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Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado ... - Cursinho do XI

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<strong>Memórias</strong> <strong>Póstumas</strong> <strong>de</strong> <strong>Brás</strong> <strong>Cubas</strong>, <strong>de</strong> <strong>Macha<strong>do</strong></strong> <strong>de</strong> Assis<br />

estar, a remoer os meus zelos, a <strong>de</strong>sejar estrangular o mari<strong>do</strong>, se o tivesse ali à mão...<br />

Justamente, nesse instante apareceu na chácara o Lobo Neves. Não tremas assim, leitora<br />

pálida; <strong>de</strong>scansa, que não hei <strong>de</strong> rubricar esta lauda com um pingo <strong>de</strong> sangue. Logo que<br />

apareceu na chácara, fiz-lhe um gesto amigo, acompanha<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma palavra graciosa;<br />

Virgília retirou-se apressadamente da sala, on<strong>de</strong> ele entrou daí a três minutos.<br />

--Está cá há muito tempo? disse-me ele.<br />

--Não.<br />

Entrara sério, pesa<strong>do</strong>, <strong>de</strong>rraman<strong>do</strong> os olhos <strong>de</strong> um mo<strong>do</strong> distraí<strong>do</strong>, costume seu, que trocou<br />

logo por uma verda<strong>de</strong>ira expansão <strong>de</strong> jovialida<strong>de</strong>, quan<strong>do</strong> viu chegar o filho, o Nhonhô, o<br />

futuro bacharel <strong>do</strong> capítulo VI, tomou-o nos braços, levantou-o ao ar, beijou-o muitas vezes.<br />

Eu, que tinha ódio ao menino, afastei-me <strong>de</strong> ambos. Virgília tornou à sala.<br />

--Ah! Respirou Lobo Neves, sentan<strong>do</strong>-se preguiçosamente no sofá.<br />

--Cansa<strong>do</strong>? perguntei eu.<br />

--Muito; aturei duas maçadas <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m, uma na câmara e outra na rua. E ainda<br />

temos terceira, acrescentou, olhan<strong>do</strong> para a mulher.<br />

--Que é? perguntou Virgília.<br />

--Um. . . Adivinha!<br />

Virgília sentara-se ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong>le, pegou-lhe numa das mãos, compôs-lhe a gravata, e tornou a<br />

perguntar o que era.<br />

--Nada menos que um camarote.<br />

--Para a Candiani?<br />

--Para a Candiani.<br />

Virgília bateu palmas, levantou-se, <strong>de</strong>u um beijo no filho, com um ar <strong>de</strong> alegria pueril, que<br />

<strong>de</strong>stoava muito da figura; <strong>de</strong>pois perguntou se o camarote era <strong>de</strong> boca ou <strong>do</strong> centro,<br />

consultou o mari<strong>do</strong>, em voz baixa, acerca da toilette que faria, da ópera que se cantava, e <strong>de</strong><br />

não sei que outras cousas.<br />

--Você janta conosco, <strong>do</strong>utor, disse-me Lobo Neves.<br />

--Veio para isso mesmo, confirmou a mulher; diz que você possui o melhor vinho <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro.<br />

--Nem por isso bebe muito.<br />

Ao jantar, <strong>de</strong>smenti-o; bebi mais <strong>do</strong> que costumava; ainda assim, menos <strong>do</strong> que era preciso<br />

para per<strong>de</strong>r a razão. Já estava excita<strong>do</strong>, fiquei um pouco mais. Era a primeira gran<strong>de</strong> cólera<br />

que eu sentia contra Virgília. Não olhei uma só vez para ela durante o jantar; falei <strong>de</strong><br />

política, da imprensa, <strong>do</strong> ministério, creio que falaria <strong>de</strong> teologia, se a soubesse, ou se me<br />

lembrasse. Lobo Neves acompanhava-me com muita placi<strong>de</strong>z e dignida<strong>de</strong>, e até com certa<br />

file:///C|/site/livros_gratis/bras_cubas.htm (66 of 133) [10/8/2001 17:07:29]

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