O CÓDIGO FLORESTAL E A CIÊNCIA Contribuições Para o Diálogo
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matamentos. A mesma região no Mato Grosso hoje demonstra que a destruição de APPs e RLs em propriedades<br />
rurais teve péssimas consequências. Por outro lado, também existem naquele estado projetos<br />
que unem agricultores e ambientalistas e que estão recuperando parte do passivo ambiental de APPs e<br />
RLs nas cabeceiras do rio Xingu, com a utilização de tecnologia agrícola de ponta, investimentos modestos<br />
e acessíveis e com boas perspectivas de retorno financeiro pela agregação de serviços ambientais<br />
ao mix de produtos daquelas propriedades (Globo Rural vídeo, Técnica da muvuca acelera reflorestamento<br />
nas nascentes do rio Xingu). Tais exemplos mostram ações concretas para conter e amenizar as mudanças<br />
ambientais, através de caminho viável e lucrativo.<br />
1.4.1.4. Impactos físicos potenciais da eliminação das APPs de topo de<br />
morro e de encostas<br />
Assim como para outras APPs e RLs, as APPs de topo de morro e de encostas compõem áreas de proteção<br />
para a vegetação natural dentro das propriedades com todos os serviços ambientais e benefícios elencados<br />
anteriormente. Adicionem-se duas características ímpares quanto ao particionamento dos fluxos de<br />
água: a presença de vegetação protetora nessas circunstâncias aumenta a estruturação do solo e, com isso,<br />
a permeabilidade, o que resulta em maior amortecimento do aporte e na infiltração da água. Isso leva a<br />
uma recarga lenta de aquíferos.<br />
Com maior infiltração vertical no topo do morro, menor quantidade de água escoará pela superfície ao<br />
longo das encostas de jusante, aumentando sua estabilidade. Tanto um efeito quanto o outro são importantes<br />
para a integridade geológica das encostas. Os deslizamentos do vale do rio Itajaí em 2008 e na zona<br />
serrana do Rio de Janeiro em 2011 têm ligação importante, mas não exclusiva, com o estado de conservação<br />
da vegetação natural nos topos de morros, nas encostas e mesmo nos sopés. A especificidade da<br />
fragilidade destas áreas ao excesso de água resulta da combinação de muitos e heterogêneos fatores, como<br />
aqueles ligados à geologia, à geomorfologia e aos solos, nem todos previstos ou logicamente enquadrados<br />
pela legislação florestal.<br />
A aplicação do Código Florestal envolve a incorporação de algumas definições passíveis de questionamentos<br />
pela pouca clareza de seus respectivos significados e/ou pela própria dificuldade de sua aplicação<br />
nas condições de campo. O termo ‘topo’, por exemplo, refere-se a uma porção do relevo que se situaria a<br />
2/3 de sua distância mínima em relação ao sopé da encosta. Vale destacar que, além da dificuldade de se<br />
definir a posição do sopé de uma encosta (variável segundo a escala de representação topográfica da área<br />
de interesse ou mesmo em campo), deve-se considerar que o limite superior de 2/3 a montante do sopé da<br />
encosta pode estar a uma distância variável da zona de cumeada no caso das vertentes de interflúvios assimétricos,<br />
por exemplo. Apesar de elaboradas análises topológicas existirem para dar suporte matemático<br />
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC<br />
Academia Brasileira de Ciências – ABC<br />
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