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Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado ... - Cursinho do XI

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<strong>Memórias</strong> <strong>Póstumas</strong> <strong>de</strong> <strong>Brás</strong> <strong>Cubas</strong>, <strong>de</strong> <strong>Macha<strong>do</strong></strong> <strong>de</strong> Assis<br />

--NÃO, SENHOR, agora quer você queira, quer não, há <strong>de</strong> casar, disse-me Sabina. Que belo<br />

futuro! Um solteirão sem filhos.<br />

Sem filhos! A idéia <strong>de</strong> ter filhos <strong>de</strong>u-me um sobressalto; percorreu-me outra vez o flui<strong>do</strong><br />

misterioso. Sim, cumpria ser pai. A vida celibata podia ter certas vantagens próprias, mas<br />

seriam tênues, e compradas a troco da solidão. Sem filhos! Não; impossível. Dispus-me a<br />

aceitar tu<strong>do</strong>, ainda a aliança <strong>do</strong> Damasceno. Sem filhos! Não; impossível. Dispus-me a<br />

aceitar tu<strong>do</strong>, ainda a aliança <strong>do</strong> Damasceno. Sem filhos! Como já então <strong>de</strong>positasse gran<strong>de</strong><br />

confiança em Quincas Borba, fui Ter com ele e expus-lhe os movimentos internos da minha<br />

paternida<strong>de</strong>. O filósofo ouviu-me com alvoroço; <strong>de</strong>clarou-me que Humanitas se agitava em<br />

meu seio; animou-me ao casamento, pon<strong>de</strong>rou que eram mais alguns convivas que batiam à<br />

porta, etc. Compelle intrare, como dizia Jesus. E não me <strong>de</strong>ixou sem provar que o apólogo<br />

evangélico não era mais <strong>do</strong> que um prenúncio <strong>do</strong> Humanitismo, erradamente interpreta<strong>do</strong><br />

pelos padres.<br />

CAPÍTULO CX<strong>XI</strong> / MORRO ABAIXO<br />

No FIM <strong>de</strong> três meses, ia tu<strong>do</strong> à maravilha. O flui<strong>do</strong>, Sabina, os olhos da moça, os <strong>de</strong>sejos<br />

<strong>do</strong> pai, eram outros tantos impulsos que me levavam ao matrimônio. A lembrança <strong>de</strong><br />

Virgília aparecia <strong>de</strong> quan<strong>do</strong> em quan<strong>do</strong>, à porta, e com ela um diabo negro que me metia à<br />

cara um espelho, no qual eu via ao longe Virgília <strong>de</strong>sfeita em lágrimas mas outro diabo<br />

vinha, cor-<strong>de</strong>-rosa, com outro espelho, em que se refletia a figura <strong>de</strong> Nhã-loló, terna,<br />

luminosa, angélica.<br />

Não falo <strong>do</strong>s anos. Não os sentia; acrescentarei até que os <strong>de</strong>itara fora, certo <strong>do</strong>mingo, em<br />

que fui à missa na capela <strong>do</strong> Livramento Como o Damasceno morava nos Cajueiros, eu<br />

acompanhava-os muitas vezes à missa. O morro estava ainda nu <strong>de</strong> habitações, salvo o<br />

velho palacete <strong>do</strong> alto, on<strong>de</strong> era a capela. Pois um <strong>do</strong>mingo, ao <strong>de</strong>scer com Nhã-loló pelo<br />

braço, não sei que fenômeno se <strong>de</strong>u que fui <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> aqui <strong>do</strong>us anos, ali quatro, logo adiante<br />

cinco, <strong>de</strong> maneira que, quan<strong>do</strong> cheguei abaixo, estava com vinte anos apenas, tão lépi<strong>do</strong>s<br />

como tinham si<strong>do</strong>.<br />

Agora, se querem saber em que circunstância se <strong>de</strong>u o fenômeno, basta-lhes ler este capítulo<br />

até o fim. Vínhamos da missa, ela, o pai e eu. No meio <strong>do</strong> morro achamos um grupo <strong>de</strong><br />

homens. Damasceno que vinha ao pé <strong>de</strong> nós, percebeu o que era e adiantou-se alvoroça<strong>do</strong>;<br />

nós fomos atrás <strong>de</strong>le. E vimos isto: homens <strong>de</strong> todas as ida<strong>de</strong>s tamanhos e cores, uns em<br />

mangas <strong>de</strong> camisa, outros <strong>de</strong> jaqueta, outros meti<strong>do</strong>s em sobrecasacas esfrangalhadas;<br />

atitu<strong>de</strong>s diversas uns <strong>de</strong> cócaras, outros com as mãos apoiadas nos joelhos, estes senta<strong>do</strong>s<br />

em pedras, aqueles encosta<strong>do</strong>s ao muro, e to<strong>do</strong>s com os olhos fixos no centro, e as almas<br />

<strong>de</strong>bruçadas das pupilas.<br />

--Que é? perguntou-me Nhã-loló.<br />

file:///C|/site/livros_gratis/bras_cubas.htm (110 of 133) [10/8/2001 17:07:30]

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