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UMA BIOGRAFIA PORTUGUESA EM LEVANTADO DO CHÃO ...

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memória e como ela funciona, podemos apenas apontar a complexa rede formada na<br />

representação coletiva.<br />

Com a crise das grandes narrativas históricas da pós-modenidade, 244 caracterizada pela<br />

incredulidade perante o metadiscursivo filosófico-metafísico, com suas pretensões atemporais<br />

e universalizantes, 245 as abordagens historiográficas assumiram os testemunhos orais como<br />

material necessário às pesquisas, bem como incluíram a memória como objeto de análise em<br />

seu método. Abandonam-se afirmativas como a história faz-se com documentos ou sem<br />

documentos não há história 246 para incluir a perspectiva de um material mais abstrato, a<br />

memória. Isso implica dizer que há também uma visão parcial na transmissão do passado<br />

quando lançamos mão apenas de textos, objetos, pedras, edifícios ou obras de arte para a<br />

reconstrução da história na sua totalidade, visto reproduzirem apenas partes seletas do que foi<br />

vivenciado.<br />

Entre os filósofos, Henri Bergson foi o primeiro a defender a ideia de que a memória não<br />

poderia ser reduzida simplesmente a uma função mecânica do cérebro ou do sistema nervoso,<br />

acentuando a importância da matéria como fonte de lembrança e esquecimento. Influenciado<br />

por Bergson, Maurice Halbwachs dimensionou suas pesquisas contra a pretensão da<br />

psicologia na explicação dos mecanismos da memória a partir de experimentos físicos e<br />

científicos que reduziam o fenômeno ao corpo humano. 247<br />

A obra de Halbwachs baseia-se na afirmação de que a memória individual existe sempre em<br />

relação à memória coletiva, uma vez que todas as lembranças são experiências assimiladas e<br />

transmitidas por um grupo aos seus componentes. Nossos comportamentos, reflexões,<br />

sentimentos e ações, atribuições aparentemente individuais, são, na verdade, inspiradas pelo<br />

grupo. A coesão do grupo é garantida por esse sentimento de unidade coletiva, tal qual um<br />

espaço de conflitos e influências de uns para com os outros.<br />

Para que a nossa memória se aproveite da memória dos outros, não basta que estes<br />

nos apresentem seus testemunhos: também é preciso que ela não tenha deixado de<br />

concordar com as memórias deles e que existam muitos pontos de contato entre uma<br />

244<br />

Cf. LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. 9 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2006.<br />

245<br />

BARBOSA, Wilmar do Valle. Tempos pós-modernos. In: LYOTARD, Jean-François. A condição pósmoderna.<br />

9 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2006, p. viii.<br />

246<br />

No original: Lhistoire se fait avec des documents. [...] Pas de documents, pas dhistoire. (LANGLOIS;<br />

SEIGNOBOS, 1898, p. 29)<br />

247<br />

SANTOS, Myrian Sepúlveda. Memória coletiva & Teoria social. São Paulo: Annablume, 2003, p. 46.<br />

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