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Hamlet à luz de Bakhtin: a carnavalização da tragédia - CCHLA ...

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3.4 A Polifonia Shakespeariana: o Verso e Prosa e a Metalinguagem<br />

Nessa sessão serão discutidos dois pontos <strong>da</strong> peça, o uso do verso e <strong>da</strong> prosa, que<br />

configura uma combinatória <strong>de</strong> gêneros conheci<strong>da</strong> como polifonia, assim como a<br />

metalinguagem.<br />

3.4.1 Verso e Prosa: Polifonia<br />

A mistura <strong>de</strong> verso e prosa é um dos pilares dos gêneros carnavalescos e também é<br />

um dos pontos que mais i<strong>de</strong>ntificam o subgênero Sátira Menipéia. De acordo com a versão<br />

<strong>da</strong> Royal Shakespeare Company a peça <strong>Hamlet</strong> é dividi<strong>da</strong> em 75% <strong>de</strong> verso e 25% <strong>de</strong><br />

prosa. Essa divisão, porém, não é heterogênea. Em uma mesma fala uma personagem po<strong>de</strong><br />

alterar <strong>de</strong> tipo <strong>de</strong> discurso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do que <strong>de</strong>sejam passar.<br />

De acordo com o Dicionário Michaelis Online verso po<strong>de</strong> ser entendido como uma<br />

linguagem em forma <strong>de</strong> poesia; e a prosa, <strong>de</strong> acordo com o mesmo dicionário, é aquilo que<br />

se escreve sem ser em verso.<br />

De acordo com Harold Bloom (2004), a divisão entre prosa e verso tem uma função<br />

importante: revela a saú<strong>de</strong> mental <strong>da</strong>s personagens shakespearianas. Por exemplo, uma<br />

personagem que falasse em prosa, ou era <strong>de</strong> um grau menor <strong>de</strong> instrução, ou teria<br />

problemas mentais, psicológicos. Falar em verso representava o contrário disso. A fala em<br />

verso estava liga<strong>da</strong> a aspectos sociais <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> prestigio. E na peça serve como uma<br />

confirmação que a personagem está em plena saú<strong>de</strong> mental. Na Sátira Menipéia, porém, o<br />

uso do verso tem um tom <strong>de</strong> sarcasmo, o que difere <strong>da</strong> <strong>tragédia</strong> tradicional aristotélica que<br />

usava <strong>da</strong> poesia para a construção <strong>da</strong>s peças. Shakespeare utilizou em <strong>Hamlet</strong> estes dois<br />

artifícios lingüísticos, que não é característica <strong>da</strong> <strong>tragédia</strong> “pura”, mas que nem por isso<br />

<strong>de</strong>ixa a peça “empobreci<strong>da</strong>”.<br />

Levando em consi<strong>de</strong>ração a porcentagem <strong>de</strong> falas em prosa e em verso, e<br />

consi<strong>de</strong>rando a teoria <strong>de</strong> Bloom, o resultado que teremos é: 25% <strong>da</strong>s personagens falam em<br />

prosa, ou seja, em ¼ <strong>da</strong>s falas <strong>da</strong> peça as personagens estariam com traços <strong>de</strong> loucura.<br />

<strong>Hamlet</strong>, por exemplo, em seus discursos durante o tempo que finge a loucura, em<br />

boa parte <strong>da</strong> peça, ele usa <strong>da</strong> prosa para expressar seus pensamentos, mu<strong>da</strong>ndo para o verso<br />

quando necessário. Esse é um dos aspectos que servem <strong>de</strong> prova para confirmar, que<br />

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