universidade federal da bahia thaiane dos santos machado - Facom ...
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Há situações em que as cenas <strong>da</strong>s telenovelas possuem dois tipos de trilha: a música interna <strong>da</strong><br />
narrativa e a outra que somente o espectador está ouvindo. BOURNEUF e OUELLET 38 (1976), traz<br />
a questão <strong>da</strong> diegese, termo que engloba tudo que a narração provoca no espectador e está<br />
relaciona<strong>da</strong> a capaci<strong>da</strong>de de criar um universo, um “pseudomundo”. Esse termo pode ser utilizado<br />
para qualquer elemento que esteja interno ou externo à narrativa. No caso <strong>da</strong> música, o espectador é<br />
levado, em certas situações pela forma extradiegética e tem sido um recurso bem utilizado nas<br />
tramas. Vejamos o exemplo do primeiro capítulo <strong>da</strong> telenovela “Renascer”: há o primeiro encontro<br />
entre os “pares amorosos”, José Inocêncio (jovem – Leonardo Vieira) e Maria Santa (Patrícia<br />
França). Este encontro se dá na fazendo do “coronelzinho” (como ele é chamado na região), onde<br />
está para acontecer a manifestação do Bumba meu boi, embala<strong>da</strong> por uma cantoria popular. Ao<br />
momento em que se dá a troca de olhares entre os “pares amorosos” (desta forma, o<br />
“enamoramento”), a canção popular é coloca<strong>da</strong> em segundo plano (como um “pano de fundo”),<br />
estando assim dentro <strong>da</strong> narrativa, e a música tema <strong>dos</strong> personagens toma o lugar fora <strong>da</strong> narrativa,<br />
onde somente o espectador pode ouvir e sentila. Esta troca de olhares é embala<strong>da</strong> pela música<br />
“Lindeza”, de Caetano Veloso, que nos anunciará os momentos do casal apaixonado. Além disso, a<br />
letra irá sugerir o amor eterno entre José Inocêncio e Maria Santa:<br />
Coisa lin<strong>da</strong>, é mais que uma idéia louca,<br />
Verte ao alcance <strong>da</strong> boca,<br />
que nem posso acreditar (...)<br />
Coisa lin<strong>da</strong>, desejante desde sempre,<br />
Terte agora, um dia e sempre<br />
Uma alegria para sempre...<br />
Como afirma FILHO (2001), “quando se vê, aquela música já entrou na cena e nem se notou.<br />
O espectador é levado por determina<strong>da</strong>s situações [neste caso, a festa do Bumba], tudo vai num<br />
crescendo até que ela [Maria Santa] encontra o homem [José Inocêncio], o homem olha para ela (...)<br />
e a música cresce”.(p. 323). Desta forma, a introdução <strong>da</strong> música nas telenovelas, foi mais do que um<br />
incremento estético, foi um elemento de crescimento <strong>da</strong> narrativa e mais uma maneira eficiente de<br />
38<br />
Esta noção de diegese foi um pressuposto, aplicado ao caso <strong>da</strong> trilha sonora, trazido por estes dois autores em seu livro<br />
“Universo do Romance”, Eles trazem este termo relacionando aos tipos de narradores de romance, que eles denominam<br />
como heterodiegético e homodiegético. O que eles propõem é que o narrador homodiegético esteja dentro <strong>da</strong> narrativa e o<br />
heterodiegético o narrador estaria fora <strong>da</strong> narrativa, exterior à ação. Desta forma, poderíamos pensar na música de uma<br />
certa cena, a que compõe o interior <strong>da</strong> cena e a que está fora <strong>da</strong> narrativa e surge para gerar efeito, unicamente, ao<br />
apreciador.<br />
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