21A IATROÉTICA E O “RETRATO DEL PERFECTO MÉDICO” DE HENRIQUE JORGEHENRIQUES NO AMBITO MÉDICO-SOCIAL RENASCENTISTARomero M.B.Gandra *Henrique Jorge Henriques pode ser considerado como um expoente <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> Portuguesa Renascentista.Esse grande movimento de ideias e acções médicas espalhou-se, como é sabido, por to<strong>da</strong> a Europa, tendoatingido - fruto de um certo tipo de hegemonia peninsular e, especificamente, em torno do eixo Coimbra --Salamanca - alta craveira, que se traduziu quer pelo estudo, quer pelo ensino de escolares, quer ain<strong>da</strong> pelapublicação de obras que marcaram profun<strong>da</strong>mente não só o tempo em que foram publica<strong>da</strong>s, mas tambémas gerações vindouras.Afirmaram-se estas de tal forma, que ain<strong>da</strong> hojepodem ser consulta<strong>da</strong>s, largos trechos delasmeditados e lidos com agrado. Da<strong>da</strong> a suaactuali<strong>da</strong>de, pode o leitor extrapolar para o momentopresente o seu conteúdo, sem ter que fazer grandesaferições de ideias, métodos e processos, na medi<strong>da</strong>em que, embora estejamos em plena era nuclear,os problemas que dizem respeito à Saúde e à Vi<strong>da</strong>,quer individual ou colectiva, são, em termos derelação médico-doente, lineares e intrinsecamenteos mesmos. Isto que foi escrito, facilmente oconstataremos, se folhearmos e lermos mesmodiagonalmente, as páginas do “Retrato del PerfectoMédico”.A <strong>Medicina</strong> Renascentista apresenta-noscaracterísticas que a fazem diferir profun<strong>da</strong>mente <strong>da</strong><strong>Medicina</strong> Medieval. Se por um lado o pensamentomédico, quer pelo objecto quer pelos métodos, nosapresenta cambiantes profundos em relação com opassado, é a <strong>Medicina</strong> Renascentista charneira dodesenvolvimento médico futuro, onde a <strong>Medicina</strong> <strong>da</strong>Ilustração se vai alicerçar e trazer até aos nossosdias conceitos, os quais no fim do século XXcontinuam actuais e com grande eficáciaepistemológica.Das características <strong>da</strong> medicina renascentistaavulta a observação directa do doente, a propedêuticaclínica, com to<strong>da</strong> a sua riqueza nas pesquisas ecolheitas de sintomas e sinais, obrigando a umdiálogo médico-doente, em que este fornece a pedido<strong>da</strong>quele elementos semiológicos que determinarãoo estabelecimento de um diagnóstico. Porém, com oadvento de novas drogas de cariz exótico, provin<strong>da</strong>s<strong>da</strong> África, América e Oriente, os quadros clínicoscomplicam-se, mesclando sintomas e sinais atéentão desconhecidos; paralelamente, as terapêuticassofrem alteração profun<strong>da</strong> com a introdução de novasdrogas e terapêuticas diferentes <strong>da</strong>s usa<strong>da</strong>s atéentão na Europa.De acordo com Luís de Pina (1) , convirá explicitarque há vários movimentos culturais médicos,nomea<strong>da</strong>mente o Renovador do Classicismo(Hipocrático), o Iconoclasta (Paracelso e Vesálio), oComentarista erudito (Amato Lusitano), Inovador(Garcia de Orta, Pare), Clínico e Ecléctico (Tagliacozzie Vesálio) e um movimento não médico de filósofose literatos como Camões e Erasmo, p. ex...Surge, como sabemos, uma interpretação científica<strong>da</strong> Natureza que se expressa numa Cultura FilosóficaRenascentista (Naturalismo e não Neo-Platonismo)bem como novos aspectos do Mundo com umaadequa<strong>da</strong> explicação científica para os mesmos,estabelecendo-se, deste modo, uma CulturaCientífica do Renascimento; há três grandes nomesde médicos estrangeiros renascentistas sempreobrigatoriamente referenciados - Paracelso, Vesálioe Pare.A patografia ou História Clínica, a Anatomia com adissecação e observação directa no cadáver, aCirurgia com nomes como o de Tagliacozzi, pioneiro<strong>da</strong> cirurgia plástica, as autópsias, obrigando aoconsequente desenvolvimento <strong>da</strong> AnatomiaPatológica, a Sifiligrafia e a Epidemiologiaapresentam os seus primeiros cultores: Fracastório,pioneiro <strong>da</strong> Epidemiologia Moderna, com a sua obra“De morbus contagiosus’’, bem como os estudosacerca <strong>da</strong> circulação, avultando um nome, o deMiguel Servet, que nos fala <strong>da</strong> pequena circulação.Outras especiali<strong>da</strong>des ganham a sua autonomia,fruto não só dos seus investigadores mas tambémdos resultados obtidos, como a Psiquiatria, a<strong>Medicina</strong> Militar, a Oftalmologia e a Teratologia. Paraalém <strong>da</strong>s Terapêuticas Cirúrgicas há, por assim dizer,o desenvolvimento <strong>da</strong> Farmacologia e notavelmentea instalação de Jardins Botânicos, tendo ficadofamosos os de Bolonha, Pádua e Pisa.Ao falarmos tão brevemente de alguns tópicos <strong>da</strong><strong>Medicina</strong> Renascentista - continuando a seguir Luísde Pina - não podemos deixar de referenciar algumascaracterísticas do Renascimento Médico (2) . Nestaordem de ideias, foi Portugal profun<strong>da</strong>menteinfluenciado pelas conquistas e descobertas, porém,
independentemente de um sem número de situaçõese casos clínicos novos com que se defrontavam osmédicos <strong>da</strong> época, avulta a Assistência Hospitalarcom cerca de 600 Hospitais entre Lisboa e o Orientee a Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s Misericórdias (Lisboa, 1498, ePorto, 1499).Paralelamente há todo um desabrochar deespeciali<strong>da</strong>des médicas e cirúrgicas, sendo derealçar: A <strong>Medicina</strong> Tropical (Garcia de Orta), (3) ,Sifilografia (R. Dyas d’Isla), Assistência Psiquiátrica(S. João de Deus), Ginecologista (Rodrigo de Castro),a Higiene com a publicação, em 1580, do Regimentodo Provedor-Mor <strong>da</strong> Saúde, a <strong>Medicina</strong> Legalexpressa nas Ordenações Manuelinas e Filipinas ebem assim como a <strong>Medicina</strong> Missionária.Queremos finalmente destacar as preocupaçõesde carácter deontológico que os médicosportugueses desta época deixaram bem claras,cumprindo-nos destacar as figuras de AmatoLusitano (4) , natural desta ci<strong>da</strong>de, que nos legou umJuramento ou Testamento Moral de incomparávelvalor, nas célebres “Centúrias” e a dos fun<strong>da</strong>dores<strong>da</strong> Escola latroética Renascentista Portuguesa queforam Jerónimo de Miran<strong>da</strong> (“Dialogo <strong>da</strong> Perfeyçam- partes que são necessárias ao bom médico’’, 1562),Henrique Jorge Henriques (“Retrato dei perfectomédico’’, 1595) e Rodrigo de Castro (n. 1546), autordo ‘’Medicus politicus’’ (1614).Desde o XXX Congresso <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>deInternacional <strong>da</strong> História <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> realizado emDusseldorf (1986) e uma vez mais usei o termolatroética que prefiro ao de Ética Médica, não sóporque neste os elementos <strong>da</strong> sua formação são umde uma raiz grega e outro de raiz latina, mas tambémporque, <strong>da</strong><strong>da</strong>s as raízes helénicas de <strong>Medicina</strong>Ocidental, assume aquele uma maior clareza eproprie<strong>da</strong>de de expressão.22
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