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UMA BIOGRAFIA PORTUGUESA EM LEVANTADO DO CHÃO ...

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Do ponto de vista da estrutura, a epopeia será diferente das narrativas históricas, as quais<br />

devem apresentar não uma só ação, mas todas as ações praticadas por uma ou várias pessoas<br />

num mesmo período de tempo, por mais tênues que sejam a relação entre elas. 80<br />

Embora efervescente, a clássica passagem legada pelo Estagirita na qual procurou distinguir a<br />

amplitude epistemológica de ambas as narrativas a poética e a histórica não despertou<br />

discussões posteriores: fosse porque a Poética não encontrou continuadores à altura, fosse<br />

porque a historiografia romana pouco se interessou em desenvolver aquele mínimo que<br />

herdou dos gregos. 81<br />

Acrescente-se a isto o fato de Aristóteles não tratar pormenorizadamente a diferença entre<br />

ambas, contentando-se apenas em sintetizar sua opinião em curtos parágrafos. Referindo-se ao<br />

corpus aristotélico, Ste. Croix, na crítica de Luiz Costa Lima, observou que a passagem da<br />

Arte poética trabalha apenas com dois termos: o geral e o particular, fato contrastante com a<br />

epistemologia aristotélica, que operava com um terceiro elemento, o usual. 82 O ponto de<br />

partida de Ste. Croix, segundo Luiz Costa Lima, é demonstrar a existência de um termo de<br />

passagem entre o universal e o particular, possibilitando a correção teórica de elevar a poesia<br />

e inferiorizar a composição do texto historiográfico.<br />

Lubomir Dolezel participa da mesma opinião, demonstrando que o estudo da literatura entre<br />

os gregos e romanos careceu de reflexão epistemológica de base. Mesmo a Arte poética, para<br />

ser entendida na sua fundamentação, necessita de uma reconstituição cognitiva da teoria do<br />

conhecimento aristotélica. 83 As três teses essenciais da filosofia aristotélica são relevantes<br />

para a compreensão da Arte poética:<br />

a) As ciências visam revelar os atributos essenciais do género que tratam. [...] b)<br />

A fim de passar do particular para o universal, a ciência serve-se de dois métodos<br />

complementares: a indução e o silogismo (dedução). [...] c) A ciência esforça-se por<br />

organizar conhecimento com base nos princípios da demonstração. (<strong>DO</strong>LEZEL,<br />

1990, p. 34)<br />

80 TEIXEIRA, Ivan Prado. Literatura como imaginário: Introdução ao conceito de poética cultural. In: Revista<br />

Brasileira. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, n. 37, out./dez. 2003, p. 58.<br />

81 LIMA, Luiz Costa. História. Ficção. Literatura. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 16.<br />

82 LIMA, Luiz Costa. História. Ficção. Literatura. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 183.<br />

83 <strong>DO</strong>LEZEL, Lubomir. A poética ocidental: tradição e inovação. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,<br />

1990, p. 28-31.<br />

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