O que resta dos grandes sonhos de um paÃs pequeno - Fonoteca ...
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Discos<br />
Meia-dúzia <strong>de</strong> <strong>gran<strong>de</strong>s</strong> canções<br />
e mais <strong>um</strong> punhado <strong>de</strong> muito<br />
razoáveis melodias – nada mau<br />
para <strong>um</strong> mini-super-duo<br />
Pop<br />
Mini-superduo<br />
Este disco respira os vapores<br />
arroxea<strong>dos</strong> <strong>que</strong> ainda hoje<br />
emanam <strong>de</strong> obras-primas<br />
como “Pet Sounds”, <strong>dos</strong><br />
Beach Boys, ou “O<strong>de</strong>ssey and<br />
Oracle”, <strong>dos</strong> Zombies. João<br />
Bonifácio<br />
Broken Bells<br />
Broken Bells<br />
Col<strong>um</strong>bia; distri. Sony<br />
mmmmn<br />
Os super-grupos,<br />
como a obra <strong>dos</strong><br />
Travelling Wilburys<br />
tão bem <strong>de</strong>monstra,<br />
não cost<strong>um</strong>am ser<br />
<strong>um</strong>a gran<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ia.<br />
Mas os Broken Bells não são bem <strong>um</strong><br />
super-grupo, antes <strong>um</strong> ajuntamento<br />
<strong>de</strong> mini médias estrelas. Ou, vá, <strong>um</strong><br />
duo <strong>de</strong> valentes lanternas, já <strong>que</strong><br />
Lançamento<br />
tanto o produtor Danger Mouse<br />
como James Mercer são gente<br />
conhecida mas estão longe <strong>de</strong> ter a<br />
exposição ridícula <strong>de</strong> <strong>um</strong>a Lady<br />
Gaga.<br />
Danger Mouse surpreen<strong>de</strong>u o<br />
mundo com o seu “Grey Alb<strong>um</strong>”, em<br />
<strong>que</strong> misturava Beatles e Jay-Z, e<br />
encetou proveitosas colaborações<br />
com os Gorillaz, Cee-Lo (nos Gnarls<br />
Barkley) e com Mark Linkous <strong>dos</strong><br />
Sparklehorse.<br />
Mercer foi o lí<strong>de</strong>r <strong>dos</strong> Shins, <strong>que</strong><br />
fizeram <strong>um</strong> extraordinário disco,<br />
“Oh, Inverted World” (2001), e mais<br />
dois engraçadinhos. Ambos são<br />
fanáticos da pop <strong>dos</strong> anos 50 e 60,<br />
tolinhos da psych, da exótica e seus<br />
<strong>de</strong>riva<strong>dos</strong>, pelo <strong>que</strong> não admira <strong>que</strong><br />
o disco seja atravessado por <strong>um</strong>a<br />
indie-pop vagamente psicadélica. As<br />
melodias são tão melosas como <strong>um</strong>a<br />
namoradinha adolescente e os<br />
arranjos polvilham cada canção <strong>de</strong><br />
ganchos e tru<strong>que</strong>s pop<br />
<strong>de</strong>liberadamente retro e<br />
referenciais. “Vaporize” vive <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>liciosos órgãos vintage, “The<br />
ghost insi<strong>de</strong>” tem beat impecável,<br />
ritmo semi-disco, palminhas e<br />
falsete, registo <strong>que</strong> regressa em “The<br />
Mall & Misery”, enquanto “Sailing to<br />
nowhere” tem órgãos à Procol<br />
Har<strong>um</strong> em dueto com <strong>um</strong> beat<br />
quase-bossa. Nos seus melhores<br />
momentos o disco respira os<br />
vapores arroxea<strong>dos</strong> <strong>que</strong> ainda hoje<br />
emanam <strong>de</strong> obras-primas como “Pet<br />
Sounds”, <strong>dos</strong> Beach Boys, ou<br />
“O<strong>de</strong>ssey and Oracle”, <strong>dos</strong> Zombies.<br />
Exemplo disso é a sinfónica “Your<br />
head is on fire”, <strong>um</strong>a espécie <strong>de</strong><br />
encontro entre Esquivel e os Olivia<br />
Tremor Control, “Trap doors”,<br />
cruzamento <strong>de</strong> banda-sonora <strong>de</strong><br />
jogo para o Spectr<strong>um</strong> com singles<br />
obscuros <strong>de</strong> Martin Denny e a<br />
magnífica “High road”. Meia-dúzia<br />
<strong>de</strong> <strong>gran<strong>de</strong>s</strong> canções e mais <strong>um</strong><br />
punhado <strong>de</strong> muito razoáveis<br />
melodias – nada mau para <strong>um</strong> minisuper-duo.<br />
Erudição<br />
festiva<br />
Trio <strong>de</strong> miú<strong>dos</strong> afroamericanos<br />
causam<br />
sensação, <strong>de</strong>sencantando<br />
sons es<strong>que</strong>ci<strong>dos</strong> no baú <strong>dos</strong><br />
avós. Luís Maio<br />
Carolina Chocolate Drops<br />
Genuine Negro Jig<br />
Nonesuch, distri. Warner<br />
mmmmn<br />
Ben Harper e os<br />
Relentless 7, o trio<br />
<strong>que</strong> o acompanha<br />
há dois anos,<br />
preparam-se para<br />
lançar novo disco<br />
e contam com <strong>um</strong><br />
convidado especial.<br />
“Give ‘Till It’s<br />
Começam por ser<br />
<strong>um</strong>a novida<strong>de</strong> na<br />
rubrica “música <strong>de</strong><br />
outros tempos”. Os<br />
Carolina Chocolate<br />
Drops são <strong>um</strong> trio<br />
aMa<strong>um</strong>MedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente<br />
Gone” foi concluído<br />
e, n<strong>um</strong>a faixa,<br />
teve Ringo Starr<br />
sentado na bateria.<br />
O lançamento do<br />
sucessor <strong>de</strong> “White<br />
Lies for Dark Times”<br />
está previsto para<br />
Outubro.<br />
“Genuine Negro Jig” surpreen<strong>de</strong> pela erudição e pela ousadia<br />
<strong>de</strong> jovens afro-americanos <strong>de</strong> classe<br />
média e educação académica <strong>que</strong><br />
mergulhou a fundo n<strong>um</strong> estilo <strong>de</strong><br />
música ancestral, originário da<br />
região do Piedmont, na Carolina do<br />
Norte. É a tradição das “string<br />
bands”, bandas <strong>de</strong> negros<br />
conjugando banjo, “fiddle” e<br />
guitarra n<strong>um</strong> estilo <strong>de</strong> música<br />
festiva, a meio caminho entre o<br />
blues, o hillbilly e os jigs irlan<strong>de</strong>ses.<br />
Uma fatia ultra refundida e insólita –<br />
as origens africanas do banjo, a<br />
apropriação negra da música <strong>dos</strong><br />
brancos - <strong>que</strong> os Drops recriam<br />
n<strong>um</strong>a atitu<strong>de</strong> ainda mais aberta e<br />
<strong>de</strong>scomplexada.<br />
Há temas tradicionais, a começar<br />
por “Genuine negro jig”, <strong>que</strong> dá<br />
nome ao álb<strong>um</strong>, original <strong>de</strong> Dan<br />
Emmett com 200 anos, “standards”<br />
como “Why don’t you do right?”<br />
(1936), à mistura com versões <strong>de</strong><br />
títulos tão recentes como “Hit ‘em<br />
up style”, êxito na voz da cantora<br />
soul Blu Cantrell em 2001 e<br />
“Trampled rose” <strong>de</strong> Tom Waits.<br />
Todo o alinhamento sem excepção<br />
recebe o tratamento típico das<br />
“string bands” com Justin Robinson<br />
em “fiddle”, Rhiannon Gid<strong>de</strong>ns no<br />
banjo e Don Flemons em percussões<br />
(<strong>que</strong> envolvem tamborilar ritmos<br />
nos joelhos e em caixas <strong>de</strong> sapatos).<br />
Mas eles rambém gostam <strong>de</strong> mudar<br />
<strong>de</strong> posições e cada <strong>um</strong> é voz solista<br />
n<strong>um</strong> par <strong>de</strong> canções.<br />
São confessas as influências do<br />
guitarrista Joe Thompson, veterano<br />
do som <strong>dos</strong> Appalaches, agora com<br />
90 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, mas também do<br />
canto das gargantas profundas <strong>de</strong><br />
Tuba, e a conexão celta está patente<br />
na solene versão do tradicional<br />
“Reynadine” na voz <strong>de</strong> Rhiannon.<br />
De modo geral o som clássico das<br />
“string bands” é abordado com <strong>um</strong>a<br />
atitu<strong>de</strong> actual. Há <strong>um</strong> baile punk, ou<br />
<strong>um</strong> sarau hip hop latente nos temas<br />
dançantes, enquanto nas baladas<br />
espreita a sensibilida<strong>de</strong> da folk mais<br />
negra e confissional.<br />
“Genuine Negro Jig” surpreen<strong>de</strong><br />
pela erudição e pela ousadia, pelo<br />
notável ziguezague entre passado e<br />
presente <strong>que</strong> as suas canções põem<br />
em jogo. Largamente investigado,<br />
intelectualizado e sempre com<br />
várias camadas <strong>de</strong> leitura, nem por<br />
isso <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser <strong>um</strong> disco tão<br />
brincalhão e festivo quanto se<br />
pres<strong>um</strong>e <strong>que</strong> o eram as antigas<br />
string bands.<br />
Field Music<br />
Field Music<br />
Memprhis Industries; distri. Popstock<br />
mmmmn<br />
O duplo disco<br />
homónimo <strong>dos</strong><br />
Field Music, sendo<br />
<strong>um</strong> disco duplo,<br />
não tem –<br />
felizmente –<br />
Ípsilon • Sexta-feira 2 Abril 2010 • 49