O CÓDIGO FLORESTAL E A CIÊNCIA Contribuições Para o Diálogo
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das matas ciliares, além de diversas espécies de aves, borboletas e peixes ameaçados de extinção que vivem<br />
exclusivamente nessas áreas.<br />
Em rios amazônicos, os lixiviados de folhas da vegetação adjacente inibem o crescimento microbiano<br />
que, em contrapartida, restringem a ocorrência de mosquitos cujas larvas se alimentam dessas bactérias,<br />
tendo implicação direta em saúde pública. Muitas outras espécies usam essas faixas como corredores de<br />
dispersão pela paisagem, o que as tornam importantes elementos de conexão entre fragmentos remanescentes<br />
de matas em regiões alteradas pela atividade ou ocupação humana.<br />
Mudança no bordo de referência proposta no substitutivo<br />
A alocação da faixa de proteção ripária, contando a partir da margem da água mais alta (CF) ou leito menor<br />
(substitutivo), usa variáveis níveis da água como base para alocar faixas geograficamente delimitadas<br />
(e temporalmente fixas), um problema comum às duas abordagens. A zona compreendida entre a água<br />
mais alta e o leito menor contém as várzeas, igapós, mangues e outros ecossistemas inundáveis, constituindo<br />
a parte oscilante do corpo d’água.<br />
Cientificamente, as florestas ciliares além da água mais alta não podem ser desacopladas do corpo d’água<br />
perene, definido pelo leito menor, porque, entre outras razões, funcionalmente as áreas inundáveis de entremeio<br />
apresentam a condição edáfica típica de lençol freático superficial, mesmo nos períodos de vazante.<br />
Vastas regiões são submetidas a inundações periódicas (na Amazônia, um estudo estimou área inundável<br />
em 11,9% do total), estando essas áreas protegidas no CF vigente, segundo interpretação predominante,<br />
pela sua inclusão implícita na definição do corpo d’água. Com a transposição pelo substitutivo das faixas<br />
ciliares da água mais alta para o leito menor, as áreas inundáveis perderiam, na Amazônia, até 60% de sua<br />
proteção.<br />
Essa mudança de bordo do substitutivo esconde sério agravante: as faixas ciliares do CF vigente não se<br />
superpõem com as faixas marginais inundáveis propostas pelo substitutivo, o que implica na eliminação<br />
de grande parte das primeiras como área de proteção. A perda de proteção em 60% das áreas inundáveis e<br />
o desaparecimento das APPs ciliares indicam o significativo impacto da alteração proposta.<br />
Redução da faixa ciliar proposta no substitutivo<br />
Os rios de primeira ordem, que chegam até a 5 m de largura, compõem mais de 50% em extensão da rede<br />
de drenagem. A proposta do substitutivo de redução da faixa ripária de 30 para 15 m nesses rios resulta<br />
numa redução bruta de 31% na área protegida em relação ao código vigente.<br />
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC<br />
Academia Brasileira de Ciências – ABC<br />
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