a personagem <strong>Hamlet</strong> po<strong>de</strong>mos<br />
encontrar traços <strong>de</strong>sses dois subgêneros em seus atos.<br />
<strong>Hamlet</strong> não é uma personagem fácil <strong>de</strong> ser entendi<strong>da</strong>. Ele é complexo <strong>da</strong> primeira<br />
cena, <strong>da</strong> primeira até a sua última fala, na última cena. <strong>Hamlet</strong> é, sem dúvi<strong>da</strong>, um herói,<br />
mas não é o típico herói aristotélico, ele fica acima do bem e do mal, chegando a beirar os<br />
traços <strong>de</strong> um anti-herói.<br />
Uma <strong>da</strong>s características mais relevantes <strong>de</strong>le são os seus questionamentos, tanto<br />
internos, quanto os externos. A personagem questiona o mundo em que vive, o que ele<br />
sente, o que ele <strong>de</strong>seja. Questiona também os outros para po<strong>de</strong>r compreen<strong>de</strong>r a si. Um<br />
<strong>de</strong>sses inúmeros questionamentos trazidos sobre a personagem é o que dá o mote <strong>da</strong> peça:<br />
a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> sobre a morte <strong>de</strong> seu pai.<br />
A peça to<strong>da</strong> se centra em cima <strong>de</strong>sse mote. A busca pela ver<strong>da</strong><strong>de</strong> sobre a morte <strong>de</strong><br />
seu pai vai gerar nele uma busca interior pelo seu próprio “eu”, para isso ele tem que<br />
penetrar no submundo dos homens. O início <strong>de</strong>ssa busca é a transformação interna que se<br />
dá através do aparecimento <strong>de</strong> um elemento místico e fantástico: um fantasma, outra<br />
característica <strong>da</strong> Sátira Menipéia. O fantasma além <strong>de</strong> representar uma quebra na reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
em que <strong>Hamlet</strong> se encontra, requisitando <strong>de</strong>le uma tarefa faz com o que o personagem<br />
inicie sua jorna<strong>da</strong> filosófico-interna.<br />
O primeiro confronto <strong>de</strong> <strong>Hamlet</strong> com o fantasma é o confronto <strong>de</strong> gerações.<br />
<strong>Hamlet</strong>-Pai é um homem que representa na peça a I<strong>da</strong><strong>de</strong> Média, é um homem <strong>da</strong> guerra,<br />
26