Hamlet à luz de Bakhtin: a carnavalização da tragédia - CCHLA ...
Hamlet à luz de Bakhtin: a carnavalização da tragédia - CCHLA ...
Hamlet à luz de Bakhtin: a carnavalização da tragédia - CCHLA ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Aristóteles dizia que a estrutura <strong>da</strong> <strong>tragédia</strong> <strong>de</strong>veria se centrar nas ações, não nos<br />
personagens. Em Shakespeare, via <strong>de</strong> regra, as <strong>tragédia</strong>s têm em seu enredo ações que são<br />
externas ao personagem. As personagens vão morrer <strong>de</strong> um fato externo. Uma ação que as<br />
matarão <strong>de</strong> forma aci<strong>de</strong>ntal. Além disso, as personagens têm uma posição eleva<strong>da</strong><br />
socialmente, como reis, rainhas, duques, duquesas, etc. Esse sentimento <strong>de</strong> prestigio social<br />
é mantido <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> personagem até o fim, e ela não negará sua posição.<br />
Bradley (2002) diz que as <strong>tragédia</strong>s em Shakespeare têm um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />
personagens, em <strong>Hamlet</strong>, por exemplo, são 14 personagens, levando em conta <strong>à</strong>quelas<br />
personagens que tem alguma fala na peça, se levarmos em conta as personagens que não<br />
falam, mas aparecem na peça, o número chega a 30. Apesar disso, a <strong>tragédia</strong><br />
shakespeariana se estruturar em cima <strong>de</strong> apenas uma única personagem, aquela a qual se<br />
chamará <strong>de</strong> “herói”. No máximo, a história dá abertura a um segundo herói, como no caso<br />
<strong>de</strong> Romeu e Julieta (1591). Porém, essas personagens femininas só terão força ativa na<br />
história se tiverem necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> para o enredo. Bradley ain<strong>da</strong> chama a atenção para um fato<br />
importantíssimo que é característico nas <strong>tragédia</strong>s shakespearianas: enquanto a peça se<br />
aproxima do fim, o sentimento <strong>de</strong> calami<strong>da</strong><strong>de</strong> leva o personagem central ao seu <strong>de</strong>stino,<br />
muitas vezes inevitável, que é a morte. Morte essa acarreta<strong>da</strong> pelas ações do personagem.<br />
A ação po<strong>de</strong> ter sido premedita<strong>da</strong> pelo personagem central, mas nem sempre se sabe on<strong>de</strong><br />
a ação vai acabar, ou a que ela vai levar. Ou seja, a personagem fica “escrava” do seu<br />
próprio ato.<br />
<strong>Hamlet</strong> contém os três elementos <strong>da</strong> <strong>tragédia</strong> complexa <strong>de</strong>finidos por Aristóteles,<br />
que são: Peripécia, Reconhecimento e Catástrofe. A peripécia, sendo um elemento que<br />
modifica o entendimento do personagem sobre algo que já era estabelecido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre,<br />
aparece logo no primeiro Ato <strong>da</strong> peça. <strong>Hamlet</strong> acreditava que seu pai tinha morrido <strong>de</strong><br />
causas naturais, mas esse estado <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça do que havia sido estabelecido é alterado por<br />
um elemento sobrenatural: o fantasma do seu pai morto. <strong>Hamlet</strong>, pelas ações que ele<br />
conduz, percebe que o espectro dizia a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, e que a morte <strong>de</strong> seu pai fora causa<strong>da</strong> pelo<br />
seu tio que o envenenou. A peripécia se mistura ao reconhecimento, já que o fato <strong>de</strong><br />
alteração leva inevitavelmente o personagem a alterar o seu estado <strong>de</strong> espírito também com<br />
seu tio. <strong>Hamlet</strong> passa <strong>de</strong> um estado <strong>de</strong> indiferença pelo seu tio ao <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> sua morte, por<br />
mais que ele adie isso, ele passa a nutri-lo. Essa mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> <strong>Hamlet</strong> também atinge a sua<br />
mãe, já que esse pensa que ela, tem, em parte, culpa nisso. O ultimo ponto aristotélico é a<br />
Catástrofe que se refere <strong>à</strong> morte, ou ferimento. Em <strong>Hamlet</strong> temos no total sete personagens<br />
mortos, são eles: Ofélia, Claudio, Gertru<strong>de</strong>s, Polônio, Rosencrantz, Guil<strong>de</strong>ntersn, e o<br />
24