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UMA BIOGRAFIA PORTUGUESA EM LEVANTADO DO CHÃO ...

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desta mesma sociedade. 335 A partir dessa observação, a ideologia significaria qualquer<br />

conjunto de crenças motivadas por interesses sociais e não apenas as formas de pensamento<br />

dominantes em uma sociedade. 336<br />

A noção de ideologia é contestada por Michel Foucault pois, querendo-se ou não, sua<br />

existência estaria vinculada em oposição virtual a alguma coisa que seria a verdade. 337 Em<br />

partes, apoiamo-nos em sua observação, pois a metaficção historiográfica, apoiada na<br />

versão literária de Levantado do chão, procura partilhar a noção de verdade entre as<br />

personagens e as instituições.<br />

Abordando episódios ocorridos dentro e fora do território português (I República Portuguesa,<br />

I Guerra Mundial, Revolução Russa, Guerra Civil Espanhola e ascensão do Estado Novo em<br />

Portugal), num leque temporal entre 1905 e 1º de maio de 1975, quando se realizaram as<br />

primeiras comemorações do Dia do Trabalho, Levantado do chão situa-se no período de<br />

experimentação literária, quando José Saramago propõe-se novos caminhos para a<br />

imaginação do real. 338<br />

É interessante ressaltar que embora tenha fixado o romance dentro de uma realidade material<br />

histórica, a menção dos principais eventos não altera substancialmente a vida rural<br />

latifundiária. Os eventos são narrados ao longe, como se a própria estrutura do romance<br />

intencionasse demonstrar que as atitudes mais eficazes deveriam partir da própria consciência<br />

campesina.<br />

Não é possível negar que o desejo de transformação da realidade movimenta parte da diegese,<br />

sobretudo a partir da segunda geração familiar, a de João Mau-Tempo. Neste sentido, a teoria<br />

marxista da alienação estabelece contato com o literário.<br />

103<br />

A primeira premissa de toda a história humana é, naturalmente, a existência de<br />

indivíduos humanos. O primeiro estado de fato verificável é, portanto, a organização<br />

corpórea desses indivíduos e, como consequência disto, o seu comportamento para<br />

com o resto da natureza. [...] Distinguimos o homem dos animais pela consciência,<br />

pela religião ou o que se quiser. Mas o próprio homem é diferente dos animais a<br />

335<br />

Cf. MANNHEIM, Karl. Ideología y utopía. 2 ed. Madrid: Aguilar, 1956.<br />

336<br />

EAGLETON, Terry. Ideologia: uma introdução. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista:<br />

Editora Boitempo, 1997, p. 16.<br />

337<br />

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 3 ed. Rio de Janeiro: Graal, 1999, p. 07.<br />

338<br />

REBELO, Luís de Sousa. Os rumos da ficção de José Saramago. In: SARAMAGO, José. Manual de pintura<br />

e caligrafia. 3 ed. Lisboa: Editorial Caminho, 1985, p. 7.

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