Hamlet à luz de Bakhtin: a carnavalização da tragédia - CCHLA ...
Hamlet à luz de Bakhtin: a carnavalização da tragédia - CCHLA ...
Hamlet à luz de Bakhtin: a carnavalização da tragédia - CCHLA ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
sobre isso ou aquilo. Ou seja, os solilóquios nos aju<strong>da</strong>m a enten<strong>de</strong>r certos pontos dos<br />
heróis i<strong>de</strong>ológicos, mas ao mesmo tempo po<strong>de</strong>m nos guiar para “caminhos” mais áridos <strong>da</strong><br />
psique.<br />
Um dos mais conhecidos e complicados solilóquios <strong>da</strong> peça <strong>Hamlet</strong> é “O ser, ou<br />
não ser?”. O solilóquio do Ato 3, na cena 1 apresenta <strong>Hamlet</strong> conversando com Ofélia, mas<br />
ao mesmo tempo parece falar consigo mesmo, praticamente esquecendo a personagem ao<br />
seu lado. O solilóquio vai mostrar a personagem por <strong>de</strong>ntro. Seus pensamentos, suas<br />
discussões internas e serve para aprofun<strong>da</strong>r a peça, servindo-se, como diz <strong>Bakhtin</strong> <strong>de</strong><br />
imagens líricas para a sua construção (p.120). Nesse solilóquio, <strong>Hamlet</strong> mostra o seu<br />
pensamento interno sobre a morte, o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> se matar, ele permite que possamos olhar<br />
para sua alma que está divi<strong>da</strong>.<br />
<strong>Hamlet</strong>:<br />
“Ser, ou não ser, essa é que é a questão:<br />
Será mais nobre suportar na mente<br />
As flecha<strong>da</strong>s <strong>da</strong> trágica fortuna,<br />
Ou tomar armas contra um mar <strong>de</strong> escolhos<br />
E, enfrentando-os, vencer?Morrer- dormir,<br />
Na<strong>da</strong> mais, e dizer que pelo sono<br />
Fin<strong>da</strong>m-se as dores, como mil abalos<br />
Inerente <strong>à</strong> carne- é a conclusão<br />
Que <strong>de</strong>vemos buscar. Morrer – dormir;<br />
Pois os sonhos que vieram nesse sono<br />
De morte, uma vez livre <strong>de</strong>ste invólucro<br />
Que prolonga a <strong>de</strong>sdita <strong>de</strong>sta vi<strong>da</strong>.<br />
Quem suportara os golpes do <strong>de</strong>stino,<br />
Os erros do opressor, o escárnio alheio,<br />
A ingratidão no amor, a lei tardia,<br />
O orgulho dos que man<strong>da</strong>m, o <strong>de</strong>sprezo<br />
Que a paciência atura dos indignos,<br />
Na ponta <strong>de</strong> um punhal? Quem carregara<br />
Se o medo do vem <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> morte –<br />
O PIS ignorado <strong>de</strong> on<strong>de</strong> nunca<br />
Ninguém voltou- não nos turbasse a mente<br />
E nos fizesse arcar co’o mal que temos<br />
Em vez <strong>de</strong> voar para esses, que ignoramos?<br />
Assim nossa consciência se acovar<strong>da</strong>,<br />
E o instinto que inspira as <strong>de</strong>cisões<br />
Desmaia no in<strong>de</strong>ciso pensamento,<br />
E as empresas supremas e oportunas<br />
Deviam-se do fio <strong>da</strong> corrente<br />
E não são mais ação. Silêncio agora!<br />
A bela Ofélia! Ninfa, em tuas preces<br />
Recor<strong>da</strong> os meus pecados.”<br />
[Ato 3, Cena 1]<br />
30