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depender do tipo e do objetivo do uso. A adicção à<br />
internet seria comparada aos transtornos dos impulsos<br />
e do espectro obsessivo compulsivo, como o excesso<br />
de exercícios físicos, de trabalho, de sexo ou compras.<br />
“Alguns sintomas percebidos nessas pessoas são os<br />
sinais de abstinência - como agitação psicomotora e<br />
condutas e pensamentos obsessivos pelo que pode estar<br />
acontecendo na internet, necessidade de aumentar o<br />
tempo conectado, fadiga, déficit de atenção, depressão e<br />
ansiedade”, afirma o médico.<br />
O presidente da Fundação de Neurologia e<br />
Neurocirurgia – Instituto do Cérebro, Antônio Andrade,<br />
também destaca a ansiedade como um dos principais<br />
efeitos negativos causados pelo uso constante das<br />
novas tecnologias. “Algumas áreas do cérebro são<br />
excitadas com estímulos constantes provocados por<br />
essas tecnologias e têm que processar esses estímulos<br />
para dar respostas ao corpo, acarretando ansiedade,<br />
grau de hipervigília acentuado, dificuldade de<br />
aprendizado, inibição dos hormônios do sono, entre<br />
outros distúrbios”, explica o especialista.<br />
Substituindo o real pelo virtual<br />
As mudanças na vida social, no entanto, são as mais<br />
perceptíveis. De acordo com Andrade, as pessoas,<br />
muitas vezes, deixam de lado o contexto real para<br />
buscar uma realização virtual. “Elas querem mostrar<br />
nas redes sociais algo que é imaginário, uma falsa<br />
impressão de êxito. Esses distúrbios ainda estão<br />
sendo estudados, não sabemos exatamente quais os<br />
impactos causados, mas já foi constatado que esse<br />
excesso de comunicação, muitas vezes, gera solidão”,<br />
alerta o neurologista. Segundo ele, as pessoas quando<br />
se mantêm sempre conectadas, em salas de bate-papo,<br />
por exemplo, ficam indisponíveis para vivenciar<br />
experiências concretas, se isolando do mundo real.<br />
O psiquiatra Geonaldo Costa também ressalta<br />
os prejuízos de natureza social causados pelo uso<br />
exagerado dessas tecnologias. Em alguns casos,<br />
comenta o psiquiatra, as pessoas chegam a colocar<br />
em risco o emprego – seja pelo uso inadequado<br />
de e-mails, redes sociais, ou pelo tempo gasto em<br />
atividades que concorram com as do trabalho.<br />
“Muitas vezes, as pessoas limitam o contato pessoal,<br />
perdem o interesse por outras atividades, preferem<br />
o mundo virtual ao mundo real, com perda da<br />
noção de tempo e negligenciando impulsos básicos,<br />
sentimentos de irritação, insônia, tensão ou depressão<br />
e, eventualmente, gerando desentendimentos com<br />
amigos e familiares”, explica.<br />
“A família cobra um pouco mais de atenção nos<br />
eventos sociais, às vezes em um simples almoço em<br />
casa, quando eu fico checando e-mails e mensagens”,<br />
conta a executiva Ericka Gordiano, que passa cerca de<br />
20 horas por dia conectada, tanto para uso profissional<br />
como pessoal. Ericka admite que bate um sentimento de<br />
abstinência se ficar sem os seus equipamentos eletrônicos.<br />
“Fico ansiosa, sinto que está faltando alguma coisa”, revela.<br />
Mas se, por um lado, ela pode ficar mais distante de<br />
quem está perto, por conta desses aparatos, acaba ficando<br />
mais próxima de quem está longe. Ericka morou no Rio de<br />
Janeiro e mantém contato com muitos amigos através das<br />
redes sociais. “Nos falamos basicamente pela internet, é<br />
muito mais prático e mais barato, nos aproxima”, reforça.<br />
Foto: Rômulo Portela<br />
“As pessoas, muitas vezes, deixam<br />
de lado o contexto real para buscar<br />
uma realização virtual”<br />
Antônio Andrade, presidente da<br />
Fundação de Neurologia e<br />
Neurocirurgia – Instituto do Cérebro<br />
www.revistabmais.com março/abril 2013 <strong>Revista</strong> [B + ]<br />
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