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Hamlet à luz de Bakhtin: a carnavalização da tragédia - CCHLA ...

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Os gêneros teatrais aqui aparecem <strong>de</strong> forma conjunta, misturados. Relembrando o<br />

capítulo 1 <strong>de</strong>ssa monografia, temos que relembrar a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> Aristóteles quanto <strong>à</strong><br />

separação dos gêneros. Na fala <strong>de</strong> Polônios percebemos a voz do autor que, ao contrário <strong>de</strong><br />

Aristóteles, acreditava na possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> combinações várias, o que legitimaria o diálogo<br />

entre os gêneros.<br />

A trupe <strong>de</strong> atores, como bem <strong>de</strong>screveu Polônios mostra traços <strong>da</strong> <strong>carnavalização</strong><br />

literária, pois há mistura <strong>de</strong> elementos sagrados (<strong>tragédia</strong>) e profanos (comédia), ou mais<br />

especificamente <strong>de</strong> sistemas diferentes <strong>de</strong> mundo. Além disso, tem que ser ressaltado aqui<br />

um aspecto <strong>de</strong>sses atores: eles são atores <strong>de</strong> feira. O teatro <strong>de</strong> feira surgiu, como já dito,<br />

durante o processo <strong>de</strong> <strong>carnavalização</strong> <strong>da</strong> literatura. Logo, caberia a esses atores <strong>de</strong> feira<br />

livre encenar uma peça trágica escrita por <strong>Hamlet</strong>.<br />

<strong>Hamlet</strong> não só escreve como também dirige a sua própria peça. Vale lembrar que<br />

<strong>Hamlet</strong> está fazendo isso com um único propósito, saber a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> sobre a morte <strong>de</strong> seu<br />

pai. Ele utiliza os atores como fantoches a seu bel prazer. Apesar do propósito claro, a peça<br />

que <strong>Hamlet</strong> dirige é uma paródia <strong>de</strong> uma peça sobre vingança. Na paródia, tem-se mais<br />

uma característica <strong>da</strong> literatura carnavaliza<strong>da</strong>.<br />

3.5 Loucura e Comportamento Excêntricos<br />

Os comportamentos excêntricos não eram a<strong>de</strong>quados as <strong>tragédia</strong>s Aristotélicas,<br />

pois não condiziam com o seu enredo, e sua função. <strong>Bakhtin</strong> diz:<br />

[...]todos esses fenômenos têm na menipéia não um caráter estreitamente<br />

temático mas com um caráter formal <strong>de</strong> gênero. As fantasias, os sonhos e a<br />

loucura <strong>de</strong>stroem a integri<strong>da</strong><strong>de</strong> épica e trágica do homem e do seu <strong>de</strong>stino: nele<br />

se revelam as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> coincidir consigo mesmo (Bakthin, 1997, p. 117)<br />

Os escân<strong>da</strong>los e excentrici<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>stroem a integri<strong>da</strong><strong>de</strong> épica e trágica do<br />

mundo, abrem uma brecha na or<strong>de</strong>m inabalável, normal [...] <strong>da</strong>s coisas e<br />

acontecimentos humanos e livram o comportamento humano <strong>da</strong>s normas e<br />

motivações que o pre<strong>de</strong>terminam. (<strong>Bakhtin</strong>, 1997, p. 118)<br />

<strong>Hamlet</strong> é uma peça consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> por muitos como a maior <strong>tragédia</strong> já escrita. Mas<br />

Shakespeare subverte a or<strong>de</strong>m natural <strong>da</strong>s <strong>tragédia</strong>s e insere na peça <strong>Hamlet</strong> um<br />

personagem central que apresenta traços <strong>de</strong> loucura e comportamentos excêntricos. Esses<br />

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