7Postura <strong>da</strong>s fur<strong>da</strong>s- Nenhuma pessoa poderá ter fur<strong>da</strong>s para porcosdentro <strong>da</strong> vila e arrabalde nem Devesa, salvo emsuas casas, pardieiros ou quintais ou ressios e,fazendo o contrário, pagarão 50 réis; a Câmarapoderá <strong>da</strong>r licença nos lugares que lhe parecer... Enas aldeias poderão ter e fazer fur<strong>da</strong>s, aonde osjuízes lhes assinarem; e, tendo-as fora, pagarão 50réis sendo em ruas públicas.Postura <strong>da</strong>s obras que se fazem na vila e ruas.- Assentaram que as pessoas que fizerem obrasnesta vila e arrabaldes, tanto que a obra for feitaman<strong>da</strong>rão alimpar a rua <strong>da</strong> pedra, terra e imundice,que aí ficar, dentro em oito dias, com pena de 100réis por ca<strong>da</strong> vez que lhe for acha<strong>da</strong>. E a pessoaque tiver pardieiro dentro <strong>da</strong> vila, tê-lo-á tapado demadeira que se não faça nele esterqueira, sob a ditapena de 100 réis. Postura dos fornos que tenhamchaminés.- Acor<strong>da</strong>ram que os fornos de cozer pão, queestiverem nesta vila e arrabaldes e aldeias, tenham“ximinez” altas que lancem o fumo fora, com penade 200 réis; e isto se não entenderá nos lugares doSalgueiro, Cafede e Mata e em todos os montes.Postura do lavar lã- Assentaram que se poderá lavar lã tinta e panosna Líria, do moinho de Manuel Viegas para baixo eem Ocreza todo o ano. E, havendo pães ou restolhos,não poderão fazer lume em nenhuma parte até S.Miguel; e na Ocreza poderão fazer lume no meio dosareais, com resguardo dos frutos. E, assim, poderãolavar as ditas lãs e panos no ribeiro do Cagavai <strong>da</strong>volta por baixo de Nossa Senhora dos primeirospenedos para baixo e na piçarreira e na pipa doAzamor para baixo. E no ribeiro <strong>da</strong> Torre, onde semete no do Sete para baixo, de dia de S. Martinhoaté o derradeiro de Maio; e <strong>da</strong>í por diante ficarãocoimeiros e, quem lavar fora destes limites e fora dotempo, pagará 200 réis ca<strong>da</strong> dia.Muitas outras posturas poderia aqui apresentar,para demonstrar como a higiene e as condições desalubri<strong>da</strong>de na vila de Castelo Branco eram objectode grandes cui<strong>da</strong>dos por parte dos munícipes e <strong>da</strong>senti<strong>da</strong>des camarárias. (25)Não o farei por motivos óbvios mas, para melhoresclarecimento, vou terminar este capítuloenunciando apenas os títulos de algumas delas:- Postura do amanhar do linho. - Postura dosalmocreves.- Postura <strong>da</strong>s padeiras, taberneiros, carniceiros,lagareiros, etc., etc. (26)IV - Os Doentes;As grandes epidemiasAssistência às crianças, enjeitados, órfãos,inválidos e pobres envergonhados; as parteiras ou‘’comadres’’ <strong>da</strong> freguesia de Santa Maria do Castelo,na 2ª metade do século XVI.Na I<strong>da</strong>de Média já havia instituições destina<strong>da</strong>s acui<strong>da</strong>r <strong>da</strong>s crianças doentes, em particular dos órfãose enjeitados: eram os hospitais de meninos.Para acudir aos velhos, inválidos e pobresenvergonhados, surgiram as chama<strong>da</strong>s mercearias.Não tenho conhecimento de qualquer destasinstituições na zona que estamos a estu<strong>da</strong>r. Porém,todos estes casos irão ser contemplados, em certamedi<strong>da</strong>, com a fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Misericórdia de CasteloBranco, no ano de 1514.Através dos registos paroquiais quinhentistas <strong>da</strong>igreja de Santa Maria do Castelo, pude constatar umaeleva<strong>da</strong> percentagem de mortali<strong>da</strong>de infantil... Aliachamos também vários casos de enjeitados e defilhos espúrios, provenientes na maioria de escravas.Como exemplo, apresentarei apenas dois assentos:- A 30.9.1564, baptizei Maria, enjeita<strong>da</strong>, forampadrinhos Afonso Barreto, escudeiro do senhor D.Fernando e Marcos Pires, oleiro, e Mécia Gomes eBiatriz Caldeira, ama... (27)- A 6.9.1551, baptizei a Domingas, filha espúria deBrásia, escrava de Brás <strong>da</strong> Costa, padrinhosSebastião Lopes e Gonçalo Fernandes e HelenaLopes... (28)A assistência aos partos era efectua<strong>da</strong> porintermédio <strong>da</strong>s parteiras ou de mulheres experientes,só se justificando a intervenção do cirurgião em casoscomplicados...As parteiras ocupavam-se não só dos partos como<strong>da</strong> ginecologia e, em geral, não eram sujeitas aqualquer exame, transmitindo-se a profissão de mãespara filhas... Como muitas vezes eram convi<strong>da</strong><strong>da</strong>spara madrinhas <strong>da</strong>s crianças, que tinham aju<strong>da</strong>do anascer, costumavam ser designa<strong>da</strong>s também por“comadres”. (29)Em Castelo Branco, o seu número (extraído dosregistos paroquiais) era extraordinariamente elevado.Basta dizer que, no período de 17 anos compreendidoentre 18.1.1547 e 23.4.1564, achei menciona<strong>da</strong>s 46parteiras-madrinhas, que deram assistência a to<strong>da</strong>a freguesia de Santa Maria do Castelo. Esta abrangiaentão parte <strong>da</strong> vila e os “montes” de Além-Ponsul,do Casalinho (sobre a Ocreza), dos Maxiais, doRetaxo, Cebolal, Benquerenças e Taberna Seca, <strong>da</strong>Ovelheira, dos Carrascos e do Gentil-homem (nosMaxiais), Repreza, Amarelos e Carapetosa.Por vezes, o mesmo parto era assistido por duasparteiras ou por uma com sua aju<strong>da</strong>nte.Vejamos alguns exemplos:
8- A 17.8.1547, baptizei Manuel, filho legítimo deHeitor Rodrigues e Isabel Trancoso, padrinhosSebastião Lopes e as comadres Catarina Fernandese Briatriz Fernandes... (30)- A 3.10.1555, baptizei D. Diogo, filho legítimo dosenhor D. Fernando e <strong>da</strong> senhora D. Filipa, suamulher, foram padrinhos o senhor D. António <strong>da</strong> Silvae o senhor D. Filipe de Sousa e a senhora D. Brites,sua avó, e trouxe a criança a comadre... (31)- A 2.7.1561, baptizei Manuel, filho legítimo deBaltazar Gonçalves e de Biatriz Pires, <strong>da</strong>Bemquerença e, assi, baptizei Margari<strong>da</strong>, gémea,filha dos mesmos. Padrinhos: do macho, Brás eLeonor Domingues e Perpétua Dias; e <strong>da</strong> fêmea,Pero Fernandes, Maria Domingues e Ana Afonso,parteira, e Mécia Gomes... (32)- A 16.10.1598, baptizei a Olaia, filha legítima dePedro Miguel e de Biatriz Dias, moradores no montedo Cebolal desta freguesia, foram padrinhos ManuelVaz e Margari<strong>da</strong> Dias. Esta criança houve seu paisendo <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de de cento e três anos ... (33)Este último exemplo serve apenas para demonstrarque não só se morria cedo, pois muitas pessoasconseguiam atingir i<strong>da</strong>des apreciáveis...Como refere A.H. de Oliveira Marques, “Aassistência aos partos estava liga<strong>da</strong> às muitassuperstições que, em todos os tempos,acompanharam o nascimento de crianças. Aqui,como aliás para to<strong>da</strong>s as enfermi<strong>da</strong>des, o recurso àprotecção religiosa considerava-se imprescindível”. (34)As parturientes invocavam, em particular, a protecçãode Nossa Senhora do Ó, representa<strong>da</strong> como grávi<strong>da</strong>em muitas imagens, venera<strong>da</strong>s nas igrejas <strong>da</strong> vila e<strong>da</strong> região.vez, vou referir-me aos “an<strong>da</strong>ços” <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> “pestepequena” na vila de Castelo Branco. Assim designa<strong>da</strong>para se distinguir <strong>da</strong> “peste grande” (1569), provinha<strong>da</strong> Flandres, passara a Castela e ao norte de Áfricae assolou o reino de 1598 a 1603. Sabe-se queapareceu em Lisboa, logo nos começos de 1598,propagando-se a Cascais, Sacavém, Setúbal, TorresVedras, Tomar, Santarém, Évora, Elvas e ao Algarve;a Aveiro, Leiria, Porto, Vila Nova de Gaia, Guimarães,Mirandela e Vila Real. (35)Em Castelo Branco, o seu aparecimento é-nosrevelado através de alguns livros genealógicos, porbreves referências em duas cartas <strong>da</strong> chancelariarégia e, principalmente, pelos assentos de óbitoinsertos nos registos paroquiais <strong>da</strong> igreja de SantaMaria do Castelo. Como desapareceram os assentoscorrespondentes <strong>da</strong> igreja de S. Miguel, os elementosde que podemos dispôr são incompletos mas,mesmo assim, bastante eluci<strong>da</strong>tivos.O primeiro caso vai registado pelo vigário de SantaMaria, nos seguintes termos:- Aos vinte e cinco de Junho de 1600, faleceuCatarina Vilela, mulher do Gázeo, do Torrejão, jazenterra<strong>da</strong> para a Amoreira, empedi<strong>da</strong>, não sei se fezman<strong>da</strong>...Ora, consideravam-se impedidos todos os quetrabalhavam na luta contra a peste (e os que comeles viviam), não podendo por isso entrar em contactocom as pessoas sãs e tendo de usar sinais, bemcomo nas suas casas. Sendo assim, é evidente queo mal já entrara há algum tempo na vila e seu termo...IV.2 - A “PESTE PEQUENA”, EM CASTELOBRANCO, DE 1600 A 1602.Durante muitos séculos, a peste foi um dos flagelosmais terríveis que assolaram a humani<strong>da</strong>de.Doença epidémica, de características por vezesdiferentes, quando aparecia propagava-se comgrande facili<strong>da</strong>de e rapidez, deixando por to<strong>da</strong> a parteum rasto de desolação e sofrimento...No século XVI houve em Portugal 39 epidemiasde peste, que vitimaram dezenas de milhares depessoas. No entanto, não havia notícia de tergrassado nesta região, talvez por estar um poucoisola<strong>da</strong> em relação aos centros mais populosos dolitoral que, através do comércio marítimo, tinham ummaior relacionamento com gentes de outros países...Enganei-me, porém, nesta suposição e, pela primeira
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