03.06.2013 Views

Hamlet à luz de Bakhtin: a carnavalização da tragédia - CCHLA ...

Hamlet à luz de Bakhtin: a carnavalização da tragédia - CCHLA ...

Hamlet à luz de Bakhtin: a carnavalização da tragédia - CCHLA ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

cria<strong>da</strong>s outras leis as quais duram até o fim <strong>da</strong>s festivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s: “Nessas circunstâncias a festa<br />

convertia-se na forma <strong>de</strong> que se revestia a segun<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do povo, o qual penetrava<br />

temporariamente no reino utópico <strong>da</strong> universali<strong>da</strong><strong>de</strong>, liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, igual<strong>da</strong><strong>de</strong> e abundância”<br />

(BAKHTIN, 1996, p. 08). Com essa diferenciação na vi<strong>da</strong> comum e na vi<strong>da</strong> cria<strong>da</strong> pelo<br />

carnaval, cria-se uma espécie <strong>de</strong> duali<strong>da</strong><strong>de</strong> na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas, uma espécie <strong>de</strong> “reali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

alternativa”.<br />

Dessa duali<strong>da</strong><strong>de</strong>, veio o surgimento <strong>da</strong> paródia que “é a criação <strong>de</strong> duplo<br />

<strong>de</strong>stronante, do mesmo mundo <strong>à</strong>s avessas” (BAKHTIN, 1997, p. 127). A paródia vai<br />

atingir várias cama<strong>da</strong>s do cristianismo, como parte do processo <strong>de</strong> profanação. Até os dias<br />

atuais essa é uma <strong>da</strong>s características principais <strong>da</strong> <strong>carnavalização</strong> – a “mistura” do profano<br />

com o sagrado, do alto e do baixo. As paródias foram surgindo ao longo <strong>de</strong> tempo e <strong>de</strong>ntre<br />

seus tipos, houve o surgimento dos “diálogos paródicos”, <strong>da</strong>s “crônicas paródicas”, <strong>da</strong>s<br />

“homilias paródicas”, <strong>da</strong>s “len<strong>da</strong>s sagra<strong>da</strong>s” e <strong>da</strong>s “epopéias paródicas”. Essa parodização<br />

chega também <strong>à</strong>s feiras livres, tendo a sua materialização nas representações feitas nos<br />

teatros <strong>de</strong> feira.<br />

O teatro é uma <strong>da</strong>s formas <strong>de</strong> arte na qual o artista e o público mais se aproximam.<br />

<strong>Bakhtin</strong> (1996) diz que o teatro <strong>de</strong> feira é tipicamente carnavalesco, pois elimina o palco,<br />

que representa a divisória com o povo, e esses passam a viver o espetáculo. O carnaval é a<br />

representação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> com traços <strong>de</strong> comici<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Percebe-se assim que uma <strong>da</strong>s características mais relevantes do carnaval é a<br />

quebra <strong>de</strong> barreiras sociais. O carnaval não permite <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Nele, os tabus sociais<br />

caem, assim como to<strong>da</strong> e qualquer divisão <strong>de</strong> classe existente, inclusive as institucionais.<br />

Aquelas pessoas que não se permitiam ao contato social com as pessoas <strong>de</strong> classe sociais<br />

“menores” durante o dia-a-dia, se vêem no carnaval igual a elas.<br />

Além <strong>da</strong>s barreiras sociais, sistemas que estavam aparentemente distantes se<br />

tornam pares, ou seja, há uma aproximação <strong>de</strong> coisas que psicologicamente e fisicamente<br />

são distantes, ou aparentemente são, “[...] elogio e impropérios, moci<strong>da</strong><strong>de</strong> e velhice, alto e<br />

baixo, face e traseiro, tolice e sabedoria [...]” (BAKHTIN, 1997, p. 126). Dessa forma, a<br />

principal característica do carnaval é a ambivalência.<br />

Essa abolição <strong>de</strong> barreiras sociais no carnaval faz emergir uma linguagem<br />

diferencia<strong>da</strong> na literatura. Esta linguagem é marca<strong>da</strong> pela utilização <strong>de</strong> grosserias, palavras<br />

“pesa<strong>da</strong>s”, além <strong>da</strong>s blasfêmias. Porém, é importante salientar que esses traços lingüísticos<br />

adquiridos no carnaval servem para reforçar a libertação do povo.<br />

16

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!