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9Após o caso referido sucedem-se muitos outros,num total de mais de 90 assentos de óbito, registadosaté 22.6.1602 na freguesia de Santa Maria (36) . Delestraslado, segui<strong>da</strong>mente, os que me parecem maissignificativos:- A 9.1.1601, faleceu Gonçalo Vaz Rapado, jazenter-rado no monturo, não sei se fez man<strong>da</strong>...- A 10.1.1601, faleceu Pedro Esteves e uma suafilha, jazem no degredo...- A 15.3.1601, faleceu uma filha <strong>da</strong> Borralheira, pornome Mécia, impedi<strong>da</strong>, jaz enterra<strong>da</strong> no adro àAmoreira, de 10 anos...- A 28.3.1601, faleceu Domingos filho que foi deManuel Simão Arrocho, morreu em S. Gregório aondeestava posto na enfermaria que no dito ano se feznaquela ermi<strong>da</strong> e está enterrado no degredo. Faleceuo dito Manuel Simão e três filhos dos males de queDeus nos guarde e não fez man<strong>da</strong> por escrito...- A 24.7.1601, faleceu um negro de Ana Lopes pornome Domingos...- A 31.7.1601, morreu uma cria<strong>da</strong> de DomingosRodri-gues, genro de Domingos Lopes <strong>da</strong> Câmara...- A 3.8.1601, faleceu Helena Vaz, mulata, nodegredo...- A 8.8.1601, faleceram dois meninos a PeroFer-nandes Savalhão...- A 9.8.1601, faleceu um filho do Ldo. Domingosdo Rego, por nome Manuel...- A 24.8.1601, faleceu Pero de Sousa. (37)- A 16.10.1601, faleceu António Álvares, genro deDomingos Gonçalves, do Cebolal de Cima, onde jazenterrado na ermi<strong>da</strong> de Nossa Senhora dos Prazerese fez man<strong>da</strong>...- A 3.4.1601, faleceu uma filha de Maria Vilela nodegredo e não fez man<strong>da</strong>.- A 26.1.1601, faleceu uma entea<strong>da</strong> de Álvaro Vaz,do monte dos Maxiais, impedi<strong>da</strong>, lá enterra<strong>da</strong>.- A 10.8.1601, faleceu Pedro Vaz de Vasconcelos (38) ,jaz enterrado defronte <strong>da</strong> porta principal com a mulhere filha (que já haviam sucumbido um pouco antes aomesmo mal).- A 14.6.1602, faleceu o Doutor André Esteves,médico, jaz enterrado em Santo António e feztestamenteiro um sobrinho, Baltazar Leitão, prior noSarzedo. Daqui podemos já tirar algumas ilações.Assim, para combater o mal, vemos que se procedeuà instalação de uma enfermaria na ermi<strong>da</strong> de S.Gregório (não sei se esta seria a Casa <strong>da</strong> Saúde,referencia<strong>da</strong> mais adiante); os impedidos eramsepultados, geralmente, no sítio <strong>da</strong> Amoreira e ospestosos iam para o monturo ou ficavam no degredo,em vez de serem enterrados, como de costume,dentro <strong>da</strong>s igrejas e nos seus adros. Constatamostambém que o hospital <strong>da</strong> Misericórdia não aparecemencionado nesta emergência, reservado talvezexclusivamente aos casos correntes e, para evitar ocontágio, apoiado apenas pelo Ldo.Miguel Lobo,residente na vila há alguns anos e médico do partido.A epidemia alastrou também ao Cebolal de Cima,Bemquerenças do Meio e Maxiais, atingindo osmembros de to<strong>da</strong>s as classes sociais, de qualqueri<strong>da</strong>de, sexo e raça. (39)Muitas famílias foram ceiva<strong>da</strong>s ou quasedestruí<strong>da</strong>s; outras procuraram na fuga a esperança<strong>da</strong> salvação e tenho notícia de que algumas serefugiaram nos Escalos de Cima, Sertã e mesmoSabugal; pessoas, ocasionalmente na vila, aquivieram encontrar o último dia <strong>da</strong>s suas vi<strong>da</strong>s. (41)O outro médico do partido, Dr. André Esteves,acabou por sucumbir à doença que havia combatidodurante cerca de dois anos... Dos restantes médicosresidentes em Castelo Branco apenas me consta queo cirurgião e boticário António Aires (pai do célebreDr.Filipe Rodrigues Montalto) curara esforça<strong>da</strong>menteos doentes do mal contagioso na Casa de Saúde <strong>da</strong>vila, <strong>da</strong>ndo to<strong>da</strong> a ordem necessária para remédiodeles e sem receber salário algum. Atendendo a issoe ao facto de haver exercido os seus ofícios com ospobres e religiosos do convento de Santo António,Filipe II, a pedido <strong>da</strong> Câmara e por alvará feito emLisboa a 9.8.1601, autoriza que lhe seja concedidoem ca<strong>da</strong> ano o ordenado de 15 000 réis, à custa <strong>da</strong>sren<strong>da</strong>s do concelho e enquanto ali residisse... (42)Encontrei a última alusão ao acontecimento, numacarta de perdão <strong>da</strong><strong>da</strong> a Manuel Mendes, moradorem C. Branco (Lisboa, 20.3.1602). Dela consta quefora culpado nas devassas que se tiraram na vila,porque vendia carne a enxerca e fora dos açougues.Mas tudo lhe perdoam, porquanto era rendeiro <strong>da</strong>chancelaria <strong>da</strong> comarca e “além disso houvera pestena terra, pouco ou na<strong>da</strong> para comer e grandenecessi<strong>da</strong>de de carne e, por ser Verão, o quesobejava se <strong>da</strong>nava; por isso, o que vendia faziaproveito ao povo”. (43)Enfim, em to<strong>da</strong>s as calami<strong>da</strong>des há sempreoportunistas que tentam tirar proveito próprio <strong>da</strong>situação, mesmo quando esta é a desgraça dosoutros. Porém, não podemos deixar de pôr emdestaque os nomes dos médicos, que lutaramincansavelmente contra o mal terrível que afligia osmoradores <strong>da</strong> vila, um dos quais - Dr. André Esteves- acabou por sofrer o contágio e morrer no seu posto,como um ver<strong>da</strong>deiro herói.É natural que nesta emergência se tivessemtomado outras providências, aplicando-se asinstruções gerais segui<strong>da</strong>s então e que consistiamna execução de diversas medi<strong>da</strong>s, entre as quaiscitamos:- Isolamento dos pestosos e de quem delestratasse, sendo “os escravos e homens de sol<strong>da</strong><strong>da</strong>e obreiros mecânicos”, os pobres enfim, cui<strong>da</strong>dosem ruas ou locais isolados.- Introdução de rebanhos de gado, particularmente