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UMA BIOGRAFIA PORTUGUESA EM LEVANTADO DO CHÃO ...

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imaginário como possibilidade. Concebida como um espaço de dispersão, a História torna-se<br />

chave para a criação literária e, por isso, o romance saramaguiano lança-se nas regiões onde a<br />

história canônica não alcançou ou mesmo esforçou-se por apagar.<br />

Uma versão da História portuguesa encenada literariamente é a tarefa de um narrador de José<br />

Saramago em Levantado do chão. A busca pela biografia portuguesa na perspectiva de um<br />

romance fortalece as aproximações da imaginação alcançada pelo método literário e a<br />

exatidão almejada pela metodologia da História. Como Literatura e História tiveram uma<br />

atenção muito particular no século XX, respectivamente com os Formalistas Russos 32 e a<br />

Escola dos Annales, 33 evidencia-se que a criação literária, sobretudo a de José Saramago, não<br />

se realiza sob o signo de uma espontaneidade ou de um primitivismo absoluto. Ela está<br />

inserida no contexto de uma tradição técnico-literária e histórico-cultural, cujos valores e<br />

forças o autor aceita e revitaliza ou contesta e altera. Num dado momento histórico, num<br />

determinado circunstancialismo literário e cultural, um escritor não pode escrever de qualquer<br />

modo um romance, um poema lírico, uma tragédia, uma epopéia, etc. 34<br />

Na perspectiva da metaficção historiográfica, 35 o narrador, por vezes, revela-se como porta-<br />

voz de uma consciência coletiva, desnudando a ordem social que pretende expor. Por<br />

conseguinte, a Literatura pode ser entendida como instrumento de intervenção social onde o<br />

autor, detentor da palavra literária, assumirá a responsabilidade de sua produção cultural<br />

como instrumento de análise e crítica. 36 Não é de se estranhar que os estilos de um autor e de<br />

sua obra estejam ligados a uma particular visão de mundo e da vida, seja ela social ou<br />

ideológica. Não raro, as obras literárias revestem-se de um certo significado histórico-<br />

cultural, em conexão directa com a sua capacidade para dialogarem com a História, com a<br />

Sociedade e com a Cultura que as envolvem e que enviesadamente as motivam. 37<br />

Personagens fictícias são inseridas num contexto histórico de fato, tênue limite entre<br />

Literatura e História, mas sempre identificável enquanto processo discursivo, sugerindo uma<br />

32<br />

AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel de. Teoria da literatura. São Paulo: Martins Fontes, 1976, p. 555-573.<br />

33<br />

Cf. BURKE, Peter. A escola dos annales: 1929-1989. São Paulo: Universidade Estadual Paulista, 1991.<br />

34<br />

AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel de. Teoria da literatura. São Paulo: Martins Fontes, 1976, p. 40.<br />

35<br />

Cf. HUTCHEON, Linda. Poética do pós-modernismo: história, teoria, ficção. Rio de Janeiro: Imago, 1991.<br />

36<br />

REIS, Carlos. O conhecimento da literatura: introdução aos estudos literários. Porto Alegre: Edipucrs, 2003,<br />

p. 24-40.<br />

37<br />

REIS, Carlos. O conhecimento da literatura: introdução aos estudos literários. Porto Alegre: Edipucrs,<br />

2003, p. 21.<br />

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