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Lusitano de Zurique

Edição de Julho/Agosto

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26 <strong>Lusitano</strong> <strong>de</strong> <strong>Zurique</strong> Memória<br />

Julho/Agosto 2015<br />

dos <strong>de</strong> paz e o cessar-fogo nas várias frentes <strong>de</strong> guerra.<br />

Segundo Vítor Alves, «O erro <strong>de</strong> Spínola e dos<br />

seus apoiantes terá sido não enten<strong>de</strong>rem que, após<br />

mais <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>zena <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> guerra, não havia condições<br />

para “outorgar in<strong>de</strong>pendências” e que, mesmo<br />

que a “outorga” fosse possível, ela não se po<strong>de</strong>ria fazer<br />

com votos, por tal não correspon<strong>de</strong>r ao processo<br />

normal <strong>de</strong> formação das nacionalida<strong>de</strong>s.»15 As in<strong>de</strong>pendências<br />

haviam sido conquistadas pelo sacrifício<br />

dos povos colonizados, sacrifício reconhecido pela comunida<strong>de</strong><br />

internacional. Era tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> mais para que o<br />

país colonizador saísse bem da encruzilhada on<strong>de</strong> se<br />

envolvera. Esse tempo esboroara-se. Restava ao Portugal<br />

liberto da ditadura remediar a situação dramática<br />

em que esta colocara o seu povo: negociar com os<br />

movimentos <strong>de</strong> libertação, basicamente para tentar<br />

salvaguardar o melhor possível os interesses dos portugueses<br />

radicados nas províncias ultramarinas, e recuperar<br />

rapidamente a sua imagem perante a comunida<strong>de</strong><br />

internacional.<br />

A reconciliação <strong>de</strong> Portugal com a ONU só ocorreu<br />

após a aprovação <strong>de</strong>sta Lei. É sintomática a comparação<br />

que se po<strong>de</strong> estabelecer entre a receptivida<strong>de</strong><br />

que dois altos representantes do po<strong>de</strong>r político português<br />

tiveram na Assembleia Geral, num prazo inferior<br />

a um ano. Quando, a 28 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1973, o<br />

então ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Patrício,<br />

ali discursou, na sequência da <strong>de</strong>claração unilateral da<br />

in<strong>de</strong>pendência da Guiné, muitas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> representantes<br />

<strong>de</strong> outros tantos países abandonaram a sala<br />

ostensivamente, e o político português ficou a falar<br />

15 Vítor Alves, «Colonialismo e Descolonização», Revista Crítica <strong>de</strong><br />

Ciências Sociais, Maio, 1985, pp. 559-567 - http://www.ces.uc.pt/rccs/in<strong>de</strong>x.<br />

php?id=220&id_lingua=1<br />

para um hemiciclo gigantesco quase <strong>de</strong>serto. A 17 <strong>de</strong><br />

Outubro <strong>de</strong> 1974, foi a vez do general Costa Gomes, já<br />

Presi<strong>de</strong>nte da República, ali discursar e fê-lo para uma<br />

sala plena <strong>de</strong> pessoas e interesse em ouvir o que tinha<br />

para dizer o chefe político da mais recente <strong>de</strong>mocracia<br />

do mundo.<br />

Por esta altura, já Portugal reconhecera a in<strong>de</strong>pendência<br />

da Guiné-Bissau; estabelecera os acordos<br />

<strong>de</strong> Lusaca, em 7 <strong>de</strong> Setembro, visando a in<strong>de</strong>pendência<br />

<strong>de</strong> Moçambique a 25 <strong>de</strong> Junho do ano seguinte, e<br />

entabulara discussão com os outros movimentos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntistas<br />

<strong>de</strong> Angola e <strong>de</strong> São Tomé e Príncipe. No<br />

entanto, no que às relações com o continente africano<br />

respeita, só a assinatura dos acordos <strong>de</strong> Alvor, a 15 <strong>de</strong><br />

Janeiro <strong>de</strong> 1975, representou o primeiro passo para<br />

a aceitação do novo regime português por parte dos<br />

países <strong>de</strong> África. Só então foi <strong>de</strong>cretado o fim do isolamento<br />

diplomático <strong>de</strong> Portugal naquele continente16.<br />

A lei 7/74 representou o fim <strong>de</strong> uma das mais<br />

renhidas e prolongadas batalhas entre Spínola e a<br />

Coor<strong>de</strong>nadora do MFA, que se iniciara na noite <strong>de</strong> 25<br />

<strong>de</strong> Abril, na Pontinha. Aliás, po<strong>de</strong>mos dizer sem correr<br />

gran<strong>de</strong>s riscos <strong>de</strong> errar, que nessa noite, António<br />

<strong>de</strong> Spínola teve a sua única vitória importante face ao<br />

MFA. Des<strong>de</strong> então, talvez com a excepção da escolha<br />

<strong>de</strong> A<strong>de</strong>lino da Palma Carlos para chefe do primeiro Governo<br />

Provisório, somou <strong>de</strong>rrotas, uma atrás da outra<br />

até à <strong>de</strong>rrota final, a 28 <strong>de</strong> Setembro.<br />

(*) A Cortina dos Dias (Porto Editora), <strong>de</strong> Alfredo Cunha,<br />

que foi editor <strong>de</strong> fotografia do PÚBLICO durante os primeiros<br />

anos do jornal, reúne mais <strong>de</strong> 40 anos <strong>de</strong> imagens (1970-<br />

2012) <strong>de</strong> um dos maiores fotojornalistas portugueses.<br />

16 Maria José Tíscar Santiago, O 25 <strong>de</strong> Abril e o Conselho <strong>de</strong> Estado…, p. 67.

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