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cpi do narcotráfico - Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo ...

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10 – D.O.E.; Po<strong>de</strong>r Legislativo, <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, 112 (117), sába<strong>do</strong>, 22 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2002 – SUPLEMENTOg) em 17 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2000, por volta das 13 horas,em meio a um canavial da Fazenda Primavera, no município<strong>de</strong> Igaraçu <strong>do</strong> Tietê, foi localiza<strong>do</strong>, em esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> aban<strong>do</strong>no,um avião Cessna, Skylane, prefixo PT-ADZ, junto àqual foram apreendi<strong>do</strong>s quatro galões com capacida<strong>de</strong>,cada um, para 20 litros <strong>de</strong> combustível, três <strong>de</strong>les cheios eum com apenas cinco litros.Em <strong>de</strong>poimento à CPI na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>São</strong> José <strong>do</strong> RioPreto, o advoga<strong>do</strong> Joaquim Arnal<strong>do</strong> da Silva comenta asinvestigações que fez a respeito <strong>do</strong> transporte aéreo <strong>de</strong> drogase merca<strong>do</strong>rias roubadas na região: “Des<strong>de</strong> então comeceia checar on<strong>de</strong> eles po<strong>de</strong>riam estar ‘<strong>de</strong>sovan<strong>do</strong>’ toda essadroga <strong>de</strong>ixada nessas pistas clan<strong>de</strong>stinas nos municípios...Trouxe algumas fotografias que revelam as pistas que estãomuito bem acobertadas, principalmente no momento emque a cana está gran<strong>de</strong>. Quan<strong>do</strong> a cana está em ponto <strong>de</strong>corte, com 3 a 4 metros <strong>de</strong> altura, duvi<strong>do</strong> que qualquer pessoatenha condição <strong>de</strong> <strong>de</strong>tectar um avião no meio <strong>de</strong>la. Aspistas são extensas e muito bem feitas, uma <strong>de</strong>las bem feitae outra com certos <strong>de</strong>clives, mas foram aplainadas em chapadas<strong>de</strong> plantações <strong>de</strong> cana. Numa <strong>de</strong>las se encontra umsuporte muito gran<strong>de</strong>, a 300 metros da cabeceira da pista <strong>de</strong>1.600 metros, é on<strong>de</strong> eles se reúnem.”5.3.4. UM ESTUDO DE CASO SOBRE AS PISTAS CLAN-DESTINAS - O CASO DE VALDENOR MARCHEZANAlém <strong>do</strong>s exemplos acima, esta CPI estu<strong>do</strong>u um casoimportante para situar o problema da utilização das pistasclan<strong>de</strong>stinas para o transporte aéreo da droga das regiõesprodutoras para os centros consumi<strong>do</strong>res. Trata-se <strong>do</strong> caso<strong>do</strong> fazen<strong>de</strong>iro matogrossense Val<strong>de</strong>nor Marchezan, acompanha<strong>do</strong>pela CPI a partir da ação <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada pelaPolícia Fe<strong>de</strong>ral em sua fazenda Ouro Ver<strong>de</strong>, no município<strong>de</strong> Mirassol d’Oeste (MT), no dia 1o. <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2.000,numa operação <strong>de</strong>stinada a apreen<strong>de</strong>r um carregamento<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 250 kg <strong>de</strong> cocaína. Foragi<strong>do</strong>, Val<strong>de</strong>norMarchezan e seu filho Alessandro foram presos em 31 <strong>de</strong>julho <strong>de</strong> 2000 em Ituiutaba (MG), por agentes da PolíciaFe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Mato Grosso. Com prisão preventiva <strong>de</strong>cretadapela Justiça <strong>de</strong> Mirassol d’Oeste <strong>de</strong>s<strong>de</strong> esse episódio <strong>de</strong>fevereiro, Marchezan foram surpreendi<strong>do</strong>s pela polícia nacasa on<strong>de</strong> se escondiam há cinco meses. Marchezan nãoreagiu à prisão. Ele portava i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> falsa e uma pistolasem <strong>do</strong>cumentação.Ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> Sidnon Simão <strong>de</strong> Lima, Marchezan é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>pela Polícia Fe<strong>de</strong>ral como um <strong>do</strong>s maiores traficantes<strong>do</strong> esta<strong>do</strong>. Em 1996, 48 quilos <strong>de</strong> cocaína foram atira<strong>do</strong>spor avião numa fazenda a 30 quilômetros <strong>de</strong> Chapada<strong>do</strong>s Guimarães. Quatro envolvi<strong>do</strong>s com o esquema forampresos, julga<strong>do</strong>s e con<strong>de</strong>na<strong>do</strong>s a 12 anos <strong>de</strong> reclusão, emprimeira instância. Três <strong>de</strong>les, porém, acabaram sen<strong>do</strong>absolvi<strong>do</strong>s no Tribunal <strong>de</strong> Justiça, no julgamento <strong>do</strong> processo- o único con<strong>de</strong>na<strong>do</strong>, João Carlos <strong>de</strong> Lima, era réuconfesso. Marchezan seria o proprietário da carga, segun<strong>do</strong>a Polícia Fe<strong>de</strong>ral.Em 2 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2.000, em sessão secreta da CPI <strong>do</strong>Narcotráfico da Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s realizada emCuritiba, Paraná, on<strong>de</strong> voluntariamente se apresentou paraprestar informações sobre suas relações com traficantesconheci<strong>do</strong>s, Odarício Quirino Ribeiro Neto, proprietário <strong>do</strong>hangar União, em Atibaia, SP, confirma a importância <strong>de</strong>Marchezan: “Além da família Morel, tem também oVal<strong>de</strong>nor Marchezan, que a base <strong>de</strong>le é fazendas <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong><strong>de</strong>le, mas em Mirassol d’Oeste. Só que é tu<strong>do</strong>dirigi<strong>do</strong> para cá. Para cá, para <strong>São</strong> José <strong>do</strong> Rio Preto. Eaqui, as mesmas cida<strong>de</strong>s, Apucarana, porque são pistasasfaltadas e <strong>de</strong> difícil acesso. <strong>São</strong> pistas longas, que seposa <strong>de</strong> um la<strong>do</strong> e já <strong>de</strong>scarrega <strong>de</strong> outro”.Ouvi<strong>do</strong> por esta CPI em <strong>São</strong> José <strong>do</strong> Rio Preto, emnovembro <strong>de</strong> 2.000, Val<strong>de</strong>nor Alves Marchezan negou qualquerenvolvimento com o <strong>narcotráfico</strong>, tanto no MatoGrosso quanto em <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>. Nasci<strong>do</strong> em Tanabi, SP,Marchezan viveu cerca <strong>de</strong> 25 anos num sítio próximo aPalestina, região <strong>de</strong> <strong>São</strong> José <strong>do</strong> Rio Preto, antes <strong>de</strong> ir tentara sorte no Mato Grosso. Segun<strong>do</strong> informou à CPI, teriavendi<strong>do</strong> os 25 alqueires que possuía em Palestina e compra<strong>do</strong>cerca <strong>de</strong> 800 alqueires em Mirassol d’Oeste, MT, em1976, constituin<strong>do</strong> a Fazenda Ouro Ver<strong>de</strong>, que hoje contacom cerca <strong>de</strong> 3 mil hectares e 1,7 mil cabeças <strong>de</strong> ga<strong>do</strong>.Mirassol d’Oeste está localiza<strong>do</strong> a cerca <strong>de</strong> 100 quilômetrosda fronteira matogrossense com a Bolívia. Val<strong>de</strong>nor <strong>de</strong>clarouser proprietário <strong>de</strong> uma aeronave Corisco, <strong>de</strong> prefixoPT-IPS, e ter construí<strong>do</strong> uma pista clan<strong>de</strong>stina <strong>de</strong> 700metros, bem conservada, em sua proprieda<strong>de</strong>.Val<strong>de</strong>nor Marchezan admitiu ainda que, em 1991, foipreso em <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> a partir da prisão <strong>de</strong> um homem queconduzia 40 quilos <strong>de</strong> cocaína para venda, e foi con<strong>de</strong>na<strong>do</strong>por tráfico <strong>de</strong> drogas, ten<strong>do</strong> cumpri<strong>do</strong> pena no complexo<strong>do</strong> Carandiru.Em 24 <strong>de</strong> fevereiro, esta CPI, ten<strong>do</strong> conhecimento daoperação <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada no começo <strong>do</strong> mês pela PolíciaFe<strong>de</strong>ral em Mirassol d’Oeste, <strong>de</strong>terminou uma diligêncianaquele esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Mato Grosso, realizada pelo relator nocomeço <strong>de</strong> março. Em Cuiabá e em Mirassol d’Oeste, estaCPI colheu farto material sobre as ativida<strong>de</strong>s ilícitas <strong>de</strong>Marchezan e sua relação com o esquema <strong>de</strong> transporteaéreo <strong>de</strong> drogas organiza<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong> Atibaia, nos hangaresUnião e Família Gomes.Narra o relatório <strong>do</strong> inquérito policial n. 071/00, <strong>do</strong>DENARC, aberto a pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta CPI sobre a ramificação daquadrilha <strong>de</strong> Atibaia, sobre a aeronave Cessna 210, <strong>de</strong> prefixoPT-IRB, aprendida naquela operação <strong>de</strong> em Mirassold’Oeste: “essa aeronave, no dia 1o. <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2.000,foi apreendida em uma operação da Polícia Fe<strong>de</strong>ral nafazenda Ouro Ver<strong>de</strong>, no município <strong>de</strong> Mirassol d’Oeste, MT,e <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>nor Alves Marchezan. Essa operaçãofoi originada <strong>de</strong> constantes <strong>de</strong>núncias feitas acerca<strong>do</strong> envolvimento <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> com o <strong>narcotráfico</strong>, e maisespecificamente em uma, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que haveria otransla<strong>do</strong> <strong>de</strong> 250 kg <strong>do</strong> entorpecente conheci<strong>do</strong> comococaína durante aqueles dias. A operação resultou na prisão<strong>de</strong> sua esposa, Marlene Pereira <strong>de</strong> Souza Marchezan, e<strong>de</strong> José Ricar<strong>do</strong> Nogueira Braga; na apreensão <strong>de</strong> fartaquantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> armas; <strong>de</strong> US$ 151.980,00 (cento e cinqüentae um mil, novecentos e oitenta dólares americanos); e <strong>de</strong>65 g <strong>de</strong> uma substância branca envolta em um saco plásticoque posteriormente veio a ser constata<strong>do</strong> tratar-se <strong>de</strong>cocaína, encontrada no quarto <strong>do</strong> casal. A aeronave foilocalizada pelos agentes da Polícia Fe<strong>de</strong>ral com o prefixo<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação altera<strong>do</strong> para PT-IRB, por meio <strong>de</strong> umesparadrapo branco, carregada com três tambores plásticoscheios <strong>de</strong> combustível e com um sistema <strong>de</strong> abastecimentodurante o vôo, estan<strong>do</strong> assim preparada para umaviagem <strong>de</strong> longa distância. Braga, em seu interrogatório,confessa ter realiza<strong>do</strong> a manutenção da PT-IRB em Atibaia.Segun<strong>do</strong> o mesmo, surgira um <strong>de</strong>feito em seu conserto, oque fez com que ele se <strong>de</strong>slocasse até Mirassol d’Oestepara refazer os reparos necessários. Essa aeronave, conformepo<strong>de</strong> verificar-se tanto nos diversos <strong>de</strong>poimentos,como nos <strong>do</strong>cumentos apreendi<strong>do</strong>s, era hangarada naUnião Sistemas, Serviços e Peças Ltda., empresa <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong><strong>do</strong> indicia<strong>do</strong> Odarício Quirino Ribeiro Neto e <strong>de</strong>sua esposa Magali Laruccia Jacob”.Em Mirassol d’Oeste, com o apoio da Polícia Fe<strong>de</strong>ral<strong>do</strong> MT, <strong>do</strong> Ministério Público Estadual <strong>do</strong> MT e da CPI <strong>do</strong>Narcotráfico da Assembléia <strong>Legislativa</strong> <strong>do</strong> MT, na pessoa<strong>de</strong> sua presi<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong>putada estadual Serys Slhessarenko,o relator <strong>de</strong>sta CPI po<strong>de</strong> entrevistar-se com o piloto JoséRicar<strong>do</strong> Nogueira Braga, que negou ser piloto e qualquerenvolvimento com o <strong>narcotráfico</strong>. Inúmeros <strong>de</strong>poimentoscolhi<strong>do</strong>s posteriormente pela CPI, na <strong>de</strong>legacia <strong>de</strong> polícia<strong>de</strong> Atibaia e durante suas sessões em <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, afirmaram,no entanto, tratar-se José Ricar<strong>do</strong> Nogueira Braga <strong>do</strong>piloto que movimentava a aeronave PT-IRB em Atibaia,<strong>de</strong>smentin<strong>do</strong> portanto sua versão <strong>de</strong> tratar-se apenas <strong>de</strong>um mecânico ama<strong>do</strong>r sem habilitação para alçar vôo.Retornan<strong>do</strong> a <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, <strong>de</strong> posse das informaçõescolhidas em Cuiabá com a Polícia Fe<strong>de</strong>ral sobre os vínculos<strong>de</strong> Marchezan com a região <strong>de</strong> <strong>São</strong> José <strong>do</strong> Rio Preto, orelator foi <strong>de</strong>signa<strong>do</strong> pela CPI para realizar novas diligências,<strong>de</strong>sta feita na região <strong>de</strong> <strong>São</strong> José <strong>do</strong> Rio Preto, queforam levadas a cabo nos dias 14 e 15 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2.000.Muni<strong>do</strong>s <strong>de</strong> mandatos <strong>de</strong> busca e apreensão concedi<strong>do</strong>spela Justiça <strong>de</strong> <strong>São</strong> José <strong>do</strong> Rio Preto, o relator e quatroequipes <strong>de</strong> policiais <strong>do</strong> DEINTER-5 da Polícia Civil proce<strong>de</strong>rama revistas em todas as proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>norMarchezan e <strong>de</strong> seus familiares nos municípios <strong>de</strong> <strong>São</strong>José <strong>do</strong> Rio Preto, Ipiguá e Palestina.Nessas diligências, foram apreendi<strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentosbancários com altas movimentações financeiras, contastelefônicas, fotos <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>nor e <strong>de</strong> seu filho Alessandro(então foragi<strong>do</strong>s) e <strong>do</strong>cumentos relativos a proprieda<strong>de</strong>srurais em nome <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>nor Marchezan ou <strong>de</strong> seus familiaresno esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Mato Grosso, inclusive contratos <strong>de</strong> comprae mapas que foram encaminha<strong>do</strong>s imediatamente àPolícia Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Mato Grosso. Não havia uma foto recente<strong>de</strong> Val<strong>de</strong>nor Marchezan que pu<strong>de</strong>sse ser utilizada nastentativas <strong>de</strong> cumprimento <strong>do</strong>s manda<strong>do</strong>s <strong>de</strong> prisão preventiva<strong>de</strong>creta<strong>do</strong>s pela Justiça contra ele.No município <strong>de</strong> Ipiguá, verificou-se que Val<strong>de</strong>norMarchezan havia compra<strong>do</strong> um sítio, que contava comuma pista clan<strong>de</strong>stina apta para pouso e <strong>de</strong>colagem <strong>de</strong>pequenas aeronaves, no qual foram apreendi<strong>do</strong>s umacaminhonete S-10 com placas <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, armas eanotações com rotas aéreas e controle <strong>de</strong> pagamento <strong>de</strong>vôos a pilotos. Uma folha <strong>de</strong> relatório <strong>de</strong> vôo indicava umarota que se iniciava na Fazenda Ouro Ver<strong>de</strong>, passava porMirassol d’Oeste, dirigia-se a Ariquemes e Pontes <strong>de</strong>Lacerda, tradicionais pontos <strong>de</strong> tráfico <strong>de</strong> drogas, e retornavaà fazenda Ouro Ver<strong>de</strong>. Em seu interrogatório peranteessa CPI, em novembro <strong>de</strong> 2.000, Marchezan negou conhecerou ter realiza<strong>do</strong> vôo nessa rota.No dia 15 <strong>de</strong> março, na Delegacia <strong>de</strong> Polícia <strong>de</strong>Investigações Gerais <strong>de</strong> <strong>São</strong> José <strong>do</strong> Rio Preto, na presença<strong>do</strong> relator, a Polícia Civil ouviu os <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> A<strong>de</strong>vanzirAntonio Marchezan, primo <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>nor; <strong>de</strong> JoãoBatista Fernan<strong>do</strong> Aranha, emprega<strong>do</strong> <strong>de</strong> Marchezan nosítio; Pedro Gabiatti, vulgo ‘Alemão’, mecânico que fazia amanutenção <strong>de</strong> aeronaves <strong>de</strong> Marchezan no município <strong>de</strong>Mirassol, SP; e Valter Sanches Feliciano, à época vice-prefeito<strong>de</strong> Ipiguá, amigo e freqüenta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> sítio <strong>de</strong>Marchezan naquele município, que forneceram informaçõessobre as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>nor Marchezan e a movimentação<strong>de</strong> aeronaves em seu sítio.A movimentação <strong>de</strong> aeronaves no sítio <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>norMarchezan já chamava a atenção da Polícia Civil <strong>de</strong> Ipiguá.Em relatório encaminha<strong>do</strong> pelo DENARC a esta CPI sobreas pistas clan<strong>de</strong>stinas, sobre o caso <strong>de</strong> Ipiguá, é menciona<strong>do</strong>que:“No local, os locatários promovem festas em umcômo<strong>do</strong> localiza<strong>do</strong> na pista, que se transformou em cantina.Orlan<strong>do</strong> Costa, proprietário <strong>do</strong> imóvel ao la<strong>do</strong>, informouque aviões sobrevoam a pista sem pousar, em baixaaltitu<strong>de</strong>. As investigações encetadas pelo dr. E<strong>de</strong>r GalavottiRodrigues, <strong>de</strong>lega<strong>do</strong> <strong>de</strong> Polícia <strong>de</strong> Ipiguá, <strong>de</strong>scobriram umindivíduo <strong>de</strong> nome “<strong>Paulo</strong>” que havia arrenda<strong>do</strong> o sítioSanto Onofre, utilizan<strong>do</strong> também a pista <strong>de</strong> pouso para oavião <strong>de</strong> sua proprieda<strong>de</strong>. Informações obtidas <strong>de</strong> ValterSanches Feliciano, vice-prefeito, dão conta que <strong>Paulo</strong> seriaum fazen<strong>de</strong>iro muito rico e que possuía terras em MatoGrosso, utilizan<strong>do</strong> um avião para <strong>de</strong>slocar-se <strong>do</strong> sítio SantoOnofre até sua proprieda<strong>de</strong> localizada em Mirassol d’Oeste,MT... O proprietário <strong>do</strong> sítio Santo Onofre, Divino Garcia,<strong>de</strong>senten<strong>de</strong>u-se em 1999 com seu irmão, resolven<strong>do</strong> colocarseu sítio à venda. Rapidamente fechou negócio com osr. <strong>Paulo</strong>, que lhe pagou em duas parcelas o valor pedi<strong>do</strong>, eem dinheiro. <strong>Paulo</strong> pouco aparece na cida<strong>de</strong>, jamais emitiuum cheque ou apresentou seus <strong>do</strong>cumentos a ninguém.Circula pela cida<strong>de</strong> em veículos da capital acompanha<strong>do</strong>sempre <strong>de</strong> indivíduos <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong>s. <strong>Paulo</strong> nunca dirige,quiçá para nunca ser compeli<strong>do</strong> a apresentar seus <strong>do</strong>cumentospessoais em caso <strong>de</strong> abordagem pessoal”.Sobre Rio Preto e Ipiguá, Val<strong>de</strong>nor <strong>de</strong>clarou a esta CPI,durante a sessão realizada em <strong>São</strong> José <strong>do</strong> Rio Preto emnovembro <strong>de</strong> 2.000, que <strong>Paulo</strong> era um apeli<strong>do</strong> que foi coloca<strong>do</strong>por amigos que freqüentavam o seu sítio em Ipiguá.Disse que nunca foi conheci<strong>do</strong> como <strong>Paulo</strong> no Mato Grossoe que to<strong>do</strong>s os que se relacionavam com ele sabiam <strong>de</strong> suaverda<strong>de</strong>ira i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. No entanto, <strong>de</strong>poimentos colhi<strong>do</strong>spela CPI e pela Polícia Civil <strong>de</strong> <strong>São</strong> José <strong>do</strong> Rio Preto mostramque as pessoas que freqüentavam o sítio <strong>de</strong> Ipiguá nãoo conheciam como Val<strong>de</strong>nor Marchezan. Val<strong>de</strong>nor nãosoube explicar porque um apeli<strong>do</strong> como esse foi da<strong>do</strong> a ele.O próprio funcionário contrata<strong>do</strong> para tomar conta <strong>do</strong>sítio, João Batista, disse em seu <strong>de</strong>poimento que: “na proprieda<strong>de</strong>,além <strong>de</strong> uma pequena roça e algumas galinhas,há uma pista <strong>de</strong> avião. Que essa pista está <strong>de</strong>ntro da proprieda<strong>de</strong><strong>de</strong> <strong>Paulo</strong>, sen<strong>do</strong> que <strong>Paulo</strong> é quem sempre a utiliza.Que sobre a pessoa <strong>de</strong> <strong>Paulo</strong>, nesse ato, lhe é exibidauma fotografria, momento em que o <strong>de</strong>clarante reconhece,<strong>de</strong> pronto, uma pessoa <strong>de</strong> óculos, camisa xadrez, com umacorrente, aparentemente <strong>de</strong> ouro, no pescoço, como sen<strong>do</strong><strong>Paulo</strong>, vin<strong>do</strong> a saber, neste ato, que o seu nome é, na verda<strong>de</strong>,Val<strong>de</strong>nor Alves Marchezan”.Apesar <strong>de</strong> negar que o nome <strong>Paulo</strong> fosse utiliza<strong>do</strong> paraescon<strong>de</strong>r sua verda<strong>de</strong>ira i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, Val<strong>de</strong>nor foi preso emItuitaba, pela Polícia Fe<strong>de</strong>ral, com <strong>do</strong>cumentos falsos, emnome <strong>de</strong> <strong>Paulo</strong> Ferreira Trinda<strong>de</strong>. Vê-se, portanto, que<strong>Paulo</strong> não era apenas um apeli<strong>do</strong>, mas uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>falsa utilizada por Marchezan. Val<strong>de</strong>nor <strong>de</strong>clarou à CPI quepossuía essa carteira <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1996, ten<strong>do</strong> amesma si<strong>do</strong> retirada junto ao DEIC, em <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, por um<strong>de</strong>spachante cujo nome o <strong>de</strong>poente não se lembrou.Val<strong>de</strong>nor estava se estabelecen<strong>do</strong> em <strong>São</strong> José <strong>do</strong> RioPreto, ten<strong>do</strong> procura<strong>do</strong> negócios que pu<strong>de</strong>ssem explicarsua permanência. Chegou a comprar uma fábrica <strong>de</strong> velas,mas <strong>de</strong>sfez o negócio rapidamente. Solicitou a seu primo,A<strong>de</strong>vanzir, que comprasse um sítio on<strong>de</strong> pu<strong>de</strong>sse ter umapista à disposição. Seu primo, que <strong>de</strong>pôs perante a PolíciaCivil em Rio Preto e o relator da CPI, <strong>de</strong>clarou que arren<strong>do</strong>uem nome <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>nor o sítio <strong>São</strong> Domingos, on<strong>de</strong>Val<strong>de</strong>nor justificava a existência <strong>de</strong> uma pista clan<strong>de</strong>stina e<strong>de</strong> sua aeronave como paixão pelo paraquedismo. O<strong>de</strong>poente negou inicialmente ter compra<strong>do</strong> o sítio, apesar<strong>de</strong> lhe ter si<strong>do</strong> apresenta<strong>do</strong> cópia <strong>de</strong> um contrato <strong>de</strong> comprae venda no valor <strong>de</strong> cem mil reais. Depois, reformulouseu <strong>de</strong>poimento dizen<strong>do</strong> que tinha compra<strong>do</strong> mas <strong>de</strong>sfez onegócio por não ter dinheiro para saldar sua dívida com oantigo proprietário <strong>do</strong> sítio.Sobre a movimentação <strong>de</strong> aeronaves em seu sítio,Val<strong>de</strong>nor <strong>de</strong>clarou que apenas o Corisco <strong>de</strong> sua proprieda<strong>de</strong>utilizava a pista. No entanto, o mecânico que Val<strong>de</strong>norconfirmou utilizar na manutenção <strong>de</strong> sua aeronave, PedroGabiatti, vulgo “Alemão”, <strong>de</strong> Mirassol, <strong>de</strong>clarou à políciaque Val<strong>de</strong>nor teria i<strong>do</strong> a Mirassol com um Piper Minuano<strong>de</strong> prefixo PT-QRN, informação confirmada também porum <strong>do</strong>s freqüenta<strong>do</strong>res assíduos <strong>do</strong> sítio <strong>São</strong> Domingos,Edval<strong>do</strong> Sar<strong>de</strong>lla, vulgo “Va<strong>do</strong>”, que <strong>de</strong>clarou que oMinuano era <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>nor Marchezan.A<strong>de</strong>vanzir, seu primo, foi preso posteriormente pelaPolícia Civil, em <strong>São</strong> José <strong>do</strong> Rio Preto, por tráfico <strong>de</strong> drogas.Em 12 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1997, na Fazenda Medianeira, naComarca <strong>de</strong> Chapada <strong>do</strong>s Guimarães, foi realizada aapreensão <strong>de</strong> 48,5 quilos <strong>de</strong> cocaína, arremessa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> umaaeronave, pilotada por Filogônio Pedroso <strong>de</strong> Lima. Naoportunida<strong>de</strong>, foram presos em flagrante e João Carlos <strong>de</strong>Lima e José Carlos Nogueira.A investigações realizadas resultaram na constatação<strong>de</strong> que a droga fora embarcada em uma fazenda proprieda<strong>de</strong><strong>de</strong> Val<strong>de</strong>nor Alves Marchezan, que fugiu, após terconhecimento da prisão <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais envolvi<strong>do</strong>s.O processo criminal instaura<strong>do</strong> resultou na con<strong>de</strong>nação,em 09 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2.001, <strong>de</strong> Val<strong>de</strong>nor Alves Marchezana 16 (<strong>de</strong>zesseis) anos <strong>de</strong> reclusão e ao pagamento<strong>de</strong> 360 (trezentos e sessenta dias multa), pela prática <strong>do</strong><strong>de</strong>lito previsto 12, caput da lei 6368/76, consi<strong>de</strong>radas as circunstânciasagravantes, inclusive a associação para a prática<strong>do</strong> <strong>de</strong>lito. Foi ainda con<strong>de</strong>na<strong>do</strong> a 6 (seis) anos <strong>de</strong> reclusãopela prática <strong>do</strong> crime previsto no artigo 12, § 2, II dacitada lei, além <strong>de</strong> 150 (cento e cinquenta) dias multa.No mesmo ato, foi <strong>de</strong>terminada o perdimento, emfavor da União, da aeronave monomotor prefixo PT-IPSARROW, cor branca, azul e vermelha, série 28 R-7335149mo<strong>de</strong>lo e ano <strong>de</strong> fabricação PA - 28 R -200 1973 motor 200<strong>de</strong> quatro cilindros aspira<strong>do</strong>s, provi<strong>do</strong> <strong>de</strong> hélice com duaspás à gasolina.Tanto em Mirassol d’Oeste, MT, em sua fazenda OuroVer<strong>de</strong>, quanto em Ipiguá, SP, em seu sítio <strong>São</strong> Domingos,Val<strong>de</strong>nor Marchezan utilizou-se <strong>de</strong> pistas clan<strong>de</strong>stinas paraestabelecer a relação entre o gran<strong>de</strong> fornece<strong>do</strong>r estrangeiroe o merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. Sua con<strong>de</strong>nação no MatoGrosso e seu indiciamento em outros casos naquele esta<strong>do</strong>e em <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong>, em inquéritos e processos em andamento,indicam a importância <strong>de</strong> uma ação articulada das políciasfe<strong>de</strong>ral e estaduais na observação das pistas clan<strong>de</strong>stinas enas ativida<strong>de</strong>s irregulares <strong>de</strong> modificação <strong>de</strong> aeronavespara o fornecimento <strong>de</strong> indicações seguras sobre o possívelenvolvimento <strong>de</strong>ssas aeronaves e seus proprietáriose/ou arrendatários no tráfico <strong>de</strong> drogas.5.3.5. A OBSTRUÇÃO DAS PISTAS CLANDESTINAS OUDESATIVADASO trabalho realiza<strong>do</strong> pela Polícia Civil <strong>de</strong> <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> nocontato com os proprietários <strong>de</strong> fazendas em que existemaeroportos legalmente registra<strong>do</strong>s para funcionamento dãoconta que a sua falta <strong>de</strong> utilização para a ativida<strong>de</strong> produtivapara a qual foram concebidas <strong>de</strong>ixam em condições <strong>de</strong>uso para ativida<strong>de</strong>s ilícitas pistas que já po<strong>de</strong>riam estar<strong>de</strong>struídas. Em Andradina, por exemplo, uma pista <strong>de</strong>grama <strong>de</strong> 730 x 30 metros existente na Fazenda Progresso,na Ro<strong>do</strong>via Eucli<strong>de</strong>s <strong>de</strong> O. Figueire<strong>do</strong>, a 18 km da cida<strong>de</strong>,está <strong>de</strong>vidamente habilitada para operar. No entanto,segun<strong>do</strong> levantamento da Polícia Civil da Região, o proprietárionão possui avião e a pista está <strong>de</strong>sativada há mais<strong>de</strong> <strong>do</strong>is anos. O mesmo ocorre na Fazenda Timboré, a 24km da mesma se<strong>de</strong> <strong>do</strong> município, na estrada vicinal JoséRodrigues Celestino, on<strong>de</strong> uma pista <strong>de</strong> grama <strong>de</strong> 550 x 20metros está em condições <strong>de</strong> uso, embora o proprietárionão possua aeronave e a pista esteja há muito tempo semser utilizada. Já em Parapuã, às margens da ro<strong>do</strong>via SP-425, entre as fazendas <strong>São</strong> José e Maria Beatriz, embora<strong>de</strong>sativada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1983, não consta como impedi<strong>do</strong> parapousos e <strong>de</strong>colagens o campo <strong>de</strong> aviação Casul.Uma iniciativa importante vem sen<strong>do</strong> a <strong>de</strong>sativação <strong>de</strong>parte <strong>de</strong>ssas pistas clan<strong>de</strong>stinas pelos proprietários dasáreas em que estão construídas, após a finalida<strong>de</strong> da ativida<strong>de</strong>para a que foram concebidas ter si<strong>do</strong> encerrada.Como exemplo, po<strong>de</strong>m ser mencionadas:a) No município <strong>de</strong> Bento <strong>de</strong> Abreu, pista clan<strong>de</strong>stinalocalizada na Fazenda Cascata, a cerca <strong>de</strong> 28 km da cida<strong>de</strong>,foi <strong>de</strong>sativada <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com informações <strong>do</strong> gerente dafazenda, que não possui aeronave, estan<strong>do</strong> a pista obstruídahá tempos por tambores. A mesma providência informater a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> o proprietário da Fazenda Caiçara, que construiuprecariamente uma pista no meio da plantação <strong>de</strong>cana <strong>de</strong> açúcar para aplicação <strong>de</strong> <strong>de</strong>fensivos agrícolasépoca <strong>de</strong> plantio;b) Após <strong>de</strong>núncia anônima <strong>de</strong> que aviões sobrevoavame pousavam durante as madrugadas, por volta das 4horas, em uma pista <strong>de</strong> 750 x 14 metros localizada naFazenda Pão e Mel, município <strong>de</strong> Catiguá, na ro<strong>do</strong>via JoséFernan<strong>de</strong>s, construída para pulverização das plantações <strong>de</strong>cana, a empresa proprietária informou à Polícia ter coloca<strong>do</strong>obstáculos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira sobre a pista para impedir a suautilização;c) Em Ipuã, pista <strong>de</strong> grama <strong>de</strong> 800 x 30m, construída naFazenda Prata, a 15 km da cida<strong>de</strong>, foi interditada com tambores;d) Em Santa Bárbara d’Oeste, a pista <strong>de</strong> terra <strong>de</strong> 600 x20 metros localizada na Fazenda Prezotto, que se <strong>de</strong>stina apousos e <strong>de</strong>colagens <strong>de</strong> aviões agrícolas em época <strong>de</strong> pulverizaçãoda plantação, é bloqueada com <strong>do</strong>rmentes pelaadministração para impedir operações não autorizadas,segun<strong>do</strong> <strong>de</strong>clarações à Polícia local.5.3.6. A FISCALIZAÇÃO DAS PEQUENAS AERONAVESUSADAS NO TRÁFICODa<strong>do</strong>s técnicos apresenta<strong>do</strong>s à CPI fundamenta a preocupaçãocom o controle e a fiscalização permanente dasoficinas <strong>de</strong> reparo e manutenção <strong>de</strong> aeronaves. Um intensotráfego aéreo ilegal é <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> por pequenas aeronavesque realizam a ponte entre o produtor, no exterior, ougran<strong>de</strong>s traficantes, com os distribui<strong>do</strong>res em terra. Anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alterações na estrutura <strong>de</strong>stas aeronavespartem da própria necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fuga ao controle <strong>de</strong> vôospor radar. Abaixo <strong>de</strong> mil pés <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, essas aeronavesficam imunes ao registro <strong>de</strong> suas rotas pela cobertura <strong>do</strong>radar. No entanto, essa manobra consome, tanto para asaeronaves movidas a turbo-hélice ou reação, uma maiorquantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> combustível que limita a autonomia <strong>de</strong> vôo<strong>do</strong> avião. Neste senti<strong>do</strong>, a ampliação <strong>do</strong> tanque original oua modificação interna da aeronave para instalação <strong>de</strong> tanquesextras a bor<strong>do</strong> se transformou em uma saída paraaumento da autonomia <strong>de</strong> vôo <strong>do</strong>s aviõezinhos <strong>do</strong> tráfico.Essas modificações só são consi<strong>de</strong>radas ilícitas se realizadasem oficinas não homologadas perante <strong>do</strong>Departamento <strong>de</strong> Aviação Civil e sem a apresentação <strong>de</strong>projetos <strong>de</strong> engenharia assina<strong>do</strong>s por engenheiros e realiza<strong>do</strong>por mecânicos registra<strong>do</strong>s.Se levarmos em conta que há em operação no Brasil,segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s da Aeronáutica, cerca <strong>de</strong> 11 mil aeronaves,e a limitação <strong>de</strong> recursos humanos <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong>Aviação Civil para as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> controle e fiscalização,fica evi<strong>de</strong>nciada a imensa facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong> mecanismosilícitos para o “esquentamento” <strong>de</strong> aeronaves roubadase adulteradas para utilização no crime. Da mesmaforma que no processo <strong>de</strong> construção e operação <strong>do</strong>s aeródromosregistra<strong>do</strong>s, em que a responsabilida<strong>de</strong> pelo cumprimentodas normas fica a cargo <strong>do</strong> proprietário priva<strong>do</strong>,as regulamentações <strong>do</strong> DAC sobre o funcionamento dasoficinas transfere aos seus proprietários a responsabilida<strong>de</strong>pelo cumprimento das normas vigentes no que se refere àmanutenção e reforma <strong>de</strong> aeronaves.A fiscalização é feita por amostragem. Toda aeronave<strong>de</strong>ve realizar anualmente a Inspeção Anual <strong>de</strong> Manutençãojunto a uma oficina homologada pelas autorida<strong>de</strong>s aeronáuticase realizar a manutenção preventiva, troca <strong>de</strong> peçase reformas <strong>de</strong>terminadas. Após estes procedimentos, asoficinas homologadas emitem uma <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> regularida<strong>de</strong>válida por um ano, que <strong>de</strong>ve fazer parte <strong>de</strong> toda a<strong>do</strong>cumentação mantida permanentemente com a aeronave,para fiscalização em qualquer aeródromo. Cópias <strong>de</strong>ssas<strong>de</strong>clarações são recolhidas pela autorida<strong>de</strong> aeronáuticana vistoria anual realizada nas oficinas homologadas confrontadascom aquelas outras cópias encaminhadas pelosproprietários <strong>de</strong>ssas aeronaves.A fiscalização fica ainda mais complexa quan<strong>do</strong> se trata<strong>de</strong> aviões agrícolas. De acor<strong>do</strong> com estimativas <strong>do</strong> SERAC-4, existiram em <strong>São</strong> <strong>Paulo</strong> cerca <strong>de</strong> 70 empresas, geralmentecom duas ou três aeronaves em condições <strong>de</strong> vôo, para arealização <strong>de</strong> trabalhos relaciona<strong>do</strong>s com a produção agrícola.Estas empresas também precisam ser homologadaspelo Departamento <strong>de</strong> Aviação Civil. De acor<strong>do</strong> com informaçõesprestadas à CPI pelo <strong>de</strong>lega<strong>do</strong> Marco AntonioVeronezzi, da Polícia Fe<strong>de</strong>ral, em 30 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2000, háinformações no Grupo <strong>de</strong> Repressão ao Crime Organiza<strong>do</strong><strong>de</strong> aviões agrícolas que estariam transportan<strong>do</strong> éter para aBolívia, utilizada como insumo para o refino da cocaína. Deacor<strong>do</strong> com o Tenente Coronel Avia<strong>do</strong>r João MariaFonseca, na mesma sessão da CPI, “se for transportar éter,certamente a chapa usada neste tanque será diferente daespecificada pelo construtor por problemas <strong>de</strong> corrosão.Fazemos vistoria nas empresas agrícolas anualmente, fora<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> safra, mas o único mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> constatar essaestratégia <strong>do</strong> tráfico seria a alteração da chapa usada para otanque. Outra dificulda<strong>de</strong> é que, a qualquer momento queele (sic) souber da informação, ele apenas ejeta em vôo e oéter se dilui. Não se consegue ver nem o material, se elefizer isso a 20 metros <strong>de</strong> altura: <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> volume, nosolo não chega mais nada <strong>de</strong> éter”.Em <strong>de</strong>poimento voluntariamente presta<strong>do</strong> à CPI <strong>do</strong>Narcotráfico da Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s, em Curitiba, PR,no dia 2 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2.000, Odarício Quirino Ribeiro Neto,proprietário <strong>do</strong> hangar União em Atibaia, SP, ao <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rse<strong>de</strong> acusações <strong>de</strong> utilizar sua oficina para a modificaçãoda estrutura das aeronaves com vistas ao aumento <strong>de</strong> suacapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carga ou autonomia <strong>de</strong> vôo para a realização<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s ilícitas, comenta as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>adulteração <strong>de</strong>stas aeronaves e acusa:“Quero <strong>de</strong>ixar bem claro que esses serviços forampresta<strong>do</strong>s em aeronaves aci<strong>de</strong>ntadas. Não com adulterações.Porque adulterações em aeronaves, ela requer umsistema to<strong>do</strong> especial que hoje quem faz, quem é homologa<strong>do</strong>a fazer é a EMBRAER, que é feito, e só tem uma oficinaque é homologada para fazer adulterações em aeronaveshoje, que é em Marília, e também em Marília só que acida<strong>de</strong>zinha ali perto é, falhou o nome, lá <strong>do</strong> Fausto Jorge...Esse tipo <strong>de</strong> adulteração que eu queria dizer, por exemplo,aumento <strong>de</strong> tanque, bomba <strong>de</strong> sucção, isso, oficina nenhumaé homologada para fazer, não se po<strong>de</strong> fazer isso”.A menção <strong>de</strong> Ribeiro à adulteração <strong>de</strong> aeronaves realizadana oficina <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fausto Jorge, em VeraCruz, município próximo a Marília, po<strong>de</strong> ser verificada poresta CPI no relatório da Polícia Fe<strong>de</strong>ral - SuperintendênciaRegional <strong>do</strong> Pará, assina<strong>do</strong> pelo Delega<strong>do</strong> Antonio CésarFernan<strong>de</strong>s Nunes, sobre as ativida<strong>de</strong>s da quadrilha <strong>de</strong> narcotraficantesinternacionais li<strong>de</strong>rada por Elvis MoreiraRocha, também conheci<strong>do</strong> por Manicaca, gran<strong>de</strong> transporta<strong>do</strong>r<strong>de</strong> cocaína colombiana e <strong>de</strong> outros países sul-americanospara o Brasil, Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e Europa, com rotapelo território brasileiro. Reproduzimos abaixo alguns trechos<strong>do</strong> relatório, que indicam a participação <strong>de</strong>sta oficina<strong>de</strong> Vera Cruz na modificação <strong>de</strong> uma das aeronaves utilizadaspela quadrilha em questão:“Em 25 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1999, a aeronave Carajá <strong>de</strong> prefixoPT-VKJ foi apreendida em plena operação <strong>de</strong> transporte<strong>de</strong> cocaína para o Pará. Nas investigações realizadas,restou comprova<strong>do</strong> que a gang era composta pelos aeronautasMário Ney Chaves Pires, Carlos Alberto Paschoalin,Catulino Frauzino Pereira Filho e o mecânico <strong>de</strong> aeronavesJackson Santos <strong>de</strong> Queiroz... No acompanhamento das ativida<strong>de</strong>sda quadrilha, confirman<strong>do</strong> a relação <strong>de</strong> Elvis comos gran<strong>de</strong>s grupos <strong>do</strong> <strong>narcotráfico</strong> internacional e o recebimento<strong>de</strong> muito dinheiro para estruturar uma megaoperação<strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> cocaína, no mês <strong>de</strong> julho <strong>do</strong> correnteano foi <strong>de</strong>tectada e comprovada a compra pelo chefe <strong>do</strong>ban<strong>do</strong> da aeronave mo<strong>de</strong>lo Carajá <strong>de</strong> prefixo PT-VKJ,negociada por Paschoalin, no aeroporto <strong>de</strong> Uberlândia,MG, on<strong>de</strong> foi submetida a uma inspeção <strong>de</strong> pré-compra ereparos mecânicos.”

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