Hamlet à luz de Bakhtin: a carnavalização da tragédia - CCHLA ...

Essa é a primeira fala mais longa de Hamlet na peça, onde a personagem já mostra
para o espectador toda sua complexidade. Essa fala é importante, por nos mostrar um
Hamlet que dentro de si tem sentimentos já conflitantes. Vale lembrar que a personagem
ainda não sabe da trama que envolve a morte de seu pai, mas já mostra ser dotado de uma
enorme profundidade. Hamlet carrega consigo um luto que ele não pretende esquecer tão
cedo. Esse luto está relacionado ao rápido casamento da sua mãe com seu tio. O que
Hamlet faz é atacar sua mãe com palavras duras, ao mesmo tempo em que questiona os
motivos que a levaram a casar-se tão depressa, não respeitando o luto pela morte de seu
marido.
Esses sentimentos complexos e penetrantes da personagem se intensificam com a
aparição do fantasma, e o seu pedido. O que o fantasma pede é uma vingança pela sua
morte. Hamlet tem que executar essa vingança, mesmo que para isso ele tenha que negar o
eu-interno. A peça Hamlet, então, passa a se configurar como uma tragédia de vingança.
As tramas de vingança têm uma estrutura central sempre mantida: Personagem assassina,
Personagem assassinada, Personagem a vingar a personagem assinada. Há três ciclos de
vingança na peça: Hamlet deseja vingar a morte de seu pai, o que chamaremos de vingança
central; Fortinbrás quer vingar a morte de seu pai cometida anos antes pelo Rei Hamlet;
Laertes que deseja vingar seu pai, Polônio, morto por Hamlet. As histórias de vingança,
como Hamlet, são vistas ao longo de tempo de uma forma positiva, já que vai restabelecer
uma ordem que não pôde ser restabelecida pela justiça “convencional”, passando a ser
apenas estabelecida pela justiça particular, ou privada.
Essa vingança é o que de fato levará Hamlet a suas provações. Provações essas que
passam a ser internas. A personagem começa além, de buscar a verdade sobre a morte de
seu pai, busca a si mesmo. E questionar suas atitudes como ser humano. Ele terá que matar,
mas não está certo sobre a veracidade do próprio fantasma. Hamlet não é como seu pai, um
homem que sabe matar, ele tem que acreditar na sua tarefa. Esse é o motivo que o leva a
adiar a morte do seu tio Cláudio. Hamlet quer antes de tudo saber a verdade, mas para isso
ele terá que investigar. Porém, esse adiamento e essa busca que ele faz traz consequências
não só para si, mas para os outros que estão à sua volta.
Essas questões só afetam o caminho de Hamlet. A personagem só saberá da
verdade sobre a morte do seu pai apenas no Ato 3, quando escreve cenas de uma peça
chamada A Ratoeira para ser dramatizada pelos atores que estão na corte. Com essa
dramatização Hamlet consegue comprovar que de fato seu pai foi assassinado pelo seu tio.
Ali, naquele ponto, ele tem, enfim, o aval dado pelo seu próprio eu-interior de poder matar,
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