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a necessidade de incentivo para os bombeiros voluntários

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ESTUDO<br />

A NECESSIDADE DE INCENTIVO PARA OS<br />

BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS<br />

Claudionor Rocha<br />

Consultor Legislativo da Área XVII<br />

Segurança Pública e Defesa Nacional<br />

ESTUDO<br />

JULHO/2009<br />

Câmara d<strong>os</strong> Deputad<strong>os</strong><br />

Praça 3 Po<strong>de</strong>res<br />

Consultoria Legislativa<br />

Anexo III - Térreo<br />

Brasília - DF


SUMÁRIO<br />

1. INTRODUÇÃO..............................................................................................................................................3<br />

2. VOLUNTARIADO........................................................................................................................................3<br />

3. BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS.................................................................................................................6<br />

4. REGIMES CONSTITUCIONAL E LEGAL ...........................................................................................9<br />

5. EXPERIÊNCIA ESTRANGEIRA ...........................................................................................................16<br />

6. BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS NO BRASIL ......................................................................................22<br />

Bombeir<strong>os</strong> Voluntári<strong>os</strong> Operacionais.........................................................................................................28<br />

Bombeir<strong>os</strong> Voluntári<strong>os</strong> <strong>de</strong> Honra ...............................................................................................................29<br />

Voluntári<strong>os</strong> Estagiári<strong>os</strong> Operacionais.........................................................................................................29<br />

Voluntári<strong>os</strong> Não Operacionais.....................................................................................................................29<br />

Bombeir<strong>os</strong> Voluntári<strong>os</strong> Brigadistas Industriais .........................................................................................29<br />

Missão ..............................................................................................................................................................35<br />

Visão.................................................................................................................................................................35<br />

Valores .............................................................................................................................................................35<br />

Premissa Assumida.........................................................................................................................................35<br />

7. PROPOSIÇÕES EXISTENTES ...............................................................................................................35<br />

8. SUGESTÕES.................................................................................................................................................38<br />

9. BIBLIOGRAFIA...........................................................................................................................................44<br />

Publicações:.....................................................................................................................................................44<br />

Síti<strong>os</strong> da internet:............................................................................................................................................44<br />

© 2009 Câmara d<strong>os</strong> Deputad<strong>os</strong>.<br />

Tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> direit<strong>os</strong> reservad<strong>os</strong>. Este trabalho po<strong>de</strong>rá ser reproduzido ou transmitido na íntegra, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

citad<strong>os</strong> o autor e a Consultoria Legislativa da Câmara d<strong>os</strong> Deputad<strong>os</strong>. São vedadas a venda, a reprodução<br />

parcial e a tradução, sem autorização prévia por escrito da Câmara d<strong>os</strong> Deputad<strong>os</strong>.<br />

Este trabalho é <strong>de</strong> inteira responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu autor, não representando necessariamente a opinião da<br />

Câmara d<strong>os</strong> Deputad<strong>os</strong>.<br />

2


A NECESSIDADE DE INCENTIVO PARA OS<br />

BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS<br />

Claudionor Rocha<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

O presente estudo preten<strong>de</strong> analisar a p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apresentação <strong>de</strong><br />

projeto <strong>de</strong> lei visando a conce<strong>de</strong>r <strong>incentivo</strong>s <strong>para</strong> <strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>.<br />

Procurarem<strong>os</strong>, pois, verificar a situação atual d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong><br />

no Brasil, o regime constitucional e legal <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>, a seguir compará-l<strong>os</strong> a<strong>os</strong><br />

bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> <strong>de</strong> outr<strong>os</strong> países, bem como, aten<strong>de</strong>ndo ao objeto da solicitação, verificar<br />

que espécies <strong>de</strong> <strong>incentivo</strong>s po<strong>de</strong>riam ser concedid<strong>os</strong>, em cotejo com as prop<strong>os</strong>ições legislativas<br />

existentes.<br />

2. VOLUNTARIADO<br />

Conforme cronologia obtida no sítio da internet<br />

, abordarem<strong>os</strong> ligeiramente a evolução do voluntariado no<br />

país.<br />

Em 1543 foi fundada a primeira Santa Casa <strong>de</strong> Misericórdia no Brasil, na<br />

Vila <strong>de</strong> Sant<strong>os</strong>, conduzida por padres e freiras. Em 1863 surge o comitê Internacional da Cruz<br />

Vermelha <strong>para</strong> prestar assistência médica em áreas <strong>de</strong> conflito armado, iniciativa surgida a partir<br />

da batalha <strong>de</strong> Solferino, no Norte da Itália, em junho <strong>de</strong> 1859. Hoje há o correspon<strong>de</strong>nte<br />

Crescente Vermelho, entida<strong>de</strong> similar criada <strong>para</strong> aten<strong>de</strong>r <strong>os</strong> países <strong>de</strong> origem muçulmana, já que<br />

a cruz representa a crença cristã. A Cruz Vermelha chega ao Brasil em 1908. Em 1910 nasceu na<br />

Inglaterra o escotismo, fundado por Ba<strong>de</strong>n Powell, oficial do Exército Britânico, com seu lema<br />

“sempre alerta”. Em 1935 foi Promulgada a Lei <strong>de</strong> Declaração <strong>de</strong> Utilida<strong>de</strong> Pública, que<br />

regulamenta a colaboração do Estado com as instituições filantrópicas.<br />

Em 1942 Getúlio Vargas cria a Legião Brasileira <strong>de</strong> Assistência, cuja<br />

primeira presi<strong>de</strong>nte foi a primeira-dama Darcy Vargas, c<strong>os</strong>tume seguido pelas <strong>de</strong>mais, até o<br />

escândalo Collor. A década <strong>de</strong> 50 é conhecida como Era Damista.<br />

3


Outr<strong>os</strong> event<strong>os</strong> marcantes na vertente do voluntariado, ao longo do<br />

século passado, foram a criação da Fundação Dorina Nowill <strong>para</strong> Ceg<strong>os</strong> (1945), da Associação <strong>de</strong><br />

Pais e Amig<strong>os</strong> d<strong>os</strong> Excepcionais (1954), do Centro <strong>de</strong> Valorização da Vida – CVV (1962), do<br />

Projeto Rondon (1967), o surgimento <strong>de</strong> Organizações Não-Governamentais – ONG’s (1970) e<br />

a criação da Pastoral da Criança (1983).<br />

A partir <strong>de</strong> 1990 começa a busca por parcerias, em razão da redução d<strong>os</strong><br />

programas estatais <strong>de</strong> caráter social <strong>de</strong>vido à crise econômica iniciada no fim da década <strong>de</strong> 70. É<br />

quando surge, em 1993 a Ação da Cidadania Contra a Fome e a Miséria e pela Vida, encetada<br />

pelo sociólogo mineiro Herbert <strong>de</strong> Souza, mais conhecido como Betinho. Em 1995 foi criado o<br />

Conselho da Comunida<strong>de</strong> Solidária, tendo à frente a antropóloga Ruth Card<strong>os</strong>o. Atualmente a<br />

entida<strong>de</strong> se chama Comunitas.<br />

Em 1996 foi lançado o Programa Voluntári<strong>os</strong> pela Fundação Abrinq e,<br />

em consequência, no ano seguinte, a criação d<strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> Centr<strong>os</strong> <strong>de</strong> Voluntariado do Brasil,<br />

culminando com a promulgação, em 1998, da Lei n. 9.608, <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> fevereiro, a Lei do<br />

Voluntariado.<br />

Em 1999 foi promulgada a Lei das OSCIPs1 (Lei n. 9.790, <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong><br />

março) e em 2000 é assinada a Declaração do Milênio, que estabelece um compromisso com a<br />

sustentabilida<strong>de</strong> do planeta, tendo o ano <strong>de</strong> 2001 sido <strong>de</strong>clarado o Ano Internacional do<br />

Voluntário.<br />

As ativida<strong>de</strong>s d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> estão em consonância com o<br />

espírito do voluntariado. Em conferência realizada em 1990, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paris, a Internacional<br />

Association for Volunteer Effort (Iave) aprovou a “Declaração Universal do Voluntariado”,<br />

inspirado na Declaração Universal d<strong>os</strong> Direit<strong>os</strong> Human<strong>os</strong> (1948) e na Convenção d<strong>os</strong> Direit<strong>os</strong> da<br />

Criança (1989), segundo <strong>os</strong> seguintes preceit<strong>os</strong>:<br />

A – Do voluntariado:<br />

1. É baseado numa escolha e motivação pessoal, livremente assumida;<br />

2. É uma forma <strong>de</strong> estimular a cidadania ativa e o envolvimento comunitário;<br />

3. É exercido em grup<strong>os</strong>, geralmente inserid<strong>os</strong> numa organização;<br />

4. Valoriza o potencial humano, a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e a solidarieda<strong>de</strong>;<br />

5. Dá resp<strong>os</strong>ta a<strong>os</strong> gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safi<strong>os</strong> que se colocam <strong>para</strong> a construção <strong>de</strong> um mundo<br />

melhor e mais pacífico;<br />

6. Contribui <strong>para</strong> a vitalida<strong>de</strong> econômica, criando emprego e novas profissões.<br />

B – Do voluntário<br />

1. Reconhece a cada homem, mulher e criança o direito <strong>de</strong> se associar, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

raça, religião, condição física, social ou econômica;<br />

2. Respeita a dignida<strong>de</strong> e cultura <strong>de</strong> cada ser humano;<br />

3. Oferece seus serviç<strong>os</strong>, sem remuneração, <strong>de</strong>ntro do espírito <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> e<br />

esforço mútuo;<br />

4. Detecta <strong>necessida<strong>de</strong></strong>s e estimula a atuação da comunida<strong>de</strong> <strong>para</strong> a solução <strong>de</strong> seus<br />

própri<strong>os</strong> problemas;<br />

1 Organizações da Socieda<strong>de</strong> Civil <strong>de</strong> Interesse Público.<br />

4


5. Está aberto a crescer como pessoa, através do voluntariado, adquirindo novas<br />

habilida<strong>de</strong>s e conheciment<strong>os</strong>, <strong>de</strong>senvolvendo seu potencial, autoconfiança, criativida<strong>de</strong> e<br />

capacitando outras pessoas a resolverem seus problemas;<br />

6. Estimula responsabilida<strong>de</strong> social e promove solidarieda<strong>de</strong> familiar, comunitária e<br />

internacional.<br />

B1 – O voluntário <strong>de</strong>ve:<br />

1. Encorajar o comprometimento individual n<strong>os</strong> moviment<strong>os</strong> coletiv<strong>os</strong>;<br />

2. Procurar o fortalecimento <strong>de</strong> sua organização, informando-se e a<strong>de</strong>rindo a suas metas e<br />

políticas;<br />

3. Empenhar-se no cumprimento das tarefas <strong>de</strong>finidas em conjunto, levando em conta as<br />

suas aptidões pessoais, tempo disponível e responsabilida<strong>de</strong>s aceitas;<br />

4. Cooperar com <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> membr<strong>os</strong> da organização, <strong>de</strong>ntro do espírito <strong>de</strong> mútua<br />

compreensão e respeito;<br />

5. Empenhar-se n<strong>os</strong> treinament<strong>os</strong>, quando necessário;<br />

6. Guardar a confi<strong>de</strong>ncialida<strong>de</strong> das suas ativida<strong>de</strong>s. [sem <strong>de</strong>staque no original]<br />

No portal da re<strong>de</strong> mundial <strong>de</strong> computadores mencionado há<br />

divulgações sobre o voluntariado, igualmente presentes em outr<strong>os</strong> portais<br />

(, , ), <strong>de</strong><br />

on<strong>de</strong> extraím<strong>os</strong> alguns dad<strong>os</strong>. A própria Organização das Nações Unidas (ONU) p<strong>os</strong>sui um<br />

programa que é o United Nations Volunteers (UNV), que p<strong>os</strong>sui interface com o Programa das<br />

Nações Unidas <strong>para</strong> o Desenvolvimento (PNUD) e a Organização das Nações Unidas <strong>para</strong> a<br />

Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O conceito <strong>de</strong> voluntariado difundido pela ONU é o<br />

seguinte: “voluntário é o jovem ou o adulto que, <strong>de</strong>vido ao seu interesse pessoal e ao seu espírito<br />

cívico, <strong>de</strong>dica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s,<br />

organizadas ou não, <strong>de</strong> bem estar social ou outr<strong>os</strong> camp<strong>os</strong>”. Algumas “dicas” (sic) sobre<br />

voluntariado:<br />

1. Tod<strong>os</strong> po<strong>de</strong>m ser voluntári<strong>os</strong><br />

2. Voluntariado é uma relação humana, rica e solidária<br />

3. Trabalho voluntário é uma via <strong>de</strong> mão dupla<br />

4. Voluntariado é ação<br />

5. Voluntariado é escolha<br />

6. Cada um é voluntário a seu modo<br />

7. Voluntariado é compromisso<br />

8. Voluntariado é uma ação duradoura e com qualida<strong>de</strong><br />

9. Voluntariado é uma ferramenta <strong>de</strong> inclusão social<br />

10. Voluntariado é um hábito do coração e uma virtu<strong>de</strong> cívica<br />

5


O sítio indica como participar e on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver ações <strong>de</strong><br />

voluntariado, <strong>de</strong>ntre as quais duas estão bastante afetas ao trabalho d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>,<br />

que são “n<strong>os</strong> grup<strong>os</strong> e organizações <strong>de</strong> preservação do meio ambiente” e “n<strong>os</strong> grup<strong>os</strong> e<br />

associações culturais e <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa do patrimônio”.<br />

3. BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS<br />

A ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bombeiro voluntário no Brasil é centenária. Data <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong><br />

julho <strong>de</strong> 1892, quando foi criada a Socieda<strong>de</strong> Corpo <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong> Voluntári<strong>os</strong> <strong>de</strong> Joinville,<br />

primeira corporação do gênero no país, inspirada em mo<strong>de</strong>l<strong>os</strong> similares existentes na Alemanha,<br />

país <strong>de</strong> origem d<strong>os</strong> colonizadores que se instalaram no nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Santa Catarina.<br />

Des<strong>de</strong> então a corporação exerce ativida<strong>de</strong> ininterrupta <strong>de</strong> corpo <strong>de</strong><br />

bombeir<strong>os</strong> <strong>de</strong> natureza civil, cujo exemplo se espraiou <strong>para</strong> outras cida<strong>de</strong>s d<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> <strong>de</strong> Santa<br />

Catarina e Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, principalmente, havendo corporações do mesmo tipo em Minas<br />

Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Pará.<br />

O serviço executado pel<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> é idêntico a<strong>os</strong> d<strong>os</strong><br />

bombeir<strong>os</strong> tradicionais. No Brasil, a ativida<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> é <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> do<br />

Estado-membro, tendo as corporações configuração militar, por disp<strong>os</strong>ição constitucional.<br />

Normalmente constituem instituições autônomas, integrantes das estruturas das Secretarias <strong>de</strong><br />

Segurança Pública ou <strong>de</strong> Defesa Social, Defesa Civil, Justiça e Cidadania e <strong>de</strong>nominações<br />

semelhantes adotadas por alguns Estad<strong>os</strong>. Em pouc<strong>os</strong> <strong>de</strong>les, fazem parte das corporações <strong>de</strong><br />

polícia militar, integrando a estrutura d<strong>os</strong> Comand<strong>os</strong> das Polícias Militares d<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong>, como<br />

ocorre n<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> da Bahia, Paraná, Santa Catarina e Tocantins.<br />

A lógica que perpassou a criação das corporações <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong><br />

voluntári<strong>os</strong> foi a reunião da comunida<strong>de</strong> em torno da causa <strong>de</strong> preservação do patrimônio. No<br />

caso <strong>de</strong> Joinville, acompanhou o processo <strong>de</strong> industrialização da cida<strong>de</strong>, diante da <strong>necessida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong><br />

fazer frente a frequentes incêndi<strong>os</strong> que ali ocorriam. Apoiad<strong>os</strong> por empresas industriais e<br />

comerciais, <strong>os</strong> moradores passaram a se mobilizar, fundando a corporação mediante a admissão<br />

<strong>de</strong> sóci<strong>os</strong>, contribuintes e ao mesmo tempo, soldad<strong>os</strong> do fogo.<br />

Com o passar do tempo, a experiência, aliada ao espírito <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong><br />

e <strong>de</strong> participação comunitária comum às localida<strong>de</strong>s que agregavam imigrantes europeus,<br />

propiciou a propagação da idéia. Surgiram, assim, outras corporações em outras cida<strong>de</strong>s do<br />

Estado e, p<strong>os</strong>teriormente, no vizinho Estado gaúcho. Não obstante as dificulda<strong>de</strong>s encontradas,<br />

as corporações resistem, às vezes aten<strong>de</strong>ndo a várias cida<strong>de</strong>s circunvizinhas e estimulando a<br />

criação <strong>de</strong> novas corporações. Curi<strong>os</strong>amente, a falta <strong>de</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> provid<strong>os</strong> pelo po<strong>de</strong>r<br />

público favoreceu o surgimento d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>.<br />

6


A agregação das socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> civis fortaleceu o mo<strong>de</strong>lo,<br />

contribuindo <strong>para</strong> sua expansão. Assim, foram criadas a Associação d<strong>os</strong> Bombeir<strong>os</strong> Voluntári<strong>os</strong><br />

<strong>de</strong> Santa Catarina (Abvesc) e a Fe<strong>de</strong>ração Sulriogran<strong>de</strong>nese <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong> Voluntári<strong>os</strong><br />

(Voluntersul).<br />

Experiências similares têm tido resultad<strong>os</strong> auspici<strong>os</strong><strong>os</strong> em muit<strong>os</strong> outr<strong>os</strong><br />

países, tais como Alemanha, Austrália, Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>, Japão e, na América Latina, Chile,<br />

Argentina, Paraguai, Uruguai e C<strong>os</strong>ta Rica, por exemplo, on<strong>de</strong> <strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong><br />

voluntári<strong>os</strong> constituem parcela significativa e confiável das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa civil. No Japão se<br />

situa a se<strong>de</strong> da Fe<strong>de</strong>ration of World Volunteer Firefighters Associations (Fe<strong>de</strong>ração Mundial <strong>de</strong><br />

Bombeir<strong>os</strong> Voluntári<strong>os</strong>). Em que pese a resistência sistematicamente apresentada contra<br />

prop<strong>os</strong>ições similares por lobbies corporativ<strong>os</strong>, numer<strong>os</strong><strong>os</strong> municípi<strong>os</strong> já organizaram seus corp<strong>os</strong><br />

<strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>, na ausência <strong>de</strong> norma geral emanada pela União, a quem compete<br />

expressa e privativamente legislar sobre as organizações <strong>de</strong>nominadas “corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong><br />

militares”. Tais iniciativas se explicam ante a <strong>necessida<strong>de</strong></strong> premente d<strong>os</strong> municípi<strong>os</strong> em proteger<br />

<strong>os</strong> cidadã<strong>os</strong> e empresas que aí estejam domiciliad<strong>os</strong>, constituindo-se, portanto, em fat<strong>os</strong><br />

consumad<strong>os</strong> <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> um legítimo clamor da socieda<strong>de</strong>.<br />

Discordam<strong>os</strong> da interpretação falaci<strong>os</strong>a do texto constitucional que<br />

aponta vedação <strong>para</strong> tal pretensão no caput do art. 144, da Constituição Fe<strong>de</strong>ral. Muito pelo<br />

contrário, vem<strong>os</strong> nessa disp<strong>os</strong>ição uma autorização expressa, pois, tratando <strong>de</strong> segurança pública<br />

englobada com a <strong>de</strong>fesa civil, assim se dispõe: "Art. 144. A segurança pública, <strong>de</strong>ver do Estado,<br />

direito e responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tod<strong>os</strong>, é exercida <strong>para</strong> a preservação da or<strong>de</strong>m pública e da<br />

incolumida<strong>de</strong> das pessoas e do patrimônio, através d<strong>os</strong> seguintes órgã<strong>os</strong>: (...)" [sem <strong>de</strong>staque<br />

no original]. Ainda no texto constitucional, apontam<strong>os</strong> autorização <strong>para</strong> a pretensão na seguinte<br />

disp<strong>os</strong>ição: “Art. 30. Compete a<strong>os</strong> Municípi<strong>os</strong>: (...); I – legislar sobre <strong>os</strong> assunt<strong>os</strong> <strong>de</strong> interesse<br />

local; II – suplementar a legislação fe<strong>de</strong>ral e estadual no que couber; (...)".<br />

Seguindo a linha do Protocolo <strong>de</strong> Kyoto, celebrado no Japão em 1997,<br />

<strong>para</strong> discutir as mudanças climáticas do planeta, po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> vislumbrar um futuro incerto <strong>para</strong> o<br />

Brasil e o mundo em term<strong>os</strong> <strong>de</strong> event<strong>os</strong> climátic<strong>os</strong>. Segundo relatório do Dr. Paulo Sérgio Bretas<br />

<strong>de</strong> Almeida Salles, professor da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, o documento faz um alerta sobre a<br />

importância da re<strong>de</strong>finição do conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa civil no contexto das transformações climáticas<br />

produzidas pelo efeito estufa e seus efeit<strong>os</strong> nas populações. Eis suas palavras:<br />

Estam<strong>os</strong> diante <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> catástrofe causada por mudanças<br />

climáticas, que po<strong>de</strong> durar muit<strong>os</strong> an<strong>os</strong> e mudar radicalmente o curso do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> muit<strong>os</strong> países e regiões. N<strong>os</strong> próxim<strong>os</strong> an<strong>os</strong>, conforme prevêem<br />

vári<strong>os</strong> estud<strong>os</strong>, as temperaturas da Terra estarão aumentando. Ondas <strong>de</strong> calor, como<br />

as que mataram milhares <strong>de</strong> pessoas na Europa em 2003, se tornarão mais intensas<br />

e mais freqüentes. Também são esperadas precipitações <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s volumes <strong>de</strong> água,<br />

inundações, ciclones e períod<strong>os</strong> <strong>de</strong> seca em gran<strong>de</strong>s regiões; e, não men<strong>os</strong> importante,<br />

espera-se significativa redução das calotas polares e aumento do nível d<strong>os</strong> ocean<strong>os</strong>.<br />

7


As conseqüências <strong>de</strong>ssas mudanças climáticas apontam <strong>para</strong> a perda <strong>de</strong><br />

muitas vidas, particularmente entre as populações mais pobres, em áreas <strong>de</strong> estresse<br />

ambiental, e <strong>para</strong> graves problemas sociais. Representam também cust<strong>os</strong> imens<strong>os</strong> <strong>para</strong><br />

a economia, pois afetam drasticamente a infra-estrutura urbana e rural. Estas são as<br />

mensagens do último documento pre<strong>para</strong>do pelo International Panel on Climate<br />

Change (IPCC) e <strong>de</strong>stinado, não por acaso, a<strong>os</strong> formuladores <strong>de</strong> políticas públicas:<br />

Climate Change 2007: The Physical Science Basis – Summary for<br />

Policymakers. A incorporação urgente <strong>de</strong>ssas previsões na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s<br />

<strong>para</strong> a formulação <strong>de</strong> políticas públicas e a reação imediata às ameaças colocadas<br />

pelas mudanças climáticas po<strong>de</strong>m ser fundamentais <strong>para</strong> a estrutura social, econômica<br />

e política do país.”<br />

Dentro das políticas sugeridas, conforme o comentário do cientista<br />

mencionado, Dr. Paulo Sérgio Bretas <strong>de</strong> Almeida Salles, o documento comenta a alínea b,<br />

transcrita abaixo, que trata especificamente da <strong>de</strong>fesa civil:<br />

(b) Fortalecimento da <strong>de</strong>fesa civil e medidas que promovam as ações<br />

coletivas voltadas <strong>para</strong> a proteção da população<br />

Desenvolver o sentido <strong>de</strong> coletivida<strong>de</strong>, fundada no sentido <strong>de</strong> unir as<br />

forças <strong>de</strong> toda a socieda<strong>de</strong> <strong>para</strong> resistir às mudanças climáticas; durante <strong>os</strong> episódi<strong>os</strong><br />

<strong>de</strong> enchentes e secas esse sentimento existe, porém cabe a<strong>os</strong> formuladores <strong>de</strong> políticas<br />

públicas envolver a população em ações eficazes e eficientes. São exempl<strong>os</strong> <strong>os</strong> “sistemas<br />

<strong>de</strong> aviso”, basead<strong>os</strong> na integração das comunida<strong>de</strong>s, as “intervenções <strong>de</strong> vizinh<strong>os</strong>”,<br />

esquemas em que <strong>os</strong> moradores <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> provi<strong>de</strong>nciam suporte <strong>para</strong><br />

aqueles que sofrem com <strong>os</strong> estresses climátic<strong>os</strong>. Além <strong>de</strong> exempl<strong>os</strong> ocorrid<strong>os</strong> durante as<br />

ondas <strong>de</strong> calor n<strong>os</strong> EUA e na Itália, em 2003, po<strong>de</strong>-se citar a ação organizada da<br />

população <strong>de</strong> Florianópolis, quando, em 2005, a região foi atingida por tornad<strong>os</strong>.<br />

Por intermédio da difusão <strong>de</strong> informações obtidas pel<strong>os</strong> instrument<strong>os</strong> meteorológic<strong>os</strong> da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina, e da sintonia entre o po<strong>de</strong>r público e <strong>os</strong><br />

mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação, foi p<strong>os</strong>sível evitar uma catástrofe <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s proporções.<br />

Dad<strong>os</strong> divulgad<strong>os</strong> pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança do<br />

Clima (IPCC), em fevereiro <strong>de</strong> 2007, m<strong>os</strong>tram que o aquecimento global é uma realida<strong>de</strong> causada<br />

pelas ativida<strong>de</strong>s humanas. As conclusões estimam que “as temperaturas po<strong>de</strong>rão subir entre 2ºC e<br />

6ºC no Brasil até o final do século, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do cenário <strong>de</strong> emissões globais consi<strong>de</strong>rado”, no<br />

dizer do meteorologista e membro do IPCC, Carl<strong>os</strong> Nobre, do Centro <strong>de</strong> Previsão do Tempo e<br />

Estud<strong>os</strong> Climátic<strong>os</strong> do Instituto Nacional <strong>de</strong> Pesquisas Espaciais (Inpe). Pr<strong>os</strong>segue o cientista<br />

afirmando que as ameaças mais graves são dan<strong>os</strong> à agricultura, a elevação do nível d<strong>os</strong> ocean<strong>os</strong><br />

em até seis metr<strong>os</strong> e a <strong>de</strong>sertificação do Nor<strong>de</strong>ste, além <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> furacões no litoral das<br />

Regiões Sul e Su<strong>de</strong>ste.<br />

Conforme notícia veiculado pelo sítio<br />

, diante do agravamento e do aumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>sastres<br />

provocad<strong>os</strong> por event<strong>os</strong> advers<strong>os</strong>, <strong>os</strong> govern<strong>os</strong> <strong>de</strong> 168 países se comprometeram a implementar<br />

medidas <strong>para</strong> reduzir o risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>sastres, adotando o Marco <strong>de</strong> Ação <strong>de</strong> Hyogo, em 2005. O<br />

Marco <strong>de</strong> Ação <strong>de</strong> Hyogo é o instrumento mais importante <strong>para</strong> a implementação da redução <strong>de</strong><br />

8


isco <strong>de</strong> <strong>de</strong>sastres, adotado por países membr<strong>os</strong> nas Nações Unidas. O objetivo é aumentar a<br />

resiliência das nações e comunida<strong>de</strong>s diante <strong>de</strong> <strong>de</strong>sastres, visando <strong>para</strong> 2015 a redução<br />

consi<strong>de</strong>rável das perdas ocasionadas por <strong>de</strong>sastres, <strong>de</strong> vidas humanas, bens sociais, econômic<strong>os</strong> e<br />

ambientais. O Marco <strong>de</strong> Ação <strong>de</strong> Hyogo oferece cinco áreas prioritárias <strong>para</strong> a tomada <strong>de</strong> ações e<br />

medidas <strong>para</strong> reduzir vulnerabilida<strong>de</strong>s:<br />

- A redução <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>sastre <strong>de</strong>ve ser uma priorida<strong>de</strong>;<br />

- Conhecer o risco e adotar medidas;<br />

- Desenvolver uma maior compreensão e conscientização;<br />

- Reduzir o risco;<br />

- Fortalecer a pre<strong>para</strong>ção em <strong>de</strong>sastres <strong>para</strong> uma resp<strong>os</strong>ta eficaz, em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> níveis.<br />

4. REGIMES CONSTITUCIONAL E LEGAL<br />

A Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988 (CF/88) não tratou, especificamente, do<br />

serviço voluntário. O art. 144, ao disciplinar a segurança pública dispõe, no § 5º, que “(...) a<strong>os</strong><br />

corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> militares, além das atribuições <strong>de</strong>finidas em lei, incumbe a execução <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa civil”.<br />

ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> em geral são:<br />

Outr<strong>os</strong> disp<strong>os</strong>itiv<strong>os</strong> constitucionais que têm certa afinida<strong>de</strong> com a<br />

1) o art. 22, inciso XXVIII, ao <strong>de</strong>ferir, privativamente à União, a<br />

competência <strong>de</strong> legislar sobre <strong>de</strong>fesa civil, <strong>de</strong>ntre outr<strong>os</strong> temas;<br />

2) o art. 23, ao <strong>de</strong>finir a competência comum da União, d<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong>, do<br />

Distrito Fe<strong>de</strong>ral e d<strong>os</strong> Municípi<strong>os</strong> <strong>para</strong> “proteger o meio ambiente e combater a poluição em<br />

qualquer <strong>de</strong> suas formas” (inciso VI) e “preservar as florestas, a fauna e a flora” (inciso VII);<br />

3) o art. 24, ao estabelecer a competência concorrente da União, d<strong>os</strong><br />

Estad<strong>os</strong> e do Distrito Fe<strong>de</strong>ral <strong>para</strong> legislar sobre “florestas, caça, pesca, fauna, conservação da<br />

natureza, <strong>de</strong>fesa do solo e d<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> naturais, proteção do meio ambiente e controle da<br />

poluição” (inciso VI).<br />

A participação das empresas na promoção e financiamento das<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> está em consonância com o disp<strong>os</strong>to no art. 170, ao<br />

estabelecer como um d<strong>os</strong> princípi<strong>os</strong> da or<strong>de</strong>m econômica, a <strong>de</strong>fesa do meio ambiente (inciso VI).<br />

Por sua vez, o art. 225, ao tratar especificamente do capítulo do Meio Ambiente é explícito em<br />

corresponsabilizar a tod<strong>os</strong> pela preservação ambiental, <strong>de</strong>notando a transversalida<strong>de</strong>, importância<br />

e abrangência do tema. Transcrevem<strong>os</strong> abaixo o caput e <strong>os</strong> incis<strong>os</strong> VI e VII do § 1º, cuja<br />

observância implica a valorização das entida<strong>de</strong>s que lutam pela preservação do patrimônio e do<br />

meio ambiente:<br />

9


“Art. 225. Tod<strong>os</strong> têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,<br />

bem <strong>de</strong> uso comum do povo e essencial à sadia qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, impondo-se ao<br />

Po<strong>de</strong>r Público e à coletivida<strong>de</strong> o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> <strong>de</strong>fendê-lo e preservá-lo <strong>para</strong> as presentes e<br />

futuras gerações.<br />

§ 1º Para assegurar a efetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse direito, incumbe ao Po<strong>de</strong>r Público:<br />

......................................................................................................................<br />

VI – promover a educação ambiental em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> níveis <strong>de</strong> ensino e a<br />

conscientização pública <strong>para</strong> a preservação do meio ambiente;<br />

VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que<br />

coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção <strong>de</strong> espécies ou<br />

submetam <strong>os</strong> animais a cruelda<strong>de</strong>.”<br />

Quanto à ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bombeiro, a CF/88 apenas a mencionou no art.<br />

144, inciso V, e §§ 5º e 6º, ainda assim apenas em relação a<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> militares, <strong>de</strong><br />

nível estadual. No Brasil, portanto, não há a previsão <strong>de</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> <strong>de</strong> natureza civil,<br />

tampouco nas esferas fe<strong>de</strong>rais e municipais, ainda que servidores públic<strong>os</strong>.<br />

Como se sabe, policiais e bombeir<strong>os</strong> militares são regid<strong>os</strong> ou por estatuto<br />

próprio ou pela Lei n. 6.880, <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1980 (Estatuto d<strong>os</strong> Militares, conhecido como<br />

E-1), aplicável a<strong>os</strong> militares das Forças Armadas ou Singulares (Marinha, Exército e Aeronáutica),<br />

e a algumas polícias militares e corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> militares, como é o caso do Estado <strong>de</strong> São<br />

Paulo. Aliás, a legislação aplicável às Forças Armadas, a exemplo do prece<strong>de</strong>nte constitucional, é<br />

a fonte <strong>para</strong> as normas das polícias militares e corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> militares, chamadas Forças<br />

Auxiliares, reputadas reservas do Exército (art. 144, § 6º da CF/88).<br />

A norma <strong>de</strong> caráter geral da União é o Decreto-Lei n. 667, <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> julho<br />

<strong>de</strong> 1969 (reorganiza as Polícias Militares e <strong>os</strong> Corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong> Militares d<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong>, d<strong>os</strong><br />

Territóri<strong>os</strong> e do Distrito Fe<strong>de</strong>ral), atualmente em vigor com várias alterações, visto que foi<br />

recepcionado pela nova or<strong>de</strong>m constitucional.<br />

O Decreto n. 88.777, <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1983, aprovou o<br />

Regulamento <strong>para</strong> as Polícias Militares e Corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong> Militares (chamado R-200),<br />

igualmente recepcionado e em vigor. Assim, em nível nacional, tem<strong>os</strong> o DL n. 667/1969 e o<br />

Decreto n. 88.777/1983 regendo a matéria. As Unida<strong>de</strong>s Fe<strong>de</strong>rativas geralmente p<strong>os</strong>suem o<br />

estatuto próprio <strong>para</strong> a corporação, à exceção do Distrito Fe<strong>de</strong>ral, cujas polícias e bombeir<strong>os</strong> são<br />

organizad<strong>os</strong> e mantid<strong>os</strong> pela União, conforme preceitua o art. 21, inciso XIV, da CF/88. Ao<br />

Distrito Fe<strong>de</strong>ral aplicam-se, portanto, a Lei n. 7.479, <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1986, que “aprova o<br />

Estatuto d<strong>os</strong> Bombeir<strong>os</strong>-Militares do Corpo <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong> do Distrito Fe<strong>de</strong>ral, e dá outras<br />

providências”, a Lei n. 8.255, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1991, que “dispõe sobre a organização<br />

básica do Corpo <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong> Militar do Distrito Fe<strong>de</strong>ral, e dá outras providências”, e a Lei n.<br />

8.258, <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1991, que “fixa o efetivo do Corpo <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong> Militar do Distrito<br />

Fe<strong>de</strong>ral”.<br />

10


Noutra vertente, há certa interface entre a valorização do serviço<br />

voluntário e sua relação com o serviço militar ou a dispensa <strong>de</strong> sua prestação. Como alternativa<br />

ao serviço militar, a Lei n. 8.239, <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1991 regulamentou o art. 143, §§ 1º e 2º da<br />

Constituição Fe<strong>de</strong>ral, dispondo sobre a prestação <strong>de</strong> serviço alternativo ao serviço militar<br />

obrigatório, a qual passou a ser conhecida como Lei <strong>de</strong> Prestação do Serviço Alternativo (LPSA).<br />

O objetivo da lei é aten<strong>de</strong>r a<strong>os</strong> que aleguem imperativo <strong>de</strong> consciência<br />

<strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> crença religi<strong>os</strong>a ou <strong>de</strong> convicção fil<strong>os</strong>ófica ou política, <strong>para</strong> se eximirem <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> caráter essencialmente militar (art. 3º, § 1º), enten<strong>de</strong>ndo-se por serviço alternativo o<br />

exercício <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> caráter administrativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo,<br />

em substituição às ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> caráter essencialmente militar (art. 3º, § 2º).<br />

Tal serviço, prestado em organizações militares da ativa (OMA) e em<br />

órgã<strong>os</strong> <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> reservas (OFR) das Forças Armadas ou em órgã<strong>os</strong> subordinad<strong>os</strong> a<strong>os</strong><br />

Ministéri<strong>os</strong> Civis, mediante convêni<strong>os</strong> entre estes e <strong>os</strong> Comand<strong>os</strong> Militares, tem caráter<br />

remuneratório, mas não gera vínculo empregatício, sujeitando o prestante à disciplina <strong>de</strong><br />

assiduida<strong>de</strong> e pontualida<strong>de</strong>.<br />

P<strong>os</strong>teriormente foi publicada a mencionada Lei n. 9.608, <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong><br />

fevereiro <strong>de</strong> 1998, que dispõe sobre o serviço voluntário. A lei, muito sucinta, traz as seguintes<br />

regras:<br />

Art. 1º Consi<strong>de</strong>ra-se serviço voluntário, <strong>para</strong> fins <strong>de</strong>sta Lei, a<br />

ativida<strong>de</strong> não remunerada, prestada por pessoa física a entida<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> qualquer<br />

natureza ou instituição privada <strong>de</strong> fins não lucrativ<strong>os</strong>, que tenha objetiv<strong>os</strong> cívic<strong>os</strong>,<br />

culturais, educacionais, científic<strong>os</strong>, recreativ<strong>os</strong> ou <strong>de</strong> assistência social, inclusive,<br />

mutualida<strong>de</strong>.<br />

Parágrafo único. O serviço voluntário não gera vínculo empregatício<br />

nem obrigação <strong>de</strong> natureza trabalhista, previ<strong>de</strong>nciária ou afim.<br />

Art. 2º O serviço voluntário será exercido mediante a celebração <strong>de</strong><br />

termo <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são entre a entida<strong>de</strong>, pública ou privada, e o prestador do serviço<br />

voluntário, <strong>de</strong>le <strong>de</strong>vendo constar o objeto e as condições do seu exercício.<br />

Art. 3º O prestador do serviço voluntário po<strong>de</strong>rá ser ressarcido pelas<br />

<strong>de</strong>spesas que comprovadamente realizar no <strong>de</strong>sempenho das ativida<strong>de</strong>s voluntárias.<br />

Parágrafo único. As <strong>de</strong>spesas a serem ressarcidas <strong>de</strong>verão estar<br />

expressamente autorizadas pela entida<strong>de</strong> a que for prestado o serviço voluntário. [sem<br />

<strong>de</strong>staques no original]<br />

Curi<strong>os</strong>amente a lei, embora refira-se a trabalho não remunerado, faculta<br />

o ressarcimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesas, n<strong>os</strong> mol<strong>de</strong>s do mo<strong>de</strong>lo estaduni<strong>de</strong>nse. Foi regulamentada pelo<br />

Decreto n. 5.313, <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2004, especialmente no tocante ao art. 3º-A,<br />

especificando a carga horária em seis a <strong>de</strong>z horas semanais.<br />

O instituto em apreço não se confun<strong>de</strong>, também, com o previsto na Lei<br />

n. 8.745, <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1993, que dispõe sobre a contratação por tempo <strong>de</strong>terminado <strong>para</strong><br />

11


aten<strong>de</strong>r a <strong>necessida<strong>de</strong></strong> temporária <strong>de</strong> excepcional interesse público, que veda qualquer tipo <strong>de</strong><br />

in<strong>de</strong>nização a seus beneficiári<strong>os</strong>.<br />

Como visto, a Lei n. 9.608/1998, que dispõe sobre o serviço voluntário,<br />

cuidou <strong>de</strong> disciplinar a ativida<strong>de</strong> no intuito <strong>de</strong> proteger as entida<strong>de</strong>s que patrocinam tais<br />

ativida<strong>de</strong>s, <strong>para</strong> que não haja qualquer reclamação por parte d<strong>os</strong> executantes, visto que não gera<br />

vínculo empregatício, nem obrigação <strong>de</strong> natureza trabalhista previ<strong>de</strong>nciária ou afim. Além disso,<br />

trata-se <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> não remunerada, cabendo, no máximo, ressarcimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesas.<br />

Já a Lei n. 10.029, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2000, previa a prestação<br />

voluntária <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong> administrativ<strong>os</strong> e <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong> auxiliares <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa civil nas<br />

polícias militares e n<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> militares, com duração <strong>de</strong> um ano, prorrogável por,<br />

no máximo, igual período (art. 2º). O benefício é <strong>de</strong>stinado a homens e mulheres, <strong>de</strong> <strong>de</strong>zoito a<br />

vinte e três an<strong>os</strong>, aqueles, <strong>de</strong>ntre <strong>os</strong> que exce<strong>de</strong>rem às <strong>necessida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> incorporação às Forças<br />

Armadas (art. 3º). A lei limita a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prestadores a vinte por cento do efetivo da Força<br />

Auxiliar (art. 4º), vedando-lhes o porte ou o uso <strong>de</strong> armas <strong>de</strong> fogo e o exercício do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

polícia nas vias públicas (art. 5º). A contrapartida consiste em um auxílio mensal não superior<br />

a dois salári<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong>, sendo que a prestação voluntária d<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong>, similarmente a<strong>os</strong><br />

<strong>de</strong>mais do gênero, não gera vínculo empregatício, nem obrigações consectárias (art. 6º).<br />

A Lei n. 10.748, <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2003, que instituiu o Programa<br />

Nacional <strong>de</strong> Estímulo ao Primeiro Emprego <strong>para</strong> <strong>os</strong> Jovens (PNPE), alterada pela Lei n. 10.940,<br />

<strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> ag<strong>os</strong>to <strong>de</strong> 2004, incluiu o art. 3º-A na Lei n. 9.608/1998, introduzindo auxílio<br />

financeiro <strong>para</strong> prestador <strong>de</strong> serviço voluntário a jovens com ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>zesseis a vinte e<br />

quatro an<strong>os</strong> integrante <strong>de</strong> família com renda mensal per capita <strong>de</strong> até meio salário mínimo.<br />

Observa-se que a legislação citada não contempla o serviço voluntário<br />

propriamente dito, na medida em que impõe ou faculta remuneração <strong>de</strong> qualquer espécie, seja na<br />

forma <strong>de</strong> auxílio, seja na forma <strong>de</strong> ressarcimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesas. O termo “voluntário”,<br />

<strong>para</strong>doxalmente, é utilizado <strong>para</strong> algumas situações em que esse caráter é inerente à liberda<strong>de</strong> que<br />

tod<strong>os</strong> têm <strong>de</strong> exercer “qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações<br />

profissionais que a lei estabelecer” (art. 5º, inciso XIII, da CF/88).<br />

Em 17 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2005 foi editado o Decreto n. 5.376, que dispõe<br />

sobre o Sistema Nacional <strong>de</strong> Defesa Civil (Sin<strong>de</strong>c) e o Conselho Nacional <strong>de</strong> Defesa Civil, cujo<br />

teor foi consubstanciado, p<strong>os</strong>teriormente, na Política Nacional <strong>de</strong> Defesa Civil, formulada e<br />

divulgada pela Secretaria Nacional <strong>de</strong> Defesa Civil, do Ministério da Integração Nacional, em<br />

2007. O <strong>de</strong>creto praticamente regulamenta a Lei n. 8.745, <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1993, que dispõe<br />

sobre a contratação por tempo <strong>de</strong>terminado <strong>para</strong> aten<strong>de</strong>r a <strong>necessida<strong>de</strong></strong> temporária <strong>de</strong><br />

excepcional interesse público.<br />

Consi<strong>de</strong>rado o marco legal em term<strong>os</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa civil no país, a reclamar<br />

uma lei própria, traz <strong>os</strong> seguintes disp<strong>os</strong>itiv<strong>os</strong> essenciais:<br />

12


Art. 1 o Os órgã<strong>os</strong> e entida<strong>de</strong>s da administração pública fe<strong>de</strong>ral, d<strong>os</strong><br />

Estad<strong>os</strong>, do Distrito Fe<strong>de</strong>ral e d<strong>os</strong> Municípi<strong>os</strong>, as entida<strong>de</strong>s privadas e a<br />

comunida<strong>de</strong>, responsáveis pelas ações <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa civil em todo o território nacional,<br />

constituirão o Sistema Nacional <strong>de</strong> Defesa Civil – SINDEC, sob a coor<strong>de</strong>nação da<br />

Secretaria Nacional <strong>de</strong> Defesa Civil, do Ministério da Integração Nacional.<br />

Art. 2 o As ações <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa civil são articuladas pel<strong>os</strong> órgã<strong>os</strong> do<br />

SINDEC e objetivam, fundamentalmente, a redução d<strong>os</strong> <strong>de</strong>sastres, que compreen<strong>de</strong>m<br />

<strong>os</strong> seguintes aspect<strong>os</strong> globais:<br />

I – a prevenção <strong>de</strong> <strong>de</strong>sastres;<br />

II – a pre<strong>para</strong>ção <strong>para</strong> emergências e <strong>de</strong>sastres;<br />

III – a resp<strong>os</strong>ta a<strong>os</strong> <strong>de</strong>sastres;<br />

IV – a reconstrução e a recuperação.<br />

.........................................................................................................<br />

Art. 5 o Integram o SINDEC:<br />

I – órgão superior: o Conselho Nacional <strong>de</strong> Defesa Civil –<br />

CONDEC, responsável pela formulação e <strong>de</strong>liberação <strong>de</strong> políticas e diretrizes do<br />

Sistema;<br />

II – órgão central: a Secretaria Nacional <strong>de</strong> Defesa Civil, responsável<br />

pela articulação, coor<strong>de</strong>nação e supervisão técnica do Sistema;<br />

III – órgã<strong>os</strong> regionais: as Coor<strong>de</strong>nadorias Regionais <strong>de</strong> Defesa Civil<br />

– CORDEC, ou órgã<strong>os</strong> correspon<strong>de</strong>ntes, localizadas nas cinco macrorregiões<br />

geográficas do Brasil e responsáveis pela articulação e coor<strong>de</strong>nação do Sistema em nível<br />

regional;<br />

IV – órgã<strong>os</strong> estaduais: Coor<strong>de</strong>nadorias Estaduais <strong>de</strong> Defesa Civil –<br />

CEDEC ou órgã<strong>os</strong> correspon<strong>de</strong>ntes, Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> Defesa Civil do Distrito<br />

Fe<strong>de</strong>ral ou órgão correspon<strong>de</strong>nte, inclusive as suas regionais, responsáveis pela<br />

articulação e coor<strong>de</strong>nação do Sistema em nível estadual;<br />

V – órgã<strong>os</strong> municipais: Coor<strong>de</strong>nadorias Municipais <strong>de</strong> Defesa Civil<br />

– COMDEC ou órgã<strong>os</strong> correspon<strong>de</strong>ntes e Núcle<strong>os</strong> Comunitári<strong>os</strong> <strong>de</strong> Defesa Civil –<br />

NUDEC, ou entida<strong>de</strong>s correspon<strong>de</strong>ntes, responsáveis pela articulação e coor<strong>de</strong>nação<br />

do Sistema em nível municipal;<br />

VI – órgã<strong>os</strong> setoriais: <strong>os</strong> órgã<strong>os</strong> da administração pública fe<strong>de</strong>ral,<br />

estadual, municipal e do Distrito Fe<strong>de</strong>ral, que se articulam com <strong>os</strong> órgã<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

coor<strong>de</strong>nação, com o objetivo <strong>de</strong> garantir atuação sistêmica;<br />

VII – órgã<strong>os</strong> <strong>de</strong> apoio: órgã<strong>os</strong> públic<strong>os</strong> e entida<strong>de</strong>s privadas,<br />

associações <strong>de</strong> voluntári<strong>os</strong>, clubes <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong>, organizações não-governamentais e<br />

associações <strong>de</strong> classe e comunitárias, que apóiam <strong>os</strong> <strong>de</strong>mais órgã<strong>os</strong> integrantes do<br />

Sistema.<br />

.........................................................................................................<br />

Art. 10. À Secretaria Nacional <strong>de</strong> Defesa Civil, na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

órgão central do SINDEC, compete:<br />

13


.........................................................................................................<br />

XI – executar programa <strong>de</strong> capacitação <strong>de</strong> recurs<strong>os</strong> em <strong>de</strong>fesa civil e<br />

apoiar <strong>os</strong> Estad<strong>os</strong>, Distrito Fe<strong>de</strong>ral e Municípi<strong>os</strong> nessas ativida<strong>de</strong>s;<br />

XII – incentivar, em nível nacional, as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong> recurs<strong>os</strong> human<strong>os</strong> em <strong>de</strong>fesa civil; [disp<strong>os</strong>itivo repetido n<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> níveis]<br />

........................................................................................................<br />

XVIII – prestar apoio técnico e administrativo ao CONDEC e à<br />

Junta Deliberativa do Fundo Especial <strong>para</strong> Calamida<strong>de</strong>s Públicas – FUNCAP,<br />

criado pelo Decreto-Lei no 950, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1969;<br />

...................................................................................................<br />

XIX – participar do Sistema <strong>de</strong> Proteção ao Programa Nuclear<br />

Brasileiro – SIPRON, na forma do Decreto-Lei no 1.809, <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong><br />

1980, e legislação complementar;<br />

XX – implantar e operacionalizar o Centro Nacional <strong>de</strong><br />

Gerenciamento <strong>de</strong> Risc<strong>os</strong> e Desastres – CENAD, e promover a consolidação e a<br />

interligação das informações <strong>de</strong> risc<strong>os</strong> e <strong>de</strong>sastres no âmbito do SINDEC;<br />

XXI – promover e orientar tecnicamente <strong>os</strong> Municípi<strong>os</strong>, em<br />

articulação com <strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> e o Distrito Fe<strong>de</strong>ral, a organização e a implementação <strong>de</strong><br />

comand<strong>os</strong> operacionais a serem utilizad<strong>os</strong> como ferramenta gerencial <strong>para</strong> comandar,<br />

controlar e coor<strong>de</strong>nar as ações emergenciais, em circunstâncias <strong>de</strong> <strong>de</strong>sastres;<br />

XXII – implantar e implementar <strong>os</strong> Sistemas <strong>de</strong> Informações sobre<br />

Desastres no Brasil – SINDESB, o Sistema <strong>de</strong> Monitorização <strong>de</strong> Desastres, o<br />

Sistema <strong>de</strong> Alerta e Alarme <strong>de</strong> Desastres, o Sistema <strong>de</strong> Resp<strong>os</strong>ta a<strong>os</strong> Desastres, o<br />

Sistema <strong>de</strong> Auxílio e Atendimento à População e o Sistema <strong>de</strong> Prevenção e <strong>de</strong><br />

Reconstrução, no âmbito do SINDEC, e incentivar a criação e interligação <strong>de</strong> centr<strong>os</strong><br />

<strong>de</strong> operações n<strong>os</strong> seus três níveis;<br />

........................................................................................................<br />

XXIV – dar priorida<strong>de</strong> ao apoio às ações preventivas e às <strong>de</strong>mais<br />

relacionadas com a minimização <strong>de</strong> <strong>de</strong>sastres;<br />

.........................................................................................................<br />

Art. 13. Às COMDECs, ou órgã<strong>os</strong> correspon<strong>de</strong>ntes, compete:<br />

.........................................................................................................<br />

XIII – proce<strong>de</strong>r à avaliação <strong>de</strong> dan<strong>os</strong> e prejuíz<strong>os</strong> das áreas atingidas<br />

por <strong>de</strong>sastres, e ao preenchimento d<strong>os</strong> formulári<strong>os</strong> <strong>de</strong> Notificação Preliminar <strong>de</strong><br />

Desastres – NOPRED e <strong>de</strong> Avaliação <strong>de</strong> Dan<strong>os</strong> – AVADAN;<br />

.........................................................................................................<br />

XXI – articular-se com as Regionais Estaduais <strong>de</strong> Defesa Civil –<br />

REDEC, ou órgã<strong>os</strong> correspon<strong>de</strong>ntes, e participar ativamente d<strong>os</strong> Plan<strong>os</strong> <strong>de</strong> Apoio<br />

Mútuo – PAM, em acordo com o princípio <strong>de</strong> auxílio mútuo entre <strong>os</strong> Municípi<strong>os</strong>.<br />

.........................................................................................................<br />

14


Art. 15. A<strong>os</strong> órgã<strong>os</strong> setoriais, em nível fe<strong>de</strong>ral, por intermédio <strong>de</strong><br />

suas secretarias, entida<strong>de</strong>s e órgã<strong>os</strong> vinculad<strong>os</strong>, e em articulação com o órgão central do<br />

SINDEC, além <strong>de</strong> outras ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acordo com as respectivas competências<br />

legais, caberá:<br />

.........................................................................................................<br />

II – ao Ministério da Defesa, coor<strong>de</strong>nar as operações combinadas das<br />

Forças Singulares nas ações <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa civil;<br />

........................................................................................................<br />

Art. 19. Em cas<strong>os</strong> <strong>de</strong> estado <strong>de</strong> calamida<strong>de</strong> pública, o Ministro <strong>de</strong><br />

Estado da Integração Nacional po<strong>de</strong>rá contratar pessoal técnico especializado <strong>para</strong> a<br />

prestação <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong> eventuais nas ações <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa civil, observado o disp<strong>os</strong>to na Lei<br />

no 8.745, <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1993.<br />

....................................................................................................<br />

Art. 22. Constituem instrument<strong>os</strong> do SINDEC:<br />

I – Sistema <strong>de</strong> Informações sobre Desastres no Brasil – SINDESB,<br />

que permitirá o conhecimento das ocorrências <strong>de</strong> maior prevalência no País, além <strong>de</strong><br />

p<strong>os</strong>sibilitar o aprofundamento d<strong>os</strong> estud<strong>os</strong> epi<strong>de</strong>miológic<strong>os</strong>, orientar o planejamento e<br />

facilitar a tomada das <strong>de</strong>cisões na busca pela redução d<strong>os</strong> <strong>de</strong>sastres e das suas<br />

conseqüências;<br />

II – Sistema <strong>de</strong> Monitorização <strong>de</strong> Desastres, que permitirá o<br />

compartilhamento <strong>de</strong> informações, a monitorização <strong>de</strong> parâmetr<strong>os</strong> d<strong>os</strong> event<strong>os</strong><br />

advers<strong>os</strong>, em articulação com <strong>os</strong> órgã<strong>os</strong> <strong>de</strong> previsão e prognóstic<strong>os</strong> da administração<br />

pública fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal;<br />

III – Sistema <strong>de</strong> Alerta e Alarme <strong>de</strong> Desastres, que p<strong>os</strong>sibilitará a<br />

emissão <strong>de</strong> boletins antecipad<strong>os</strong>, resultando na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão oportuna, na<br />

redução do tempo <strong>de</strong> resp<strong>os</strong>ta, na antecipação <strong>de</strong> medidas preventivas e na rápida<br />

mobilização <strong>de</strong> recurs<strong>os</strong> <strong>para</strong> pronto atendimento emergencial;<br />

IV – Sistema <strong>de</strong> Resp<strong>os</strong>ta a<strong>os</strong> Desastres, que permitirá a pronta<br />

mobilização d<strong>os</strong> grup<strong>os</strong> estaduais e fe<strong>de</strong>rais <strong>de</strong> resp<strong>os</strong>tas a<strong>os</strong> <strong>de</strong>sastres, além da<br />

alocação <strong>de</strong> recurs<strong>os</strong> <strong>para</strong> pronta resp<strong>os</strong>ta ao atendimento emergencial <strong>de</strong> <strong>de</strong>sastres;<br />

V – Sistema <strong>de</strong> Auxílio e Atendimento à População, que orientará<br />

a população atingida pelo <strong>de</strong>sastre sobre medidas <strong>de</strong> socorro e proteção, e coor<strong>de</strong>nará<br />

<strong>os</strong> esforç<strong>os</strong> <strong>para</strong> alocar recurs<strong>os</strong> materiais <strong>para</strong> o auxílio d<strong>os</strong> <strong>de</strong>sabrigad<strong>os</strong>; e<br />

VI – Sistema <strong>de</strong> Prevenção e <strong>de</strong> Reconstrução, que coor<strong>de</strong>nará <strong>os</strong><br />

estud<strong>os</strong> <strong>de</strong> ameaças, vulnerabilida<strong>de</strong>s e risc<strong>os</strong>, e a implementação <strong>de</strong> medidas<br />

estruturais (obras <strong>de</strong> engenharia) tanto preventivas quanto as <strong>de</strong> reconstrução,<br />

especialmente a relocação <strong>de</strong> famílias <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> risco atingidas pel<strong>os</strong> <strong>de</strong>sastres, <strong>de</strong>ntre<br />

outras.<br />

Especificamente com relação à ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>, foi<br />

promulgada recentemente a Lei n. 11.901, em 12 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2009, que dispõe sobre a profissão<br />

<strong>de</strong> bombeiro civil e dá outras providências. Entretanto referida lei passou ao largo da situação d<strong>os</strong><br />

15


ombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>, que também são bombeir<strong>os</strong> civis, dado o formato militar adotado pel<strong>os</strong><br />

bombeir<strong>os</strong> públic<strong>os</strong> do país. Trata-se, meramente, <strong>de</strong> regulamentação da profissão <strong>de</strong> bombeiro<br />

civil da iniciativa privada.<br />

5. EXPERIÊNCIA ESTRANGEIRA<br />

No Canadá, por exemplo, é prevista em lei a utilização <strong>de</strong> fund<strong>os</strong> <strong>para</strong> a<br />

atuação combinada <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> profissionais e voluntári<strong>os</strong>.<br />

N<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>, o US Co<strong>de</strong>, Título 15, trata da assistência a<strong>os</strong><br />

bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> (Capítulo 49, § 2229), chamado Lei do Serviço <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong> Voluntári<strong>os</strong><br />

(Volunteer Fire Services Act) <strong>de</strong> 2002. Garante a assistência, in<strong>de</strong>nização por morte ou aci<strong>de</strong>nte, em<br />

caso <strong>de</strong> dano, perdas econômicas ou não-econômicas sofridas pelo bombeiro voluntário.<br />

Enten<strong>de</strong> por perdas econômicas qualquer perda pecuniária resultante <strong>de</strong> dan<strong>os</strong>, incluindo a perda<br />

<strong>de</strong> rendiment<strong>os</strong> ou <strong>de</strong> outr<strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> relacionad<strong>os</strong> com o emprego, como a assistência médica,<br />

serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> substituição, morte, cust<strong>os</strong> <strong>de</strong> sepultamento, perda <strong>de</strong> negóci<strong>os</strong> ou <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> emprego. As não-econômicas incluem perdas físicas e emocionais como dor, sofrimento,<br />

<strong>de</strong>sconforto, incapacida<strong>de</strong> física, angústia mental, <strong>de</strong>sfiguração, perda da alegria <strong>de</strong> viver, perda da<br />

sociabilida<strong>de</strong> e do companheirismo, se<strong>para</strong>ção do cônjuge ou companheiro, prejuízo à reputação<br />

e tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> prejuíz<strong>os</strong> não pecuniári<strong>os</strong> <strong>de</strong> qualquer espécie ou natureza. Define bombeiro<br />

voluntário como o indivíduo que executa serviç<strong>os</strong> <strong>para</strong> uma corporação <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong><br />

voluntári<strong>os</strong> que não recebe em relação a esses serviç<strong>os</strong> compensação ou remuneração, salvo<br />

razoável reembolso ou subsídio <strong>para</strong> <strong>de</strong>spesas efetivamente realizadas ou qualquer outra<br />

compensação em dinheiro ou qualquer outra coisa <strong>de</strong> valor superior a quinhent<strong>os</strong> dólares por<br />

ano.<br />

Na Argentina a Lei 25.054, promulgada em 10 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1998,<br />

dispõe sobre <strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>. Designa como tarefas d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong><br />

prevenir e apagar incêndi<strong>os</strong> e a intervenção operacional <strong>para</strong> proteger a vida ou <strong>os</strong> bens<br />

resultantes <strong>de</strong> sinistr<strong>os</strong> <strong>de</strong> origem natural, aci<strong>de</strong>ntal ou intencional, tendo as associações as<br />

seguintes funções específicas: integração, formação e apetrechamento <strong>de</strong> um corpo ativo <strong>de</strong><br />

serviç<strong>os</strong>; prevenção e controle <strong>de</strong> quaisquer reclamações <strong>de</strong>ntro da sua jurisdição; instrução do<br />

povo, por tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> mei<strong>os</strong>, em relação à prevenção <strong>de</strong> qualquer tipo <strong>de</strong> incêndio ten<strong>de</strong>ndo a criar<br />

uma verda<strong>de</strong>ira consciência nesta matéria; <strong>de</strong>finição do funcionamento das forças <strong>de</strong> Defesa Civil<br />

no âmbito municipal, estadual e nacional; participação ativa n<strong>os</strong> process<strong>os</strong> que envolvem sinistr<strong>os</strong><br />

<strong>de</strong> qualquer natureza, <strong>para</strong> <strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> previst<strong>os</strong> na Lei <strong>de</strong> Defesa Nacional; e documentação <strong>de</strong><br />

suas intervenções.<br />

A lei argentina estabelece as condições <strong>de</strong> execução da ativida<strong>de</strong><br />

bombeiril, <strong>os</strong> direit<strong>os</strong> d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong>, como priorida<strong>de</strong> no atendimento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, plan<strong>os</strong><br />

habitacionais e reconhecimento da habilitação pel<strong>os</strong> órgã<strong>os</strong> trabalhistas. Dispõe sobre ajuda<br />

econômica por intermédio da Direção Nacional <strong>de</strong> Defesa Civil do Ministério do Interior, que<br />

16


econhece o caráter <strong>de</strong> serviço público da ativida<strong>de</strong> e mantém um Registro Nacional <strong>de</strong> Entida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong> Voluntári<strong>os</strong>. Tais entida<strong>de</strong>s são enquadradas por fe<strong>de</strong>rações provinciais e nacional<br />

reconhecidas, assim como o é a Aca<strong>de</strong>mia Nacional <strong>de</strong> Capacitação <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong> Voluntári<strong>os</strong>. A<br />

ativida<strong>de</strong> é financiada, ainda, por contribuição obrigatória <strong>de</strong> 3,2‰ sobre as apólices <strong>de</strong> segur<strong>os</strong><br />

<strong>de</strong> vida, por parte das seguradoras, quantia não repassada a<strong>os</strong> prêmi<strong>os</strong> pag<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> segurad<strong>os</strong>. As<br />

corporações têm po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> fiscalização e aplicação <strong>de</strong> multas às empresas responsáveis por<br />

sinistr<strong>os</strong>, <strong>para</strong> efeito <strong>de</strong> reparo e substituição d<strong>os</strong> equipament<strong>os</strong> danificad<strong>os</strong> durante o combate. A<br />

lei proíbe a incompatibilida<strong>de</strong> ou prejudicialida<strong>de</strong> da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bombeiro voluntário com<br />

qualquer outra que exerça, sendo consi<strong>de</strong>rada função pública, ainda que o voluntário seja<br />

empregado privado, garantida in<strong>de</strong>nização <strong>para</strong> enfermida<strong>de</strong> ou morte ocorrida durante o serviço.<br />

A autorida<strong>de</strong> judiciária é obrigada a receber em <strong>de</strong>pósito materiais perig<strong>os</strong><strong>os</strong> apreendid<strong>os</strong> pel<strong>os</strong><br />

bombeir<strong>os</strong>.<br />

Entretanto, em term<strong>os</strong> <strong>de</strong> estrutura e organização, o exemplo mais<br />

<strong>de</strong>stacado encontram<strong>os</strong> em Portugal. Naquele país há uma <strong>de</strong>talhada legislação sobre <strong>os</strong> corp<strong>os</strong><br />

<strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>, que po<strong>de</strong>m ser municipais, chamad<strong>os</strong> “sapadores” ou <strong>de</strong> voluntári<strong>os</strong> e, ainda, <strong>os</strong><br />

mist<strong>os</strong>, com integrantes das duas categorias. Duas atuantes entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> são ouvidas e<br />

participam ativamente da elaboração legislativa e <strong>de</strong>fesa d<strong>os</strong> interesses d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong>, que são a<br />

Liga d<strong>os</strong> Bombeir<strong>os</strong> Portugueses e a Associação Nacional d<strong>os</strong> Bombeir<strong>os</strong> Profissionais. Verem<strong>os</strong>,<br />

a seguir, <strong>os</strong> principais diplomas e o que dispõem sobre a ativida<strong>de</strong> que n<strong>os</strong> p<strong>os</strong>sa servir <strong>de</strong><br />

exemplo e estímulo.<br />

O Decreto-Lei n. 295, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2000, aprovou o novo<br />

Regulamento Geral d<strong>os</strong> Corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong>, regulando matérias relativas à organização,<br />

veícul<strong>os</strong> e equipament<strong>os</strong>, pessoal, regime disciplinar, instrução e formação d<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

bombeir<strong>os</strong>, contendo alguns aspect<strong>os</strong> inovadores no âmbito <strong>de</strong> pessoal, com <strong>de</strong>staque <strong>para</strong> um<br />

novo regime sobre nomeações, limites <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> permanência n<strong>os</strong> quadr<strong>os</strong> e condições <strong>de</strong><br />

exercício das funções <strong>de</strong> comando. Foi revogado pelo Decreto-Lei n. 247, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong><br />

2007, cujo intróito assim consi<strong>de</strong>ra:<br />

Os gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sastres que se têm verificado um pouco por todo o<br />

mundo têm vindo a promover uma ampla discussão sobre a existência,<br />

em cada um d<strong>os</strong> países, <strong>de</strong> estruturas <strong>de</strong> resp<strong>os</strong>ta <strong>de</strong>vidamente<br />

pre<strong>para</strong>das e articuladas.<br />

Em quase todas as situações, seja em gran<strong>de</strong>s aci<strong>de</strong>ntes<br />

provocad<strong>os</strong> pelo terrorismo internacional, <strong>de</strong>correntes da acção da<br />

natureza ou resultantes da activida<strong>de</strong> económica e d<strong>os</strong> moviment<strong>os</strong><br />

populacionais, conclui-se que <strong>os</strong> países se encontram insuficientemente<br />

dotad<strong>os</strong>.<br />

Uma das constatações mais relevantes e ao mesmo tempo mais<br />

preocupante é a escassa articulação entre forças ou serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> segurança<br />

e estruturas ou serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> protecção e socorro.<br />

Em Portugal, o socorro às populações assenta n<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

17


ombeir<strong>os</strong> e assim continuará a ser mesmo que, entretanto, se tenham<br />

criado brigadas <strong>de</strong> sapadores ou o grupo <strong>de</strong> intervenção <strong>de</strong> protecção e<br />

socorro que colaboram no âmbito da primeira intervenção em incêndi<strong>os</strong><br />

florestais, ou se venham a formar mais agentes e constituam outras<br />

forças.<br />

Os corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> profissionais, mist<strong>os</strong> ou voluntári<strong>os</strong>, são,<br />

portanto, a base <strong>para</strong> uma resp<strong>os</strong>ta ao nível local e, articuladamente e<br />

sob um comando único, ao nível distrital ou nacional.<br />

Com o presente instrumento legislativo preten<strong>de</strong> concretizar-se<br />

uma profunda mudança ao nível da estruturação d<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

bombeir<strong>os</strong> e da sua articulação operacional. Promove-se uma redução<br />

do número <strong>de</strong> quadr<strong>os</strong> e <strong>de</strong>finem-se as bases da activida<strong>de</strong> operacional.<br />

Os bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> passam a ser inserid<strong>os</strong> em duas<br />

carreiras, a carreira <strong>de</strong> oficial-bombeiro, que vem suprir uma grave<br />

lacuna no âmbito da incorporação <strong>de</strong> técnic<strong>os</strong> <strong>de</strong> nível superior, e a<br />

carreira <strong>de</strong> bombeiro.<br />

A mudança d<strong>os</strong> critéri<strong>os</strong> <strong>de</strong> escolha d<strong>os</strong> comand<strong>os</strong> e a <strong>de</strong>finição<br />

das <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s tendo em conta a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada corpo é uma das<br />

inovações mais significativas que se propõem.<br />

Com este <strong>de</strong>creto-lei permite-se a criação das equipas<br />

permanentes <strong>de</strong> intervenção, que o Programa do Governo contempla, e<br />

abrem-se as portas <strong>para</strong> a criação <strong>de</strong> forças conjuntas e <strong>de</strong> forças<br />

especiais <strong>de</strong> intervenção.<br />

Finalmente, é muito significativa a consagração <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong><br />

avaliação e <strong>de</strong> recenseamento que servirá à atribuição d<strong>os</strong> direit<strong>os</strong> e<br />

regalias previst<strong>os</strong> no regime jurídico d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> portugueses.<br />

O <strong>de</strong>creto-lei <strong>de</strong>fine o regime jurídico aplicável à constituição,<br />

organização, funcionamento e extinção d<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>. Define “bombeiro” como o<br />

indivíduo que, integrado <strong>de</strong> forma profissional ou voluntária num corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>, tem por<br />

ativida<strong>de</strong> cumprir as missões do corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>, nomeadamente a proteção <strong>de</strong> vidas<br />

humanas e bens em perigo, mediante a prevenção e extinção <strong>de</strong> incêndi<strong>os</strong>, o socorro <strong>de</strong> ferid<strong>os</strong>,<br />

doentes ou náufrag<strong>os</strong> e a prestação <strong>de</strong> outr<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> previst<strong>os</strong> n<strong>os</strong> regulament<strong>os</strong> intern<strong>os</strong> e<br />

<strong>de</strong>mais legislação aplicável; como “corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>” a unida<strong>de</strong> operacional, oficialmente<br />

homologada e tecnicamente organizada, pre<strong>para</strong>da e equipada <strong>para</strong> o cabal exercício das missões<br />

atribuídas pela legislação aplicável; e como “entida<strong>de</strong> <strong>de</strong>tentora <strong>de</strong> corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>” a<br />

entida<strong>de</strong> pública ou privada que cria, <strong>de</strong>tém e mantém em ativida<strong>de</strong> um corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> com<br />

observância do disp<strong>os</strong>to na legislação aplicável.<br />

Estabelece a missão d<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>; o processo <strong>de</strong> criação<br />

(Municípi<strong>os</strong>, associações humanitárias <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>, e outras pessoas colectivas privadas que<br />

pretendam criar corp<strong>os</strong> privativ<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>) e extinção, área <strong>de</strong> atuação e tutela; a<br />

organização (corp<strong>os</strong> profissionais, mist<strong>os</strong>, voluntári<strong>os</strong> e privativ<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>), formação e<br />

18


instrução. Os bombeir<strong>os</strong> profissionais são municipais, também chamad<strong>os</strong> sapadores. Os corp<strong>os</strong><br />

<strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> têm as características seguintes: pertencem a uma associação<br />

humanitária <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>; são constituíd<strong>os</strong> por bombeir<strong>os</strong> em regime <strong>de</strong> voluntariado; e po<strong>de</strong>m<br />

dispor <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> profissional mínima Os quadr<strong>os</strong> são <strong>os</strong> <strong>de</strong> comando, ativo, <strong>de</strong> reserva e <strong>de</strong><br />

honra. Os corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> mist<strong>os</strong> e voluntári<strong>os</strong> po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong> tip<strong>os</strong> 4 a 1, com até 60, 90,<br />

120 e superior a 120 element<strong>os</strong>, respectivamente, sendo que <strong>os</strong> oficiais bombeir<strong>os</strong> limitam-se a<br />

25% do efetivo e o quadro <strong>de</strong> comando é limitado a cinco element<strong>os</strong>. A ativida<strong>de</strong> operacional<br />

faculta a existência <strong>de</strong> forças conjuntas e forças especiais.<br />

O Decreto-Lei n. 296, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2000, busca estabelecer<br />

uma necessária racionalização no sistema <strong>de</strong> proteção civil, assentado numa reserva <strong>de</strong><br />

competência do Serviço Nacional <strong>de</strong> Protecção Civil <strong>para</strong> a coor<strong>de</strong>nação estratégica e operacional<br />

e comando das ações <strong>de</strong> socorro em cas<strong>os</strong> <strong>de</strong> calamida<strong>de</strong>, catástrofe ou aci<strong>de</strong>nte grave, ao nível<br />

municipal, distrital e nacional, consi<strong>de</strong>rad<strong>os</strong> também <strong>os</strong> diferentes níveis hierárquic<strong>os</strong>. Assim,<br />

disciplina as atribuições, competências e modo <strong>de</strong> funcionamento d<strong>os</strong> centr<strong>os</strong> <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong><br />

socorr<strong>os</strong>, cuja criação é imp<strong>os</strong>ta pela Lei Orgânica do Serviço Nacional <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong>, sendo que,<br />

a nível nacional é constituído o Centro Nacional <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Socorr<strong>os</strong> (CNCS).<br />

O Decreto-Lei n. 297, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2000, aperfeiçoou o<br />

sistema <strong>de</strong> proteção social d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong>. No intróito <strong>de</strong>ssa norma, o legislador asseverou que:<br />

Reconhecendo-se o papel <strong>de</strong>sempenhado pelas associações <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> junto das<br />

populações, foi consagrado no Programa do XIV Governo o apoio, promoção e dignificação do<br />

voluntariado e da função social do bombeiro.<br />

Justifica-se, por isso, que, no âmbito da presente reforma do sector d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong>, se<br />

revejam <strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> existentes <strong>de</strong> mol<strong>de</strong> a reforçar o quadro d<strong>os</strong> <strong>incentivo</strong>s ao voluntariado, no<br />

âmbito do qual é exercida a activida<strong>de</strong> d<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>, o qual passa<br />

inquestionavelmente pelo alargamento, reforço e melhoria d<strong>os</strong> direit<strong>os</strong> consagrad<strong>os</strong> no Estatuto<br />

Social do Bombeiro.<br />

Com o presente diploma prevê-se a p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>os</strong> especialistas – agora pertencentes<br />

a um quadro <strong>de</strong> especialistas e auxiliares <strong>de</strong> acordo com o novo Regulamento Geral d<strong>os</strong> Corp<strong>os</strong><br />

<strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong> – beneficiarem, nessa qualida<strong>de</strong>, do seguro social voluntário. A isenção <strong>de</strong> propinas<br />

e taxas <strong>de</strong> inscrição no ensino secundário é alargada a<strong>os</strong> aspirantes, bem como o direito a receber<br />

um subsídio <strong>de</strong> reembolso <strong>de</strong> propinas pagas pela frequência do ensino superior, sendo este<br />

subsídio agora concedido também n<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> <strong>de</strong> frequência do ensino superior privado, nas<br />

condições em que é atribuído a<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> que frequentam o ensino superior público.<br />

Consagra-se a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> faltarem ao trabalho, sem perda <strong>de</strong><br />

direit<strong>os</strong>, até ao máximo <strong>de</strong> 15 dias por ano, em períod<strong>os</strong> interpolad<strong>os</strong> <strong>de</strong> 5, <strong>para</strong> frequência <strong>de</strong><br />

acções <strong>de</strong> formação na Escola Nacional <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong>, sendo as respectivas entida<strong>de</strong>s patronais<br />

compensadas pel<strong>os</strong> cust<strong>os</strong> inerentes.<br />

Por último, e em articulação com as regras constantes do novo Regulamento Geral d<strong>os</strong><br />

Corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong>, consagra-se a favor das mulheres bombeiro, quando indisponíveis por<br />

razões <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z ou parto, o benefício <strong>de</strong> permanecer na situação <strong>de</strong> activida<strong>de</strong> no quadro por<br />

um período até dois an<strong>os</strong>, permitindo-lhes <strong>de</strong>ste modo a fruição d<strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> consagrad<strong>os</strong> no<br />

Estatuto Social que pressupõem a situação da activida<strong>de</strong> no quadro.<br />

Com o objectivo <strong>de</strong> dignificar a missão social do bombeiro, consi<strong>de</strong>rou-se que o acesso<br />

a<strong>os</strong> benefíci<strong>os</strong> consagrad<strong>os</strong> no Estatuto <strong>de</strong>veria ter correspondência no seu cabal e efectivo<br />

exercício, com continuida<strong>de</strong>, por períod<strong>os</strong> <strong>de</strong> tempo relativamente alargad<strong>os</strong>, tendo-se, por<br />

19


conseguinte, aumentado, nalguns cas<strong>os</strong>, o tempo <strong>de</strong> exercício <strong>de</strong> funções necessário <strong>para</strong> ace<strong>de</strong>r a<br />

esses benefíci<strong>os</strong>.<br />

Relevante consignar que a norma garante a proteção social tanto ao “a)<br />

pessoal que exerce funções <strong>de</strong> bombeiro em regime <strong>de</strong> voluntariado, tendo, <strong>para</strong>lelamente, uma<br />

activida<strong>de</strong> profissional já abrangida por regime <strong>de</strong> protecção social; b) pessoal que exerce funções<br />

<strong>de</strong> bombeiro em regime profissionalizado, tendo como entida<strong>de</strong>s empregadoras <strong>os</strong> municípi<strong>os</strong>,<br />

associações <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> ou as empresas com corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> homologad<strong>os</strong> pelo Serviço<br />

Nacional <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong>; e c) pessoal que exerce as funções <strong>de</strong> bombeiro em regime <strong>de</strong><br />

voluntariado que, não exercendo activida<strong>de</strong> profissional, não se beneficia, por esse facto, <strong>de</strong><br />

protecção social nem se encontra em situação que <strong>de</strong>termine direito à protecção no <strong>de</strong>semprego”<br />

(art. 1º). No último caso, são enquadrad<strong>os</strong> no regime <strong>de</strong> seguro social voluntário.<br />

A Portaria n. 449, <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2001, criou o Sistema <strong>de</strong> Socorro e<br />

Luta contra Incêndi<strong>os</strong> (SSLI), estabelecendo regras <strong>para</strong> a integração <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação, comando e<br />

controle, organização das forças, informações e comunicações, disp<strong>os</strong>itiv<strong>os</strong> técnic<strong>os</strong> e<br />

operacionais.<br />

A Lei n. 32, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> ag<strong>os</strong>to <strong>de</strong> 2007, dispõe sobre o regime<br />

jurídico das associações humanitárias <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>, bem como as regras da sua associação em<br />

confe<strong>de</strong>ração e fe<strong>de</strong>rações. O art. 2º estabelece que:<br />

1 – As associações humanitárias <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>, adiante<br />

abreviadamente <strong>de</strong>signadas por associações, são pessoas colectivas sem<br />

fins lucrativ<strong>os</strong> que têm como escopo principal a protecção <strong>de</strong> pessoas e<br />

bens, <strong>de</strong>signadamente o socorro <strong>de</strong> ferid<strong>os</strong>, doentes ou náufrag<strong>os</strong>, e a<br />

extinção <strong>de</strong> incêndi<strong>os</strong>, <strong>de</strong>tendo e mantendo em activida<strong>de</strong>, <strong>para</strong> o efeito,<br />

um corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> ou misto, com observância do<br />

<strong>de</strong>finido no regime jurídico d<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>.<br />

2 – Com estrita observância do seu fim não lucrativo e sem<br />

prejuízo do seu escopo principal, as associações po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senvolver<br />

outras activida<strong>de</strong>s, individualmente ou em associação, parceria ou por<br />

qualquer outra forma societária legalmente prevista, com outras pessoas<br />

singulares ou colectivas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que permitidas pel<strong>os</strong> estatut<strong>os</strong>.<br />

3 – A <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> associação humanitária <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> é<br />

exclusiva das associações cujo regime jurídico é regulado pela presente<br />

lei, não po<strong>de</strong>ndo ser adoptada por outras entida<strong>de</strong>s, ainda que com fins<br />

idêntic<strong>os</strong>, mas não <strong>de</strong>tentoras <strong>de</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>.<br />

Referida norma disciplina, ainda: organização e funcionamento;<br />

inelegibilida<strong>de</strong>s, incapacida<strong>de</strong>s e impediment<strong>os</strong>; apoio à ativida<strong>de</strong> associativa; tutela;<br />

confe<strong>de</strong>ração, fe<strong>de</strong>rações e agrupament<strong>os</strong> <strong>de</strong> associações; e extinção.<br />

Já a Portaria n. 1358, <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2007, regula a criação e <strong>os</strong><br />

critéri<strong>os</strong> <strong>de</strong> constituição e <strong>de</strong> atuação <strong>de</strong> equipes <strong>de</strong> intervenção permanente (EIP), remuneradas,<br />

comp<strong>os</strong>tas por cinco integrantes d<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> das associações humanitárias n<strong>os</strong><br />

20


municípi<strong>os</strong>, com as seguintes missões, além <strong>de</strong> outras tarefas <strong>de</strong> âmbito operacional: combate a<br />

incêndi<strong>os</strong>; socorro às populações em caso <strong>de</strong> incêndi<strong>os</strong>, inundações, <strong>de</strong>sabament<strong>os</strong>,<br />

abalroament<strong>os</strong> e em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> aci<strong>de</strong>ntes ou catástrofes; socorro a náufrag<strong>os</strong>; socorro<br />

complementar, em segunda intervenção, <strong>de</strong>sencarceramento ou apoio a sinistrad<strong>os</strong> no âmbito da<br />

urgência pré-h<strong>os</strong>pitalar, não po<strong>de</strong>ndo substituir-se a<strong>os</strong> acord<strong>os</strong> com a autorida<strong>de</strong> nacional <strong>de</strong><br />

emergência médica; minimização <strong>de</strong> risc<strong>os</strong> em situações <strong>de</strong> previsão ou ocorrência <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte<br />

grave; colaboração em outras ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> proteção civil, no âmbito do exercício das funções<br />

específicas que são cometidas a<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>.<br />

Por seu turno, a Portaria n. 571, <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008, estabeleceu o<br />

regime aplicável ao serviço operacional d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>, especificando <strong>os</strong> seguintes<br />

tip<strong>os</strong> (art. 3):<br />

a) Assistência, a activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> doentes, respectivo<br />

apoio e acompanhamento;<br />

b) Formação e instrução, a activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formação e instrução,<br />

incluindo adquirir ou ministrar conheciment<strong>os</strong> no âmbito da missão do<br />

corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>;<br />

c) Informação e sensibilização, a activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> divulgação,<br />

informação e sensibilização das populações nas matérias <strong>de</strong> protecção<br />

civil e autoprotecção;<br />

d) Manutenção, organização e controlo das instalações e sistemas<br />

operacionais do corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>, a activida<strong>de</strong> técnica e logística <strong>de</strong><br />

apoio, sustentação e manutenção da operativida<strong>de</strong> das instalações,<br />

equipament<strong>os</strong> e sistemas afect<strong>os</strong> à missão do corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>;<br />

e) Prevenção e patrulhamento, a activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prevenção e<br />

controlo, com vista a atenuar, reduzir ou limitar a ocorrência <strong>de</strong> risc<strong>os</strong>;<br />

f) Piquete, a activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prontidão integrando forças <strong>de</strong> reserva<br />

pre<strong>para</strong>das <strong>para</strong> ocorrer a situações <strong>de</strong> emergência;<br />

g) Simulacro ou exercício, a activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> treino e simulação <strong>de</strong><br />

ocorrências, com vista a melhorar a proficiência d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> e a<br />

avaliar procediment<strong>os</strong> e plan<strong>os</strong>;<br />

h) Socorro, a activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carácter <strong>de</strong> emergência, <strong>de</strong> socorro às<br />

populações, <strong>de</strong>senvolvida em caso <strong>de</strong> incêndi<strong>os</strong>, inundações,<br />

<strong>de</strong>sabament<strong>os</strong> e, <strong>de</strong> um modo geral, em caso <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes, <strong>de</strong> socorro a<br />

náufrag<strong>os</strong>, <strong>de</strong> buscas subaquáticas e <strong>de</strong> urgência pré -h<strong>os</strong>pitalar;<br />

i) Vistoria técnica, a activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> verificação no âmbito da<br />

prevenção e segurança contra risc<strong>os</strong> <strong>de</strong> incêndio e outr<strong>os</strong> sinistr<strong>os</strong>.<br />

Outra Portaria, <strong>de</strong> n. 703, <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2008, estabeleceu o<br />

regime disciplinar aplicável a<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>.<br />

Pelo Despacho n. 9915/2008, a Autorida<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Protecção<br />

Civil, vinculada ao Ministério da Administração Interna, expediu o Regulamento das Carreiras <strong>de</strong><br />

21


Oficial Bombeiro e <strong>de</strong> Bombeiro Voluntário. Referido diploma estipula as funções a serem<br />

exercidas (comando, chefia, estado-maior e execução), distribuídas entre <strong>os</strong> divers<strong>os</strong> tip<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> (1 a 4, conforme o efetivo) e carg<strong>os</strong> (oficiais bombeir<strong>os</strong> superiores,<br />

principais, <strong>de</strong> 1ª, <strong>de</strong> 2ª; bombeir<strong>os</strong> chefe, subchefe, <strong>de</strong> 1ª, <strong>de</strong> 2ª e <strong>de</strong> 3ª), <strong>de</strong>fine <strong>os</strong> princípi<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento das carreiras (primado da valorização do bombeiro, universalida<strong>de</strong>,<br />

profissionalismo, igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s e credibilida<strong>de</strong>), acesso, contagem do tempo <strong>de</strong><br />

serviço, insterstíci<strong>os</strong>, avaliação, promoções, atribuições, ingresso (por concurso), classificação,<br />

transferência e reclassificação.<br />

Por fim, o Despacho n. 20915/2008 aprovou o Regulamento do<br />

Mo<strong>de</strong>lo Organizativo d<strong>os</strong> Corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong>, que estabelece o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> organização<br />

(estrutura <strong>de</strong> comando, estrutura operacional, núcleo <strong>de</strong> apoio e estado-maior), <strong>de</strong>finindo<br />

atribuições. Para a estrutura operacional, que compreen<strong>de</strong> as unida<strong>de</strong>s (companhia, secção,<br />

brigada e equipa), discrimina as categorias <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> que po<strong>de</strong>m comandar cada uma. O<br />

Núcleo <strong>de</strong> Apoio e Estado-Maior é comp<strong>os</strong>to por Área <strong>de</strong> Planeamento, Operações e<br />

Informações, Área <strong>de</strong> Pessoal e Instrução, Área <strong>de</strong> Logística e Mei<strong>os</strong> Especiais, e Área <strong>de</strong><br />

Comunicações. Disciplina <strong>os</strong> quadr<strong>os</strong> <strong>de</strong> pessoal, as nomeações em regime <strong>de</strong> substituição e <strong>os</strong><br />

critéri<strong>os</strong> <strong>para</strong> adoção <strong>de</strong> regulamento interno.<br />

6. BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS NO BRASIL<br />

Segundo levantamento realizado pela Agência Brasil, consta que apenas<br />

635 municípi<strong>os</strong> do Brasil, dispõem <strong>de</strong> segment<strong>os</strong> do corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> militar. Isto representa<br />

11,41% <strong>de</strong> todo o país, que tem 5.564 municípi<strong>os</strong>, segundo o Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e<br />

Estatística (IBGE). Em algumas das cida<strong>de</strong>s em que o corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> militar não está<br />

presente, cidadã<strong>os</strong> se organizam e formam brigadas <strong>de</strong> incêndio. Os chamad<strong>os</strong> “bombeir<strong>os</strong><br />

comunitári<strong>os</strong>” recebem treinamento <strong>para</strong> atuar em cas<strong>os</strong> <strong>de</strong> incêndio e aci<strong>de</strong>ntes. Contudo, na<br />

maioria d<strong>os</strong> municípi<strong>os</strong> não existe nenhuma das duas entida<strong>de</strong>s. Este é o caso <strong>de</strong> Rio Piracicaba,<br />

em Minas Gerais. Na primeira noite do ano oito pres<strong>os</strong> morreram em um incêndio na ca<strong>de</strong>ia do<br />

município. Na cida<strong>de</strong>, com pouco mais <strong>de</strong> 14 mil habitantes, não há guarnição do corpo <strong>de</strong><br />

bombeir<strong>os</strong> militar nem cidadã<strong>os</strong> treinad<strong>os</strong> <strong>para</strong> a função <strong>de</strong> socorrista.<br />

As leis que versam sobre <strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> são estaduais. Não<br />

existe legislação fe<strong>de</strong>ral que trate do assunto. De modo geral, a legislação existente <strong>de</strong>termina<br />

apenas que é obrigação do Estado prover o serviço, mas não <strong>de</strong>fine que uma cida<strong>de</strong> com um<br />

número mínimo <strong>de</strong> habitantes tenha obrigatoriamente uma brigada militar.<br />

Para Antônio Flávio Testa, especialista em Segurança Pública da<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, o problema faz com que o estado não consiga garantir cidadania a seus<br />

habitantes. “Uma vez que as prefeituras não oferecem uma estrutura a<strong>de</strong>quada e que <strong>os</strong> corp<strong>os</strong><br />

<strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> não estão ali a<strong>de</strong>quad<strong>os</strong> <strong>para</strong> aten<strong>de</strong>r <strong>de</strong>terminadas emergências – que não são<br />

apenas <strong>de</strong> incêndi<strong>os</strong>, mas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sastres <strong>de</strong> trânsit<strong>os</strong>, aci<strong>de</strong>ntes e outras coisas – a população fica<br />

22


muito vulnerável e passa a ser um problema estratégico que o Estado terá que resolver o mais<br />

rápido p<strong>os</strong>sível”, analisou.<br />

O Rio <strong>de</strong> Janeiro é o Estado com maior abrangência do corpo <strong>de</strong><br />

bombeir<strong>os</strong>, disponíveis em 43 d<strong>os</strong> 92 municípi<strong>os</strong>, quase 47% do total. Para a própria corporação<br />

isso se explica <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong> o Rio <strong>de</strong> Janeiro ser o principal pólo <strong>de</strong> turismo nacional e<br />

internacional do país.<br />

O Maranhão apresentou o pior resultado contando com corpo <strong>de</strong><br />

bombeir<strong>os</strong> militar apenas três (1,38%) d<strong>os</strong> 217 municípi<strong>os</strong>, <strong>de</strong>vido, em parte ao processo <strong>de</strong><br />

emancipação do corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> da polícia militar, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 90. O problema se<br />

avoluma diante do atendimento precário no que diz respeito à preservação <strong>de</strong> edifíci<strong>os</strong> históric<strong>os</strong><br />

construíd<strong>os</strong> na época da colonização pel<strong>os</strong> europeus.<br />

(Brasil – janeiro <strong>de</strong> 2008).<br />

Gráfico 6.1. Percentual <strong>de</strong> municípi<strong>os</strong> com corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> segundo o Estado<br />

Estad<strong>os</strong><br />

AP<br />

PA<br />

RR<br />

RO<br />

AM<br />

AC<br />

BA<br />

SE<br />

AL<br />

PE<br />

PB<br />

RN<br />

CE<br />

PI<br />

M A<br />

TO<br />

M T<br />

GO<br />

M S<br />

ES<br />

RJ<br />

M G<br />

SP<br />

PR<br />

SC<br />

RS<br />

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100<br />

Percentual (%)<br />

23


Tabela 6.1. Número <strong>de</strong> municípi<strong>os</strong> com corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> segundo o Estado (Brasil – janeiro <strong>de</strong> 2008).<br />

ESTADO<br />

Municípi<strong>os</strong> (total)<br />

Municípi<strong>os</strong> com<br />

Corpo <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong> Percentual (%)<br />

RS 496 91 18,35<br />

SC 293 88 30,03<br />

PR 399 47 11,78<br />

SP 645 143 22,17<br />

MG 853 44 5,16<br />

RJ 92 43 46,74<br />

ES 78 8 10,26<br />

MS 78 18 23,08<br />

GO 246 27 10,97<br />

DF * 1 1 100<br />

MT 141 14 9,93<br />

TO 139 5 3,6<br />

MA 217 3 1,38<br />

PI 223 4 1,79<br />

CE 184 13 7,06<br />

RN 167 3 1,8<br />

PB 223 4 1,79<br />

PE 185 15 8,11<br />

AL 102 6 5,88<br />

SE 75 4 5,33<br />

BA 417 13 3,12<br />

AC 22 3 13,64<br />

AM 62 4 6,45<br />

RO 52 11 21,15<br />

RR 15 2 13,33<br />

PA 143 18 12,59<br />

AP 16 3 18,75<br />

BRASIL 5564 635 11,41<br />

(*) O Distrito Fe<strong>de</strong>ral não foi incluído no gráfico, pois p<strong>os</strong>sui apenas um<br />

município, comprometendo, assim, a real análise d<strong>os</strong> dad<strong>os</strong>.<br />

Fonte: Segurança Pessoal e Direit<strong>os</strong> Human<strong>os</strong> (Agência Brasil)<br />

Outra fonte <strong>de</strong> preocupação é a Amazônia. Segundo dad<strong>os</strong> do site<br />

Globo Amazônia, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2008, em Guarantã do Norte, em Mato Gr<strong>os</strong>so, não há<br />

bombeir<strong>os</strong>. O combate às queimadas na floresta é feito por um grupo <strong>de</strong> voluntári<strong>os</strong> da<br />

prefeitura, que luta contra o fogo com equipament<strong>os</strong> precári<strong>os</strong>. O município teve 1.400 foc<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

incêndio em 2007. Juína, outro município matrogr<strong>os</strong>sense, já per<strong>de</strong>u 4.260 km² <strong>de</strong> suas florestas<br />

originais.<br />

Mas o problema das queimadas nas florestas não atinge apenas a<br />

Amazônia. O site Jornale, <strong>de</strong> Curitiba, divulga, em notícia <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2008, que embora <strong>os</strong><br />

bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> estejam presentes em cinquenta municípi<strong>os</strong> do Paraná, <strong>os</strong> incêndi<strong>os</strong><br />

florestais correspon<strong>de</strong>m à maior parte d<strong>os</strong> atendiment<strong>os</strong>. As corporações <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong><br />

voluntári<strong>os</strong> foram criadas em 2004 <strong>para</strong> aten<strong>de</strong>r <strong>os</strong> municípi<strong>os</strong> que não tinham a presença <strong>de</strong><br />

bombeir<strong>os</strong> militares, iniciando-se pel<strong>os</strong> municípi<strong>os</strong> <strong>de</strong> Pitanga, Lapa, Campina Gran<strong>de</strong> do Sul e<br />

24


Pru<strong>de</strong>ntópolis. A situação atual implica que 97 regiões do Paraná são atendidas por bombeir<strong>os</strong>,<br />

militares e comunitári<strong>os</strong>. Até 2010, a previsão é estar presente em 115 cida<strong>de</strong>s, com a<br />

p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r 80% da população do Estado, mediante parceria entre o governo do<br />

Estado e as prefeituras. A maioria d<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> atuam em cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> até 15 mil habitantes e<br />

são funcionári<strong>os</strong> municipais treinad<strong>os</strong> pelo corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> militar <strong>para</strong> fazer <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong><br />

atendiment<strong>os</strong> até a chegada <strong>de</strong>stes.<br />

O governo do Estado fornece <strong>para</strong> o Município um caminhão<br />

semiprofissional, com capacida<strong>de</strong> <strong>para</strong> cinco mil litr<strong>os</strong> <strong>de</strong> água e financia 80% das instalações,<br />

sendo <strong>os</strong> <strong>de</strong>mais 20% a fundo perdido. A prefeitura fica responsável pela a<strong>de</strong>são ao contrato, a<br />

escolha do terreno <strong>para</strong> a construção da se<strong>de</strong> e a seleção <strong>de</strong> <strong>de</strong>z funcionári<strong>os</strong> como voluntári<strong>os</strong>.<br />

De 2004 a 2007 foram feit<strong>os</strong> 28 mil atendiment<strong>os</strong>, 14 mil <strong>de</strong>stes somente<br />

em 2007 e na área florestal. "A presença do bombeiro voluntário fortalece o atendimento às<br />

emergências ocorridas no estado. O Paraná tem um programa exemplar <strong>de</strong> atenção que não <strong>para</strong>.<br />

A ampliação do atendimento prestado pelo bombeiro voluntário aumenta a segurança d<strong>os</strong><br />

<strong>para</strong>naenses e a preservação <strong>de</strong> n<strong>os</strong>sas reservas naturais", afirmou o coor<strong>de</strong>nador da Defesa Civil,<br />

Tenente-Coronel Washington Alves da R<strong>os</strong>a.<br />

A situação se torna muito grave na medida em que <strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> não<br />

p<strong>os</strong>suem recurs<strong>os</strong> suficientes <strong>para</strong> criar e equipar novas unida<strong>de</strong>s e admitir o efetivo necessário<br />

<strong>para</strong> executar o atendimento nas localida<strong>de</strong>s que não dispõem do serviço.<br />

Qualquer brasileiro que visitar um <strong>de</strong>sses municípi<strong>os</strong> sem corpo <strong>de</strong><br />

bombeir<strong>os</strong> e mesmo o turista estrangeiro que sofrer um aci<strong>de</strong>nte ou tiver o imóvel on<strong>de</strong> se<br />

h<strong>os</strong>pe<strong>de</strong> ou seu automóvel incendiado, não po<strong>de</strong>rá contar com um socorro em tempo-resp<strong>os</strong>ta<br />

a<strong>de</strong>quado, pois o mesmo virá <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> vizinha, que certamente estará distante e reclamará<br />

<strong>para</strong> seus munícipes o atendimento prioritário.<br />

Os corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> militares p<strong>os</strong>suem uma gran<strong>de</strong> administração<br />

comp<strong>os</strong>ta pel<strong>os</strong> integrantes d<strong>os</strong> vári<strong>os</strong> p<strong>os</strong>t<strong>os</strong> e graduações, que são <strong>os</strong> oficiais (coronel, tenentecoronel,<br />

major, capitão, primeiro-tenente, segundo-tenente, aspirante-a-oficial) e praças<br />

(subtenente, primeiro-sargento, segundo-sargento, terceiro-sargento, cabo e soldado),<br />

respectivamente, arcando com o pagamento d<strong>os</strong> venciment<strong>os</strong> <strong>de</strong>sses servidores, incluindo <strong>os</strong><br />

inativ<strong>os</strong>.<br />

No corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> municipal ou <strong>de</strong> voluntári<strong>os</strong>, a administração é<br />

local e comp<strong>os</strong>ta por conselho gestor com participação <strong>de</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> segment<strong>os</strong> da socieda<strong>de</strong> civil<br />

organizada, formado por representantes do Po<strong>de</strong>r Executivo municipal, Câmara Municipal,<br />

Ministério Público, Or<strong>de</strong>m d<strong>os</strong> Advogad<strong>os</strong> do Brasil, Associação Comercial, conselh<strong>os</strong><br />

profissionais e institucionais, como o Conselho Regional <strong>de</strong> Engenharia e Arquitetura, conselh<strong>os</strong><br />

municipais <strong>de</strong> educação, saú<strong>de</strong> e segurança, entida<strong>de</strong>s e clubes <strong>de</strong> serviço como Maçonaria, Lions<br />

e Rotary, associações <strong>de</strong> moradores e organizações não-governamentais diversas. Isso confere<br />

25


legitimida<strong>de</strong> e transparência, principalmente na administração <strong>de</strong> recurs<strong>os</strong> públic<strong>os</strong> que<br />

eventualmente lhe sejam <strong>de</strong>stinad<strong>os</strong>.<br />

O atendimento <strong>de</strong> emergências é feito por um pequeno grupo <strong>de</strong><br />

bombeir<strong>os</strong> profissionais civis contratad<strong>os</strong> pela entida<strong>de</strong>, complementad<strong>os</strong> por uma maioria <strong>de</strong><br />

voluntári<strong>os</strong>, com a vantagem <strong>de</strong> não sofrer com as constantes <strong>os</strong>cilações n<strong>os</strong> programas <strong>de</strong><br />

investimento e custeio, durante as trocas <strong>de</strong> governo, muito freqüentes no caso d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong><br />

militares.<br />

Des<strong>de</strong> a Constituição <strong>de</strong> 1988 há tendência à <strong>de</strong>scentralização da<br />

execução d<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> sociais bem como d<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> orçamentári<strong>os</strong> <strong>para</strong> <strong>os</strong> estad<strong>os</strong> e<br />

municípi<strong>os</strong>, com o conseqüente aumento na repartição da receita tributária. Os avanç<strong>os</strong> no<br />

sentido <strong>de</strong> conce<strong>de</strong>r maior autonomia na execução <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong> e <strong>de</strong> favorecer as unida<strong>de</strong>s<br />

subnacionais é dificultada pela cultura política segundo a qual cabe à União promover<br />

diretamente o <strong>de</strong>senvolvimento social. Isso contradiz a tradição municipalista brasileira, que vem<br />

do período colonial, que a<strong>os</strong> pouc<strong>os</strong> vai se firmando, à medida que <strong>os</strong> municípi<strong>os</strong> vêm assumindo<br />

crescentes responsabilida<strong>de</strong>s na área social.<br />

Com a crescente participação da socieda<strong>de</strong> civil n<strong>os</strong> <strong>de</strong>stin<strong>os</strong> das<br />

comunida<strong>de</strong>s, por intermédio das entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> direito privado sem fins lucrativ<strong>os</strong> como as<br />

organizações não-governamentais (ONG), organizações sociais (OS) e organizações da socieda<strong>de</strong><br />

civil <strong>de</strong> interesse público (OSCIP), há a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maior integração <strong>de</strong>ssas entida<strong>de</strong>s<br />

visando a consecução das <strong>de</strong>mandas locais. Desta forma, o Município po<strong>de</strong> estabelecer parcerias,<br />

firmar contrat<strong>os</strong> <strong>de</strong> gestão e celebrar convêni<strong>os</strong> com tais entida<strong>de</strong>s, mediante legislação estadual<br />

que lhe transfira essa prerrogativa, quando o próprio Estado não seja capaz <strong>de</strong> fazê-lo, seja por<br />

insuficiência <strong>de</strong> recurs<strong>os</strong>, seja pela natural vocação da municipalida<strong>de</strong> em prover com mais<br />

efetivida<strong>de</strong> as <strong>necessida<strong>de</strong></strong>s imediatas da população.<br />

O direito a dotação orçamentária aliado ao investimento privado local<br />

traria, a par <strong>de</strong> maior autonomia, mais transparência na execução d<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong>, pela maior<br />

responsabilida<strong>de</strong> exigida d<strong>os</strong> dirigentes, dado o controle social direto por parte da socieda<strong>de</strong>,<br />

redundando em eficiência e qualida<strong>de</strong> d<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> prestad<strong>os</strong> ao cidadão-cliente a um custo<br />

menor, conforme preconiza o próprio plano diretor da reforma do aparelho do estado.<br />

A criação <strong>de</strong> corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> municipais ou <strong>de</strong> voluntári<strong>os</strong> n<strong>os</strong><br />

municípi<strong>os</strong> on<strong>de</strong> não há corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> militar po<strong>de</strong>rá se transformar em um gran<strong>de</strong><br />

programa <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> emprego a baixo custo, no caso d<strong>os</strong> primeir<strong>os</strong>, além d<strong>os</strong> empreg<strong>os</strong><br />

diret<strong>os</strong> nas ONG, <strong>os</strong> indiret<strong>os</strong> nas fábricas <strong>de</strong> viaturas, equipament<strong>os</strong>, materiais e uniformes.<br />

Po<strong>de</strong>rá se transformar, ainda, em um gran<strong>de</strong> programa <strong>de</strong> inclusão social, pois muit<strong>os</strong> jovens que<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> criança sonham em ser bombeir<strong>os</strong>, terão muito mais oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> realizar o sonho no<br />

próprio Município, sem o inconveniente <strong>de</strong> prestarem concurso e freqüentarem curs<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

formação nas capitais. Além disso, po<strong>de</strong>rão, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> crianças, iniciar-se na condição <strong>de</strong> bombeiromirim,<br />

po<strong>de</strong>ndo se tornar voluntári<strong>os</strong>, a partir da maiorida<strong>de</strong> ou tornarem-se bombeir<strong>os</strong><br />

profissionais contratad<strong>os</strong> pela ONG.<br />

26


Nas hipóteses mencionadas <strong>de</strong> incêndi<strong>os</strong> e queimadas pelo país, que<br />

simplesmente não são combatid<strong>os</strong> porque não há corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> no Município ou porque o<br />

efetivo do corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> militar no local é insuficiente, o corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntário,<br />

além <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r contar com um efetivo maior, po<strong>de</strong>rá também receber recurs<strong>os</strong> <strong>de</strong> organizações<br />

internacionais <strong>de</strong> proteção ao meio-ambiente, por ser uma ONG.<br />

Há vári<strong>os</strong> exempl<strong>os</strong> comprovando que a atuação d<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> é perfeitamente viável, especialmente em alguns municípi<strong>os</strong> da Região Sul<br />

do país. Assim, no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul há 40 municípi<strong>os</strong> atendid<strong>os</strong> por corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong><br />

voluntári<strong>os</strong> e em Santa Catarina, 35, sendo que o <strong>de</strong> Joinvile tem 113 an<strong>os</strong>. Há unida<strong>de</strong>s em<br />

Itapetininga e São Sebastião, no Estado <strong>de</strong> São Paulo e em Estância Velha, no Estado do Espírito<br />

Santo. Tais entida<strong>de</strong>s seguem a cultura <strong>de</strong> países europeus. Os principais entraves ao perfeito<br />

funcionamento <strong>de</strong>ssas entida<strong>de</strong>s são a falta <strong>de</strong> legislação que as ampare e, por conseguinte, a<br />

escassez <strong>de</strong> recurs<strong>os</strong>, bem como a histórica aversão das corporações militares à plena<br />

<strong>de</strong>sincumbência <strong>de</strong> sua vocação.<br />

O exemplo mais marcante sobre bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> no país, porém,<br />

está em Santa Catarina, principalmente, além do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, on<strong>de</strong> autênticas corporações<br />

<strong>de</strong> voluntári<strong>os</strong> foram fundadas e são mantidas pela comunida<strong>de</strong>, em sua maioria, ainda que<br />

contem com auxíli<strong>os</strong> e subvenções diversas.<br />

Conforme divulgado pelo próprio Corpo <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong> Voluntári<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

Joinville, <strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> são umas das mais preci<strong>os</strong>as e <strong>de</strong>dicadas instituições da<br />

Alemanha. Com um sentimento elevado <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> e com o espírito disciplinado d<strong>os</strong><br />

alemães, é que surgiu a iniciativa <strong>de</strong> instalar <strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> também em<br />

Joinville. A exemplo do que ocorria nas cida<strong>de</strong>s da Alemanha, <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> imigrantes da então<br />

colônia Dona Francisca resolveram dar um basta no corre-corre da população com panelas e<br />

bal<strong>de</strong>s <strong>para</strong> acalmar as brasas que consumiam <strong>os</strong> imóveis <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira.<br />

Sob <strong>os</strong> lemas "Um por tod<strong>os</strong> e tod<strong>os</strong> por um" e "Em nome <strong>de</strong> Deus e<br />

em <strong>de</strong>fesa do próximo", exigia d<strong>os</strong> soldad<strong>os</strong> que f<strong>os</strong>sem honest<strong>os</strong> e máscul<strong>os</strong> e não tivessem vida<br />

promíscua. Sobrieda<strong>de</strong>, pontualida<strong>de</strong>, perseverança, disciplina e obediência hierárquica eram suas<br />

obrigações.<br />

Característica interessante do grau <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> e comprometimento<br />

é que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1923, há um acordo com <strong>os</strong> taxistas ("aut<strong>os</strong>-<strong>de</strong>-praças"), <strong>para</strong> transportarem <strong>os</strong><br />

bombeir<strong>os</strong> gratuitamente em caso <strong>de</strong> acionamento real. De 1940 a 1970 havia um sistema <strong>de</strong><br />

sirene central, que foi substituído por guarnição profissional em regime <strong>de</strong> plantão permanente.<br />

Além das ativida<strong>de</strong>s-fim, a corporação mantém ativida<strong>de</strong>s culturais que<br />

incluem as apresentações da Banda do Corpo <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong> Voluntári<strong>os</strong> e a manutenção do<br />

Museu Nacional do Bombeiro.<br />

Hoje, além da categoria <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> propriamente dita, há<br />

a d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> mirins e a d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> aspirantes. A categoria d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> mirins, integra<br />

27


crianças <strong>para</strong> o aprendizado do civismo, a convivência com o voluntariado e a pre<strong>para</strong>ção d<strong>os</strong><br />

futur<strong>os</strong> cidadã<strong>os</strong>-bombeir<strong>os</strong>. Em seguida <strong>os</strong> adolescentes passam a aspirantes, já com<br />

treinamento específico <strong>para</strong> a ativida<strong>de</strong>, mediante frequência ao Curso <strong>de</strong> Formação <strong>de</strong><br />

Bombeir<strong>os</strong> Voluntári<strong>os</strong> Operacionais (CFBVO). Esse curso habilita o conclu<strong>de</strong>nte <strong>para</strong> exercício<br />

da profissão <strong>de</strong> bombeiro profissional civil, reconhecido pelo Serviço Nacional <strong>de</strong> Aprendizagem<br />

Comercial (Senac), mediante convênio com a Abvesc. Assumem a condição <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> ativ<strong>os</strong><br />

ao atingir a ida<strong>de</strong> adulta.<br />

Para se ter uma idéia da completu<strong>de</strong> e serieda<strong>de</strong> com que é tratada a<br />

pre<strong>para</strong>ção do futuro bombeiro voluntário, apenas um d<strong>os</strong> cinco módul<strong>os</strong> <strong>de</strong> formação <strong>de</strong><br />

bombeiro-mirim comporta as seguintes ativida<strong>de</strong>s: or<strong>de</strong>m unida, combate a incêndio, primeir<strong>os</strong><br />

socorr<strong>os</strong>, resgate veicular e salvament<strong>os</strong>, complementado com ativida<strong>de</strong>s educativas sobre<br />

trânsito, educação moral e cívica, prevenção às drogas e ao alcoolismo, palestras sobre educação<br />

sexual, iniciação à ativida<strong>de</strong> musical (através da banda d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong>) e natação.<br />

Entenda-se que as categorias <strong>de</strong> base, como <strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong>-mirins, não<br />

são formad<strong>os</strong> apenas por crianças carentes, mo<strong>de</strong>lo que algumas corporações <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong><br />

militares adota, complementando, inclusive a alimentação d<strong>os</strong> menin<strong>os</strong>, o que é extremamente<br />

louvável. Nas corporações <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>, <strong>os</strong> candidat<strong>os</strong> não precisam ser carentes,<br />

mas precisam estar estudando e comprovar aproveitamento escolar, sob pena <strong>de</strong> suspensão e até<br />

exclusão da corporação. Essa dificulda<strong>de</strong> é rara, pois a vocação <strong>para</strong> ser um bombeiro voluntário<br />

é inculcada nas crianças pel<strong>os</strong> própri<strong>os</strong> pais, também eles bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>, bem como pela<br />

comunida<strong>de</strong>, que vê na ativida<strong>de</strong> uma causa social <strong>de</strong> relevante importância.<br />

Por essa razão, também, é que a<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> adult<strong>os</strong> é exigido perfil<br />

moral ilibado, além <strong>de</strong> emprego formal, pois as corporações não po<strong>de</strong>m correr o risco <strong>de</strong><br />

eventuais reclamações trabalhistas, que se dariam na hipótese <strong>de</strong> admitirem alguém que viesse a<br />

alegar relação empregatícia com a associação.<br />

distinção <strong>de</strong> sexo:<br />

Como bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>, tem<strong>os</strong> as seguintes categorias, sem<br />

Bombeir<strong>os</strong> Voluntári<strong>os</strong> Operacionais<br />

Congrega pessoas com ida<strong>de</strong> superior a <strong>de</strong>zoito an<strong>os</strong>, que atuam<br />

operacionalmente nas mais diversas ativida<strong>de</strong>s da corporação, como combate a incêndi<strong>os</strong>, resgate<br />

veicular, salvamento aquático e atendimento pré-h<strong>os</strong>pitalar (ambulâncias). São formad<strong>os</strong> como<br />

socorristas, motoristas, mergulhadores, salva-vidas e instrutores, recebendo treinamento uma vez<br />

por semana, dividid<strong>os</strong> em seis grup<strong>os</strong>. A integração <strong>de</strong>ssa categoria tem por objetivo, ainda,<br />

iniciar e aperfeiçoar n<strong>os</strong> cidadã<strong>os</strong>, <strong>os</strong> estud<strong>os</strong> e práticas <strong>de</strong> prevenção, contribuindo na<br />

disseminação <strong>de</strong>stas, através da educação continuada, ressaltando a prática da atuação voluntária,<br />

da educação, da moral, d<strong>os</strong> bons c<strong>os</strong>tumes, da disciplina e do respeito a<strong>os</strong> símbol<strong>os</strong> nacionais. A<br />

28


formação inicial básica é <strong>de</strong> 180 horas/aula (teóricas e práticas). Exige-se do candidato ter aptidão<br />

física e mental, saber nadar, p<strong>os</strong>suir escolarida<strong>de</strong> do nível médio, residir em Joinville e não<br />

p<strong>os</strong>suir antece<strong>de</strong>ntes criminais.<br />

Bombeir<strong>os</strong> Voluntári<strong>os</strong> <strong>de</strong> Honra<br />

Abrange pessoas que tenham totalizado mais <strong>de</strong> vinte an<strong>os</strong> <strong>de</strong> serviço à<br />

corporação, que atuam operacionalmente nas p<strong>os</strong>ições <strong>de</strong> retaguarda e orientação. Sua larga<br />

experiência e conhecimento é aproveitada <strong>para</strong> auxiliar na disseminação d<strong>os</strong> estud<strong>os</strong> e práticas <strong>de</strong><br />

prevenção, servindo <strong>de</strong> exemplo vivo <strong>para</strong> <strong>os</strong> <strong>de</strong>mais, ressaltando a prática da atuação voluntária,<br />

da educação, da moral, d<strong>os</strong> bons c<strong>os</strong>tumes, da disciplina e do respeito a<strong>os</strong> símbol<strong>os</strong> nacionais.<br />

Voluntári<strong>os</strong> Estagiári<strong>os</strong> Operacionais<br />

Não são propriamente bombeir<strong>os</strong>, mas estudantes <strong>de</strong> medicina, médic<strong>os</strong><br />

ou enfermeir<strong>os</strong> formad<strong>os</strong>, que atuam operacionalmente nas p<strong>os</strong>ições <strong>de</strong> retaguarda participando<br />

<strong>de</strong> ocorrências, no socorro às vítimas, ao mesmo tempo apren<strong>de</strong>ndo e ensinando durante sua<br />

atuação.<br />

Voluntári<strong>os</strong> Não Operacionais<br />

Tratam-se <strong>de</strong> pessoas que auxiliam a corporação n<strong>os</strong> mais divers<strong>os</strong><br />

serviç<strong>os</strong>, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> suas especialida<strong>de</strong>s e p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong>s, incluindo profissionais que p<strong>os</strong>sam<br />

<strong>de</strong>dicar seu tempo e habilida<strong>de</strong> no serviço <strong>de</strong> administração e manutenção d<strong>os</strong> edifíci<strong>os</strong> e<br />

equipament<strong>os</strong>, principalmente.<br />

Bombeir<strong>os</strong> Voluntári<strong>os</strong> Brigadistas Industriais<br />

Compõe-se <strong>de</strong> trabalhadores <strong>de</strong> empresas da cida<strong>de</strong>, que integram as<br />

brigadas industriais e ficam à disp<strong>os</strong>ição da corporação n<strong>os</strong> cas<strong>os</strong> <strong>de</strong> sinistr<strong>os</strong> e calamida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

maiores proporções. Recebem treinament<strong>os</strong> da corporação, e po<strong>de</strong>m participar em regime <strong>de</strong><br />

estágio nas ativida<strong>de</strong>s operacionais. Algumas empresas liberam seus empregad<strong>os</strong> <strong>para</strong> <strong>os</strong><br />

treinament<strong>os</strong> periodicamente, sem <strong>de</strong>sconto do dia <strong>de</strong> trabalho.<br />

Os bombeir<strong>os</strong> efetiv<strong>os</strong> são bombeir<strong>os</strong> profissionais contratad<strong>os</strong> <strong>para</strong><br />

prestar serviço em tempo integral, atuando em conjunto com <strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> nas<br />

operações e programas <strong>de</strong> treinamento e <strong>de</strong> capacitação em todas as áreas atendidas pela<br />

corporação.<br />

Em 9 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1994, foi constituída em Joinville a Associação d<strong>os</strong><br />

Bombeir<strong>os</strong> Voluntári<strong>os</strong> no Estado <strong>de</strong> Santa Catarina (Abvesc), cuj<strong>os</strong> objetiv<strong>os</strong> são <strong>os</strong> seguintes:<br />

Busca <strong>de</strong> melhora na participação do Estado, Municípi<strong>os</strong> e outr<strong>os</strong>,<br />

no apoio financeiro às corporações <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>;<br />

Criação <strong>de</strong> campanha institucional <strong>para</strong> divulgação do sistema <strong>de</strong><br />

bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>;<br />

29


Elaboração <strong>de</strong> diagnóstic<strong>os</strong> sobre as reais <strong>necessida<strong>de</strong></strong>s presentes,<br />

das corporações <strong>para</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> soluções;<br />

Divulgação da Abvesc e sistema <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> junto<br />

a<strong>os</strong> candidat<strong>os</strong> a carg<strong>os</strong> eletiv<strong>os</strong>;<br />

Produção <strong>de</strong> “Termo <strong>de</strong> Referência”, or<strong>de</strong>nando ações voltadas a<br />

multiplicação <strong>de</strong> corporações voluntárias em Santa Catarina.<br />

Desenca<strong>de</strong>amento da chamada “Operação França”, com<br />

intermediação do Cônsul Honorário da França, negociando empréstimo<br />

naquele país, <strong>para</strong> reequipar bombeir<strong>os</strong> através do Governo do Estado e<br />

a Sofremi – Socieda<strong>de</strong> Francesa da Exportação, do Ministério do<br />

Interior.<br />

Obtenção junto ao Confaz 2 <strong>de</strong> isenção <strong>de</strong> ICMS 3 <strong>para</strong> as<br />

corporações <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong>.<br />

Busca <strong>de</strong> cooperação da Usaid 4 e U<strong>de</strong>sc 5 .<br />

Estímulo à criação <strong>de</strong> novas corporações voluntárias.<br />

Promoção <strong>de</strong> ações <strong>para</strong> aglutinar corporações.<br />

Busca <strong>de</strong> melhor intercâmbio entre as entida<strong>de</strong>s e comunicação.<br />

Realização <strong>de</strong> reuniões bimestrais <strong>de</strong> Comandantes <strong>para</strong> adoção <strong>de</strong><br />

um uniforme operacional único <strong>para</strong> todas, bem como padronização <strong>de</strong><br />

procediment<strong>os</strong> criando uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> única (“rótulo próprio”<br />

procediment<strong>os</strong>, cor <strong>de</strong> veícul<strong>os</strong> etc.).<br />

Criação <strong>de</strong> uma Diretoria <strong>de</strong> Ensino <strong>para</strong> buscar o aprimoramento<br />

técnico <strong>para</strong> serm<strong>os</strong> respeitad<strong>os</strong>.<br />

Prop<strong>os</strong>ição <strong>de</strong> curs<strong>os</strong>, <strong>de</strong> modo a homologar padrões <strong>de</strong><br />

capacitação <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>.<br />

Adoção <strong>de</strong> critéri<strong>os</strong> mínim<strong>os</strong> <strong>para</strong> a abertura <strong>de</strong> novas<br />

corporações (viabilida<strong>de</strong> técnica, financeira, econômica e contando com<br />

a participação das li<strong>de</strong>ranças locais que lhe proporcionem a sustentação.<br />

Estabelecimento <strong>de</strong> uma força tarefa <strong>para</strong> ajudar as corporações<br />

mais carentes, através <strong>de</strong> cessão <strong>de</strong> materiais e equipament<strong>os</strong> através das<br />

próprias co-irmãs.<br />

Contato com o Comandante Geral da Polícia Militar <strong>de</strong> Santa<br />

Catarina (PMSC), à qual se subordina <strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> militares, <strong>para</strong><br />

reduzir enfrentament<strong>os</strong> entre escalões menores ligad<strong>os</strong> ao corpo <strong>de</strong><br />

bombeir<strong>os</strong> militares.<br />

Acompanhamento da elaboração <strong>de</strong> convêni<strong>os</strong> buscando garantir<br />

2 Conselho Nacional <strong>de</strong> Política Fazendária, órgão do Ministério da Fazenda.<br />

3 Imp<strong>os</strong>to sobre Operações relativas à Circulação <strong>de</strong> Mercadorias e Prestação <strong>de</strong> Serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> Transporte<br />

Interestadual e Intermunicipal e <strong>de</strong> Comunicação, tributo a cargo d<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> e Distrito Fe<strong>de</strong>ral.<br />

4 United States Agency for International Development.<br />

5 Universida<strong>de</strong> do Estado <strong>de</strong> Santa Catarina.<br />

30


<strong>os</strong> repasses mínim<strong>os</strong> a todas as entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>.<br />

Estímulo e fortalecimento das pequenas corporações <strong>para</strong> que<br />

tenham condições <strong>de</strong> m<strong>os</strong>trar sua força voluntária, procurando ser<br />

eficientes em cada p<strong>os</strong>to <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>, criando condições <strong>para</strong> pleno<br />

atendimento no entorno <strong>de</strong> cada jurisdição.<br />

Estabelecimento <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> valorização e <strong>de</strong> difusão do<br />

voluntariado bombeiril.<br />

São associad<strong>os</strong> à Abvesc as corporações das seguintes cida<strong>de</strong>s:<br />

Fraiburgo, Seara, União (Ro<strong>de</strong>io - Ascurra - Apiúna), Caçador, Indaial, Concórdia, São Francisco<br />

do Sul, Pomero<strong>de</strong>, Massaranduba, Treze Tílias, Ipumirim e São Bento do Sul.<br />

Como exemplo do trabalho realizado, m<strong>os</strong>tram<strong>os</strong>, n<strong>os</strong> Quadr<strong>os</strong> 6.1, 6.2<br />

e 6.3, respectivamente, <strong>os</strong> atendiment<strong>os</strong> prestad<strong>os</strong> à população no ano <strong>de</strong> 2003, n<strong>os</strong> vári<strong>os</strong><br />

municípi<strong>os</strong> da região, o número <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> e a participação na distribuição d<strong>os</strong><br />

repasses financeir<strong>os</strong> às corporações locais.<br />

Quadro 6.1 – Atendiment<strong>os</strong> prestad<strong>os</strong> à população – 2003.<br />

Cida<strong>de</strong> Incêndi<strong>os</strong> Pré-H<strong>os</strong>pitalar Extraordinári<strong>os</strong> Total<br />

Arabutã 9 42 37 88<br />

Ascurra/Apiúna/Ro<strong>de</strong>io 89 1.568 281 1.938<br />

Barra do Sul 34 304 382 720<br />

Barra Velha 87 968 485 1.540<br />

Caçador 311 6.068 2.192 8.571<br />

Camboriú 11 603 295 909<br />

Concórdia 113 2.692 504 3.309<br />

Corupá 65 2.681 859 3.605<br />

Fraiburgo 93 2.158 57 2.308<br />

Guaramirim 27 2.617 1.055 3.699<br />

Ibirama 96 1.526 133 1.755<br />

Indaial 133 1.158 283 1.574<br />

Ipumirim 42 409 112 563<br />

Irani 38 523 78 639<br />

Itaiópolis 109 804 382 1.295<br />

Jaraguá do Sul 194 14.044 1.770 16.008<br />

Joinville 825 11.825 878 13.528<br />

Lebon Regis 28 389 27 444<br />

Lindóia 27 99 97 223<br />

Massaranduba 22 1.154 113 1.289<br />

Navegantes 12 238 125 375<br />

Passo <strong>de</strong> Torres 13 37 382 432<br />

Penha/Piçarras 75 3.589 183 3.847<br />

Pomero<strong>de</strong> 30 766 234 1.030<br />

Presi<strong>de</strong>nte Getúlio 5 130 98 233<br />

Rio das Antas 22 210 38 270<br />

São Bento do Sul 13 154 12 179<br />

São Francisco do Sul 81 5.009 1.327 6.417<br />

Seara/Itá 15 592 103 710<br />

Treze Tílias 12 10 51 73<br />

Total 2.631 62.367 12.573 77.571<br />

Fonte: Abvesc/2003.<br />

31


Quadro 6.2 – Distribuição regional do efetivo das corporações.<br />

Regionais Cida<strong>de</strong>s Efetivo Presi<strong>de</strong>nte 6<br />

1 – Região Norte/Nor<strong>de</strong>ste<br />

(10 cida<strong>de</strong>s)<br />

2 – Região Meio<br />

Oeste e Planalto<br />

(5 cida<strong>de</strong>s)<br />

3 – Região Alto Uruguai<br />

(6 cida<strong>de</strong>s)<br />

4 – Região Vale do<br />

Itajaí e Sul<br />

(9 cida<strong>de</strong>s)<br />

Balneário Barra do Sul 25<br />

Barra Velha 21<br />

Corupá 11<br />

Guaramirim 14<br />

Itaiópolis 20<br />

Jaraguá do Sul 03<br />

Joinville 01<br />

Massaranduba 29<br />

São Bento do Sul 02<br />

São Francisco do Sul 07<br />

Caçador 04<br />

Fraiburgo 05<br />

Lebon Regis 35<br />

Rio das Antas 19<br />

Treze Tílias 17<br />

Arabutã 12<br />

Concórdia 06<br />

Lindoia do Sul 23<br />

Ipumirim 16<br />

Irani 22<br />

Seara 09<br />

Ascurra 32<br />

Camboriú 33<br />

Ibirama 10<br />

Indaial 27<br />

Navegantes 08<br />

Passo <strong>de</strong> Torres 30<br />

Penha/Piçarras 31<br />

Presi<strong>de</strong>nte Getúlio 37<br />

Pomero<strong>de</strong> 18<br />

Total 30<br />

Fonte: Abvesc (com adaptação).<br />

6 Sem dad<strong>os</strong>.<br />

32


Quadro 6.3 – Distribuição d<strong>os</strong> repasses às corporações.<br />

Cida<strong>de</strong><br />

Valor da<br />

dotação<br />

mínima (R$)<br />

Valor<br />

Ativ<strong>os</strong><br />

(R$) 7<br />

Valor da<br />

dotação<br />

máxima (R$)<br />

Valor<br />

Custo Fixo<br />

(R$) 8<br />

Ajuste da<br />

dotação<br />

(R$)<br />

Arabutã 18.000,00 25.000,00 25.000,00<br />

Ascurra/Apiúna/Ro<strong>de</strong>io 18.000,00 25.000,00 25.000,00<br />

Barra do Sul 18.000,00 25.000,00 25.000,00<br />

Barra Velha 18.000,00 25.000,00 25.000,00<br />

Caçador 25.000,00 36.000,00 65.598,82<br />

Camboriú 18.000,00 25.000,00 25.000,00<br />

Concórdia 25.000,00 36.000,00 65.598,82<br />

Corupá 18.000,00 25.000,00 34.530,94<br />

Fraiburgo 18.000,00 25.000,00 36.630,84<br />

Guaramirim 18.000,00 25.000,00 34.530,34<br />

Ibirama 18.000,00 25.000,00 25.824,48<br />

Indaial 18.000,00 25.000,00 25.000,00<br />

Ipumirim 18.000,00 25.000,00 25.000,00<br />

Irani 18.000,00 25.000,00 25.000,00<br />

Itaiópolis 18.000,00 25.000,00 25.000,00<br />

Jaraguá do Sul 25.000,00 36.000,00 129.666,77<br />

Joinville 25.000,00 36.000,00 503.210,14<br />

Lebon Regis 18.000,00 25.000,00 25.000,00<br />

Lindóia 18.000,00 25.000,00 25.000,00<br />

Massaranduba 18.000,00 25.000,00 25.000,00<br />

Navegantes 18.000,00 25.000,00 25.000,00<br />

Passo <strong>de</strong> Torres 18.000,00 25.000,00 25.000,00<br />

Penha/Piçarras 18.000,00 25.000,00 25.000,00<br />

Pomero<strong>de</strong> 18.000,00 25.000,00 25.000,00<br />

Presi<strong>de</strong>nte Getúlio 18.000,00 25.000,00 25.000,00<br />

Rio das Antas 18.000,00 25.000,00 25.000,00<br />

São Bento do Sul 25.000,00 36.000,00 36.000,00<br />

São Francisco do Sul 18.000,00 25.000,00 25.000,00<br />

Seara/Itá 18.000,00 25.000,00 25.000,00<br />

Treze Tílias 18.000,00 25.000,00 25.000,00<br />

Total 575.000,00 805.000,00 1.456.591,15<br />

Fonte: Abvesc/2003.<br />

7 Não há dad<strong>os</strong>.<br />

8 Não há dad<strong>os</strong>.<br />

33


Para não ficarm<strong>os</strong> num só exemplo, abordarem<strong>os</strong> <strong>os</strong> Bombeir<strong>os</strong><br />

Voluntári<strong>os</strong> <strong>de</strong> Concórdia, Estado <strong>de</strong> Santa Catarina, mantid<strong>os</strong> pela Associação <strong>de</strong> Serviç<strong>os</strong><br />

Sociais Voluntári<strong>os</strong> <strong>de</strong> Concórdia, fundada em 1979. A corporação surgiu da <strong>necessida<strong>de</strong></strong> da<br />

empresa Sadia em proteger seu patrimônio, contando, <strong>de</strong>pois, com a parceria da Prefeitura do<br />

Município.<br />

Tendo como missão “Salvar vidas e patrimôni<strong>os</strong>”, tem <strong>de</strong>ntre suas<br />

principais funções: combate a incêndi<strong>os</strong> em geral; prestação <strong>de</strong> atendimento a vítimas <strong>de</strong><br />

aci<strong>de</strong>ntes em geral; prestação <strong>de</strong> atendimento a vítimas <strong>de</strong> mal súbito; transporte <strong>de</strong> pessoas<br />

aci<strong>de</strong>ntadas; salvamento em altura; captura <strong>de</strong> animais selvagens e peçonhent<strong>os</strong>; resgate aquático;<br />

part<strong>os</strong> emergenciais; transporte <strong>de</strong> água durante a estiagem; busca <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong>saparecidas;<br />

vistorias contra incêndi<strong>os</strong>; palestras preventivas; treinamento <strong>de</strong> brigadas <strong>de</strong> incêndio; auxilio em<br />

alagament<strong>os</strong> e enchentes bem como em <strong>de</strong>stelhament<strong>os</strong> e vendavais; atuação junto à <strong>de</strong>fesa civil<br />

e formação <strong>de</strong> nov<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>. Realiza trabalh<strong>os</strong> preventiv<strong>os</strong> e <strong>de</strong> orientação à<br />

população, através <strong>de</strong> palestras, curs<strong>os</strong> e treinament<strong>os</strong>. Oferece diariamente informações <strong>de</strong><br />

segurança e sobre fat<strong>os</strong> ocorrid<strong>os</strong> à comunida<strong>de</strong>, através d<strong>os</strong> mei<strong>os</strong> <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa, no<br />

“informe central d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>”.<br />

Filiada a Abvesc e à OBA (Organização d<strong>os</strong> Bombeir<strong>os</strong> American<strong>os</strong>), é<br />

igualmente reconhecida como <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> pública pelo Município, pelo Estado e pela União.<br />

A corporação p<strong>os</strong>sui seu quartel próprio com 1.691,92 metr<strong>os</strong><br />

quadrad<strong>os</strong>, construído com recurs<strong>os</strong> da população através da conta <strong>de</strong> energia elétrica, recurs<strong>os</strong><br />

do po<strong>de</strong>r público municipal e doações espontâneas. A estrutura planejada conta com alojamento<br />

masculino e feminino, alojamento <strong>para</strong> instrutores, biblioteca, sala <strong>de</strong> reuniões, aca<strong>de</strong>mia, salão<br />

social com capacida<strong>de</strong> <strong>para</strong> 80 pessoas, auditório com capacida<strong>de</strong> <strong>para</strong> 120 pessoas, três salas<br />

administrativas, torre <strong>de</strong> treinament<strong>os</strong> e tanque <strong>para</strong> mergulh<strong>os</strong>.<br />

Dentre <strong>os</strong> sóci<strong>os</strong> ativ<strong>os</strong>, a corporação tem em seus quadr<strong>os</strong> 23<br />

bombeir<strong>os</strong> efetiv<strong>os</strong> operacionais, 3 bombeir<strong>os</strong> efetiv<strong>os</strong> administrativ<strong>os</strong>, 66 bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong><br />

operacionais, 5 membr<strong>os</strong> da diretoria executiva, 18 bombeir<strong>os</strong> mirins nível III (12 an<strong>os</strong>), 15<br />

bombeir<strong>os</strong> mirins nível II (11 an<strong>os</strong>) e 20 bombeir<strong>os</strong> mirins nível I (10 an<strong>os</strong>). O objetivo do corpo<br />

ativo é a prestação <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong> sociais voluntári<strong>os</strong>, nas áreas <strong>de</strong> segurança, saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong>fesa civil,<br />

visando a proteção e o salvamento d<strong>os</strong> bens e da vida <strong>de</strong> pessoas, no combate a incêndi<strong>os</strong> e<br />

outras calamida<strong>de</strong>s públicas.<br />

Presta atendimento <strong>de</strong> combate a incêndi<strong>os</strong>, primeir<strong>os</strong> socorr<strong>os</strong><br />

(atendimento pré-h<strong>os</strong>pitalar, aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trânsito, vítimas <strong>de</strong> trauma), busca e salvamento<br />

(terrestre, aquático e em altura), alagament<strong>os</strong>, <strong>de</strong>stelhament<strong>os</strong>, <strong>de</strong>sabament<strong>os</strong>, captura <strong>de</strong> animais,<br />

vistoria preventiva contra incêndio em edificações, realizada pelo Centro <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>s Técnicas<br />

(CAT), <strong>para</strong> “habite-se”, funcionamento e manutenção, além <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> projet<strong>os</strong>. Presta, ainda,<br />

outr<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong>, como palestras preventivas, formação <strong>de</strong> nov<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong>, formação <strong>de</strong><br />

brigadas <strong>de</strong> incêndio, curso <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> mirins, corte <strong>de</strong> árvores, segurança <strong>de</strong><br />

event<strong>os</strong> e participação em campanhas preventivas e educacionais.<br />

34


Dentre seus equipament<strong>os</strong>, p<strong>os</strong>sui nove viaturas, <strong>de</strong>sencarcerador, barco<br />

inflável e roupas <strong>de</strong> aproximação. Adotando a mo<strong>de</strong>rna concepção estratégica das empresas <strong>de</strong><br />

ponta, divulga sua missão, visão, valores e premissa assumida n<strong>os</strong> seguintes term<strong>os</strong>:<br />

Missão<br />

Promover, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r e manter serviç<strong>os</strong> que garantam a proteção<br />

humanitária contribuindo <strong>para</strong> a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da comunida<strong>de</strong> através da<br />

prevenção, educação e do atendimento operacional.<br />

Visão<br />

Ser reconhecida pela comunida<strong>de</strong> como a Entida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

representativida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> excelência na prestação <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeiro da região com<br />

compromisso <strong>de</strong> gerar projet<strong>os</strong> e empreen<strong>de</strong>r iniciativas na mobilização <strong>de</strong> pessoas e recurs<strong>os</strong><br />

voltad<strong>os</strong> ao <strong>de</strong>senvolvimento social.<br />

Valores<br />

Disciplina.<br />

Abnegação, Ética, Solidarieda<strong>de</strong>, Compromisso, Responsabilida<strong>de</strong>,<br />

Premissa Assumida<br />

Nenhum Bombeiro(a) po<strong>de</strong> ser lançado a ação sem contar com a perícia<br />

técnica necessária, <strong>para</strong> não agravar o dano da vítima e/ou colocar a sua própria vida em risco.<br />

7. PROPOSIÇÕES EXISTENTES<br />

especificida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ndo-se citar as seguintes:<br />

As prop<strong>os</strong>ições em andamento, a respeito do tema, não chegam a tais níveis <strong>de</strong><br />

- PL 2223/1996, do Deputado Padre Roque (PT/PR), que autoriza a organização <strong>de</strong><br />

corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> municipais voluntári<strong>os</strong> em cida<strong>de</strong>s e vilas não assistidas por <strong>de</strong>stacament<strong>os</strong><br />

locais do respectivo Corpo <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong> Militares. Arquivado em 8/2/2000.<br />

- PL 4875/1998, do Deputado Paulo Heslan<strong>de</strong>r (PTB/MG), que altera a Lei n.<br />

9608/1998, <strong>para</strong> consi<strong>de</strong>rar como serviço voluntário a ativida<strong>de</strong> não remunerada, prestada a<br />

qualquer entida<strong>de</strong> objetivando a <strong>de</strong>fesa ambiental e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Arquivado em 2/2/1999,<br />

por término <strong>de</strong> legislatura.<br />

- PL 508/2003, do Deputado Carl<strong>os</strong> Sampaio (PSDB/SP), que altera o art. 2º da Lei n.<br />

10.029, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2000, que estabelece normas gerais <strong>para</strong> a prestação voluntária <strong>de</strong><br />

serviç<strong>os</strong> administrativ<strong>os</strong> e <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong> auxiliares <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa civil nas Polícias Militares e<br />

n<strong>os</strong> Corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong> Militares, e dá outras providências, aumentando <strong>para</strong> dois an<strong>os</strong> a<br />

35


duração da prestação <strong>de</strong> serviço voluntário. Sem andamento na Comissão <strong>de</strong> Constituição e<br />

Justiça e <strong>de</strong> Cidadania (CCJC) <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 14/10/2008.<br />

- PL 1922/2003, do Deputado J<strong>os</strong>é Rajão (PSDB/DF), que institui Normas Gerais <strong>de</strong><br />

Segurança Contra Incêndi<strong>os</strong> e dá outras providências. Arquivado em 31/1/2007, por término <strong>de</strong><br />

legislatura.<br />

- PL 2285/2003, do Deputado San<strong>de</strong>s Júnior (PP/GO), que dispõe sobre a organização<br />

<strong>de</strong> brigadas <strong>de</strong> incêndio voluntárias.: Aguardando Parecer na CCJC <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 7/8/2008.<br />

- PL 2412/2003, do Deputado Carlito Merss (PT/SC), que confere ao Município <strong>de</strong><br />

Joinville, em Santa Catarina, o título <strong>de</strong> Capital Nacional d<strong>os</strong> Bombeir<strong>os</strong> Voluntári<strong>os</strong>. Aprovado e<br />

encaminhado ao Senado Fe<strong>de</strong>ral em 16/12/2008.<br />

- PL 6225/2005, do Deputado João Batista (PP/SP), que altera a Lei n. 9.608/1998, no<br />

sentido <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar como serviço voluntário a ativida<strong>de</strong> não remunerada <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa e proteção<br />

do meio ambiente. Arquivado em 31/1/2007, por término <strong>de</strong> legislatura.<br />

- PL 7008/2006, do Deputado Professor Irapuan Teixeira (PP/SP), que dispõe sobre o<br />

policiamento ambiental. Propunha a ação integrada entre <strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> militares, civis,<br />

comunitári<strong>os</strong> e <strong>de</strong> voluntári<strong>os</strong>, <strong>de</strong>fesa civil e guardas municipais, ao encontro da sistemática<br />

integração verificada entre <strong>os</strong> órgã<strong>os</strong> que compõem o Sistema Nacional <strong>de</strong> Meio Ambiente<br />

(Sisnama), em atendimento à Política Nacional do Meio Ambiente, com enfoque <strong>para</strong> as unida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> conservação e mananciais, conforme prescrito na Lei nº 6.938, <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> ag<strong>os</strong>to <strong>de</strong> 1981,<br />

regulamentada pelo Decreto nº 99.274, <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1990 e Lei nº 9.985, <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong><br />

2000. Devolvido ao autor, por vício <strong>de</strong> iniciativa.<br />

- PL 483/2007, do Deputado Felipe Bornier (PHS/RJ), que torna obrigatória a<br />

permanência <strong>de</strong> brigadistas <strong>de</strong> incêndio nas <strong>de</strong>pendências <strong>de</strong> órgã<strong>os</strong> públic<strong>os</strong> e empresas<br />

privadas. O projeto pretendia promover a prevenção contra sinistr<strong>os</strong>, mediante contratação <strong>de</strong><br />

brigadistas particulares ou formação <strong>de</strong>stes <strong>de</strong>ntre <strong>os</strong> própri<strong>os</strong> servidores ou funcionári<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> órgã<strong>os</strong>, entida<strong>de</strong>s e empresas. Rejeitado.<br />

- PL 1693/2007, do Deputado Lobbe Neto (PSDB/SP), que dispõe sobre a criação das<br />

brigadas comunitárias <strong>de</strong> combate a incêndi<strong>os</strong> florestais. Trata-se <strong>de</strong> Projeto <strong>de</strong> Lei apresentado<br />

pela "Deputada Jovem" Michelle Cristine <strong>de</strong> Almeida Silva, do Estado do Mato Gr<strong>os</strong>so, na 2ª<br />

edição do Parlamento Jovem Brasileiro, realizado em 2005, na Câmara d<strong>os</strong> Deputad<strong>os</strong>.<br />

Aguardando Parecer na Comissão <strong>de</strong> Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado<br />

(CSPCCO) <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 8/4/2008. Transcrevem<strong>os</strong> abaixo trech<strong>os</strong> interessantes do projeto:<br />

Art. 1º Fica autorizada a criação <strong>de</strong> brigadas comunitárias <strong>de</strong> prevenção <strong>de</strong> incêndi<strong>os</strong><br />

florestais, com o objetivo <strong>de</strong> acompanhar, educar, comunicar e agir na prevenção d<strong>os</strong> foc<strong>os</strong><br />

iniciais <strong>de</strong> fogo nas florestas.<br />

...............................................................................................................................................................<br />

36


Art. 3º As Brigadas Comunitárias Contra o Incêndio Florestal – BCIF serão constituídas<br />

por pessoas da comunida<strong>de</strong> que prestarão a<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> e a<strong>os</strong> Municípi<strong>os</strong> serviço voluntário n<strong>os</strong><br />

term<strong>os</strong> da Lei nº 9.608 <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1998.<br />

Art. 4º As brigadas comunitárias atuarão sempre em contato com o Corpo <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong><br />

militares e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e d<strong>os</strong> Recurs<strong>os</strong> Naturais Renováveis –<br />

IBAMA.<br />

- PL 3288/2008, do Deputado Major Fábio (DEM/PB), que altera a Lei n. 10.029, <strong>de</strong> 20<br />

<strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2000, que estabelece normas gerais <strong>para</strong> a prestação <strong>de</strong> serviço voluntário nas<br />

Polícias Militares e n<strong>os</strong> Corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong> Militares e dá outras providências, p<strong>os</strong>sibilitando a<br />

ampliação e a regionalização do serviço voluntário nas Polícias Militares e n<strong>os</strong> Corp<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

Bombeir<strong>os</strong> Militares, por meio <strong>de</strong> convênio d<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> e do Distrito Fe<strong>de</strong>ral com <strong>os</strong><br />

Municípi<strong>os</strong>. Aguarda parecer na Comissão <strong>de</strong> Trabalho, Administração e Serviço Público<br />

(CTASP) <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 13/5/2009.<br />

- PEC 346/2009, do Deputado Rodrigo Rollemberg (PSB/DF), que dá nova redação a<strong>os</strong><br />

arts. 21, 136, 144, 148 e acrescenta o Capítulo IV - Da Defesa Civil, no Título V - Da Defesa do<br />

Estado e das Instituições Democráticas na Constituição Fe<strong>de</strong>ral, incluindo capítulo referente à<br />

Defesa Civil e estabelecendo critéri<strong>os</strong> <strong>para</strong> a segurança da população em circunstâncias <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sastres naturais, antrópic<strong>os</strong> ou mist<strong>os</strong>, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s proporções, relacionad<strong>os</strong> às alterações<br />

climáticas e ambientais. Aguarda parecer na CCJC <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 30/4/2009. Propõe, <strong>de</strong>ntre outras<br />

medidas, acrescentar o inciso VII – Sistema Nacional <strong>de</strong> Defesa Civil, ao art. 144, e o art. 144-A,<br />

cujo caput e inciso V transcrevem<strong>os</strong> abaixo, por serem pertinentes ao tema:<br />

Art. 144-A. A <strong>de</strong>fesa civil, <strong>de</strong>ver do Estado, direito e<br />

responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tod<strong>os</strong>, será exercida mediante conjunto <strong>de</strong> ações educativas,<br />

preventivas, <strong>de</strong> socorro, assistenciais e reconstrutivas, <strong>de</strong>stinadas a evitar e minimizar<br />

<strong>de</strong>sastres <strong>de</strong> qualquer natureza, assim como mitigar <strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> <strong>de</strong> alterações climáticas<br />

e outras mudanças ambientais sobre a coletivida<strong>de</strong>, com o objetivo <strong>de</strong> preservar índices<br />

mínim<strong>os</strong> <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e normalida<strong>de</strong> econômica e social, por meio do Sistema<br />

Nacional <strong>de</strong> Defesa Civil – SINDEC, com a seguinte constituição:<br />

.........................................................................................................<br />

V – órgã<strong>os</strong> <strong>de</strong> apoio, constituíd<strong>os</strong> por instituições públicas, privadas e<br />

comunitárias, organizações não-governamentais, clubes <strong>de</strong> serviço e associações <strong>de</strong><br />

voluntári<strong>os</strong> que venham a participar do Sistema.<br />

- PL 5235/2009, do Deputado Paes <strong>de</strong> Lira (PTC/SP), que altera a Lei n. 11.530, <strong>de</strong> 24<br />

<strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2007, que institui o Programa Nacional <strong>de</strong> Segurança Pública com Cidadania -<br />

Pronasci, e a Lei n. 4.375, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> ag<strong>os</strong>to <strong>de</strong> 1964, Lei do Serviço Militar, e dá outras<br />

providências, incluindo no Pronasci o Projeto Policial/Bombeiro Cidadão. Aguarda parecer na<br />

Comissão <strong>de</strong> Relações Exteriores e Defesa Nacional (CREDN).<br />

- PL 5273/2009, do Senado Fe<strong>de</strong>ral, dá nova redação ao art. 3º da Lei n. 10.029, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong><br />

outubro <strong>de</strong> 2000, que estabelece normas gerais <strong>para</strong> a prestação voluntária <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong><br />

administrativ<strong>os</strong> e <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong> auxiliares <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa civil nas Polícias Militares e n<strong>os</strong><br />

37


Corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong> Militares e dá outras providências, autorizando a admissão <strong>de</strong> voluntári<strong>os</strong><br />

maiores <strong>de</strong> <strong>de</strong>zoito e menores <strong>de</strong> vinte e três an<strong>os</strong>. Oriundo do PLS 316/2003, do Senador Pedro<br />

Simon (PMDB/RS), o projeto original propunha inverter a lógica <strong>de</strong> preferência prescrita pela<br />

Lei, a qual consi<strong>de</strong>rava no universo d<strong>os</strong> cidadã<strong>os</strong> abrangid<strong>os</strong>, aqueles que exce<strong>de</strong>ssem as<br />

<strong>necessida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> incorporação às Forças Armadas, que são <strong>os</strong> dispensad<strong>os</strong> <strong>de</strong> incorporação.<br />

Assim, propunha preferir <strong>os</strong> jovens que houvessem prestado o serviço militar obrigatório.<br />

Tramita na CSPCCO.<br />

8. SUGESTÕES<br />

De todo o exp<strong>os</strong>to percebe-se, realmente, a <strong>necessida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>incentivo</strong><br />

<strong>para</strong> que o sistema <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> seja <strong>de</strong> fato reconhecido, valorizado e expandido<br />

pelo país. Por que essas três dimensões? Rememorem<strong>os</strong>.<br />

O reconhecimento só existe, quase sempre <strong>de</strong> caráter meramente formal,<br />

<strong>para</strong> as corporações centenárias, como a <strong>de</strong> Joinville, ou muito antigas, que p<strong>os</strong>suem o<br />

reconhecimento legal como entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interesse ou utilida<strong>de</strong> pública, tanto n<strong>os</strong> níveis<br />

municipais, quanto estaduais e fe<strong>de</strong>ral. Essa forma <strong>de</strong> reconhecimento permite o recebimento <strong>de</strong><br />

auxíli<strong>os</strong> e subvenções d<strong>os</strong> po<strong>de</strong>res públic<strong>os</strong> e <strong>de</strong> organism<strong>os</strong> nacionais e internacionais voltad<strong>os</strong><br />

<strong>para</strong> causas humanitárias ou <strong>de</strong> proteção do meio ambiente, por exemplo.<br />

Entretanto, como visto, há algumas situações preocupantes, quando as<br />

corporações <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> não são reconhecidas pelas corporações oficiais <strong>de</strong><br />

bombeir<strong>os</strong>, representadas pelas instituições in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> militares ou segment<strong>os</strong><br />

<strong>de</strong>ssa natureza vinculad<strong>os</strong> às polícias militares d<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong>. Embora atuando segundo <strong>os</strong> mais<br />

rigor<strong>os</strong><strong>os</strong> padrões <strong>de</strong> atuação na nobre ativida<strong>de</strong>, com treinamento contínuo e, geralmente,<br />

dispondo <strong>de</strong> equipament<strong>os</strong> mo<strong>de</strong>rn<strong>os</strong>, <strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> levam uma vantagem sobre <strong>os</strong><br />

oficiais, que é exatamente o caráter <strong>de</strong> voluntarieda<strong>de</strong>.<br />

Não é a característica <strong>de</strong> serem não-oficiais e, portanto, não se<br />

qualificarem, perante a lei, como garantes das vidas e patrimôni<strong>os</strong> que procuram proteger, que <strong>os</strong><br />

tornam men<strong>os</strong> confiáveis. Aliás, a condição <strong>de</strong> voluntári<strong>os</strong> é que lhes confere a confiança<br />

irrestrita da comunida<strong>de</strong>, uma vez que estão <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a vida e o patrimônio <strong>de</strong>les mesm<strong>os</strong> e <strong>de</strong><br />

seus familiares. Executam um trabalho <strong>de</strong> auxílio ao próximo, que não precisaria sequer <strong>de</strong> lei que<br />

o autorizasse. É o mesmo que dizer que alguém precise <strong>de</strong> autorização <strong>para</strong> socorrer um ferido.<br />

Ora, o or<strong>de</strong>namento jurídico brasileiro diz exatamente o contrário: quem se omite, po<strong>de</strong> cometer<br />

crime.<br />

Assim, se <strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> oficiais atuam em nome do Estado, que <strong>de</strong>tém<br />

o privilégio do uso da força, essa força é direcionada <strong>para</strong> a proteção do patrimônio e da<br />

integrida<strong>de</strong> físicas das pessoas. Analogamente, é como se <strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> oficiais estivessem, em<br />

nome do bem comum, agindo por estado <strong>de</strong> <strong>necessida<strong>de</strong></strong> pública. Pois é esse o mesmo fanal que<br />

orienta a ativida<strong>de</strong> d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>: o estado <strong>de</strong> <strong>necessida<strong>de</strong></strong> institucional,<br />

38


epresentando a comunida<strong>de</strong>, mas atuando com risco próprio, am<strong>para</strong>d<strong>os</strong> pela faculda<strong>de</strong><br />

conferida pelo art. 24 do Decreto-Lei n. 2.848, <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1940 (Código Penal).<br />

Quando fazem<strong>os</strong> a restrição ao reconhecimento, não n<strong>os</strong> esquecem<strong>os</strong><br />

que o próprio po<strong>de</strong>r público fe<strong>de</strong>ral sequer editou uma lei que disciplinasse a existência e o<br />

trabalho d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>. Daí <strong>os</strong> questionament<strong>os</strong> d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> oficiais, embora não<br />

f<strong>os</strong>se absolutamente necessária tal lei, haja vista a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> associação garantida<br />

constitucionalmente. A propósito, a recente Lei n. 11.901/2009, que tratou d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> civis<br />

profissionais, sequer tocou na questão d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>.<br />

Não obstante a aparente <strong>de</strong>s<strong>necessida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> “legalização” da ativida<strong>de</strong>, ao<br />

com<strong>para</strong>rm<strong>os</strong> a situação d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong> com <strong>os</strong> <strong>de</strong> outras nações sulamericanas,<br />

norte-americanas, européias e asiáticas, percebem<strong>os</strong> que nesses outr<strong>os</strong> países a<br />

ativida<strong>de</strong> é não apenas legalizada e, portanto, reconhecida pelo or<strong>de</strong>namento jurídico, mas<br />

estimulada, financiada por orçament<strong>os</strong> públic<strong>os</strong> e que goza <strong>de</strong> uma aura <strong>de</strong> reconhecimento<br />

público incomum. A situação apontada <strong>de</strong> Portugal é emblemática, em term<strong>os</strong> <strong>de</strong> organização e<br />

grau <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> da legislação aplicável, o que é facilitada pela harmonia existente entre as<br />

várias espécies <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>.<br />

Então, a primeira <strong>necessida<strong>de</strong></strong> que vislumbram<strong>os</strong> é a edição <strong>de</strong> lei<br />

própria, que configure o estatuto jurídico da ativida<strong>de</strong> e das corporações que a ela se <strong>de</strong>dicam,<br />

como marco legal necessário <strong>para</strong> ampará-las em term<strong>os</strong> <strong>de</strong> legitimida<strong>de</strong> incontestável <strong>para</strong><br />

atuação, com o exercício pleno <strong>de</strong> tod<strong>os</strong> direit<strong>os</strong> e <strong>de</strong>veres consectári<strong>os</strong>. Chega-se a discutir se <strong>os</strong><br />

bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> po<strong>de</strong>riam pintar suas viaturas <strong>de</strong> vermelho, cor geralmente usada <strong>para</strong><br />

veícul<strong>os</strong> <strong>de</strong> socorro. Mas esta é uma questão secundária. Os países da Comunida<strong>de</strong> Européia, por<br />

exemplo, estão mudando a cor <strong>de</strong>sses veícul<strong>os</strong> <strong>para</strong> uma cor amarela, chamada RAL 1016, a que<br />

melhor impressiona a visão humana, segundo estud<strong>os</strong> técnic<strong>os</strong>.<br />

Outra faceta apontada é a valorização. Naturalmente a norma jurídica<br />

seria uma das medidas <strong>para</strong> tanto. Outra po<strong>de</strong>ria ser o fim das ingerências d<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

bombeir<strong>os</strong> militares nas corporações <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>. Não querem<strong>os</strong> com isso dizer<br />

que não <strong>de</strong>vam ficar sujeitas à inspeção periódica daquelas instituições, tampouco no tocante à<br />

coor<strong>de</strong>nação d<strong>os</strong> trabalh<strong>os</strong> realizad<strong>os</strong> em conjunto. É preciso, simplesmente, admitir que<br />

existem, que executam bem seu trabalho e que são parceiras na ativida<strong>de</strong> tão difícil, <strong>de</strong>sgastante e,<br />

no mais das vezes, exigentes, a ponto do sacrifício extremo, pelo bem comum.<br />

Outra forma <strong>de</strong> valorização seria admitir a p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong> – também<br />

passível <strong>de</strong> concretização por meio <strong>de</strong> lei própria – da criação <strong>de</strong> novas corporações <strong>de</strong><br />

bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>, nas cida<strong>de</strong>s que não dispõem <strong>de</strong> equipe d<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong><br />

militares. Não faz sentido, pois, per<strong>de</strong>rem-se vidas e patrimônio em razão da espera pela chegada<br />

<strong>de</strong> equipe aquartelada em outra cida<strong>de</strong>, por exemplo, pelo simples capricho <strong>de</strong> não se permitir a<br />

criação <strong>de</strong> corporação <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>.<br />

39


Cogitou-se que sua criação f<strong>os</strong>se autorizada em cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> até cem mil<br />

habitantes. Outro parâmetro po<strong>de</strong>ria ser o <strong>de</strong> cinqüenta mil habitantes, que é o limite <strong>para</strong><br />

guardas municipais <strong>de</strong>sarmadas. Embora não haja correlação direta entre as ativida<strong>de</strong>s,<br />

certamente é um parâmetro que po<strong>de</strong>ria ser adotado <strong>para</strong> várias situações, ao invés <strong>de</strong> se<br />

estabelecer parâmetr<strong>os</strong> divers<strong>os</strong> <strong>para</strong> tanto. É <strong>de</strong> se inferir, contudo, que haja cida<strong>de</strong>s com mais<br />

<strong>de</strong> cinqüenta mil habitantes que não p<strong>os</strong>suam corporação do corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> militar. Talvez<br />

haja até algumas com mais <strong>de</strong> cem mil nessa situação.<br />

Então, a solução i<strong>de</strong>al seria permitir a criação das corporações <strong>de</strong><br />

voluntári<strong>os</strong> em qualquer cida<strong>de</strong> que não p<strong>os</strong>sua corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> oficial. Mas vam<strong>os</strong> mais<br />

além: por que não permitir a livre criação <strong>de</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> em qualquer lugar,<br />

mesmo on<strong>de</strong> existe corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> militar? Qual seria a justificativa <strong>para</strong> a restrição à<br />

coexistência <strong>de</strong> corporações oficiais e <strong>de</strong> voluntári<strong>os</strong> <strong>para</strong> o mesmo fim, multiplicando mei<strong>os</strong> e<br />

recurs<strong>os</strong> human<strong>os</strong>? Fazendo uma analogia simples, po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> proibir a existência <strong>de</strong> escolas<br />

particulares gratuitas, embora haja as públicas? H<strong>os</strong>pitais beneficentes, atuando no mesmo local<br />

que <strong>os</strong> públic<strong>os</strong>? A resp<strong>os</strong>ta é não! Pois o mesmo se aplica a<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>,<br />

que não obstante po<strong>de</strong>rem contar com subsídi<strong>os</strong> <strong>de</strong> origem pública, quase sempre são<br />

aut<strong>os</strong>sustentáveis e executam tarefa meritória, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor social, que integra as comunida<strong>de</strong>s<br />

e eleva o espírito <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> e participação, pelo conteúdo moral e cívico que perpassa a<br />

<strong>de</strong>dicação ao serviço voluntário.<br />

Crem<strong>os</strong> não ser admissível a alegação <strong>de</strong> que a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong><br />

seja típica <strong>de</strong> Estado e, assim sendo, apenas corporações oficiais p<strong>os</strong>sam exercê-la. Trata-se <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong> própria <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa civil, acessível a tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> cidadã<strong>os</strong> <strong>de</strong> bem, o que se comprova <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> alguma calamida<strong>de</strong> que assola qualquer país do mundo. O formato militar d<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

bombeir<strong>os</strong> no Brasil é mera circunstância, não <strong>necessida<strong>de</strong></strong>. As características <strong>de</strong> hierarquia e<br />

disciplina, próprias das corporações militares ou policiais e necessária <strong>para</strong> o efetivo cumprimento<br />

<strong>de</strong> sua missão, é perfeitamente assimilável pel<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>, que as cultivam<br />

espontaneamente, ainda que sob pena <strong>de</strong> sanções d<strong>os</strong> respectiv<strong>os</strong> regiment<strong>os</strong>.<br />

Certamente há tentativas <strong>de</strong> se adotar sistema misto, como <strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong><br />

comunitári<strong>os</strong>, geralmente formad<strong>os</strong> por funcionári<strong>os</strong> municipais, isto é, não passam <strong>de</strong><br />

bombeir<strong>os</strong> oficiais sob outra roupagem, <strong>os</strong> quais, reconhecem<strong>os</strong>, sabidamente executam tarefa<br />

meritória. Além disso, são inteiramente subordinad<strong>os</strong> a<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> militares. Assim,<br />

trata-se <strong>de</strong> tentativa <strong>de</strong> suplantar a inexistência <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> oficiais, sem, entretanto, estimular o<br />

surgimento <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> propriamente dit<strong>os</strong>. A alternativa racional seria p<strong>os</strong>sibilitar<br />

a existência <strong>de</strong>ssas corporações oficiais na esfera municipal. E ainda que bem executem seu<br />

trabalho, faltam-lhes duas características essenciais <strong>para</strong> tanto: ou a da carreira, do bombeiro<br />

oficial ou a da vocação, do bombeiro voluntário.<br />

A viabilida<strong>de</strong> d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> foi lembrada, na 54ª sessão<br />

extraordinária da Câmara d<strong>os</strong> Deputad<strong>os</strong>, em 31 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2009, sob a presidência do<br />

Deputado Paulo Bornhausen, na oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> discussão sobre a <strong>de</strong>fesa civil no país. Na<br />

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ocasião foram lembrad<strong>os</strong> as recentes enchentes do Vale do Itajaí, em Santa Catarina e na<br />

Amazônia, além da seca na Região Nor<strong>de</strong>ste, como situações objetivas <strong>de</strong> atuação da <strong>de</strong>fesa civil.<br />

Foram abordad<strong>os</strong> <strong>os</strong> seguintes temas: burocracia <strong>para</strong> repasse <strong>de</strong> verbas;<br />

<strong>necessida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> investimento em prevenção e não apenas no socorro às vítimas d<strong>os</strong> <strong>de</strong>sastres;<br />

prop<strong>os</strong>ta <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> um Fundo Especial <strong>de</strong> Calamida<strong>de</strong> Pública, ou Fundo Nacional <strong>de</strong> Defesa<br />

Civil; inclusão da <strong>de</strong>fesa civil como sistema integrante da segurança pública, no art. 144 da<br />

CF/88; implantação d<strong>os</strong> telefones <strong>de</strong> emergência (199), por meio do Fundo <strong>de</strong> Universalização<br />

d<strong>os</strong> Serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> Telecomunicações (Fust); celebração e parcerias com h<strong>os</strong>pitais e quartéis do<br />

Exército; atuação do Comando Aéreo Regional da Aeronáutica na Amazônia (que neste ano foi<br />

afetada por cheia que atingiu índices próxim<strong>os</strong> à maior já ocorrida, em 1953); estímulo à criação<br />

<strong>de</strong> Guarda Marítima e Ambiental ou <strong>de</strong> uma Defesa Civil Nacional; melhoria do sistema <strong>de</strong><br />

informação, por meio do Centro Nacional <strong>de</strong> Desastres e do Centro <strong>de</strong> Referência Internacional<br />

<strong>para</strong> Climatologia e Prevenção <strong>de</strong> Desastres, sob <strong>os</strong> auspíci<strong>os</strong> do Ministério <strong>de</strong> Ciência e<br />

Tecnologia e Inovação, consolidando o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças<br />

Climáticas; atuação da Comissão Mista Especial sobre Mudanças Climáticas; educação transversal<br />

em torno da <strong>de</strong>fesa civil, inclusive com a criação <strong>de</strong> curs<strong>os</strong> tecnológic<strong>os</strong> <strong>de</strong> dois an<strong>os</strong> <strong>de</strong> duração;<br />

criação da Frente Parlamentar da Defesa Civil; retomada do <strong>de</strong>sassoreamento d<strong>os</strong> ri<strong>os</strong>, n<strong>os</strong><br />

mol<strong>de</strong>s em que era realizado pelo antigo Departamento Nacional <strong>de</strong> Obras e Saneamento<br />

(DNOS); criação da Loteria Social Fe<strong>de</strong>ral; atualização do Código Florestal Brasileiro e <strong>de</strong><br />

códig<strong>os</strong> ambientais estaduais.<br />

Ressaltou-se a atuação conjunta da Empresa <strong>de</strong> Pesquisa Agropecuária e<br />

Extensão Rural <strong>de</strong> Santa Catarina e do Centro <strong>de</strong> Informações <strong>de</strong> Recurs<strong>os</strong> Ambientais e <strong>de</strong><br />

Hidrometeorologia <strong>de</strong> Santa Catarina (Epagri/Ciram), da ONG Voluntári<strong>os</strong> em Ação e do<br />

Instituto Comunitário Gran<strong>de</strong> Florianópolis (Icom), <strong>de</strong> Florianópolis, d<strong>os</strong> Núcle<strong>os</strong> Comunitári<strong>os</strong><br />

<strong>de</strong> Defesa Civil, sob o direcionamento da Secretaria Nacional <strong>de</strong> Defesa Civil e do Ministério das<br />

Cida<strong>de</strong>s, bem como d<strong>os</strong> Conselh<strong>os</strong> Comunitári<strong>os</strong> <strong>de</strong> Segurança, perpassando a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>fesa civil.<br />

Lembrou-se que na província <strong>de</strong> Bérgamo, na Itália, há o fam<strong>os</strong>o Alpini,<br />

grupo comp<strong>os</strong>to por 75 mil voluntári<strong>os</strong>, que conta com estrutura pre<strong>para</strong>da <strong>para</strong> o cadastramento<br />

e distribuição d<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>, conforme a especialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um.<br />

Ela é autoaplicada em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> níveis, sem regulamentação. Por<br />

exemplo, só po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> dar segurança a<strong>os</strong> turistas que vão a Santa Catarina durante o verão porque<br />

tem<strong>os</strong> o trabalho voluntário d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> civis. Mais <strong>de</strong> dois mil homens trabalham em todo o<br />

litoral <strong>de</strong> Santa Catarina, treinad<strong>os</strong> pelo corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> militar, salvando vidas e permitindo<br />

que p<strong>os</strong>sam<strong>os</strong> <strong>de</strong>senvolver essa ativida<strong>de</strong> econômica e social tão importante.<br />

A legislação po<strong>de</strong>ria criar um Sistema Nacional <strong>de</strong> Segurança Contra<br />

Incêndi<strong>os</strong> <strong>para</strong>lela ao Sistema Nacional <strong>de</strong> Defesa Civil (Sin<strong>de</strong>c), já integrado pel<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

bombeir<strong>os</strong>. Outra idéia seria a padronização técnica e a normatização d<strong>os</strong> procediment<strong>os</strong>, a cargo<br />

d<strong>os</strong> órgã<strong>os</strong> própri<strong>os</strong>, como a Associação Brasileira <strong>de</strong> Normas Técnicas (ABNT), n<strong>os</strong> term<strong>os</strong> da<br />

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NBR 13.860/1997 e NBR 14.276/1999, e o Instituto Nacional <strong>de</strong> Metrologia, Normalização e<br />

Qualida<strong>de</strong> Industrial (Inmetro), quanto à primeira e d<strong>os</strong> própri<strong>os</strong> órgã<strong>os</strong> <strong>de</strong> formação, quanto à<br />

segunda. Deferir-se-ia a<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> estaduais a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> órgã<strong>os</strong> gestores <strong>de</strong><br />

segurança contra incêndi<strong>os</strong>. A expressão genérica visaria a abranger <strong>os</strong> órgã<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong><br />

vinculad<strong>os</strong> às polícias militares, bem como a eventualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> civis no nível<br />

estadual. Por essa óptica, acolher-se-ia a situação fática <strong>de</strong> existirem corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong><br />

municipais (comunitári<strong>os</strong>), <strong>de</strong> civis e voluntári<strong>os</strong>, sob a supervisão doutrinária d<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

bombeir<strong>os</strong> estaduais.<br />

Embora haja normas trabalhistas a respeito, como as Comissões Internas<br />

<strong>de</strong> Prevenção <strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>ntes (Cipa), previstas no art. 163 da Consolidação das Leis do Trabalho<br />

(CLT), nem sempre <strong>os</strong> integrantes <strong>de</strong>ssas comissões p<strong>os</strong>suem a capacitação necessária <strong>para</strong><br />

atuação imediata, antes da chegada d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong>, no sentido <strong>de</strong> evitar a propagação do fogo,<br />

dirigir a evacuação das pessoas e prestar <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> socorr<strong>os</strong> necessári<strong>os</strong> e urgentes que às<br />

vezes significa a diferença entre sobreviver ou sucumbir.<br />

Como alternativa à criação <strong>de</strong> corporações <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> e<br />

mesmo como reforço às corporações oficiais, on<strong>de</strong> existam, a lei po<strong>de</strong>ria estimular a criação <strong>de</strong><br />

brigadas <strong>de</strong> incêndio entre <strong>os</strong> própri<strong>os</strong> funcionári<strong>os</strong> das empresas ou servidores d<strong>os</strong> órgã<strong>os</strong><br />

públic<strong>os</strong>, a exemplo do mo<strong>de</strong>lo adotado pelo Banco Central do Brasil, que é referência nacional.<br />

Na concessão <strong>de</strong> <strong>incentivo</strong>s, inclusive <strong>para</strong> brigadistas das empresas e<br />

órgã<strong>os</strong> públic<strong>os</strong>, se adotada essa opção <strong>de</strong> bonificação, adicional ou gratificação <strong>de</strong> caráter<br />

financeiro, po<strong>de</strong>riam ser utilizad<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> orçamentári<strong>os</strong> <strong>de</strong> cada ente fe<strong>de</strong>rado, no âmbito do<br />

Po<strong>de</strong>r respectivo, ou fund<strong>os</strong> própri<strong>os</strong>, bem como integrar as ativida<strong>de</strong>s já existentes em<br />

<strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> obediência a normas p<strong>os</strong>turais ou <strong>de</strong> caráter trabalhista.<br />

Como critéri<strong>os</strong> <strong>de</strong> avaliação da <strong>necessida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> corporação ou<br />

brigada <strong>de</strong> incêndio e estabelecimento <strong>de</strong> seu efetivo po<strong>de</strong>riam ser levad<strong>os</strong> em conta o grau <strong>de</strong><br />

risco <strong>de</strong> incêndio, a área consi<strong>de</strong>rada, incluída a <strong>de</strong> solo criado, a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoas que<br />

circula diariamente pelo local, a existência <strong>de</strong> acervo <strong>de</strong> valor intrínseco ou extrínseco e a<br />

preservação <strong>de</strong> informações sensíveis, em especial as relativas a contenci<strong>os</strong>o judicial ou<br />

administrativo.<br />

Para tornar factível seu cumprimento a norma po<strong>de</strong>ria prever a<br />

p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compartilhamento das ativida<strong>de</strong>s da brigada <strong>de</strong> incêndio por vári<strong>os</strong> órgã<strong>os</strong>,<br />

empresas ou entida<strong>de</strong>s, consi<strong>de</strong>rad<strong>os</strong> <strong>os</strong> fatores já mencionad<strong>os</strong>, a contiguida<strong>de</strong> das<br />

<strong>de</strong>pendências, a facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação, <strong>de</strong> evacuação e <strong>de</strong> transporte. Essa providência<br />

evitaria que um pequeno estabelecimento comercial tivesse que contratar ou formar pessoal <strong>para</strong><br />

compor uma brigada <strong>de</strong> incêndio, mas pu<strong>de</strong>sse, em conjunto com outr<strong>os</strong> estabeleciment<strong>os</strong>,<br />

cumprir a norma, se a ela estivesse obrigado. É o que ocorre, por exemplo, em alguns centr<strong>os</strong><br />

comerciais, cuja administração mantém brigada <strong>de</strong> incêndio contratada pelo condomínio.<br />

Quanto à questão da iniciativa legislativa, no tocante à última sugestão, é<br />

preciso ligeira análise. Não há uma norma geral dispondo sobre a matéria e, tratando-se <strong>de</strong> tema<br />

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<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa civil, está <strong>de</strong>ntre as matérias <strong>de</strong> competência privativa da União (art. 22, inciso XXVIII,<br />

da CF/88). Desta maneira, criar-se-ia um impasse. Não caberia legislação suplementar, nem<br />

po<strong>de</strong>ria a União impor a<strong>os</strong> <strong>de</strong>mais entes fe<strong>de</strong>rad<strong>os</strong> a obrigação, pois o serviço provavelmente<br />

implicaria criação <strong>de</strong> carg<strong>os</strong> no serviço público, hipótese cuja iniciativa seria do chefe do Po<strong>de</strong>r<br />

Executivo <strong>de</strong> cada esfera. Igualmente, quanto a<strong>os</strong> <strong>de</strong>mais Po<strong>de</strong>res, caberia a cada qual <strong>de</strong>finir seus<br />

serviç<strong>os</strong>. Noutra vertente, a criação <strong>de</strong> carg<strong>os</strong> no âmbito do Po<strong>de</strong>r Executivo fe<strong>de</strong>ral é atribuição<br />

exclusiva do Presi<strong>de</strong>nte da República.<br />

Entretanto, ao procurar aten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> tão nobre valor,<br />

consi<strong>de</strong>ram<strong>os</strong> a p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> entendimento acerca <strong>de</strong> ser a matéria subordinada a<strong>os</strong> incis<strong>os</strong><br />

elencad<strong>os</strong> no art. 24 da Constituição Fe<strong>de</strong>ral que admitem a legislação concorrente (incis<strong>os</strong> I, VII,<br />

VIII e XII e até outr<strong>os</strong>, numa interpretação extensiva). Por outra óptica, em respeito ao princípio<br />

do pacto fe<strong>de</strong>rativo implícito no art. 18 da Constituição, que conce<strong>de</strong> autonomia a<strong>os</strong> entes<br />

fe<strong>de</strong>rad<strong>os</strong>, não caberia à União, por meio <strong>de</strong> legislação fe<strong>de</strong>ral, impor <strong>de</strong>spesas a<strong>os</strong> <strong>de</strong>mais entes.<br />

Entretanto, como a prop<strong>os</strong>ta obriga também a União, além d<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong>, Distrito Fe<strong>de</strong>ral e<br />

Municípi<strong>os</strong>, e consi<strong>de</strong>rando que praticamente não há imp<strong>os</strong>ição <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesas às Unida<strong>de</strong>s<br />

Fe<strong>de</strong>rativas, cuidam<strong>os</strong> que prevalece o princípio da solidarieda<strong>de</strong> fe<strong>de</strong>rativa insculpido no art. 241<br />

do texto magno.<br />

Um <strong>incentivo</strong> que po<strong>de</strong>ria ser concedido é a inclusão, no Decreto n.<br />

57.654, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1966, que regulamenta a Lei n. 4.375, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> ag<strong>os</strong>to <strong>de</strong> 1964 (Lei do<br />

Serviço Militar), <strong>de</strong> alterações que beneficiem o bombeiro voluntário, como o adiamento da<br />

incorporação (arts. 96, 98, 104 e 105), além da dispensa do serviço militar inicial (art. 106).<br />

A alteração da Lei n. 10.029/2000 não se afigura a<strong>de</strong>quada na medida em<br />

que, embora <strong>de</strong>signando a prestação <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong> às polícias militares e corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong><br />

militares como voluntário, prevê a sua remuneração com auxílio mensal <strong>de</strong> até dois salári<strong>os</strong><br />

mínim<strong>os</strong>. Trata-se <strong>de</strong> medida <strong>de</strong> estímulo ao trabalho do jovem, assim como <strong>os</strong> projet<strong>os</strong> do<br />

Pronasci (Programa Nacional <strong>de</strong> Segurança Pública com Cidadania), instituído pela Lei n. 11.530,<br />

<strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2007.<br />

É preciso repisar o conceito <strong>de</strong> que ao bombeiro voluntário basta a<br />

satisfação <strong>de</strong> prestar um serviço à comunida<strong>de</strong>. Entretanto, reconhecimento <strong>de</strong> caráter cívico,<br />

como, por exemplo, consi<strong>de</strong>rar a ativida<strong>de</strong> serviço público relevante, estabelecendo presunção <strong>de</strong><br />

idoneida<strong>de</strong> moral (embora ela já exista na comunida<strong>de</strong>), bem como preferência, em igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

condições, nas concorrências públicas, po<strong>de</strong>ria ser uma forma <strong>de</strong> <strong>incentivo</strong>.<br />

Outra forma <strong>de</strong> <strong>incentivo</strong>, que não interfere no caráter <strong>de</strong> voluntarieda<strong>de</strong><br />

d<strong>os</strong> integrantes, é a p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> repasse <strong>de</strong> verbas orçamentárias do po<strong>de</strong>r público, em tod<strong>os</strong><br />

<strong>os</strong> níveis, <strong>para</strong> aparelhamento das corporações, no sentido <strong>de</strong> auxiliá-las na dotação <strong>de</strong> condições<br />

materiais a<strong>de</strong>quadas, uma vez que quase sempre a comunida<strong>de</strong> toma a si essa incumbência. Nas<br />

comunida<strong>de</strong>s pequenas, porém, nem sempre isso é p<strong>os</strong>sível, embora o risco sempre exista.<br />

Sabendo-se que a remuneração d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> militares correspon<strong>de</strong> a substancial parcela d<strong>os</strong><br />

orçament<strong>os</strong> respectiv<strong>os</strong>, o Estado po<strong>de</strong>ria reor<strong>de</strong>nar seus efetiv<strong>os</strong> e unida<strong>de</strong>s, realocando-as <strong>para</strong><br />

cida<strong>de</strong>s maiores, on<strong>de</strong> o envolvimento comunitário é mais difícil e, ainda, a incidência <strong>de</strong><br />

sinistr<strong>os</strong>, maior.<br />

43


Por fim, <strong>para</strong> que não só a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bombeiro voluntário, típica <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>fesa civil, seja valorizada, mas as próprias ações nessa área f<strong>os</strong>sem mais efetivas, caberia, no<br />

âmbito da Administração Pública Fe<strong>de</strong>ral, a criação <strong>de</strong> um Ministério próprio <strong>para</strong> cuidar do<br />

assunto, não apenas uma Secretaria. Além disso, várias ativida<strong>de</strong>s que seriam próprias <strong>de</strong> um<br />

eventual Ministério encarregado da <strong>de</strong>fesa civil estão diluídas por outr<strong>os</strong> órgã<strong>os</strong>, <strong>de</strong>ntre <strong>os</strong> quais o<br />

Ministério da Justiça, o Ministério da Integração Nacional e o Ministério das Cida<strong>de</strong>s. Em outr<strong>os</strong><br />

países, é o Ministério do Interior o responsável pela área. Como há uma estreita relação entre as<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> segurança pública e <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa civil, a ponto <strong>de</strong> n<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> estar afeta à mesma<br />

pasta tais temas, não seria in<strong>de</strong>fensável a criação <strong>de</strong> um Ministério da Segurança Pública e da<br />

Defesa Civil (ou Defesa Social), por exemplo.<br />

Resumindo esta conclusão, o <strong>incentivo</strong> simbólico é bem-vindo; o<br />

disciplinamento é importante, sob o ponto <strong>de</strong> vista da justificação <strong>de</strong> repasse <strong>de</strong> verbas; e o<br />

reconhecimento pleno se dará pela integração com <strong>os</strong> <strong>de</strong>mais corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>, ao consi<strong>de</strong>rar<br />

<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> parceir<strong>os</strong> e não concorrentes. Para facilitar tais <strong>de</strong>si<strong>de</strong>rat<strong>os</strong>, a edição <strong>de</strong> lei<br />

ordinária <strong>de</strong> caráter geral, que é competência da União, é suficiente. Ficaria a cargo d<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> e<br />

Municípi<strong>os</strong> suplementar a lei fe<strong>de</strong>ral, <strong>de</strong> acordo com as especificida<strong>de</strong>s regionais e locais.<br />

9. BIBLIOGRAFIA<br />

Publicações:<br />

COWLISHAW, Sean; EVANS, Lynette; MCLENNAN, Jim. Families of rural volunteer<br />

firefighters. Rural Society, n. 18, v. 1, abril 2008; ProQuest Central, p. 17-25.<br />

LOYOLA, Henrique. 2001 – Ano internacional do voluntário: radiografia <strong>de</strong> um equívoco. Brasília:<br />

Senado Fe<strong>de</strong>ral, 2000.<br />

WALTERS, John P. A wet blanket for volunteer firefighters. Policy Review, n. 77, may/jun 1996,<br />

Aca<strong>de</strong>mic Research Library, p. 6-7.<br />

Síti<strong>os</strong> da internet:<br />

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44


ANEXO<br />

VISÃO DO ESPECIALISTA<br />

Transcrevem<strong>os</strong>, a seguir, uma entrevista concedida pelo Bombeiro Voluntário João<br />

Belém 9 , à Revista Emergência, em maio <strong>de</strong> 2006, em que o especialista tece preci<strong>os</strong><strong>os</strong><br />

comentári<strong>os</strong> sobre a ativida<strong>de</strong>, agregando informações importantes <strong>para</strong> este estudo.<br />

1. Qual a atuação d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>? Como eles estão articulad<strong>os</strong> com <strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> civis e<br />

militares?<br />

As organizações <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> estão presentes em todo o mundo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

locais <strong>de</strong>senvolvid<strong>os</strong> da América do Norte, Europa, parte da Ásia e da Austrália e Nova Zelândia,<br />

passando por regiões mais remotas como a Groenlândia, Alaska e Tasmânia, eles também<br />

aparecem em n<strong>os</strong>sas fronteiras, como na Argentina e Paraguai, <strong>de</strong>stacando-se, na América do Sul,<br />

a excepcional estrutura do serviço <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> do Chile, exemplo mundial, totalmente<br />

voluntária, e que dispõe d<strong>os</strong> mais mo<strong>de</strong>rn<strong>os</strong> equipament<strong>os</strong> existentes no mercado e respeitado<br />

preparo técnico.<br />

Integrad<strong>os</strong> às culturas e c<strong>os</strong>tumes <strong>de</strong> suas comunida<strong>de</strong>s, alguns há vári<strong>os</strong> sécul<strong>os</strong>, <strong>os</strong><br />

corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>, com apoio d<strong>os</strong> respectiv<strong>os</strong> govern<strong>os</strong>, são uma <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong><br />

competência das administrações públicas daqueles países, pois assim agindo, complementam as<br />

suas atribuições legais com maior racionalida<strong>de</strong> e menor <strong>de</strong>spesa.<br />

Ao reservar <strong>para</strong> <strong>os</strong> gran<strong>de</strong>s centr<strong>os</strong> urban<strong>os</strong> e áreas <strong>de</strong> maior sensibilida<strong>de</strong> a <strong>de</strong>sastres, <strong>os</strong><br />

elevad<strong>os</strong> dispêndi<strong>os</strong> com bombeir<strong>os</strong> profissionais, o po<strong>de</strong>r público consegue ampliar<br />

substancialmente a malha <strong>de</strong> proteção comunitária, com men<strong>os</strong> verbas, mais eficácia e um<br />

impagável envolvimento <strong>de</strong> ação coletiva em proveito da cidadania.<br />

Em qualquer lugar, o espaço prático <strong>de</strong> atuação d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> é o mesmo<br />

d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> profissionais, sejam eles civis ou militares. O bombeiro voluntário presta um<br />

serviço público, atuando nas ruas e estradas, nas cida<strong>de</strong>s e n<strong>os</strong> camp<strong>os</strong>, na terra, no ar e no mar.<br />

Ele realiza tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> trabalh<strong>os</strong> inerentes a<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> <strong>de</strong> forma geral, tais como o combate a<strong>os</strong><br />

9 João Belém, Diretor <strong>de</strong> Segurança Operacional da Oscip Voluntersul (Bombeir<strong>os</strong> Voluntári<strong>os</strong> do Estado do Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Sul), é Oficial <strong>de</strong> Inteligência, na inativida<strong>de</strong>, especialista em Administração, professor universitário, exintegrante<br />

do Gabinete <strong>de</strong> Segurança Institucional da Presidência da República e da Secretaria <strong>de</strong> Segurança Pública<br />

do Distrito Fe<strong>de</strong>ral, Consultor da Escola Superior <strong>de</strong> Guerra, atuou na Cruz Vermelha Brasileira e Sistema <strong>de</strong> Defesa<br />

Civil do Distrito Fe<strong>de</strong>ral. Foi indicado pela Abvesc <strong>para</strong> n<strong>os</strong> auxiliar na busca <strong>de</strong> subsídi<strong>os</strong> <strong>para</strong> o presente estudo.<br />

45


incêndi<strong>os</strong>, a busca e salvamento, o resgate, o controle <strong>de</strong> vazament<strong>os</strong>, a proteção ambiental e<br />

muit<strong>os</strong> outr<strong>os</strong>.<br />

O bombeiro voluntário não é um amador entusiasmado ou um simples esportista que<br />

pratica um hobby <strong>de</strong> final <strong>de</strong> semana ou quando tiver vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> praticar o “bem”. Ele é um<br />

membro da comunida<strong>de</strong>, oriundo das mais variadas profissões, mas <strong>de</strong>vidamente treinado,<br />

habilitado e fiscalizado pelo Estado, <strong>para</strong> o exercício da nobre missão <strong>de</strong> proteger e salvar vidas<br />

alheias.<br />

Os bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> têm plena ciência d<strong>os</strong> risc<strong>os</strong> a que estão sujeit<strong>os</strong>, bem como da<br />

importância e responsabilida<strong>de</strong> do compromisso assumido com a socieda<strong>de</strong>, e que o sacrifício <strong>de</strong><br />

suas horas <strong>de</strong> lazer e convívio com a família foram uma opção pessoal e espontânea. Seu preparo<br />

<strong>de</strong>ve ser idêntico ao <strong>de</strong> seu companheiro profissional, até porque <strong>os</strong> perig<strong>os</strong> e <strong>de</strong>safi<strong>os</strong> a serem<br />

enfrentad<strong>os</strong> são exatamente iguais. A única diferença está na forma <strong>de</strong> remuneração, pois ao invés<br />

<strong>de</strong> uma justa retribuição pecuniária, é pago com a satisfação <strong>de</strong> servir a<strong>os</strong> seus n<strong>os</strong> moment<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

fatidio e apreensão.<br />

C<strong>os</strong>tumo dizer, por isso, que se o bombeiro profissional é um herói por vocação, o<br />

bombeiro voluntário é um herói por abnegação. Talvez esta seja a razão porque ao longo da<br />

História, inúmeras figuras, mais tar<strong>de</strong> imortalizadas pelas suas ações em prol da humanida<strong>de</strong>,<br />

foram bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> em suas juventu<strong>de</strong>s, entre <strong>os</strong> quais, <strong>os</strong> presi<strong>de</strong>ntes american<strong>os</strong><br />

George Washington e Harry Trumman, o cientista Benjamim Franklin, fundador do Corpo <strong>de</strong><br />

Bombeir<strong>os</strong> Voluntári<strong>os</strong> da Filadélfia e <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> outras personalida<strong>de</strong>s.<br />

É importante enten<strong>de</strong>r que o bombeiro voluntário difere do chamado bombeiro<br />

empresarial ou brigadista, que é um profissional civil remunerado e cuja área <strong>de</strong> ação, embora não<br />

men<strong>os</strong> importante, é restrita às edificações ou setores on<strong>de</strong> presta o serviço.<br />

Infelizmente, no Brasil, somente n<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> on<strong>de</strong> é notória a influência das imigrações<br />

alemã, italiana, polonesa, japonesa e outras men<strong>os</strong> numer<strong>os</strong>as, é que se vislumbra a prática, ainda<br />

que incipiente e sem nenhum apoio oficial, das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>. No Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Sul e em Santa Catarina há <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> pequenas e médias cida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> esse mo<strong>de</strong>lo já<br />

foi implantado com sucesso. Os exempl<strong>os</strong> <strong>de</strong> Joinville, Caçador, Barra Velha e Indaial, em Santa<br />

Catarina, e <strong>de</strong> Nova Prata, Garibaldi, Rolante e Nova Petrópolis, no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, entre<br />

outr<strong>os</strong>, são uma <strong>de</strong>monstração cabal da viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong> à<br />

comunida<strong>de</strong>.<br />

46


No aspecto referente à articulação operacional com <strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> militares, esta é<br />

prejudicada pelo fato <strong>de</strong> que amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> tip<strong>os</strong> <strong>de</strong> corporações atuam em locais diferentes, ou seja,<br />

<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> estão presentes em <strong>de</strong>terminadas cida<strong>de</strong>s justamente pela ausência d<strong>os</strong> agentes do<br />

Estado. Todavia, a exemplo <strong>de</strong> outr<strong>os</strong> países, acreditam<strong>os</strong> que no futuro será perfeitamente<br />

p<strong>os</strong>sível haver essa integração <strong>para</strong> uma melhor prestação <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong> ao contribuinte.<br />

2. Qual a atuação da <strong>de</strong>fesa civil no Brasil, hoje? E como era antigamente?<br />

Os objetiv<strong>os</strong>, as doutrinas e <strong>os</strong> procediment<strong>os</strong> estabelecid<strong>os</strong> pelas organizações <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa<br />

civil são praticamente iguais em tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> países. Isto se explica pelo fato <strong>de</strong> as origens <strong>de</strong>ssas<br />

ativida<strong>de</strong>s serem comuns às <strong>necessida<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> proteção das populações civis diante das atrocida<strong>de</strong>s<br />

e <strong>de</strong>satin<strong>os</strong> cometid<strong>os</strong> pel<strong>os</strong> homens em uma sandice, também <strong>de</strong> cunho universal, chamada <strong>de</strong><br />

guerra.<br />

P<strong>os</strong>teriormente, o conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa civil passou a ser interpretado sob a óptica da<br />

proteção civil e incorporou, também, as preocupações referentes às calamida<strong>de</strong>s provocadas<br />

pel<strong>os</strong> fenômen<strong>os</strong> naturais e seus efeit<strong>os</strong> sobre as comunida<strong>de</strong>s. Por isso, a Cruz Vermelha<br />

Internacional, entida<strong>de</strong> criada justamente <strong>para</strong> minimizar o efeito <strong>de</strong>ssas tragédias sobre as<br />

pessoas, <strong>de</strong>fine <strong>de</strong>fesa civil como “ações que englobam as tarefas <strong>de</strong>stinadas à salvaguarda da<br />

população civil contra <strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> que surjam <strong>de</strong> at<strong>os</strong> h<strong>os</strong>tis ou calamida<strong>de</strong>s, <strong>para</strong> assegurar sua<br />

subsistência e <strong>para</strong> fazer face às condições necessárias à sua existência”.<br />

Já a doutrina brasileira sobre o assunto, mais mo<strong>de</strong>rna e em sintonia com o momento<br />

atual, elaborada e difundida pela Secretaria Nacional <strong>de</strong> Defesa Civil, unida<strong>de</strong> fe<strong>de</strong>ral subordinada<br />

ao Ministério da Integração Nacional, é um pouco mais explicita quando n<strong>os</strong> diz que “a Defesa<br />

Civil é um conjunto <strong>de</strong> ações preventivas, <strong>de</strong> socorro, assistenciais e reconstrutivas, <strong>de</strong>stinadas a<br />

minimizar ou evitar <strong>de</strong>sastres, preservar o moral da população e restabelecer a normalida<strong>de</strong><br />

social”. Os <strong>de</strong>sastres, por sua vez, na <strong>de</strong>finição do documento brasileiro, são “o resultado <strong>de</strong><br />

event<strong>os</strong> advers<strong>os</strong>, naturais ou provocad<strong>os</strong> pelo homem, sobre um ec<strong>os</strong>sistema, causando dan<strong>os</strong><br />

human<strong>os</strong>, materiais e/ou ambientais e consequentes prejuíz<strong>os</strong> econômic<strong>os</strong> e sociais”.<br />

Embora apresentando pequenas diferenças <strong>de</strong> enfoque, amb<strong>os</strong> <strong>os</strong> conceit<strong>os</strong> apresentad<strong>os</strong><br />

coinci<strong>de</strong>m na constatação <strong>de</strong> que <strong>os</strong> trabalh<strong>os</strong> da <strong>de</strong>fesa civil são abrangentes, multidisciplinares e<br />

envolvem, sempre, interesses coletiv<strong>os</strong> ou comunitári<strong>os</strong>. Assim, a “ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa civil”,<br />

como um todo, não é simplesmente sinônimo, em hipótese alguma, <strong>de</strong> “ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bombeiro”.<br />

A <strong>de</strong>fesa civil <strong>de</strong>ve ser mobilizada sempre que a comunida<strong>de</strong> for privada, total ou<br />

parcialmente, <strong>de</strong> suas <strong>necessida<strong>de</strong></strong>s básicas e que esta falta p<strong>os</strong>sa indicar risc<strong>os</strong> à sua integrida<strong>de</strong> ou<br />

47


sobrevivência como grupo social organizado. Não se <strong>de</strong>ve confundir, portanto, competências das<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa civil com situações adversas menores, que diariamente atingem pessoas,<br />

individualmente, ou em grup<strong>os</strong> reduzid<strong>os</strong>. Embora p<strong>os</strong>sam ser graves e causarem, por vezes,<br />

comoção diante do vulto d<strong>os</strong> dan<strong>os</strong> causad<strong>os</strong>, esses inci<strong>de</strong>ntes são objet<strong>os</strong> <strong>de</strong> atuação típica d<strong>os</strong><br />

corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>, unida<strong>de</strong>s Samu 10 , serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> emergência particulares e outras organizações<br />

<strong>de</strong> segurança pública ou assistência social.<br />

No Brasil, <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> registr<strong>os</strong> sobre essa ativida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma or<strong>de</strong>nada, remontam às<br />

observações realizadas pelo Serviço Anti-Aéreo Passivo, durante a 2ª Guerra Mundial (1939-<br />

1945), no litoral do Nor<strong>de</strong>ste, quando seus integrantes buscavam i<strong>de</strong>ntificar a aproximação <strong>de</strong><br />

aeronaves inimigas que pu<strong>de</strong>ssem provocar eventuais bombar<strong>de</strong>i<strong>os</strong> em n<strong>os</strong>so território.<br />

P<strong>os</strong>teriormente, a partir da década <strong>de</strong> 1970, foram dad<strong>os</strong> <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> pass<strong>os</strong> efetiv<strong>os</strong> <strong>para</strong><br />

a constituição <strong>de</strong> um sistema nacional a<strong>de</strong>quado, sob a égi<strong>de</strong> do então Ministério do Interior, cuja<br />

Secretaria Especial <strong>de</strong> Defesa Civil muito contribui <strong>para</strong> essa finalida<strong>de</strong>. A partir <strong>de</strong> 1985, com a<br />

extinção do Ministério do Interior, a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa civil foi relegada a uma situação pouco<br />

importante e durante muit<strong>os</strong> an<strong>os</strong> migrou entre vári<strong>os</strong> ministéri<strong>os</strong>, ao sabor <strong>de</strong> interesses polític<strong>os</strong><br />

divers<strong>os</strong>.<br />

Essas atitu<strong>de</strong>s certamente causaram prejuíz<strong>os</strong> irrecuperáveis no tempo, vez que, em igual<br />

período, as condições <strong>para</strong> a ocorrência <strong>de</strong> <strong>de</strong>sastres no Brasil se multiplicaram diante da<br />

aceleração do processo <strong>de</strong> urbanização e agravamento das condições econômico-sociais da<br />

maioria <strong>de</strong> n<strong>os</strong>sa população.<br />

O texto constitucional em vigor, promulgado em 1988, por sua vez, ao explicitar como<br />

uma das competências d<strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> militares “ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa civil” induziu a<br />

maioria da população a pensar que somente a estes estavam cometidas tais atribuições. Nada mais<br />

falso e perig<strong>os</strong>o <strong>para</strong> as comunida<strong>de</strong>s do que tal entendimento!<br />

Consi<strong>de</strong>rando o anteriormente explicado no sentido <strong>de</strong> que as ações <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa civil visam<br />

à proteção coletiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado grupo social, estas necessitam da participação d<strong>os</strong> própri<strong>os</strong><br />

beneficiári<strong>os</strong> na busca <strong>de</strong> sua segurança e proteção, complementando as obrigações<br />

constitucionais do Estado.<br />

A <strong>de</strong>fesa civil não po<strong>de</strong> prescindir, assim, da participação <strong>de</strong> grup<strong>os</strong> organizad<strong>os</strong>,<br />

voluntári<strong>os</strong> ou não, <strong>de</strong> quaisquer comunida<strong>de</strong>s, que p<strong>os</strong>sam atuar <strong>de</strong> forma efetiva em todas as<br />

10 Serviço <strong>de</strong> Atendimento Móvel <strong>de</strong> Urgência, programa que tem como finalida<strong>de</strong> prestar o socorro à população em<br />

cas<strong>os</strong> <strong>de</strong> emergência, vinculado ao Ministério da Saú<strong>de</strong> e acionado pelo telefone 192.<br />

48


fases que compõem o ciclo da <strong>de</strong>fesa civil, complementando as atribuições d<strong>os</strong> organism<strong>os</strong><br />

públic<strong>os</strong>.<br />

Nenhum Estado, por mais po<strong>de</strong>r<strong>os</strong>o que seja, disporá, sozinho, <strong>de</strong> efetiv<strong>os</strong> e<br />

equipament<strong>os</strong> capazes <strong>de</strong> enfrentar uma gran<strong>de</strong> catástrofe, até porque, isto seria ilógico sob o<br />

ponto <strong>de</strong> vista orçamentário da administração pública. Nada mais elucidativo <strong>de</strong>ssa colocação do<br />

que <strong>os</strong> aconteciment<strong>os</strong> que envolveram a passagem do furacão Katrina, pel<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>, em<br />

2005, cuj<strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> <strong>de</strong>vastadores foram minimizad<strong>os</strong> muito mais pela atuação efetiva da Cruz<br />

Vermelha Americana e outras ONGs do que propriamente pelas unida<strong>de</strong>s públicas <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa civil,<br />

bombeir<strong>os</strong> e guarda nacional.<br />

Em n<strong>os</strong>so país, o pressup<strong>os</strong>to que valoriza e enfatiza a <strong>necessida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> atuação conjunta<br />

do Estado e socieda<strong>de</strong> nessas situações foi corroborado pelo Decreto n. 5.376, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> fevereiro<br />

<strong>de</strong> 2005, o qual regulamenta, atualmente, as ativida<strong>de</strong>s do Sistema Nacional <strong>de</strong> Defesa Civil.<br />

O citado documento estimula, <strong>de</strong> forma clara, objetiva e inteligente, a constituição e participação<br />

<strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s civis, preferencialmente voluntárias, na execução <strong>de</strong>sses trabalh<strong>os</strong>, sob a orientação<br />

das respectivas Com<strong>de</strong>c (Coor<strong>de</strong>nadorias Municipais <strong>de</strong> Defesa Civil).<br />

3. De que forma <strong>os</strong> setores que estão envolvid<strong>os</strong> com emergências (<strong>de</strong>fesa civil, bombeir<strong>os</strong>, resgate, médic<strong>os</strong>,<br />

socorristas etc.) estão integrad<strong>os</strong> atualmente?<br />

Consi<strong>de</strong>rando-se que d<strong>os</strong> 5.800 municípi<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong> men<strong>os</strong> <strong>de</strong> 1.000 p<strong>os</strong>suem Com<strong>de</strong>c<br />

em razoáveis condições <strong>de</strong> operacionalização, 90% não dispõem <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> combate a<br />

incêndi<strong>os</strong>, resgate ou pronto-socorro, e quase 90% atravessa um crônico <strong>de</strong>sequilíbrio<br />

econômico-financeiro, o termo INTEGRAÇÃO soa como algo imp<strong>os</strong>sível <strong>de</strong> ser concretizado <strong>de</strong><br />

forma eficaz e com <strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> pretendid<strong>os</strong>.<br />

O próprio Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, um d<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> mais <strong>de</strong>senvolvid<strong>os</strong> da Fe<strong>de</strong>ração, com<br />

498 municípi<strong>os</strong>, dispõe d<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> da Brigada Militar em pouco mais <strong>de</strong> 60, em<br />

sua maioria, <strong>de</strong> forma precária em term<strong>os</strong> <strong>de</strong> pessoal e equipament<strong>os</strong>. Somando-se mais umas<br />

trinta corporações voluntárias, em condições distintas <strong>de</strong> funcionamento, terem<strong>os</strong> um total,<br />

arredondado, <strong>de</strong> 90 localida<strong>de</strong>s atendidas por esses serviç<strong>os</strong>. E <strong>os</strong> outr<strong>os</strong> 400 municípi<strong>os</strong>? Não<br />

vam<strong>os</strong> esquecer que estam<strong>os</strong> n<strong>os</strong> referindo a um Estado que, segundo a Organização das Nações<br />

Unidas, p<strong>os</strong>sui um d<strong>os</strong> maiores IDH do mundo e é apontado como d<strong>os</strong> melhores lugares do<br />

mundo <strong>para</strong> se viver.<br />

Em term<strong>os</strong> <strong>de</strong> integração <strong>para</strong> o atendimento <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> emergência, sua eficácia tem<br />

inicio a partir da i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> um número telefônico único <strong>para</strong> acionamento, n<strong>os</strong> mol<strong>de</strong>s do<br />

49


911 americano, do 000 australiano, do 118 francês ou do 112 suíço, o que, em tese, significa um<br />

planejamento operacional abrangente e a p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma execução <strong>de</strong>scentralizada e<br />

<strong>de</strong>sburocratizada.<br />

Hoje, no Brasil, <strong>os</strong> divers<strong>os</strong> númer<strong>os</strong> utilizad<strong>os</strong>, pelas várias organizações envolvidas,<br />

impe<strong>de</strong>m, <strong>de</strong> imediato, que se obtenha o grau <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação e presteza que seria <strong>de</strong>sejável<br />

nessas situações. Certamente, que em alguns pouc<strong>os</strong> locais, mesmo assim, é p<strong>os</strong>sível ter-se um<br />

entr<strong>os</strong>amento aceitável entre bombeir<strong>os</strong>, polícias, h<strong>os</strong>pitais e serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> resgate. Todavia, isso<br />

<strong>de</strong>corre muito mais da boa vonta<strong>de</strong>, capacida<strong>de</strong> e espírito <strong>de</strong> equipe <strong>de</strong> alguns chefes e<br />

subordinad<strong>os</strong>, do que efetivamente um procedimento padronizado pelo Estado.<br />

Por isso, torna-se imperi<strong>os</strong>o que na retaguarda <strong>de</strong>sse número único <strong>de</strong> emergência existam<br />

uma mentalida<strong>de</strong> e uma estrutura pública que consigam superar divergências corporativistas e<br />

imponham uma consistente política <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong> ao contribuinte.<br />

O aumento exacerbado da violência, a vergonh<strong>os</strong>a situação da re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, o<br />

sucateamento d<strong>os</strong> equipament<strong>os</strong> d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> profissionais e a ineficiência do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

segurança pública comprovam a imp<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong> <strong>para</strong> que se obtenha um resultado melhor na<br />

integração das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> emergência.<br />

4. Na ocorrência <strong>de</strong> um aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s proporções, como um gran<strong>de</strong> incêndio, vazamento <strong>de</strong> produto<br />

perig<strong>os</strong>o, <strong>de</strong>sabamento ou queda <strong>de</strong> um avião, por exemplo, como se dá a articulação <strong>de</strong>sses setores? Quem atua, <strong>de</strong><br />

que forma atua e quem comanda?<br />

A qualida<strong>de</strong> e eficácia no atendimento a qualquer uma das hipóteses acima citadas, as<br />

quais po<strong>de</strong>riam ser enquadradas como <strong>de</strong>sastres, <strong>de</strong> acordo com a doutrina brasileira <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa<br />

civil, vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r, fundamentalmente, d<strong>os</strong> seguintes fatores: circunstâncias do evento <strong>de</strong>sastr<strong>os</strong>o,<br />

tempo-resp<strong>os</strong>ta, equipament<strong>os</strong> disponíveis e a<strong>de</strong>stramento das equipes. A partir daí, o grau <strong>de</strong><br />

complexida<strong>de</strong> do assunto torna-se cada vez mais elevado.<br />

Cada um <strong>de</strong>sses fatores po<strong>de</strong> <strong>de</strong>smembrar-se em uma série interminável <strong>de</strong> outr<strong>os</strong><br />

fatores, <strong>os</strong> quais, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da freqüência e intensida<strong>de</strong> com que se apresentam, terão maior ou<br />

menor influência sobre o <strong>de</strong>senrolar d<strong>os</strong> aconteciment<strong>os</strong>. As circunstâncias que envolvem um<br />

aci<strong>de</strong>nte com aeronaves, por exemplo, caso ocorra <strong>de</strong>ntro ou fora d<strong>os</strong> limites <strong>de</strong> um aeroporto,<br />

vão exigir procediment<strong>os</strong> bastante distint<strong>os</strong> entre si.<br />

No primeiro caso, terem<strong>os</strong>, certamente, uma ação em uma área que po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada<br />

restrita e geograficamente reduzida. Os trabalh<strong>os</strong> a serem <strong>de</strong>senvolvid<strong>os</strong> serão basicamente<br />

50


voltad<strong>os</strong> <strong>para</strong> a extinção das chamas, pel<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong>, na estrutura ou <strong>de</strong>stroç<strong>os</strong> da aeronave e<br />

tentativa <strong>de</strong> preservação da vida d<strong>os</strong> eventuais sobreviventes (normalmente apresentando quadr<strong>os</strong><br />

<strong>de</strong> queimaduras e traumatism<strong>os</strong> divers<strong>os</strong>) até a chegada a<strong>os</strong> h<strong>os</strong>pitais <strong>de</strong> referência, a ser<br />

executado pelo pessoal do resgate. Nesse caso, são limitadas as p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> outras<br />

complicações envolvendo pessoas, além das citadas, bem como a extensão d<strong>os</strong> dan<strong>os</strong> materiais a<br />

outr<strong>os</strong> locais.<br />

Na outra situação, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da área atingida, po<strong>de</strong> somar-se ao aci<strong>de</strong>nte aéreo em si,<br />

uma catástrofe ambiental, <strong>de</strong>sabament<strong>os</strong> <strong>de</strong> edificações, problemas no trânsito, incêndi<strong>os</strong><br />

<strong>para</strong>lel<strong>os</strong>, rompiment<strong>os</strong> <strong>de</strong> tubulações e uma série infindável <strong>de</strong> outr<strong>os</strong> <strong>de</strong>sdobrament<strong>os</strong> que vão<br />

exigir o emprego <strong>de</strong> um sistema local <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa civil a<strong>de</strong>quadamente equipado e a<strong>de</strong>strado.<br />

Já o tempo-resp<strong>os</strong>ta é medido pela velocida<strong>de</strong> com que o trem <strong>de</strong> socorro, ou pelo<br />

men<strong>os</strong>, parte <strong>de</strong>le, a partir do acionamento feito pelo solicitante, chega ao local do evento,<br />

estabeleça o equipamento e comece a operar no combate ao <strong>de</strong>sastre. Este hiato <strong>de</strong> tempo é<br />

fundamental <strong>para</strong> o salvamento e preservação <strong>de</strong> muitas vidas.<br />

Genericamente, o consenso mundial estabelece como média aceitável, em áreas urbanas,<br />

o tempo <strong>de</strong> três a cinco minut<strong>os</strong> <strong>para</strong> a chegada d<strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> element<strong>os</strong> ao cenário do <strong>de</strong>sastre.<br />

A distância do p<strong>os</strong>to <strong>de</strong> socorro do cenário a ser atingido, as condições atm<strong>os</strong>féricas, a flui<strong>de</strong>z do<br />

tráfego, a geografia da área e a agilida<strong>de</strong> d<strong>os</strong> <strong>de</strong>spachantes, entre outr<strong>os</strong>, são alguns d<strong>os</strong> fatores<br />

que po<strong>de</strong>m interferir na medição da eficácia do atendimento.<br />

Além <strong>de</strong>sse tempo, há restrições ao emprego da palavra EMERGÊNCIA, além do que o<br />

componente Pânico passa também a contribuir <strong>para</strong> o agravamento do quadro, e,<br />

lamentavelmente, muitas vezes, torna-se o principal responsável pela consolidação <strong>de</strong> uma<br />

tragédia.<br />

Por outro lado, uma a<strong>de</strong>quada chegada ao cenário, <strong>de</strong>ntro d<strong>os</strong> limites aceitáveis <strong>de</strong><br />

tempo-resp<strong>os</strong>ta, mas sem <strong>os</strong> equipament<strong>os</strong> necessári<strong>os</strong> a<strong>os</strong> procediment<strong>os</strong>, po<strong>de</strong> comprometer<br />

todo esforço inicial. Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> emergência sem equipament<strong>os</strong> corretamente dimensionad<strong>os</strong> e<br />

em bom estado <strong>de</strong> uso não <strong>de</strong>vem ser incluídas na “or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> batalha” diária.<br />

A valorização e exigência do hábito da “prova <strong>de</strong> prontidão”, ou seja, a conferência<br />

prática do material disponível, no momento da assunção do serviço, é vital <strong>para</strong> que não ocorram<br />

situações embaraç<strong>os</strong>as durante a prestação do socorro. Po<strong>de</strong>rá, também, muitas vezes, evitar o<br />

indiciamento legal <strong>de</strong> integrantes das equipes em razão <strong>de</strong> resultad<strong>os</strong> negativ<strong>os</strong> ao final da missão.<br />

51


Finalmente, o mais importante <strong>de</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> fatores: o a<strong>de</strong>stramento do pessoal envolvido<br />

com essas li<strong>de</strong>s. Nenhuma ativida<strong>de</strong> humana, por mais <strong>de</strong>senvolvida tecnologicamente que seja,<br />

terá êxito se por traz <strong>de</strong> equipament<strong>os</strong> fantástic<strong>os</strong> e <strong>de</strong> última geração não estiverem cérebr<strong>os</strong><br />

<strong>de</strong>vidamente treinad<strong>os</strong>, motivad<strong>os</strong> e <strong>de</strong>dicad<strong>os</strong> a<strong>os</strong> seus afazeres. Quando estam<strong>os</strong> falando, então,<br />

<strong>de</strong> proteção e salvamento <strong>de</strong> vidas, esta constatação se torna <strong>de</strong>cisiva n<strong>os</strong> moment<strong>os</strong> <strong>de</strong> perigo e<br />

aflição.<br />

No tocante ao <strong>de</strong>talhe <strong>de</strong> “quem comanda”, seria interessante que tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> responsáveis<br />

por serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> emergência tivessem em mente um antigo ensinamento <strong>de</strong> Sun Tzu que, há mais<br />

<strong>de</strong> 3.000 an<strong>os</strong>, já n<strong>os</strong> dizia: “o guerreiro inteligente procura o efeito da energia combinada e não<br />

exige muito d<strong>os</strong> indivídu<strong>os</strong>. Leva em conta o talento <strong>de</strong> cada um e utiliza cada homem <strong>de</strong> acordo<br />

com sua capacida<strong>de</strong>. Não exige perfeição d<strong>os</strong> sem talento”.<br />

5. Como você avalia o atendimento a emergências no sul e no centro do país? Há diferenças? Quais?<br />

Após an<strong>os</strong> <strong>de</strong> experiência, enten<strong>de</strong>m<strong>os</strong> que um d<strong>os</strong> principais err<strong>os</strong> <strong>de</strong> n<strong>os</strong>sa<br />

administração pública consiste em tratar o Brasil como um país monolítico. Na verda<strong>de</strong>, som<strong>os</strong><br />

um continente, com aproximadamente 200 milhões <strong>de</strong> habitantes, permeado <strong>de</strong> vári<strong>os</strong> “países”,<br />

cada qual com a sua história, suas tradições, sua economia, seu clima, sua topografia, suas<br />

aspirações e, sobretudo, com seus pov<strong>os</strong> e suas características.<br />

Em conseqüência, as diferenças no tocante ao atendimento são perceptíveis em divers<strong>os</strong><br />

locais. Dentro <strong>de</strong>ssas condições, além do Distrito Fe<strong>de</strong>ral, as regiões Sul e Su<strong>de</strong>ste po<strong>de</strong>m ser<br />

consi<strong>de</strong>radas privilegiadas em relação às p<strong>os</strong>sibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> resp<strong>os</strong>ta em term<strong>os</strong> <strong>de</strong> situações <strong>de</strong><br />

emergência. Isto não significa, porém, que tenham atingido níveis plenamente satisfatóri<strong>os</strong> e que<br />

tudo esteja correndo da melhor maneira p<strong>os</strong>sível.<br />

Já n<strong>os</strong> referim<strong>os</strong> anteriormente ao Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, e agora citam<strong>os</strong> o caso do Estado<br />

<strong>de</strong> São Paulo, a maior potencia econômica da América do Sul: excetuando-se a sua capital, cuja<br />

estrutura é bastante competente e ágil, n<strong>os</strong> restantes 750 municípi<strong>os</strong> existem quartéis <strong>de</strong><br />

bombeir<strong>os</strong> da polícia militar em pouco mais <strong>de</strong> 120 e apenas uma corporação voluntária atuante,<br />

em Itapetininga. Diversas cida<strong>de</strong>s importantes daquela Unida<strong>de</strong> da Fe<strong>de</strong>ração, com populações<br />

superiores a 200.000 habitantes, não dispõem <strong>de</strong> estações <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>. São Paulo e Rio Gran<strong>de</strong><br />

do Sul, Estad<strong>os</strong> bastante <strong>de</strong>senvolvid<strong>os</strong>, são, nesse caso, apenas exempl<strong>os</strong> elucidativ<strong>os</strong> <strong>de</strong> n<strong>os</strong>sa<br />

realida<strong>de</strong> nessa área.<br />

Imaginando-se, então, uma hipótese, sabidamente remota, dada a precária situação<br />

econômica vigente, em que <strong>os</strong> dois Estad<strong>os</strong> pu<strong>de</strong>ssem investir em seus corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> e<br />

52


duplicassem o número <strong>de</strong> localida<strong>de</strong>s atendidas, teríam<strong>os</strong> em São Paulo cerca <strong>de</strong> 240 p<strong>os</strong>t<strong>os</strong> no<br />

interior e no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, somad<strong>os</strong> <strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>, atingiríam<strong>os</strong> algo em torno <strong>de</strong> 140<br />

unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atendimento. Com todo este gigantesco esforço governamental, ainda restariam 510<br />

cida<strong>de</strong>s em São Paulo e 358 no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul sem a presença efetiva <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> capazes<br />

<strong>de</strong> prestar um atendimento <strong>de</strong>ntro do tempo-resp<strong>os</strong>ta a<strong>de</strong>quado.<br />

A contra-argumentação <strong>de</strong>ssa colocação po<strong>de</strong>ria afirmar que mesmo assim, com esses<br />

númer<strong>os</strong>, a maioria d<strong>os</strong> resi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>sses Estad<strong>os</strong> estaria sendo atendida porque se concentra nas<br />

cida<strong>de</strong>s maiores, on<strong>de</strong> existem <strong>os</strong> serviç<strong>os</strong>. O raciocínio é perfeitamente correto! Só que, como<br />

vivem<strong>os</strong> em uma <strong>de</strong>mocracia, em pleno Estado <strong>de</strong> Direito, não existem cidadã<strong>os</strong> <strong>de</strong> segunda<br />

classe. Estejam on<strong>de</strong> estiverem, como contribuintes, tem direito a<strong>os</strong> mesm<strong>os</strong> serviç<strong>os</strong> prestad<strong>os</strong><br />

pelo Estado n<strong>os</strong> centr<strong>os</strong> mais importantes.<br />

6. Quais são as principais carências e dificulda<strong>de</strong>s do país em term<strong>os</strong> <strong>de</strong> atendimento à emergências? Como<br />

po<strong>de</strong>ria melhorar?<br />

O quadro geral do país em term<strong>os</strong> <strong>de</strong> prevenção e capacitação <strong>para</strong> resp<strong>os</strong>ta a <strong>de</strong>sastres é<br />

preocupante. Estam<strong>os</strong> pagando pela imprevidência e má gestão da coisa pública <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>os</strong> temp<strong>os</strong><br />

do Brasil colonial. Com o passar d<strong>os</strong> an<strong>os</strong> e sucessiv<strong>os</strong> <strong>de</strong>sinteresses polític<strong>os</strong>, a situação atingiu,<br />

agora, níveis insustentáveis <strong>de</strong> manutenção e que exigem alterações significativas n<strong>os</strong> mo<strong>de</strong>l<strong>os</strong><br />

estruturais vigentes, sob pena <strong>de</strong> rompimento do próprio tecido social.<br />

Ainda que não seja uma tarefa fácil, certamente que po<strong>de</strong>rem<strong>os</strong> reverter essa situação se<br />

conseguirm<strong>os</strong> aliar competência gerencial, <strong>de</strong>sprendimento político e vonta<strong>de</strong> comunitária no<br />

rumo da resolução <strong>de</strong>sses problemas. São ingredientes que, <strong>de</strong>vidamente integrad<strong>os</strong>, po<strong>de</strong>m fazer<br />

frente às n<strong>os</strong>sas principais carências e dificulda<strong>de</strong>s, entre as quais po<strong>de</strong>m<strong>os</strong> <strong>de</strong>stacar: amplitu<strong>de</strong><br />

territorial, falta <strong>de</strong> cultura <strong>de</strong> prevenção e incapacida<strong>de</strong> d<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> em cumprir, <strong>de</strong> forma<br />

satisfatória, suas obrigações constitucionais, conforme preconizado na Carta Magna.<br />

Por outro lado, a prática tem <strong>de</strong>monstrado que nenhuma solução efetiva na área <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa<br />

civil ou atendimento à emergências diárias terá eficácia real se não for calcada na capacida<strong>de</strong> local<br />

<strong>de</strong> reação e atuação diante <strong>de</strong> event<strong>os</strong> <strong>de</strong>sastr<strong>os</strong><strong>os</strong>. O mo<strong>de</strong>lo estrutural brasileiro em vigor,<br />

contrário ao <strong>de</strong> todas as nações, inclusive as men<strong>os</strong> <strong>de</strong>senvolvidas do que nós, precisa ser<br />

repensado com atenção. Ao estabelecer organizações <strong>de</strong> segurança pública e <strong>de</strong> serviç<strong>os</strong> essenciais<br />

em níveis estaduais, este mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>ixa <strong>os</strong> prefeit<strong>os</strong>, verda<strong>de</strong>ir<strong>os</strong> interessad<strong>os</strong> nas condições <strong>de</strong><br />

vida <strong>de</strong> seus munícipes, em p<strong>os</strong>ição <strong>de</strong> mer<strong>os</strong> espectadores e pedintes <strong>de</strong>sesperad<strong>os</strong> por recurs<strong>os</strong><br />

quando uma catástrofe atinge suas cida<strong>de</strong>s<br />

53


No mundo inteiro, men<strong>os</strong> no Brasil, todo planejamento, prevenção e execução <strong>de</strong> ações<br />

<strong>de</strong> emergência se inicia com <strong>os</strong> mei<strong>os</strong>, pessoal e recurs<strong>os</strong> locais, on<strong>de</strong> lado a lado, governo e<br />

entida<strong>de</strong>s comunitárias procuram superar as dificulda<strong>de</strong>s, antes da intervenção suplementar do<br />

Estado (<strong>de</strong>partamento ou província) e da União, <strong>os</strong> quais só são acionad<strong>os</strong> quando esgotad<strong>os</strong><br />

comprovadamente tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> esforç<strong>os</strong> e disponibilida<strong>de</strong>s municipais. Aliás, acertadamente, o<br />

recente Decreto n. 5.376/2005 preconiza exatamente essa p<strong>os</strong>tura! Todavia, entre a objetivida<strong>de</strong> e<br />

acerto da norma legal e a plena capacitação d<strong>os</strong> Municípi<strong>os</strong> <strong>para</strong> a assunção <strong>de</strong>ssas<br />

responsabilida<strong>de</strong>s, ainda terem<strong>os</strong> um longo caminho a percorrer.<br />

7. Na sua opinião, foi p<strong>os</strong>sível, em term<strong>os</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa civil e atendimento à emergências, colher alguns<br />

ensinament<strong>os</strong> em relação a<strong>os</strong> aconteciment<strong>os</strong> <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2001, do tsunami, em 2004 e <strong>os</strong> provocad<strong>os</strong><br />

pelo furacão Katrina, em 2005?<br />

Sem dúvidas, esses event<strong>os</strong> <strong>de</strong>sastr<strong>os</strong><strong>os</strong> obrigaram a tod<strong>os</strong> que militam nessa área à<br />

adoção <strong>de</strong> profundas reflexões sobre <strong>os</strong> procediment<strong>os</strong> e técnicas que eram utilizad<strong>os</strong> e se<br />

m<strong>os</strong>traram inúteis diante da brutalida<strong>de</strong> d<strong>os</strong> resultad<strong>os</strong> finais.<br />

No tocante ao terrorismo, era previsível que, no limiar do século XXI, com o colapso d<strong>os</strong><br />

regimes socialistas do Leste Europeu e a consolidação <strong>de</strong> uma única superpotência hegemônica<br />

no mundo, iriam surgir turbulências e reações nem sempre amist<strong>os</strong>as por parte <strong>de</strong> algumas<br />

fil<strong>os</strong>ofias que p<strong>os</strong>suem entendiment<strong>os</strong> distint<strong>os</strong> sobre <strong>os</strong> <strong>de</strong>stin<strong>os</strong> e finalida<strong>de</strong>s da humanida<strong>de</strong><br />

sobre a Terra.<br />

Quanto ao furacão Katrina, foi a típica “tragédia anunciada”, on<strong>de</strong> a política do “avestruz”<br />

pareceu imobilizar as autorida<strong>de</strong>s americanas, até que a dolor<strong>os</strong>a realida<strong>de</strong> começasse a exigir uma<br />

mobilização gigantesca, repetim<strong>os</strong> aqui, encabeçada pela Cruz Vermelha Americana e outras<br />

organizações.<br />

Um estudo meticul<strong>os</strong>o <strong>de</strong>sses lamentáveis episódi<strong>os</strong> permitiu-n<strong>os</strong> concluir que não foi a<br />

competência d<strong>os</strong> terroristas que favoreceu o êxito total em suas macabras manobras ou o fato do<br />

Katrina ter se apresentado com mais potência do que o imaginado.<br />

O que facilitou a ação da Al-Qaeda e impediu que mais pessoas escapassem do furacão<br />

foi a incompetência <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> alerta e pronta-resp<strong>os</strong>ta que sucumbiu por negligenciar uma<br />

<strong>de</strong> suas obrigações mais óbvias: evitar o fator surpresa! Idêntico raciocínio po<strong>de</strong>ria ser aplicado à<br />

tragédia do tsunami, com a agravante <strong>de</strong> que o alerta não po<strong>de</strong> ser transmitido porque não havia<br />

quem <strong>os</strong> recebesse.<br />

54


Para a minimização <strong>de</strong>ssas conseqüências, organizações que lidam com emergências<br />

precisam investir na pre<strong>para</strong>ção <strong>de</strong> recurs<strong>os</strong> human<strong>os</strong> e materiais necessári<strong>os</strong>, antes que as coisas<br />

aconteçam e, sobretudo, formando, a<strong>de</strong>strando e alertando equipes e comunida<strong>de</strong>s.<br />

Um exemplo p<strong>os</strong>itivo e que <strong>de</strong>monstra o acerto <strong>de</strong>ssas medidas, foi a resp<strong>os</strong>ta d<strong>os</strong><br />

serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> emergência <strong>de</strong> Londres, em julho <strong>de</strong> 2005, por ocasião d<strong>os</strong> atentad<strong>os</strong> ocorrid<strong>os</strong><br />

naquela cida<strong>de</strong>. A efetivida<strong>de</strong> da pronta-resp<strong>os</strong>ta, o entr<strong>os</strong>amento entre bombeir<strong>os</strong>, polícia e<br />

ambulâncias, bem como a prontidão da retaguarda h<strong>os</strong>pitalar, foram fatores <strong>de</strong>terminantes <strong>para</strong><br />

que <strong>os</strong> efeit<strong>os</strong> da catástrofe, em númer<strong>os</strong> finais <strong>de</strong> vítimas, ainda que lamentavelmente elevad<strong>os</strong>,<br />

f<strong>os</strong>sem reduzid<strong>os</strong> diante das proporções do evento. Em resumo, moment<strong>os</strong> <strong>de</strong> crise exigem<br />

resp<strong>os</strong>tas rápidas, diretas e eficazes, coor<strong>de</strong>nação e comando competentes, equipes pre<strong>para</strong>das e<br />

planejament<strong>os</strong> antecipad<strong>os</strong>, pois o improvável e o imp<strong>os</strong>sível não existem quando se trata da<br />

probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sastres!<br />

No intuito <strong>de</strong> complementar as informações trazidas na entrevista transcrita, fizem<strong>os</strong><br />

novas indagações ao especialista, cujo resultado m<strong>os</strong>tram<strong>os</strong> a seguir, no mesmo formato <strong>de</strong><br />

perguntas e resp<strong>os</strong>tas.<br />

1. Qual a diferença entre bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> e comunitári<strong>os</strong>?<br />

Os Corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong> Voluntári<strong>os</strong> (CBV) são por <strong>de</strong>finição e objetiv<strong>os</strong> organizações<br />

essencialmente comunitárias, aten<strong>de</strong>ndo, normalmente, uma área restrita ao território <strong>de</strong> sua<br />

comunida<strong>de</strong>. São socieda<strong>de</strong>s civis (alguns já foram qualificad<strong>os</strong> como OSCIP, pelo Ministério da<br />

Justiça), integradas por cidadã<strong>os</strong> <strong>de</strong> várias profissões, treinad<strong>os</strong> e a<strong>de</strong>strad<strong>os</strong>, <strong>os</strong> quais, imbuíd<strong>os</strong><br />

do sentimento <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> coletiva, procuram suprir, no caso brasileiro, as <strong>de</strong>ficiências do<br />

Estado no cumprimento das disp<strong>os</strong>ições constitucionais <strong>de</strong> proteção e salvaguarda <strong>de</strong> vidas e<br />

patrimônio.<br />

Imagine um Grupo <strong>de</strong> Escoteir<strong>os</strong>, com sua direção administrativa, direção técnica,<br />

seniores, escoteir<strong>os</strong> e lobinh<strong>os</strong>, mas voltado exclusivamente <strong>para</strong> as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong>, com<br />

Diretoria Administrativa, Comando Operacional, bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> (18-60 an<strong>os</strong>), aspirantes<br />

(13-17 an<strong>os</strong>) e ca<strong>de</strong>tes (7-12 an<strong>os</strong>). Guardadas as <strong>de</strong>vidas proporções, esta é a estrutura básica <strong>de</strong><br />

um Corpo <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong> Voluntári<strong>os</strong>.<br />

Todavia, a expressão “bombeiro comunitário” está sendo hoje utilizado, <strong>de</strong> forma errada,<br />

<strong>para</strong> i<strong>de</strong>ntificar algumas organizações formadas por bombeir<strong>os</strong> militares estaduais e voluntári<strong>os</strong><br />

civis, em diversas cida<strong>de</strong>s do sul do país, com <strong>de</strong>staque <strong>para</strong> Santa Catarina.<br />

55


Essa formatação, além <strong>de</strong> ineficaz (em alguns cas<strong>os</strong>, po<strong>de</strong> até ser eficiente) é ilegal, pois<br />

militares da ativa não po<strong>de</strong>m ocupar funções <strong>de</strong> comando e chefia em socieda<strong>de</strong>s civis (<strong>os</strong><br />

estatut<strong>os</strong> sociais é que <strong>de</strong>finem o gerenciamento da entida<strong>de</strong>) e nem civis po<strong>de</strong>m trabalhar<br />

gratuitamente (bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> não tem remuneração pecuniária) em quartéis militares (o<br />

CBM estadual é uma organização militar).<br />

2. Qual o nível <strong>de</strong> relacionamento, reconhecimento e disp<strong>os</strong>ição em apoiar <strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> por<br />

parte d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> militares <strong>de</strong> Santa Catarina e outr<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong>?<br />

No presente momento, é evi<strong>de</strong>nte o antagonismo <strong>de</strong>monstrado pel<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong><br />

militares, unid<strong>os</strong> em torno da Ligabom (uma associação que reúne <strong>os</strong> comandantes <strong>de</strong> CBMs <strong>de</strong><br />

todo o Brasil), contra a atuação e existência d<strong>os</strong> CBV.<br />

No caso particular <strong>de</strong> Santa Catarina, o conceito e a eficácia atingidas pel<strong>os</strong> CBVs, n<strong>os</strong><br />

últim<strong>os</strong> an<strong>os</strong>, a partir do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>senvolvido em Joinville, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XIX, causa<br />

<strong>de</strong>sconforto a<strong>os</strong> comand<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> militares, <strong>os</strong> quais tentam dificultar a expansão<br />

voluntária, por vári<strong>os</strong> mei<strong>os</strong>, inclusive jurídic<strong>os</strong>. Ap<strong>os</strong>tam em uma disputa ridícula <strong>para</strong> manter<br />

uma exclusivida<strong>de</strong> imp<strong>os</strong>sível, na contra-mão da história e das tradições <strong>de</strong> países mais<br />

<strong>de</strong>senvolvid<strong>os</strong>, dada as disponibilida<strong>de</strong>s orçamentárias d<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong>.<br />

Essa p<strong>os</strong>tura acaba prejudicando a população, que dispõe <strong>de</strong>sses serviç<strong>os</strong> em pouco mais<br />

<strong>de</strong> 10% d<strong>os</strong> Municípi<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong> e sem perspectivas futuras <strong>de</strong> melhora, em razão do panorama<br />

econômico mundial. No entanto, é importante ressaltar, sempre, que <strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong><br />

voluntári<strong>os</strong> não substituem e nem preten<strong>de</strong>m acabar com <strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> militares! Quem<br />

está em dificulda<strong>de</strong>s não escolhe ser atendido por bombeir<strong>os</strong> militares, voluntári<strong>os</strong> ou<br />

brigadistas...<br />

Defen<strong>de</strong>m<strong>os</strong> um mo<strong>de</strong>lo (semelhante ao europeu e norte-americano) coerente com a<br />

realida<strong>de</strong> social e econômica <strong>de</strong> um país que precisa investir em todas as áreas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> a<br />

redução e otimização d<strong>os</strong> gast<strong>os</strong> do Estado é uma imp<strong>os</strong>ição <strong>de</strong> cidadania. Ou seja, nas cida<strong>de</strong>s<br />

maiores, profissionais, auxiliad<strong>os</strong>, quando o for o caso, por guarnições voluntárias. Nas<br />

localida<strong>de</strong>s menores, estações <strong>de</strong> voluntári<strong>os</strong>, com o apoio logístico, financeiro e <strong>de</strong> treinamento<br />

do Estado, sem interferência hierárquica da corporação militar estadual.<br />

Seria p<strong>os</strong>sível, com a adoção do sistema voluntário, atingir um grau <strong>de</strong> cobertura próxima<br />

d<strong>os</strong> 100%, ainda mais se consi<strong>de</strong>rarm<strong>os</strong> as características continentais do Brasil e uma população<br />

<strong>de</strong> 200 milhões <strong>de</strong> habitantes. Há muito espaço <strong>para</strong> tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> tip<strong>os</strong> <strong>de</strong> corporações e muita gente<br />

56


<strong>para</strong> ser salva e protegida! As recentes calamida<strong>de</strong>s que assolaram o país <strong>de</strong> sul a norte são uma<br />

prova cabal disso.<br />

3. Há unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> doutrina, uniformida<strong>de</strong> <strong>de</strong> procediment<strong>os</strong>, <strong>de</strong> formação, trajes e equipament<strong>os</strong>?<br />

As estratégias, táticas, técnicas e protocol<strong>os</strong> <strong>para</strong> prevenção e combate a incêndi<strong>os</strong>, busca<br />

e salvamento, e emergência pré-h<strong>os</strong>pitalar são praticamente universais! O bombeiro voluntário é<br />

um bombeiro que presta um serviço público, da mesma forma que o seu congênere militar, nas<br />

cida<strong>de</strong>s, n<strong>os</strong> camp<strong>os</strong>, nas ruas, mas estradas, n<strong>os</strong> ri<strong>os</strong>, n<strong>os</strong> mares, nas montanhas e n<strong>os</strong> túneis. Os<br />

métod<strong>os</strong> <strong>de</strong> ensino e instrução também são bastante assemelhad<strong>os</strong>.<br />

Em Santa Catarina houve um ajuste, com a participação do Ministério Público e<br />

Assembléia Legislativa, homologando a formação d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> e civis em um curso<br />

<strong>de</strong> 300 horas-aulas. Nenhum bombeiro voluntário ocupa seu lugar em uma guarnição <strong>de</strong> socorro<br />

sem estar <strong>de</strong>vidamente a<strong>de</strong>strado. A própria comunida<strong>de</strong> exerce essa fiscalização, pois ela paga e<br />

contribui <strong>para</strong> a manutenção <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> que lhe responda com presteza e eficácia quando<br />

acionada…<br />

O que apresenta variação, <strong>de</strong> país <strong>para</strong> país, <strong>de</strong> Estado <strong>para</strong> Estado, <strong>de</strong> Município <strong>para</strong><br />

Município, são a qualida<strong>de</strong> e quantida<strong>de</strong> d<strong>os</strong> equipament<strong>os</strong> disponíveis, o treinamento e<br />

a<strong>de</strong>stramento das guarnições, a disp<strong>os</strong>ição geográfica das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atendimento, a presteza no<br />

socorro (tempo-resp<strong>os</strong>ta), o apoio d<strong>os</strong> govern<strong>os</strong> e as contribuições das comunida<strong>de</strong>s.<br />

A Abvesc e a Voluntersul mantém permanente intercâmbio com corporações <strong>de</strong> outr<strong>os</strong><br />

países, as quais, além <strong>de</strong> oferecerem vagas em seus divers<strong>os</strong> curs<strong>os</strong>, c<strong>os</strong>tumam enviar<br />

representantes <strong>para</strong> <strong>os</strong> Enbov (Encontro Nacional <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong> Voluntári<strong>os</strong>), realizado<br />

anualmente, em novembro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2004. O VI Enbov, em 2009, será realizado em Concórdia/SC.<br />

4. Qual a escala <strong>de</strong> serviço <strong>de</strong> um bombeiro voluntário?<br />

Os CBVs são socieda<strong>de</strong>s civis in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, regidas por estatut<strong>os</strong> sociais própri<strong>os</strong> e que<br />

dispõem <strong>de</strong> regiment<strong>os</strong> intern<strong>os</strong> que regulam as suas ativida<strong>de</strong>s. Cada corporação, <strong>de</strong> acordo com<br />

as peculiarida<strong>de</strong>s do local on<strong>de</strong> atua, estabelece seus horári<strong>os</strong> e condições <strong>de</strong> trabalho, pois o<br />

bombeiro voluntário não é “empregado” do CBV, e sim sócio ativo <strong>de</strong> uma entida<strong>de</strong> que foi<br />

formada com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> salvar e proteger vidas e patrimôni<strong>os</strong>.<br />

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5. Quais <strong>os</strong> <strong>incentivo</strong>s que individualmente são oferecid<strong>os</strong> ao bombeiro voluntário? E coletivamente?<br />

A tradição d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> pelo mundo induz a que se adote, em princípio, a<br />

p<strong>os</strong>tura d<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> chilen<strong>os</strong>, on<strong>de</strong> o <strong>incentivo</strong> maior é apenas a satisfação <strong>de</strong> receber um<br />

sorriso ou um “muito obrigado” por parte daqueles que foram socorrid<strong>os</strong>. Todavia, o<br />

voluntariado sofre, evi<strong>de</strong>ntemente, influências locais, como as condições econômicas da<br />

comunida<strong>de</strong> e d<strong>os</strong> própri<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>, as tradições e cultura herdadas <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong> e a<br />

realida<strong>de</strong> em que vivem. Portanto, não há como padronizar quaisquer tip<strong>os</strong> <strong>de</strong> <strong>incentivo</strong>, sejam<br />

individuais ou coletiv<strong>os</strong>. Cada comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>verá <strong>de</strong>cidir sobre isso.<br />

6. Como funciona o sistema <strong>de</strong> seguro <strong>de</strong> vida e contra aci<strong>de</strong>ntes?<br />

N<strong>os</strong> mol<strong>de</strong>s normais das apólices vigentes no mercado. Além disso, algumas associações<br />

oferecem, às suas próprias expensas, plan<strong>os</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e outras vantagens a<strong>os</strong> seus sóci<strong>os</strong><br />

bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>.<br />

7. Existe responsabilida<strong>de</strong> disciplinar por conduta ina<strong>de</strong>quada ou que coloque em risco ou provoque<br />

dan<strong>os</strong> a terceir<strong>os</strong>?<br />

Todo CBV, como qualquer associação, p<strong>os</strong>sui um estatuto e um regimento interno on<strong>de</strong><br />

são previstas <strong>os</strong> motiv<strong>os</strong> e as penalida<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>vem ser aplicadas a sóci<strong>os</strong> infratores das<br />

normas estabelecidas. O aspecto disciplinar, embora seja uma entida<strong>de</strong> civil, é extremamente<br />

rigor<strong>os</strong>o, pois além da responsabilida<strong>de</strong> no trato e proteção <strong>de</strong> vidas alheias, <strong>os</strong> CBVs são escolas<br />

<strong>de</strong> civismo, dignida<strong>de</strong> e respeito a<strong>os</strong> semelhantes e símbol<strong>os</strong> e valores da Pátria.<br />

8. A eximição <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> criminal pressupõe o acatamento <strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns superiores?<br />

O voluntariado pressupõe que a participação <strong>de</strong> cada um é livre e <strong>de</strong>ve ser coerente com<br />

seu grau <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro da associação. As ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> não são aleatórias<br />

ou improvisadas. A instrução básica é exaustiva, complementada permanentemente por curs<strong>os</strong><br />

específic<strong>os</strong> realizad<strong>os</strong> tanto no Brasil, como no exterior. Exercíci<strong>os</strong> simulad<strong>os</strong> periódic<strong>os</strong>, além<br />

das chamadas diárias reais, sedimentam o preparo d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>, que como já disse,<br />

tem seu <strong>de</strong>sempenho avaliado pelo mais interessado d<strong>os</strong> juízes: a própria comunida<strong>de</strong>!<br />

Ao lado do rigor disciplinar, existe a consciência <strong>de</strong> que tod<strong>os</strong> sabem <strong>os</strong> seus limites e<br />

competências na luta contra <strong>os</strong> sinistr<strong>os</strong>. Portanto, eventuais <strong>de</strong>svi<strong>os</strong> <strong>de</strong> conduta ou<br />

comportamento serão <strong>de</strong> exclusiva responsabilida<strong>de</strong> penal do infrator, vez que nenhum<br />

comandante <strong>de</strong> socorro dará or<strong>de</strong>ns em <strong>de</strong>sacordo com <strong>os</strong> regulament<strong>os</strong> e técnicas previstas.<br />

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9. No documento encaminhado pela Abvesc ao Deputado J<strong>os</strong>é Carl<strong>os</strong> Vieira há questionamento sobre o<br />

§ 2º do art. 2º da Lei n. 11.901, <strong>de</strong> 12/1/2009, que dispõe sobre <strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> civis. Eis o texto: “No<br />

atendimento a sinistr<strong>os</strong> em que atuem, em conjunto, <strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> civis e o corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> militar, a coor<strong>de</strong>nação<br />

e a direção das ações, caberão, com exclusivida<strong>de</strong>, e em qualquer hipótese, à corporação militar”. Bem, ao se falar<br />

em bombeir<strong>os</strong> civis, que a própria lei qualifica como aqueles com remuneração (creio que sejam <strong>os</strong> “amarelinh<strong>os</strong>”<br />

contratad<strong>os</strong> por empresas privadas), não estariam excluíd<strong>os</strong> <strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>?<br />

Sim! Bombeir<strong>os</strong> profissionais civis (amarelinh<strong>os</strong>) não são bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>,<br />

portanto essa legislação não abrange <strong>os</strong> CBVs.<br />

9.1 Falta uma lei específica legitimando o trabalho d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>?<br />

A legitimida<strong>de</strong> das ativida<strong>de</strong>s d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> já foi consagrada pelas<br />

comunida<strong>de</strong>s sulistas on<strong>de</strong> eles atuam. Tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> CBVs também são entida<strong>de</strong>s legalmente<br />

constituídas e atuando <strong>de</strong> acordo com o disp<strong>os</strong>to nas Constituições do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul e Santa<br />

Catarina, além <strong>de</strong> não ferirem nenhum disp<strong>os</strong>itivo constitucional fe<strong>de</strong>ral.<br />

O que falta, em verda<strong>de</strong>, é um disp<strong>os</strong>itivo legal regulamentando, <strong>de</strong> forma abrangente e<br />

não taxativa, a ativida<strong>de</strong> no território nacional, <strong>de</strong>ixando a<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> e Municípi<strong>os</strong> <strong>os</strong> ajustes<br />

finais e específic<strong>os</strong> <strong>de</strong> cada localida<strong>de</strong>. Uma prop<strong>os</strong>ta <strong>de</strong> emenda constitucional po<strong>de</strong>ria aproveitar<br />

o disp<strong>os</strong>to nas Constituições do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul e <strong>de</strong> Santa Catarina on<strong>de</strong> está explicitado, <strong>de</strong><br />

forma clara e objetiva, o apoio que <strong>os</strong> dois Estad<strong>os</strong> do extremo sul oferecem a<strong>os</strong> seus bombeir<strong>os</strong><br />

voluntári<strong>os</strong>, sem comprometer a existência d<strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> militares.<br />

9.2 Se atuarem em conjunto, bombeir<strong>os</strong> militares e voluntári<strong>os</strong> (não <strong>os</strong> civis) como seria a coor<strong>de</strong>nação d<strong>os</strong><br />

trabalh<strong>os</strong>? Não seria razoável que a coor<strong>de</strong>nação e a direção ficassem com <strong>os</strong> militares?<br />

Sem dúvida, Em caso <strong>de</strong> ação conjunta a coor<strong>de</strong>nação (e não comando) das ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>ve ser da alçada do representante do Estado, no caso, o CBM. Ambas as corporações, cada qual<br />

sob seu comando, atuariam com um objetivo comum, coor<strong>de</strong>nado pelo CBM.<br />

9.3 Quais seriam <strong>os</strong> cas<strong>os</strong> <strong>de</strong> “não exclusivida<strong>de</strong>” e exceção <strong>para</strong> “qualquer hipótese”?<br />

A Constituição Fe<strong>de</strong>ral reza em seu art. 142 que a segurança pública, embora <strong>de</strong>ver do<br />

Estado é RESPONSABILIDADE DE TODOS!!!!! A proteção contra sinistr<strong>os</strong> e a preservação <strong>de</strong><br />

vidas e patrimôni<strong>os</strong> se enquadram nesse artigo constitucional. Inexiste, portanto, a cláusula <strong>de</strong><br />

exclusivida<strong>de</strong> <strong>para</strong> atuação d<strong>os</strong> CBMs nesse campo, bem como, o mesmo texto legal assegura<br />

que tod<strong>os</strong> po<strong>de</strong>m se associar <strong>para</strong> a prática <strong>de</strong> fins lícit<strong>os</strong> e pacífic<strong>os</strong>.<br />

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10. O que tem a dizer sobre a sup<strong>os</strong>ta prática <strong>de</strong> que <strong>os</strong> coronéis bombeir<strong>os</strong> militares não se esforçam<br />

<strong>para</strong> que haja convêni<strong>os</strong>, formação <strong>de</strong> brigadistas voluntári<strong>os</strong> em empresas e órgã<strong>os</strong> públic<strong>os</strong> porque isso afetaria<br />

uma reserva <strong>de</strong> mercado que teriam (quando forem <strong>para</strong> a reserva) como proprietári<strong>os</strong> <strong>de</strong> empresas <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong><br />

civis?<br />

Embora não p<strong>os</strong>sa se generalizar essa prática, algumas legislações estaduais e do Distrito<br />

Fe<strong>de</strong>ral contemplam a presença <strong>de</strong> um “assessor técnico”, que seja oficial da reserva do CBM, n<strong>os</strong><br />

quadr<strong>os</strong> das empresas que fornecem brigadistas (amarelinh<strong>os</strong>).<br />

10.1 Isso se aplicaria, também, à uma certa má vonta<strong>de</strong> com <strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong>?<br />

Certamente que a presença <strong>de</strong> um CBV atuando gratuitamente em uma cida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ria<br />

reduzir o espaço <strong>de</strong> atuação das empresas, embora as faixas <strong>de</strong> atuação sejam distintas. Ressaltese,<br />

no entanto, que o CBV presta um serviço público gratuito, enquanto <strong>os</strong> “amarelinh<strong>os</strong>” ficam<br />

restrit<strong>os</strong> a<strong>os</strong> ambientes contratad<strong>os</strong> mediante pagamento mensal. Por isso, reforça-se a idéia <strong>de</strong><br />

que seja estabelecida uma classificação das cida<strong>de</strong>s, por número <strong>de</strong> habitantes, on<strong>de</strong>, a partir <strong>de</strong><br />

um <strong>de</strong>terminado quantitativo (100.000 habitantes, por exemplo) <strong>os</strong> corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong><br />

<strong>de</strong>veriam ser profissionais, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> eventuais serviç<strong>os</strong> particulares contratad<strong>os</strong>.<br />

cida<strong>de</strong>?<br />

11. Qual a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> convivência <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> militares com bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> em uma mesma<br />

Em países da Europa e Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>, voluntári<strong>os</strong> e profissionais trabalham sem<br />

problemas em prol <strong>de</strong> suas comunida<strong>de</strong>s. Em princípio, não <strong>de</strong>veria haver nenhum problema,<br />

mas no Brasil, por enquanto, não há <strong>os</strong> dois tip<strong>os</strong> <strong>de</strong> corporação em uma mesma cida<strong>de</strong>, pois <strong>os</strong><br />

voluntári<strong>os</strong> são criad<strong>os</strong> em locais on<strong>de</strong> não há CBM.<br />

11.1 Isto é, naturalmente haveria dois serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> atendimento e <strong>de</strong>spacho?<br />

Nesses cas<strong>os</strong>, lamentavelmente sim! E o contribuinte que pague...<br />

11.2 Qual a priorida<strong>de</strong>?<br />

Por isso, em ocorrendo essa hipótese (um CBV e um CBM, na mesma cida<strong>de</strong>) pressupõese<br />

que também <strong>de</strong>veria haver um centro <strong>de</strong> <strong>de</strong>spacho único (padrão 911 americano, 112 alemão<br />

ou 000 australiano), operado e coor<strong>de</strong>nado por uma agência in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> subordinação a<br />

qualquer uma das corporações. Os serviç<strong>os</strong> <strong>de</strong> combate a incêndi<strong>os</strong> e busca e salvamento e APH 11<br />

são distribuíd<strong>os</strong> por áreas sob responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado p<strong>os</strong>to <strong>de</strong> socorro. Assim, não há<br />

11 Atendimento pré-h<strong>os</strong>pitalar.<br />

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problema <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>. O socorro a ser acionado inicialmente é aquele responsável pela área<br />

solicitante. Em Joinville, já está sendo testada, com êxito, uma central única <strong>de</strong> emergência,<br />

englobando <strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> locais, o Samu e as unida<strong>de</strong>s da polícia militar.<br />

11.3 O que f<strong>os</strong>se <strong>de</strong>mandado agiria primeiramente acionando o outro?<br />

Havendo uma central única <strong>de</strong> <strong>de</strong>spacho, isto não ocorreria. Caso um p<strong>os</strong>to recebesse um<br />

pedido vindo <strong>de</strong> outra área, ele certamente reportaria à central <strong>para</strong> as provi<strong>de</strong>ncias <strong>de</strong>vidas. Além<br />

disso, cada corporação acionada, bombeir<strong>os</strong>, Samu e polícia militar, por exemplo, têm suas<br />

competências e atribuições <strong>de</strong>finidas legalmente, atuando, na sua esfera, em apoio às <strong>de</strong>mais e em<br />

benefício das populações.<br />

11.4 O comando ficaria com quem aten<strong>de</strong>sse primeiro?<br />

Em operações conjuntas, no caso brasileiro, a coor<strong>de</strong>nação (e não comando) ficaria com<br />

o CBM.<br />

11.5 Em Portugal, <strong>os</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> fazem o primeiro combate, assumindo <strong>os</strong> profissionais assim<br />

que chegam.<br />

Em Portugal existem 6 corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> sapadores, totalmente profissionais, 1 corpo<br />

<strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> municipal, 14 corp<strong>os</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> empresariais e 431 associações <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong><br />

voluntári<strong>os</strong> (CBVs), ou seja, praticamente todo o sistema <strong>de</strong> prevenção e combate a sinistr<strong>os</strong><br />

naquele país irmão é realizado por voluntári<strong>os</strong>.<br />

O Samu português, chamado <strong>de</strong> Inem (Instituto Nacional <strong>de</strong> Emergência Médica) aloca<br />

suas ambulâncias nas estações voluntárias espalhadas por todo o território.<br />

A capital Lisboa, com pouco men<strong>os</strong> <strong>de</strong> um milhão <strong>de</strong> habitantes (praticamente um terço<br />

<strong>de</strong> Brasília), dispõe <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> cinquenta estações voluntárias, todas equipadas com veícul<strong>os</strong> <strong>de</strong><br />

última geração, além <strong>de</strong> dois corp<strong>os</strong> profissionais <strong>de</strong> sapadores bombeir<strong>os</strong>, pertencentes ao<br />

Exército Português.<br />

Mais recentemente, foi criada, pela Autorida<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Defesa Civil, uma Força<br />

Especial <strong>de</strong> Bombeir<strong>os</strong>, <strong>de</strong>nominada <strong>de</strong> “Bombeir<strong>os</strong> Canarinh<strong>os</strong>”, <strong>de</strong> âmbito nacional, com a<br />

finalida<strong>de</strong> principal <strong>de</strong> reforçar a luta das corporações locais contra <strong>os</strong> incêndi<strong>os</strong> florestais, <strong>os</strong><br />

quais, n<strong>os</strong> últim<strong>os</strong> an<strong>os</strong>, têm causado morte e <strong>de</strong>struição em todo continente europeu.<br />

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12. Existe simultaneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> militares e bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> na mesma cida<strong>de</strong>,<br />

especialmente quando estes já existiam antes daqueles?<br />

No Brasil, não!<br />

12.1 É p<strong>os</strong>sível a criação <strong>de</strong> um corpo <strong>de</strong> bombeir<strong>os</strong> voluntári<strong>os</strong> on<strong>de</strong> já existe bombeir<strong>os</strong> militares?<br />

Teórica e legalmente sim! Basta boa vonta<strong>de</strong> e que tod<strong>os</strong> se dispam <strong>de</strong> vaida<strong>de</strong>s,<br />

preconceit<strong>os</strong> e pensem no interesse comum, e não apenas em carreiras e promoções. Em todo o<br />

resto do mundo civilizado funciona assim!<br />

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