Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado ... - Cursinho do XI
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<strong>Memórias</strong> <strong>Póstumas</strong> <strong>de</strong> <strong>Brás</strong> <strong>Cubas</strong>, <strong>de</strong> <strong>Macha<strong>do</strong></strong> <strong>de</strong> Assis<br />
--Não digas isso! bra<strong>de</strong>i eu.<br />
--Tu<strong>do</strong> cessa! Um dia. . .<br />
Não po<strong>de</strong> acabar; um soluço estrangulou-lhe a voz; esten<strong>de</strong>u as mãos, tomou das minhas,<br />
conchegou-me ao seio, e sussurrou-me baixo ao ouvi<strong>do</strong>: Nunca, nunca, meu amor! Eu<br />
agra<strong>de</strong>ci-lho com os olhos úmi<strong>do</strong>s. No dia seguinte levei-lhe o colar que havia recusa<strong>do</strong>.<br />
--Para te lembrares <strong>de</strong> mim, quan<strong>do</strong> nos separarmos, disse eu.<br />
Marcela teve primeiro um silêncio indigna<strong>do</strong>; <strong>de</strong>pois fez um gesto magnífico: tentou atirar o<br />
colar à rua. Eu retive-lhe o braço; pedi-lhe muito que não me fizesse tal <strong>de</strong>sfeita, que ficasse<br />
com a jóia. Sorriu e ficou.<br />
Entretanto, pagava-me à farta os sacrifícios; espreitava os meus mais recônditos<br />
pensamentos; não havia <strong>de</strong>sejo a que não acudisse com alma, sem esforço, por uma espécie<br />
<strong>de</strong> lei da consciência e necessida<strong>de</strong> <strong>do</strong> coração. Nunca o <strong>de</strong>sejo era razoável, mas um<br />
capricho puro, uma criancice, vê-la trajar <strong>de</strong> certo mo<strong>do</strong>, com tais e tais enfeites, este<br />
vesti<strong>do</strong> e não aquele, ir a passeio ou outra cousa assim, e ela cedia a tu<strong>do</strong>, risonha e palreira.<br />
--Você é das Arábias -- dizia-me.<br />
E ia a pôr o vesti<strong>do</strong>, a renda, os brincos, com uma obediência <strong>de</strong> encantar.<br />
CAPITULO XVI / UMA REFLEXÃO IMORAL<br />
OCORRE ME uma reflexão imoral, que é ao mesmo tempo uma correção <strong>de</strong> estilo. Cui<strong>do</strong><br />
haver dito, no capítulo <strong>XI</strong>V, que Marcela morria <strong>de</strong> amores pelo Xavier. Não morria, vivia.<br />
Viver não é a mesma cousa que morrer; assim o afirmam to<strong>do</strong>s os joalheiros <strong>de</strong>ste mun<strong>do</strong>,<br />
gente muito vista na gramática. Bons joalheiros, que seria <strong>do</strong> amor se não fossem os vossos<br />
dixes e fia<strong>do</strong>s? Um terço ou um quinto <strong>do</strong> universal comércio <strong>do</strong>s corações. Esta é a<br />
reflexão imoral que eu pretendia fazer, a qual é ainda mais obscura <strong>do</strong> que imoral, porque<br />
não se enten<strong>de</strong> bem o que eu quero dizer. O que eu quero dizer é que a mais bela testa <strong>do</strong><br />
mun<strong>do</strong> não fica menos bela, se a cingir um dia<strong>de</strong>ma <strong>de</strong> pedras finas; nem menos bela, nem<br />
menos amada. Marcela, por exemplo, que era bem bonita, Marcela amou-me ..<br />
CAPÍTULO XVII / DO TRAPÉZIO E OUTRAS COUSAS<br />
. . .MARCELA amou-me durante quinze meses e onze contos <strong>de</strong> réis; nada menos. Meu pai,<br />
logo que teve aragem <strong>do</strong>s onze contos, sobressaltou-se <strong>de</strong>veras; achou que o caso excedia as<br />
raias <strong>de</strong> um capricho juvenil.<br />
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