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UMA BIOGRAFIA PORTUGUESA EM LEVANTADO DO CHÃO ...

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O surpreendente, para Lubomir Dolezel, é que Aristóteles não formulou pressupostos<br />

metodológicos claros para a investigação da poesia em Arte poética. O autor da Poética<br />

prefere resolver estas dificuldades através da prática analítica e não através de uma reflexão<br />

teórica. 84 Como parte integrante de sua análise, a poética interessa enquanto conhecimento<br />

dos atributos essenciais da poesia via indução e silogismo.<br />

Embora a emancipação da história fosse uma evidente tentativa metodológica, seus vínculos<br />

com a arte retórica não se dissiparam. Engajado na preservação das instituições republicanas,<br />

Cícero e Tácito (séc. I a.C.) inspiram-se fortemente na opus oratorium maxime 85 e postularam<br />

quatro regras historiográficas essenciais, a saber: não afirmar nada falso, ousar dizer tudo o<br />

que é verdadeiro, evitar a parcialidade e respeitar a sequência cronológica.<br />

Jacques Le Goff, na esteira de Arnaldo Momigliano, destacou que os historiadores da<br />

antiguidade greco-romana, entre eles, Tucídides, Xenofonte, Tácito, Políbio, Salústio e Lívio,<br />

preferiram tratar exclusivamente do passado recente, pelo simples fato de ser mais segura sua<br />

verificação. Os historiadores antigos basearam a história na verdade. É próprio da história<br />

começar por contar a história com verdade, assegura Políbio. 86<br />

Cícero (106-43 a.C.) postulou duas definições que continuaram válidas durante a Idade Média<br />

e o Renascimento. A primeira é retirada da obra De oratore, II, 9, 36: Historia vero testis<br />

temporum, lux veritatis, vita memoriae, magistra vitae, nuntia vetustatis, qua voce alia nisi<br />

oratoris immortalitati commendatur? 87 Sua tradução pode ser assim sintetizada: A história é<br />

testemunha do passado, luz da verdade, vida da memória, mestra da vida, anunciadora dos<br />

tempos antigos.<br />

A segunda sentença é retirada da mesma obra De oratore, II, 15, 62: Nam quis nescit<br />

primam esse historiae legem, ne quid falsi dicere audeat? Deinde ne quid veri non audeat? 88<br />

Traduzindo, a sentença adquire o seguinte significado: Quem ignora que a primeira lei da<br />

história é não dizer nada falso? E a segunda, ousar dizer toda a verdade?<br />

84<br />

<strong>DO</strong>LEZEL, Lubomir. A poética ocidental: tradição e inovação. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,<br />

1990, p. 36.<br />

85<br />

Cf. <strong>DO</strong>SSE, François. A história. Bauru: EDUSC, 2003.<br />

86<br />

LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: UNICAMP, p. 114.<br />

87<br />

CÍCERO, Marco Túlio. De oratore. Livro três. Zürich: Georg Olms Verlag, 1990, p. 245, grifo nosso.<br />

88<br />

CÍCERO, Marco Túlio. De oratore. Livro três. Zürich: Georg Olms Verlag, 1990, p. 258.<br />

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