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Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado ... - Cursinho do XI

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<strong>Memórias</strong> <strong>Póstumas</strong> <strong>de</strong> <strong>Brás</strong> <strong>Cubas</strong>, <strong>de</strong> <strong>Macha<strong>do</strong></strong> <strong>de</strong> Assis<br />

uma vez que lhe recebeste pontualmente as lágrimas. Meiga, três vezes Meiga Natura!<br />

CAPÍTULO CLIII / O ALIENISTA<br />

COMEÇO A FICAR patético e prefiro <strong>do</strong>rmir. Dormi, sonhei que era nababo, e acor<strong>de</strong>i com<br />

a idéia <strong>de</strong> ser nababo. Eu gostava, às vezes, <strong>de</strong> imaginar esses contrastes <strong>de</strong> região, esta<strong>do</strong> e<br />

cre<strong>do</strong>. Alguns dias antes tinha pensa<strong>do</strong> na hipótese <strong>de</strong> uma revolução social, religiosa e<br />

política, que transferisse o arcebispo <strong>de</strong> Cantuária a simples coletor <strong>de</strong> Petrópolis, e fiz<br />

longos cálculos para saber se o coletor eliminaria o arcebispo, ou se o arcebispo rejeitaria o<br />

coletor, ou que porção <strong>de</strong> arcebispo po<strong>de</strong> jazer num coletor, ou que soma <strong>de</strong> coletor po<strong>de</strong><br />

combinar com um arcebispo, etc. Questões insolúveis, aparentemente, mas na realida<strong>de</strong><br />

perfeitamente solúveis, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se atenda que po<strong>de</strong> haver num arcebispo <strong>do</strong>us<br />

arcebispos,-- o da bula e o outro. Está dito, vou ser nababo.<br />

Era um simples gracejo; disse-o, todavia, ao Quincas Borba, que olhou para mim com certa<br />

cautela e pena, levan<strong>do</strong> a sua bonda<strong>de</strong> a comunicar-me que eu estava <strong>do</strong>u<strong>do</strong>. Ri-me a<br />

princípio; mas a nobre convicção <strong>do</strong> filósofo incutiu-me certo me<strong>do</strong>. A única objeção contra<br />

a palavra <strong>do</strong> Quincas Borba é que não me sentia <strong>do</strong>u<strong>do</strong>, mas não ten<strong>do</strong> geralmente os<br />

<strong>do</strong>u<strong>do</strong>s outro conceito <strong>de</strong> si mesmos, tal objeção ficava sem valor. E ve<strong>de</strong> se há algum<br />

fundamento na crença popular <strong>de</strong> que os filósofos são homens alheios às cousas mínimas.<br />

No dia seguinte, man<strong>do</strong>u-me o Quincas Borba um alienista. Conhecia-o, fiquei aterra<strong>do</strong>.<br />

Ele, porém houve-se com a maior <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za e habilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>spedin<strong>do</strong>-se tão alegremente<br />

que me animou a perguntar-lhe se <strong>de</strong>veras me não achava <strong>do</strong>u<strong>do</strong>.<br />

--Não, disse ele sorrin<strong>do</strong>; raros homens terão tanto juízo como o senhor.<br />

--Então o Quincas Borba enganou-se?<br />

--Re<strong>do</strong>ndamente. E <strong>de</strong>pois:--Ao contrário, se é amigo <strong>de</strong>le... peço-lhe que o distraia... que...<br />

--Justos céus! Parece-lhe?... Um homem <strong>de</strong> tamanho espírito, um filósofo!<br />

--Não importa, a loucura entra em todas as casas.<br />

Imaginem a minha aflição. O alienista, ven<strong>do</strong> o efeito <strong>de</strong> suas palavras, reconheceu que eu<br />

era amigo <strong>do</strong> Quincas Borba, e tratou <strong>de</strong> diminuir a gravida<strong>de</strong> da advertência. Observou que<br />

podia não ser nada, e acrescentou até que um grãozinho <strong>de</strong> sandice, longe <strong>de</strong> fazer mal, dava<br />

certo pico à vida. Como eu rejeitasse com horror esta opinião, o alienista sorriu e disse-me<br />

uma cousa tão extraordinária, tão extraordinária, que não merece menos <strong>de</strong> um capítulo.<br />

CAPÍTULO CLIV / OS NAVIOS DO PIREU<br />

file:///C|/site/livros_gratis/bras_cubas.htm (129 of 133) [10/8/2001 17:07:30]

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