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UMA BIOGRAFIA PORTUGUESA EM LEVANTADO DO CHÃO ...

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No processo de criação literária, a narrativa instaura a mimesis, produzindo uma estrutura que<br />

admite uma dimensão objetiva do mundo e uma dimensão subjetiva humana. A realidade<br />

percebida pelo ser humano passa pela relação direta com o mundo objetivo, sem o qual<br />

haveria uma desestruturação da identidade. O espaço objetivo de Levantado do chão é o<br />

próprio Latifúndio, impondo-se gradativamente de forma insensível às manifestações<br />

contrárias, terminando por sujeitar a personagem, pois a experiência pessoal da personagem<br />

se realiza na expressão objetiva do espaço, que acaba por submetê-la à logicidade estrutural<br />

da proposição de realidade ficcional. 305<br />

A estrutura dos sistemas simbólicos permite à cultura dominante fortalecer um sistema<br />

ideológico, apresentando interesses particulares de uma classe como se fossem estruturas<br />

universais e comuns ao conjunto da sociedade. 306 O poder exerce-se pela intersubjetividade,<br />

ou seja, através de um espaço público, que possa ser palco de sua legitimação. O poder se<br />

atualiza na ação comunicativa e se reveste de legitimidade pela constante renovação do<br />

processo comunicativo.<br />

É enquanto instrumentos estruturados e estruturantes de comunicação e de<br />

conhecimento que os sistemas simbólicos cumprem a sua função política de<br />

instrumentos de imposição ou de legitimação da dominação, que contribuem para<br />

assegurar a dominação de uma classe sobre outra (violência simbólica) dando o<br />

reforço da sua própria força às relações de força que as fundamentam e contribuindo<br />

assim, segundo a expressão de Weber, para a domesticação dos dominados<br />

(BOURDIEU, 2007, p. 11)<br />

As estruturas estruturantes propostas por Bourdieu fixam-se na narrativa de José Saramago<br />

como instrumentos de conhecimento e construção do mundo objetivo através da memória e<br />

das tradições orais, percebidas pelo narrador: Este saber transmite-se nas gerações sem<br />

exame nem discussão, é assim porque sempre assim foi, isto é uma enxada de gaviões, isto<br />

uma gadanha, e isto uma gota de suor. 307 Essa percepção sempre é reforçada pelo discurso da<br />

cultura dominante, responsável pela manutenção e produção das forças simbólicas como<br />

instrumentos de dominação.<br />

A cultura dominante contribui para a integração real da classe dominante; [...] para a<br />

integração fictícia da sociedade no seu conjunto, portanto, à desmobilização (falsa<br />

consciência) das classes dominadas; para a legitimação da ordem estabelecida por<br />

305<br />

LIMA, Rogério da Silva. O dado e o óbvio: o sentido do romance na pós-modernidade. Brasília:<br />

EDU/Universa, 1998, p. 18.<br />

306<br />

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 11 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007, p. 09.<br />

307<br />

SARAMAGO, José. Levantado do chão. 12 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005, p. 59.<br />

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