O que resta dos grandes sonhos de um paÃs pequeno - Fonoteca ...
O que resta dos grandes sonhos de um paÃs pequeno - Fonoteca ...
O que resta dos grandes sonhos de um paÃs pequeno - Fonoteca ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Flash<br />
S<strong>um</strong>ário<br />
Manuel Mozos 6<br />
Filma, em “Ruínas”, <strong>um</strong><br />
Portugal mais <strong>de</strong> misérias do<br />
<strong>que</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>zas<br />
O som e a fúria 11<br />
<strong>de</strong> <strong>um</strong>a geração<br />
Jens Lapidus 16<br />
Um advogado <strong>que</strong> escreve na<br />
pele do criminoso<br />
Manuel Alegre 18<br />
Uma escrita <strong>que</strong> puxa pela<br />
memória<br />
Clarice Lispector 20<br />
Chegou a hora da estrela<br />
Field Music 22<br />
São ingleses, gostam <strong>de</strong><br />
futebol e fizeram <strong>um</strong> gran<strong>de</strong><br />
disco duplo<br />
Tiago Bettencourt 26<br />
A música <strong>que</strong> faz não<br />
é a música <strong>que</strong> ouve<br />
Ficha Técnica<br />
Directora Bárbara Reis<br />
Editor Vasco Câmara, Inês Nadais<br />
(adjunta)<br />
Conselho editorial Isabel<br />
Coutinho, Óscar Faria, Cristina<br />
Fernan<strong>de</strong>s, Vítor Belanciano<br />
Design Mark Porter, Simon<br />
Esterson, Kuchar Swara<br />
Directora <strong>de</strong> arte Sónia Matos<br />
Designers Ana Carvalho, Carla<br />
Noronha, Mariana Soares<br />
Editor <strong>de</strong> fotografia Miguel<br />
Ma<strong>de</strong>ira<br />
E-mail: ipsilon@publico.pt<br />
Anda mal<br />
o casamento<br />
<strong>de</strong> Julianne Moore<br />
“Chloe”, o novo filme <strong>de</strong> Atom<br />
Egoyan, é <strong>um</strong>a análise à instituição<br />
casamento. Conta a história <strong>de</strong><br />
Catherine Stewart, <strong>um</strong>a médica<br />
( Julianne Moore) <strong>que</strong> se sente<br />
infeliz com o casamento. Quando<br />
suspeita da traição <strong>de</strong> David, o<br />
marido (Liam Neeson), <strong>de</strong>ci<strong>de</strong><br />
contratar Chloe, acompanhante<br />
<strong>de</strong> luxo (Amanda Seyfried). O<br />
combinado era <strong>que</strong> Chloe revelasse<br />
a Catherine os pormenores <strong>dos</strong><br />
encontros com David, mas Chloe<br />
parece ter os seus próprios planos,<br />
<strong>que</strong> po<strong>de</strong>rão mesmo <strong>de</strong>struir a<br />
família <strong>de</strong> Catherine. “Este filme é<br />
sobre <strong>um</strong>a mulher <strong>de</strong>sencantada<br />
com o seu casamento. Começa<br />
a sentir <strong>que</strong> já não é a mesma,<br />
mas escolhe <strong>um</strong>a maneira muito<br />
particular para tentar compreen<strong>de</strong>r<br />
o marido”, disse Julianne Moore ao<br />
“The Washington Post”.<br />
A MTV e as Spice<br />
Girls mataram a<br />
fúria feminina<br />
A pergunta é colocada do ponto <strong>de</strong><br />
vista <strong>de</strong> <strong>que</strong>m se recorda <strong>de</strong> Joan<br />
Jett, do punk <strong>de</strong> Siouxsie Sioux e do<br />
“riot grrrl” das Bikini Kill, <strong>de</strong> <strong>que</strong>m<br />
se vê agora n<strong>um</strong> cenário on<strong>de</strong><br />
figuras femininas estão no topo das<br />
tabelas e concentram atenção<br />
mediática como nunca antes. Dessa<br />
posição, surgiu no “Guardian” a<br />
pergunta: “O <strong>que</strong> aconteceu às<br />
estrelas femininas furiosas?”<br />
“Nos últimos vinte anos – aponta<br />
Tahita Bulmer, vocalista <strong>dos</strong> New<br />
Young Pony Club, ao diário<br />
britânico –, as mulheres jovens<br />
aceitaram <strong>um</strong>a <strong>de</strong>terminada<br />
‘persona’. Há a i<strong>de</strong>ia <strong>que</strong> tens <strong>de</strong> ser<br />
obcecada pela fama, e parecer<br />
convencional ou sensual”. A culpa,<br />
arg<strong>um</strong>enta-se no artigo, tem dois<br />
nomes. MTV e Spice Girls. A<br />
primeira, escreve-se, transformou a<br />
cultura popular, <strong>de</strong>ixando para trás<br />
bandas punk feministas como Slits<br />
ou Raincoats: “A imagem tornou-se<br />
o mais importante, e mulheres<br />
zangadas <strong>que</strong> não <strong>que</strong>riam saber<br />
<strong>de</strong>la não se enquadravam nesse<br />
cenário”. Já as segundas,<br />
apropriaram-se do vocabulário das<br />
“riot grrrls” e proclamaram “girl<br />
power”, mas, arg<strong>um</strong>enta Ju<strong>de</strong><br />
Rogers, a autora do artigo, fizeramno<br />
seguindo o “mo<strong>de</strong>lo<br />
convencional <strong>de</strong> banda pop<br />
fabricada por homens para<br />
mulheres adolescentes”.<br />
Cazz Balse, co-autora do livro<br />
“Riot Grrrl: Revolution Girl Style<br />
Now!”, assinala <strong>que</strong>, n<strong>um</strong> mundo<br />
<strong>de</strong> X-Factors e Ídolos, arriscar é<br />
perigoso. “Perseguindo a música<br />
Julianne Moore em “Chloe”<br />
Charlotte Rampling interpreta<br />
Yourcenar no Festival <strong>de</strong> Almada<br />
A actriz inglesa Charlotte<br />
Rampling vai estar na<br />
próxima edição do Festival<br />
<strong>de</strong> Teatro Almada, em Julho,<br />
com “Yourcenar/Cavafy”,<br />
<strong>um</strong> diálogo ficcionado entre<br />
a autora <strong>de</strong> “Memórias <strong>de</strong><br />
Adriano” e o poeta grego <strong>de</strong><br />
Alexandria, interpretado<br />
pelo actor Polydoros<br />
Vogiatzis. O espectáculo,<br />
concebido por Jean-Clau<strong>de</strong><br />
Feugnet a partir <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />
cenografia <strong>de</strong> Lambert<br />
Wilson, será apresentado no<br />
Teatro Nacional <strong>de</strong> S. João,<br />
no Porto (16 <strong>de</strong> Julho), e na<br />
sala Garrett do Teatro<br />
Nacional D. Maria II (dias 17 e<br />
18).<br />
Mais conhecida pelos seus<br />
papéis no cinema – ao longo<br />
<strong>de</strong> quase meio século <strong>de</strong><br />
carreira, trabalhou com<br />
Roger Corman, Luchino<br />
Visconti, Liliana Cavani,<br />
Woody Allen, Sidney L<strong>um</strong>et,<br />
Nagisa Oshima, Clau<strong>de</strong><br />
Lelouch ou, mais<br />
recentemente, te, François<br />
Ozon e Todd d Solondz –,<br />
Rampling nunca<br />
<strong>de</strong>ixou inteiramente<br />
o palco, ao qual<br />
agora regressa sa com<br />
este “Yourcenar/<br />
Cavafy”, <strong>que</strong> tem<br />
itinerado por vários<br />
países da Europa.<br />
Cruzando<br />
excertos <strong>de</strong><br />
romances e<br />
ensaios <strong>de</strong><br />
Marguerite<br />
Yourcenar<br />
(1903-1987),<br />
como<br />
“Memórias <strong>de</strong><br />
Adriano”, “A<br />
Obra ao Negro”<br />
ou “Fogos”, e<br />
poemas <strong>de</strong><br />
Konstandinos os<br />
Kavafis (1863-<br />
1933), esta<br />
espécie <strong>de</strong><br />
conversa<br />
literária<br />
imagina <strong>um</strong><br />
encontro <strong>que</strong> nunca existiu a<br />
três dimensões. Yourcenar<br />
passou o Verão <strong>de</strong> 1936 em<br />
Atenas e foi nessa ocasião<br />
<strong>que</strong> conheceu a poesia <strong>de</strong><br />
Kavafis, através <strong>de</strong><br />
Konstandinos Dimaras. O<br />
poeta tinha morrido três<br />
anos antes, <strong>de</strong> cancro na<br />
laringe, e a primeira edição<br />
reunida <strong>dos</strong> seus poemas<br />
fora post<strong>um</strong>amente<br />
publicada em 1935.<br />
A romancista rapidamente<br />
se apercebeu <strong>de</strong> <strong>que</strong> tinha<br />
bastante em com<strong>um</strong> com o<br />
esteta <strong>de</strong> Alexandria.<br />
Homossexual, hedonista,<br />
fascinado pela História,<br />
Kavafis viveu em Inglaterra,<br />
durante a sua infância e<br />
adolescência, mas, <strong>de</strong> resto,<br />
salvo alg<strong>um</strong>as breves<br />
viagens, raramente saiu <strong>de</strong><br />
Alexandria, on<strong>de</strong> era<br />
corretor da Bolsa. Escreveu<br />
pouco mais <strong>de</strong><br />
centena ena e<br />
meia <strong>de</strong><br />
poemas,<br />
muitos <strong>de</strong>les<br />
relaciona<strong>dos</strong><br />
com<br />
temas da<br />
história<br />
grega e<br />
romana,<br />
outros <strong>de</strong> teor<br />
homoerótico,<br />
apresenta<strong>dos</strong> como<br />
rememorações da<br />
juventu<strong>de</strong>.<br />
Yourcenar começou a<br />
traduzi-lo nos anos<br />
quarenta, mas só em 1958<br />
saiu na Gallimard a sua<br />
tradução integral <strong>dos</strong><br />
poemas <strong>de</strong> Kavafis, coassinada<br />
com Dimaras, <strong>que</strong><br />
contestou muitas das<br />
soluções propostas pela<br />
romancista, mas <strong>que</strong><br />
raramente a terá conseguido<br />
persuadir <strong>dos</strong> seus pontos<br />
<strong>de</strong> vista. Dimaras veio<br />
mesmo a dizer, mais tar<strong>de</strong>,<br />
<strong>que</strong> Yourcenar não captou<br />
“o clima particular da poesia<br />
<strong>de</strong> Kavafis” e <strong>que</strong> a sua<br />
tradução é, sobretudo, “a<br />
obra <strong>de</strong> <strong>um</strong>a gran<strong>de</strong> estilista<br />
francesa”. O próprio<br />
executor literário <strong>de</strong> Kavafis,<br />
Alexandros Singopoulos,<br />
não apreciou o trabalho <strong>de</strong><br />
Yourcenar, cuja publicação<br />
terá procurado impedir, e<br />
apadrinhou a tradução<br />
francesa <strong>de</strong> G. A.<br />
Papoutsakis, editada no<br />
mesmo ano.<br />
Em Portugal, o primeiro<br />
tradutor <strong>de</strong> Kavafis foi Jorge<br />
<strong>de</strong> Sena, <strong>que</strong> publicou em<br />
1970, na editora Inova,<br />
“Constantino Cavafy: 90 e<br />
Mais<br />
Quatro Poemas”. As<br />
suas<br />
versões foram<br />
altamente elogiadas pela<br />
própria Yourcenar, n<strong>um</strong>a<br />
extensa carta <strong>que</strong> esta lhe<br />
enviou.<br />
No final <strong>dos</strong> anos 80, o poeta<br />
e ensaísta Joaquim Manuel<br />
Magalhães e Nikos Pratsinis<br />
começaram a traduzir e a<br />
publicar poemas e prosas <strong>de</strong><br />
Kavafis, tendo finalmente<br />
saído, em 2005, na Relógio<br />
d’Água, a tradução integral<br />
<strong>dos</strong> 154 poemas <strong>que</strong> o<br />
poeta, antes <strong>de</strong> morrer,<br />
consi<strong>de</strong>rara termina<strong>dos</strong>.<br />
Luís Miguel Queirós<br />
Rampling é Yourcenar n<strong>um</strong> espectáculo<br />
<strong>que</strong> ficciona <strong>um</strong> diálogo entre a autora<br />
<strong>de</strong> “Memórias <strong>de</strong> Adriano” e o poeta<br />
grego Konstandinos Kavafis