O que resta dos grandes sonhos de um paÃs pequeno - Fonoteca ...
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Pat Metheny: <strong>um</strong> improvisador em forma superior<br />
of the air”. Não obstante,<br />
“Orchestrion” apresenta motivos<br />
<strong>de</strong> sobra para <strong>que</strong> não sejam<br />
apenas os mais fiéis seguidores do<br />
guitarrista a <strong>de</strong>dicar-lhe atenção.<br />
Odisseia<br />
sem chama<br />
Incapaz <strong>de</strong> <strong>um</strong> disco<br />
mau, o clarinetista e<br />
saxofonista assina <strong>um</strong><br />
disco sem a chama <strong>que</strong> lhe<br />
é reconhecida. Rodrigo<br />
Amado<br />
panóplia <strong>de</strong><br />
instr<strong>um</strong>entos<br />
(guitarras,<br />
baixos, pianos,<br />
marimba,<br />
vibrafone,<br />
percussões diversas) e <strong>de</strong> vários<br />
outros artefactos, tendo em vista a<br />
sua a<strong>de</strong>quação à arquitectura<br />
sonora típica do universo <strong>de</strong><br />
Metheny, mais concretamente o <strong>de</strong><br />
“Still Life (Talking)” e “Letter From<br />
Home”, ambos da década <strong>de</strong> 80, e<br />
do mais ambicioso “Secret Story”<br />
(1992).<br />
Sem <strong>que</strong> tenha aqui lugar <strong>um</strong>a<br />
<strong>de</strong>talhada explanação do processo<br />
<strong>de</strong> criação das diferente partes<br />
<strong>de</strong>ste “Orchestrion” e do modo<br />
incrivelmente preciso através do<br />
guitarrista o coloca em acção, o<br />
aspecto mais louvável <strong>de</strong> toda esta<br />
aventura – <strong>um</strong> sonho <strong>de</strong> infância<br />
para Metheny – será o facto <strong>de</strong><br />
apenas em alguns momentos bem<br />
concretos a música acusar o<br />
carácter mecânico <strong>que</strong> está na<br />
base da sua criação. Se a isso se<br />
adicionar a presença <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />
improvisador em forma<br />
claramente superior à<strong>que</strong>la em<br />
<strong>que</strong> o havíamos encontrado nas<br />
suas parcerias com o pianista Brad<br />
Mehldau ou no trio <strong>que</strong> formou<br />
com Christian McBri<strong>de</strong> e Antonio<br />
Sanchez, “Orchestrion” <strong>de</strong>verá ser<br />
visto como o mais interessante<br />
registo do trajecto recente do<br />
guitarrista.<br />
Em “Soul search”, tema mais<br />
fraco do álb<strong>um</strong>, dá-se <strong>um</strong>a<br />
situação problemática quando o<br />
guitarrista, na tentativa <strong>de</strong> abrir<br />
espaço para a sua faceta mais<br />
fundada em Wes Montgomery e<br />
Kenny Burrell, <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> dar or<strong>de</strong>ns<br />
ao seu “orchestrion” para (tentar)<br />
“swingar”, efeito <strong>que</strong> <strong>um</strong>a<br />
máquina, ainda <strong>que</strong> tão<br />
perfeitamente concebida e<br />
manuseada, jamais seria capaz <strong>de</strong><br />
reproduzir. Há ainda a lamentar a<br />
simulação <strong>de</strong> <strong>um</strong> procedimento<br />
característico do Pat Metheny<br />
Group <strong>que</strong> se ouve no final <strong>de</strong><br />
“Expansions”, on<strong>de</strong> o guitarrista<br />
incorre n<strong>um</strong>a série <strong>de</strong> trocas com<br />
os instr<strong>um</strong>entos <strong>de</strong> percussão do<br />
seu “orchestrion”, tentativa cujo<br />
resultado volta a <strong>de</strong>nunciar a<br />
artificialida<strong>de</strong> do processo,<br />
sensação <strong>que</strong> se repete ainda na<br />
forma como <strong>um</strong> baixo eléctrico<br />
“telecomandado” introduz “Spirit<br />
Louis Sclavis<br />
Louis Sclavis<br />
Lost On The Way<br />
ECM, dist. Dargil<br />
mmmnn<br />
A maior virtu<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> “Lost On The<br />
Way”, oitavo<br />
áb<strong>um</strong> gravado<br />
por Louis Sclavis<br />
para a ECM, é<br />
dar-nos a confirmação <strong>de</strong> <strong>que</strong> o<br />
clarinetista e saxofonista francês<br />
não grava nunca dois álbuns iguais,<br />
apesar do seu som inconfundível e<br />
da personalida<strong>de</strong> musical forte<br />
como poucas. Um <strong>dos</strong> mais<br />
brilhantes músicos europeus,<br />
habituou-nos a não esperar <strong>de</strong>le <strong>um</strong><br />
conceito musical fechado, antes<br />
pelo contário: fez sempre <strong>que</strong>stão<br />
<strong>de</strong> abordar as mais diversas áreas,<br />
do folk à música progressiva, free<br />
jazz, clássica contemporânea ou<br />
mesmo rock, utilizando como<br />
elemento unificador a sua própria<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> musical, e ultrapassando<br />
em muito o rótulo <strong>que</strong> lhe é colado<br />
como músico <strong>de</strong> free jazz ou <strong>de</strong><br />
vanguarda.<br />
Inspirado na “Odisseia” <strong>de</strong><br />
Homero e gravado com <strong>um</strong><br />
quinteto – Sclavis em clarinetes e<br />
saxofone soprano, Matthieu<br />
Metzger em saxofones alto e<br />
soprano, Maxime Delpierre na<br />
guitarra, Olivier Lété no baixo e<br />
François Merville na bateria –<br />
“Lost On The Way” é <strong>um</strong> <strong>dos</strong> seus<br />
registos mais convencionais, com<br />
alg<strong>um</strong>as partes da guitarra e do<br />
baixo <strong>de</strong>masiado sintetizadas,<br />
acentuadas ainda pelos uníssonos<br />
<strong>de</strong> clarinete e saxofone. É nas<br />
partes em <strong>que</strong> Sclavis se liberta da<br />
rigi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> Metzger (longe da<br />
frescura <strong>de</strong> Marc Baron), fazendo<br />
soar o seu clarinete sobre os<br />
ritmos orgânicos <strong>de</strong> Merville, <strong>que</strong><br />
a música mais vibra. Com alg<strong>um</strong>as<br />
excelentes composições e<br />
improvisações brilhantes por parte<br />
<strong>de</strong> Sclavis e Delpierre, “Lost On<br />
The Way” fica preso n<strong>um</strong>a<br />
excessiva formatação<br />
<strong>dos</strong> arranjos.<br />
Ípsilon • Sexta-feira 2 Abril 2010 • 51