18.06.2013 Views

UMA BIOGRAFIA PORTUGUESA EM LEVANTADO DO CHÃO ...

UMA BIOGRAFIA PORTUGUESA EM LEVANTADO DO CHÃO ...

UMA BIOGRAFIA PORTUGUESA EM LEVANTADO DO CHÃO ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

princípios de unidade: as memórias do passado, o desejo por viver em conjunto e a<br />

perpetuação da tradição herdada. 51<br />

Seguindo a argumentação de Stuart Hall, por mais diferentes que sejam os membros de uma<br />

nação, tanto em termos de classe econômica, gênero ou raça, a cultura nacional tenta unificá-<br />

los numa identidade comum, abolindo as diferenças e identificando-os como membros de uma<br />

grande família. E aqui aparece a antítese: a identidade nacional não se constrói com a<br />

anulação e subordinação da diferença cultural. 52<br />

Se for verdade que a ideia de nação como comunidade imaginada visa a estabelecer um<br />

ponto de unidade dentro de um imaginário simbólico representacional, ela se revela também<br />

como uma estrutura de poder cultural. A maioria das nações consiste de culturas separadas<br />

que só foram unificadas por um longo processo de conquista violenta, 53 pois, na sua quase<br />

totalidade, elas são constituídas por diferentes classes sociais e culturais.<br />

Em vez de pensar as culturas nacionais como unificadas, deveríamos pensá-las como<br />

constituindo um dispositivo discursivo que representa a diferença como unidade ou<br />

identidade. [...] As nações modernas são, todas, híbridos culturais. (HALL, 2002, p.<br />

61-62)<br />

Essa lógica conduz à compreensão do conceito de identidade nacional como construção<br />

dialética e não como imanência preexistente, requerendo, para sua própria subsistência,<br />

contínua relação de reciprocidade e prática social. Dito dessa maneira, chega-se à conclusão<br />

de que elevar a experiência privada de um indivíduo ao nível da consciência coletiva e extrair<br />

daí a noção de subjetividade nacional parece-nos um tratamento superficial ou um quanto<br />

irreal.<br />

Essa prática metodológica é estranha à sociologia e à história, mas não à literatura, pois se<br />

levarmos em conta que a metaficção pós-moderna entrecruza o público e o histórico, o<br />

privado e o biográfico, 54 ficará justificada a proposta de inscrever uma biografia portuguesa,<br />

51 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&a, 2002, p. 58.<br />

52 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&a, 2002, p. 59.<br />

53 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&a, 2002, p. 59.<br />

54 HUTCHEON, Linda. Poética do pós-modernismo: história, teoria, ficção. Rio de Janeiro: Imago, 1991, p.<br />

128.<br />

22

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!