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universidade federal da bahia thaiane dos santos machado - Facom ...

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asileiro”. A idéia principal era que a telenovela não poderia deixar de criar ilusões e fantasias,<br />

porém que elas fossem não muito distantes <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de brasileira. Os autores e diretores de<br />

telenovela começam a se preocupar em “imitar” em suas obras a aparente identi<strong>da</strong>de brasileira,<br />

favorecendo uma maior identificação emocional <strong>dos</strong> telespectadores com os dramas que eram<br />

produzi<strong>dos</strong> por eles (KEHL, 1986).<br />

Muitos colocam que o marco desta vira<strong>da</strong> deu­se com a exibição <strong>da</strong> telenovela “Beto<br />

Rockefeller” (TV Tupi, 1968) 13 , de Bráulio Pedroso. O mais importante desta mu<strong>da</strong>nça é a quebra do<br />

maniqueísmo melodramático 14 (a forma rígi<strong>da</strong> do “bem” e do “mal”) e a mu<strong>da</strong>nça do código<br />

amoroso ajustado a uma formação de um código social. A partir deste período as telenovelas<br />

começam de fato a retratar o mundo “realista brasileiro” e, os anos 70, podemos afirmar, foi o<br />

período de consoli<strong>da</strong>ção desta vertente. Segundo HAMBURGER (2005), “seguindo o caminho<br />

aberto por Beto Rockefeller, a dupla [Janete Clair e Daniel Filho] consolidou um novo estilo, a<br />

novela crônica do cotidiano, inspira<strong>da</strong> no cinema, fiel à tradição melodramática do gênero, mas com<br />

ênfase no contemporâneo, o que acentuava sua vertente folhetinesca” (p. 85). “Beto Rockefeller”<br />

inovava o novo jeito de escrever telenovela, mas não somente em seu enredo, mas na construção <strong>da</strong>s<br />

tramas, no foco <strong>dos</strong> conflitos, na interpretação ca<strong>da</strong> vez mais próxima <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de e enfocava, como<br />

nunca antes, as questões sociais e os problemas brasileiros. Porém, qual o lugar que o amor ocupava<br />

neste modo realista de contar estórias?<br />

O amor, presente nestas narrativas, foi explorado de diversas maneiras, sendo algumas delas<br />

comuns e ain<strong>da</strong> utiliza<strong>da</strong>s nas tramas atuais. Em geral, as tramas centrais estavam relaciona<strong>da</strong>s à<br />

ascensão social do herói ou heroína, sendo, segundo KEHL (1986), “o tema universal <strong>da</strong>s novelas”<br />

(p. 279). A autora completa que nas telenovelas deste período (e poderíamos aplicar aos dias atuais)<br />

to<strong>dos</strong> os apaixona<strong>dos</strong> têm as mesmas atitudes, “desde a maneira de recusar o diálogo com o ser<br />

amado à menor decepção até o jeito de palpitar e perder o fôlego diante de um encontro<br />

inesperado”(p.283). A imagem do herói deste período continua ligado ao referencial do herói<br />

13<br />

Beto, o “anti­herói” ou “herói sem nenhum caráter”, quebrou a duali<strong>da</strong>de <strong>dos</strong> personagens “bons” e “más” e, ain<strong>da</strong>,<br />

colocou o amor <strong>da</strong> maneira mais interessa<strong>da</strong>: o “amor” como busca de um bem estar social. Não seria correto afirmar que<br />

esta forma de colocar o amor esteja presente, especificamente, na obra de Bráulio Pedrozo. Digamos que tenha sido uma<br />

forma inovadora, uma primeira iniciativa, mas ain<strong>da</strong> hoje, na contemporanei<strong>da</strong>de, o amor é colocado como meio de<br />

ascensão social. Em “A Lua me disse” (TV Globo, 2005), escrita por Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa, havia<br />

um “par amoroso”, formado por Soraya (Juliana Baroni) e Pedro (Rafael Paiva) onde o maior interesse desta relação<br />

(influencia<strong>da</strong>, inclusive, pela mãe) era atingir a riqueza pelo casamento com um <strong>dos</strong> herdeiros do Banco Bogari, ou seja,<br />

um <strong>dos</strong> futuros donos de uma fortuna deixa<strong>da</strong> pela família e, por conseqüência ter este sobrenome era sinônimo de<br />

estabili<strong>da</strong>de financeira e social.<br />

14<br />

Esta visão maniqueísta, trazi<strong>da</strong> pelas telenovelas até os finais <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de sessenta, está relaciona<strong>da</strong> com as narrativas<br />

“melodramáticas” escritas por Glória Maga<strong>da</strong>n, como foi citado. Mas isso será abor<strong>da</strong>do com mais cui<strong>da</strong>do num item<br />

mais a frente sobre a herança melodramática nas narrativas <strong>da</strong>s telenovelas.<br />

19

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