O que resta dos grandes sonhos de um paÃs pequeno - Fonoteca ...
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DVD<br />
Caixa Robert Wise – Costa<br />
do Castelo<br />
Ma<strong>de</strong>moiselle Fifi<br />
mmmnn<br />
Extras<br />
mmmnn<br />
O Túmulo Vazio<br />
The Body Snatcher<br />
mmmmn<br />
Sem extras<br />
Nasceu para Matar<br />
Born to Kill<br />
mmmmn<br />
Extras<br />
mmnnn<br />
Nobreza <strong>de</strong> Campeão<br />
The Set Up<br />
mmmmn<br />
sem extras<br />
“Nobreza <strong>de</strong> Campeão”: não terá a<br />
gran<strong>de</strong>za <strong>que</strong> se lhe atribuiu na época,<br />
mas mantém <strong>um</strong>a inacreditável força<br />
Cinema<br />
Série B<br />
no coração<br />
Esta caixa vem permitir aos<br />
cinéfilos <strong>de</strong>sinforma<strong>dos</strong><br />
lançar <strong>um</strong> novo olhar sobre<br />
a obra <strong>de</strong> Robert Wise.<br />
Mário Jorge Torres<br />
Robert Wise transformou-se para<br />
muitos sectores da crítica no<br />
protótipo do cineasta mal amado,<br />
sobretudo em função <strong>dos</strong> seus<br />
títulos <strong>de</strong> maior sucesso e<br />
visibilida<strong>de</strong>, ambos amplamente<br />
oscariza<strong>dos</strong>: a <strong>de</strong>spreocupação<br />
açucarada <strong>de</strong> “Música no Coração”<br />
(1965), a fazer cantar as montanhas e<br />
as criancinhas (bem mais divertido<br />
do <strong>que</strong> sempre se propalou), ou a<br />
discutível truculência <strong>de</strong> “Amor Sem<br />
Barreiras/West Si<strong>de</strong> Story” (1961),<br />
este sim <strong>um</strong> perigoso travesti <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />
gran<strong>de</strong> musical da Broadway,<br />
irremediavelmente datado e<br />
lacrimejante, apenas resgatável pelo<br />
arrojo coreográfico <strong>de</strong> Jerome<br />
Robbins. A partir <strong>de</strong>sta leitura<br />
parcelar e facciosa, insistiu-se em<br />
fazer tábua rasa <strong>de</strong> tudo o resto,<br />
rejeitando <strong>de</strong> forma quase liminar<br />
<strong>um</strong> <strong>dos</strong> mais influentes filmes <strong>de</strong><br />
ficção científica, “O Dia em <strong>que</strong> a<br />
Terra Parou” (1951), <strong>um</strong> curioso<br />
“pepl<strong>um</strong>” precursor do muito <strong>que</strong><br />
estava para vir em termos <strong>de</strong><br />
cooperação ítalo-americana,<br />
“Helena <strong>de</strong> Tróia” (1955), <strong>um</strong><br />
interessante “western” impuro,<br />
“Honra a <strong>um</strong> Homem Mau” (1956),<br />
com <strong>um</strong> fabuloso James Cagney, <strong>um</strong><br />
<strong>dos</strong> mais complexos “filmes <strong>de</strong><br />
boxe”, “Marcado pelo Ódio” (1956),<br />
a dar a Paul Newman <strong>um</strong> <strong>dos</strong> seus<br />
primeiros <strong>gran<strong>de</strong>s</strong> papéis, o<br />
melodrama comedido <strong>de</strong> “Quero<br />
Viver” (1958), a comedia amarga <strong>de</strong><br />
“Baloiço para Dois” (1962), o<br />
estilizado terror <strong>de</strong> “A Casa Maldita”<br />
(1963), ou, pior do <strong>que</strong> tudo, a fase<br />
RKO <strong>dos</strong> seus primórdios como<br />
realizador (1944-1949), prova<br />
provada <strong>de</strong> como a série B se lhe<br />
ajustava como <strong>um</strong>a luva. Decidiu-se<br />
precipitadamente <strong>que</strong> percurso <strong>de</strong><br />
Wise pelos géneros não exibia estilo<br />
próprio e <strong>que</strong> tudo o <strong>que</strong> <strong>de</strong> bom<br />
fizera se <strong>de</strong>vera sempre à<br />
contribuição <strong>de</strong> outros.<br />
Esta caixa, em excelentes cópias,<br />
vem repor alg<strong>um</strong>a justiça e permitir<br />
aos cinéfilos <strong>de</strong>sinforma<strong>dos</strong> lançar<br />
<strong>um</strong> novo olhar sobre a sua obra,<br />
precisamente centrado sobre os<br />
pe<strong>que</strong>nos filmes produzi<strong>dos</strong> na RKO,<br />
com poucos meios e muitas vezes<br />
com actores incipientes ou <strong>de</strong><br />
segunda linha, prolongando <strong>de</strong> certo<br />
modo a sua in<strong>que</strong>stionável força <strong>de</strong><br />
montador <strong>de</strong> duas das obras-primas<br />
<strong>de</strong> Orson Welles: “O Mundo a Seus<br />
aMa<strong>um</strong>MedíocremmRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente<br />
“Nasceu para Matar”: “film<br />
noir”, atmosférico e atabafante, é<br />
surpresa maior da colectânea<br />
Pés” (1941) e “O 4º Mandamento”<br />
(1942) <strong>que</strong> salvou, inclusive, da pior<br />
das sortes, a <strong>de</strong> nunca ter existido.<br />
Cronologicamente, o primeiro <strong>de</strong><br />
to<strong>dos</strong> (o opus 1, o excelente “A<br />
Maldição da Pantera”, co-realizado<br />
com Gunther Von Fritsch, já existe<br />
como extra <strong>de</strong> “Cat People”, no<br />
catálogo da editora) é “Ma<strong>de</strong>moiselle<br />
Fifi” (1944), estranhíssimo filme <strong>de</strong><br />
propaganda, adaptando a novela <strong>de</strong><br />
Guy <strong>de</strong> Maupassant, em <strong>que</strong> a<br />
invasão da França durante a guerra<br />
Franco-Prussiana serve <strong>de</strong> metáfora<br />
da Gran<strong>de</strong> Guerra: a resistência<br />
passiva <strong>de</strong> <strong>um</strong>a jovem lava<strong>de</strong>ira<br />
(espantosa Simone Simon, quase<br />
sonâmbula) à confraternização com<br />
o inimigo <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia fantasmas<br />
renova<strong>dos</strong> e encena preciosos<br />
momentos <strong>de</strong> interiorida<strong>de</strong> (filma-se<br />
com certeira singeleza o interior <strong>de</strong><br />
<strong>um</strong>a carruagem, a claustrofóbica<br />
torre <strong>de</strong> <strong>um</strong>a igreja ou as salas <strong>de</strong><br />
<strong>um</strong>a estalagem, bem <strong>de</strong>limitadas “à<br />
Welles”, com escadas e<br />
travejamentos do tecto), com <strong>um</strong><br />
forte sentido da <strong>de</strong>coração <strong>de</strong> época,<br />
bem como <strong>de</strong> gosto pelo pormenor,<br />
muito mais próximo <strong>de</strong> Wise (a<br />
lembrar a posterior parafernália<br />
tragicómica <strong>dos</strong> símbolos nazis em<br />
Trevor, no centro da narrativa,<br />
constrói <strong>um</strong>a <strong>de</strong>smedida “femme<br />
fatale”, vítima <strong>de</strong> si-própria e<br />
carrasco <strong>dos</strong> homens vulneráveis<br />
<strong>que</strong> <strong>de</strong>la se acercam – o impulsivo<br />
assassino (o excelente Lawrence<br />
Tierney), o masoquista comparsa<br />
<strong>de</strong>ste (Elisha Cook Jr., frágil e<br />
diminuto, a lembrar outras<br />
personagens, como a <strong>de</strong> “À Beira do<br />
Abismo”) ou o venal <strong>de</strong>tective <strong>de</strong><br />
Walter Slezak. Tudo medido ao<br />
milímetro, entre “raccords” <strong>de</strong><br />
telefones e sombras omnipresentes<br />
nos rostos e nos corpos. Como extra,<br />
temos <strong>um</strong> “insignificante”<br />
filmezinho <strong>de</strong> tribunal, “Entre Dois<br />
Fogos”/ “Criminal Court” (1946),<br />
ainda assim da maior relevância<br />
para enten<strong>de</strong>r como o telefilme da<br />
década seguinte instr<strong>um</strong>entaliza as<br />
menorida<strong>de</strong>s da série B, na sua<br />
lógica narrativa: parece o<br />
antepassado rarefeito <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />
episódio <strong>de</strong> “Perry Mason”,<br />
recheado <strong>de</strong> reviravoltas <strong>de</strong> enredo e<br />
<strong>de</strong> personagens estereotipadas e<br />
irónicas, sempre consciente do valor<br />
<strong>de</strong> cada pormenor e <strong>de</strong> cada plano.<br />
“Nobreza <strong>de</strong> Campeão” (1949), o<br />
mais conhecido <strong>de</strong> to<strong>dos</strong>, dispensa<br />
encómios pelo modo como revisita<br />
os bastidores do boxe (cerca <strong>de</strong><br />
meta<strong>de</strong> do filme <strong>de</strong>corre no espaço<br />
fechado da sala on<strong>de</strong> os chegam os<br />
ecos <strong>dos</strong> combates e on<strong>de</strong> os<br />
pugilistas interiorizam os seus<br />
me<strong>dos</strong> e <strong>sonhos</strong> frustra<strong>dos</strong>) e como<br />
integra a figura do herói envelhecido<br />
(sublime Robert Ryan) n<strong>um</strong>a noite,<br />
povoada <strong>de</strong> sombras e <strong>de</strong> néons,<br />
entrevista <strong>de</strong> <strong>um</strong>a janela aberta ao<br />
mundo ameaçador das lutas<br />
forjadas, do gangsterismo<br />
ameaçador, do impasse do sonho<br />
americano. As sequências <strong>de</strong> boxe<br />
primam pela montagem artificiosa (é<br />
sobretudo a visão <strong>de</strong> <strong>um</strong> montador)<br />
e pelo gosto (por vezes <strong>de</strong>masiado<br />
ostensivo) da mudança <strong>de</strong> escala,<br />
entre planos <strong>de</strong> conjunto da<br />
multidão ululante e <strong>de</strong>nuncia<strong>dos</strong><br />
“close-ups”: não terá a gran<strong>de</strong>za <strong>que</strong><br />
se lhe atribuiu na época, mas<br />
mantém <strong>um</strong>a inacreditável força<br />
representativa, a mostrar como vale<br />
a pena <strong>de</strong>safiar i<strong>de</strong>ias feitas e ver os<br />
filmes.<br />
direcção artística Cesário Costa<br />
“Música no Coração”) do <strong>que</strong> do<br />
produtor Val Lewton, a <strong>que</strong>m to<strong>dos</strong><br />
atribuem a “autoria”. Como extra,<br />
METROPOLITANA<br />
T E M P O R A D A 2 0 0 9 | 2 0 1 0<br />
<strong>um</strong>a pe<strong>que</strong>na pérola <strong>de</strong>sconhecida,<br />
“Mistério no México”/ “Mistery in<br />
Mexico” (1948), “thriller”<br />
económico, com extraordinários<br />
“raccords” e <strong>um</strong> <strong>de</strong>licioso sabor a<br />
exótico, aproveitando o pretexto <strong>de</strong><br />
<strong>um</strong> colar cobiçado pelo vilão e<br />
<strong>de</strong>fendido por dois <strong>de</strong>tectives <strong>de</strong><br />
<strong>um</strong>a agência <strong>de</strong> seguros. O cuidado<br />
com a atmosfera “noir” aparece<br />
contrabalançado por <strong>um</strong>a forte <strong>dos</strong>e<br />
<strong>de</strong> h<strong>um</strong>or, tendo a perfeita noção do<br />
“timing” e do efeito da pobreza<br />
representativa <strong>de</strong> meios, sem <strong>um</strong><br />
minuto a per<strong>de</strong>r.<br />
“O Túmulo Vazio” (1945), fábula<br />
gótica, livremente inspirada em<br />
Concerto <strong>de</strong> Páscoa<br />
Sexta-feira, 2 <strong>de</strong> Abril, 21h30 – Aula Magna<br />
Stevenson, requinta nos <strong>de</strong>lírios do<br />
Ana Quintans soprano<br />
Armando Possante barítono<br />
“chiaroscuro” e encaixa na estética<br />
Lewton, não sem <strong>que</strong> se perceba no Håkan Rosengren clarinete Robertas Šervenikas direcção musical<br />
romantismo patético da história da<br />
Coro Sinfónico Lisboa Cantat · Or<strong>que</strong>stra Metropolitana <strong>de</strong> Lisboa<br />
criança hemiplégica <strong>um</strong> to<strong>que</strong><br />
melodramático atribuível a Wise:<br />
CARL NIELSEN – Concerto para Clarinete e Or<strong>que</strong>stra, Op. 57<br />
tudo o resto, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sardónica<br />
GABRIEL FAURÉ – Requiem, Op. 48<br />
personagem <strong>de</strong> Karloff ou a rábula<br />
<strong>de</strong> Bela Lugosi, até às <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iras<br />
fantasias visuais da morta<br />
transfigurada e fantasmática,<br />
c<strong>um</strong>pre o programa <strong>de</strong> <strong>um</strong> terror<br />
controlado e eficaz, jogado em<br />
sombras e <strong>de</strong>lírios consentâneos<br />
com <strong>um</strong> expressionismo longínquo e<br />
adaptado à tensa brevida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
pouco mais <strong>de</strong> <strong>um</strong>a hora – a lição da<br />
série B em todo o seu esplendor.<br />
OML Júnior<br />
Sábado, 3 <strong>de</strong> Abril, 18h00 – Teatro Camões<br />
Concerto <strong>de</strong> encerramento do Workshop da Páscoa 2010<br />
Pedro Neves e Rui Carreira direcção musical<br />
“Nasceu para Matar” (1947)<br />
constitui a surpresa maior da<br />
colectânea. Este “film noir”,<br />
+info: www.metropolitana.pt · telefone: 213 617 320<br />
atmosférico e atabafante, veicula<br />
<strong>um</strong>a visão universal do Mal <strong>que</strong> se<br />
agarra às personagens como <strong>um</strong><br />
vício ou <strong>um</strong>a inevitabilida<strong>de</strong>, sem<br />
tréguas, nem meias medidas: Claire<br />
Ípsilon • Sexta-feira 2 Abril 2010 • 45