O CÓDIGO FLORESTAL E A CIÊNCIA Contribuições Para o Diálogo
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de até 70% na entrada de sólidos suspensos e nutrientes na parte alta do rio Taquari na época chuvosa,<br />
provocando impactos sobre as comunidades perifíticas e sobre a cadeia trófica nos sistemas aquáticos com<br />
consequências diretas sobre os pequenos peixes e microcrustáceos. Tal fato refletiu-se nos estudos de biologia<br />
e ecologia de peixes na mesma bacia. As pesquisas constataram alterações na reprodução e alimentação<br />
desses animais com prejuízo para a pesca, atividade que já foi importante na economia da região.<br />
O aumento das inundações em decorrência do uso da terra está impactando também a mata ciliar nas<br />
partes mais baixas da bacia, afetando a socioeconomia regional com a migração para as cidades, o isolamento<br />
das comunidades humanas e o comprometimento da comercialização dos produtos locais. Entre<br />
as recomendações da Embrapa Pantanal e seus parceiros para a mitigação dos impactos ambientais e<br />
socioeconômicos na bacia do rio Taquari está a recomposição das matas ciliares (GALDINO e VIEIRA,<br />
2005).<br />
No bioma Cerrado, as bacias hidrográficas são formadas por poucos rios de grande porte e dezenas de<br />
córregos estreitos, ao longo dos quais, em função da topografia e da altura do lençol freático, as matas<br />
ciliares – ali denominadas matas de galeria – podem ocorrer em diferentes tipos de solos, apresentar<br />
variações nas comunidades florísticas e, consequentemente, padrões diferentes de ciclagem de nutrientes.<br />
Estudos conduzidos nessas paisagens indicaram que as concentrações de nutrientes na água fluvial são<br />
muito baixas porque a mata de galeria atua como uma barreira contra a saída de nutrientes do sistema,<br />
contribuindo para a manutenção da qualidade de água nos cursos d’água. A retirada dessas matas comprometeria<br />
a proteção da biodiversidade, do volume e qualidade de água necessários para o bem-estar<br />
social na região.<br />
Um exemplo da proteção das matas ciliares para os rios na Mata Atlântica pode ser demonstrado pelo<br />
trabalho desenvolvido por Moraes et al. (2002). No estudo, os autores constataram que, na bacia do rio<br />
Jundiaí-Mirim, a concentração de nitrogênio amoniacal e do fósforo total estava acima do limite estabelecido<br />
pela legislação ambiental do estado de São Paulo. Esses níveis elevados de fosfatos estão relacionados<br />
diretamente à contaminação proveniente de fertilizantes, carregados durante o processo erosivo de<br />
áreas agrícolas próximas às margens dos rios e desprovidas de mata ciliar.<br />
Um dos atuais desafios da pesquisa é identificar as condições que possam subsidiar as tomadas de decisão<br />
quanto às dimensões das larguras marginais adequadas para que essas áreas possam cumprir os serviços<br />
ecossistêmicos esperados. <strong>Para</strong> isso, reconhecem-se algumas características chaves a serem consideradas<br />
nesse processo, entre elas a profundidade do lençol freático, a textura e espessura dos solos e as declividades<br />
das encostas adjacentes aos cursos d’água, além da suficiência de vegetação para que sejam garantidos<br />
o fluxo gênico de espécies e a conservação da biodiversidade.<br />
58 O <strong>CÓDIGO</strong> <strong>FLORESTAL</strong> E A <strong>CIÊNCIA</strong><br />
<strong>Contribuições</strong> <strong>Para</strong> o <strong>Diálogo</strong>